Confira os procedimentos de diagnóstico e reparo dos componentes do sistema de freios anti-blocante de um dos carros mais populares da Fiat, o Palio
Será cada vez mais comum entrar um carro na sua oficina equipado com freios ABS, já que se tornou um item de série obrigatório para os modelos fabricados a partir de 2014, de acordo com a Resolução 311/2009 do Contran. Estamos falando de todos os veículos, ou seja, até mesmo aquele popular mais barato sem vidro elétrico ou ar-condicionado terá na sua restrita lista de equipamentos o sistema de freios com ABS e o air bag duplo. Ponto para o governo por entender a necessidade desses itens para garantir a segurança e ponto para o mecânico que já está se familiarizando com o assunto.
Vindo da indústria das aeronaves, o freio ABS (Anti-lock Braking System, ou seja, sistema de freios anti-blocante), foi introduzido nos automóveis pela primeira vez em 1978 pela engenharia da Bosch. Seu conceito faz que as rodas do veículo não travem quando o quando o pedal de freio é pisado fortemente, evitando a derrapagem e a falta de aderência à pista. Na prática, o veículo não perde o controle, nem mesmo em pisos molhados.
O ABS é um sistema eletrônico que, por meio de sensores, faz o monitoramento de cada roda e também da velocidade do veículo, para que em frenagens de emergência, nas quais é detectado que uma roda vai travar, o módulo eletrônico do ABS faça a intervenção em milissegundos, modulando a pressão da frenagem em cada roda e impedindo que a roda trave e que o carro perca o controle.
Unidade hidráulica, em conjunto com o comando eletrônico, permite o funcionamento do ABS
“Pela velocidade na roda, o ABS sabe que o carro está muito próximo de perder a aderência”, explica Diego Riquero, chefe do Centro de Treinamento Automotivo da Bosch. “Quando o motorista pisa no freio, o ideal é que as rodas do mesmo eixo parem juntas, mas na realidade existem fatores que impedem que isso aconteça, como o tipo de pneu, o solo, o peso etc. Assim, uma roda acaba freando mais do que outra, por mais que não seja percebido e num momento uma delas vai travar”, explica. É nesse momento que o antibloqueio é acionado.
Ele esclarece que o sistema ABS mede a velocidade com que estão girando as rodas, e então consegue saber a diferença de velocidades entre elas. Se for muito ampla, está em situação de risco de bloqueio, e o sensor indica a velocidade de giro, baseado no monitoramento da velocidade das rodas.
Os sensores do ABS atuam em cada roda, impedindo o travamento em freadas bruscas, uma situação perigosa, principalmente, em piso molhado
Funcionamento
Num sistema convencional de freio hidráulico com cilindro mestre, quando o motorista pisa no freio, aciona a alavanca que empurra o êmbolo dentro do cilindro que gera a pressão hidráulica, acionando a pinça e o sistema de freio. “O ABS tem a informação do que está acontecendo e precisa da intervenção no sistema hidráulico para evitar o bloqueio. Assim, consegue fazer com que a pressão gerada seja maior o menor em cada roda conforme a necessidade . Se foi detectado que a roda tem menor velocidade, vai intervir naquela roda”, analisa Diego.
Tudo isso é possível por meio de uma unidade hidráulica que atua juntamente com um comando eletrônico, posicionado entre o cilindro mestre e a tubulação de freios, ou seja, a pressão passa por essa unidade antes de ir para rodas, controlando individualmente a pressão das rodas.
Componentes
A) Unidade hidráulica: composta por um sistema de válvulas internas e uma bomba de pressão elétrica. Conta com o comando eletrônico, que é a parte preta blindada, que não permite reparo. No caso de avaria, troca-se o conjunto completo.
B) Cilindro mestre: responsável por gerar pressão interna no sistema e proporcionar o deslocamento do fluido de freio por meio das tubulações até as rodas, fazendo o movimento das pinças de freios. É acoplado ao reservatório onde é armazenado o fluido de freio.
C) Sensores de velocidade de roda: trabalham com o mesmo principio de funcionamento do sensor de rotação, ou seja, são sensores geradores de sinal. As primeiras gerações eram sensores indutivos (sinal analógico) e as novas são sensores indutivos ativos (sinal digital), ou que trabalham pelo principio hall.
D) Roda fônica: funciona juntamente com o sensor de velocidade, gerando pulsos magnéticos interpretados pelo módulo para saber a velocidade da roda. Nos modelos mais modernos faz parte do rolamento de roda, que requer especial atenção na hora de uma eventual troca do rolamento. O sensor o sensor fica muito próximo da roda fônica mas sem contato mecânico.
