Mecânico empreendedor

Muitos mecânicos acham que o sonho de ter uma oficina própria está muito longe de se tornar realidade, mas com orientação, estratégia, dedicação e investimento tudo fica mais acessível

Carolina Vilanova

 

 

Tomar conta do próprio negócio. Esse é um sonho almejado por milhares de brasileiros, seja qual for o ramo de atividade: uma padaria, um posto de gasolina, um barzinho ou uma loja. No setor da reparação, esse sonho não é diferente, muitos profissionais que já trabalham na área e mesmo os que estão entrando no segmento agora têm como plano de vida gerenciar sua própria oficina, mesmo que seja simples e de pequeno porte.

 

Se o negócio vai dar certo ou errado é sempre uma incógnita, sem falar que o novo empreendedor ainda tem que contar com aquele período em que o lucro é zero, até que o estabelecimento se firme no mercado e pague tudo o que foi investido até o momento. Apesar disso, uma oficina de reparação veicular é um negócio que pode gerar ótimos resultados, ainda mais nesse tempo de indústria automotiva aquecida, onde toda a cadeia está envolvida.

 

O primeiro passo para montar uma oficina de sucesso, no entanto, depende exclusivamente do profissional, que deve ter em mente que além de mecânico agora ele é um empreendedor, um empresário. Assim, deve trabalhar de acordo com regras, orientações e estratégias que podem ser obtidas por especialistas do assunto, como o SENAI e o SEBRAE, além de entidades do setor e outros empresários mais experientes.

 

O empresário da reparação

 

Os experts do setor garantem: a primeira atitude de um futuro empreendedor é fazer uma pesquisa de mercado e buscar ajuda dos especialistas do ramo. Determinar em que região irá atuar, que público vai atender e quais serviços serão oferecidos na sua oficina são imprescindíveis para o sucesso do negócio. Para ajudá-lo, o SEBRAE, uma das maiores fontes de conhecimento do setor empresarial, é a melhor opção de consulta.

 

 

“Conhecer profundamente sua área de atuação é importantíssimo, por isso visite o maior número possível de oficinas mecânicas, converse com os proprietários e empregados, troque idéias, confira diferentes percepções sobre o mercado e sobre as dificuldades que podem aparecer”, comenta Silvana Pompermayer, gerente do SEBRAE. Ela aconselha o novo empreendedor a montar um planejamento antes da abertura do negócio, respondendo as seguintes perguntas:

 

* Onde será localizada a sua oficina mecânica?

 

* Qual o seu público alvo (clientes)?

 

* Quem são seus concorrentes?

 

* Quem são seus fornecedores?

 

* Como será sua equipe de funcionários?

 

* Qual seu conhecimento específico nessa área?

 

* Qual será o seu investimento inicial?

 

No SEBRAE, o novo empresário pode obter informações, orientações, capacitações e consultorias em gestão, como a elaboração e acompanhamento de planos de negócios nas áreas de administração, finanças, marketing, produção, comercio exterior, informática e jurídica. Muitas dessas orientações, inclusive, são gratuitas.

 

“O SEBRAE disponibiliza no Balcão Sebrae, um atendimento presencial para pessoas físicas e jurídicas nas áreas de gestão empresarial, tecnologia e mercado”, conta Silvana. “Oferecemos ainda postos de atendimento, telefone 0800, publicações, palestras e outras ações, como cursos básicos, que são de graça, e outros que têm pequenos custos para o empreendedor”, completa.

 

A entidade conta com a cartilha “Comece Certo”, disponibilizada nos escritórios regionais e no site, que abrange todos os setores, inclusive oficinas mecânicas. “Contamos ainda com o programa SEBRAETEC de Consultoria Tecnológica, que visa também ajudar grupos de empreendedores a encontrar alternativas para solucionar seus problemas técnicos e tecnológicos”, lembra Silvana.

 

Hora da definição

 

Depois de buscar as orientações necessárias é hora de determinar exatamente o local em que pretende atuar e o nicho de mercado, ou seja, que serviços vai oferecer para, então, comprar os equipamentos necessários e adequados para executá-los. Uma das escolhas mais difíceis e mais caras é o ponto, ou seja, se vai comprar, alugar ou construir o local da sua oficina.

 

 

“É bom lembrar que alugar um estabelecimento comercial exige vários requisitos e muitos custos, então, não esqueça de computar esses valores no seu orçamento. Além disso, é importante que o lugar seja movimentado e de fácil acesso, para atrair a clientela