Manutenção
Nesta matéria, estamos realizamos com ajuda do técnico da Bosch, Ricardo Felippe, o procedimento de manutenção e diagnóstico do veículo Fiat Palio, que tem o sistema de ABS primeira geração, ou seja, do tipo indutivo. O primeiro passo é fazer um check up na parte eletrônica.
É bom destacar que o conjunto hidráulico, por ser um sistema de segurança, é projetado para durar mais de 20 anos sem intervenções. A única manutenção se refere à troca do fluido no prazo especificado de acordo com o manual do proprietário, com atenção para a especificação correta.
“Podemos afirmar que não pode ser utilizado fluido DOT 3 em nenhum carro equipado com ABS, pois não atende as especificações necessárias para o sistema, podendo deteriorar a unidade hidráulica. Por conta da diferença de preço, a tentação para colocar o DOT 3 é grande, mas isso vai prejudicar todo sistema”, alerta Diego.
1) O fluido de freio deve ter a troca efetuada por prazo de validade ou por controle da sua condição, checada com a ajuda do analisador de fluido de freio, que mede a condição do fluido em relação ao nível de contaminação.
Obs: A hidroscopia é uma propriedade que todo fluido de freio tem, a condição de absorver umidade, por isso se contamina com facilidade se o reservatório não estiver hermético, ou seja, corretamente vedado. Atenção para anel de borracha. Use sempre luvas para evitar contaminação na pele.
Diego explica que se o fluido for contaminado por agentes externos ou pelo funcionamento normal, tem uma tendência a formar água sozinho, porque atinge altas temperaturas. “O processo de frear, aquecer e esfriar, faz com que o fluido forme umidade, aquece porque é gerador de alta temperatura, e depois esfria, gerando umidade”.
2) Não tem que se basear na cor ou na aparência, que nesse caso parece que está em ordem, mas com o aparelho, podemos verificar que o ponto de ebulição está abaixo do especificado e a troca do fluido é solicitada.
Check up eletrônico
O próximo passo é o check up eletrônico com um scanner de diagnóstico. Vale lembrar que a luz de indicação de anomalia deve ser observada.
1) Comece instalando um aparelho de scanner automotivo no conector do módulo eletrônico do ABS.
2) Faça a seleção dos pinos de comunicação, de acordo com o indicado na tela do computador.
3) Faça a instalação dos pinos para testar a alimentação de tensão de bateria para o scanner (jacarés preto e vermelho).
4) Instale em seguida, os pinos verde e amarelo, que fazem parte da linha de comunicação do scanner.
Obs: Como esse é um veículo de treinamento, os cabos foram adaptados para melhor indicar a didática do procedimento aos alunos, o original é outro.
5) Comece fazendo um check up verificando as ocorrências na memória de erro. Neste caso, nada foi encontrado.
6) Pelo scanner, podemos ver parâmetros de funcionamento pela função “Valores Reais”, a onde poemos ver os seguintes valores: velocidade de roda, reles que aciona as válvulas, etc.
7) Com o auxílio do scanner, escolhendo a função Atuadores, consegue-se acionar diferentes componentes do ABS – bomba de motor, válvulas etc. Desta forma, o scanner determina se o sistema está funcionando.
Em caso de reparo
1) No nosso caso, a roda fônica é acoplada na homocinética e, em caso de troca, é necessário somente tirar a usada e colocar a peça nova.
2) Os sensores traseiros são iguais aos dianteiros, inclusive a roda fônica. Apenas o comprimento do cabo é que muda. Os conectores traseiros ficam debaixo do assoalho do carro.
3) No sensor do modelo antigo tem que ser medida a resistência interna para saber se está dentro do valor determinado. Para isso, coloque os pinos do multímetro no conector do sensor ABS, que neste caso é de 1,5 Kohms.
4) Em caso de troca do sensor, comece soltando o conector que fica dentro do capô do carro, um de cada lado para as rodas dianteiras.
5) No caso de troca, solte o parafuso com chave allen e na sequencia desconecte o sensor.
Cuidados na troca da pastilha e sangria
O sistema ABS é mais delicado com relação à sujeira e elementos contaminantes no circuito hidráulico. Uma pequena partícula pode deixar o sistema inoperante, por isso exige cuidados especiais. Durante a troca de pastilha, por exemplo, é necessário retroceder o pistão da pinça de freio, garantindo que não entre fluido de freio em direção da unidade hidráulica. Para isso, faça o seguinte procedimento:
Obstruir o flexível onde passa o fluido do freio com a pinça apropriada, abrir o sangrador e deixar drenar o fluido que está no êmbolo, portanto contaminado. Fazer isso em cada uma das rodas. Finalizar a instalação das pastilhas de freio, completar com fluido novo, conforme a especificação no reservatório, realizando a sangria em todas as rodas.
Mais informações: (19) 2103-1419 [email protected]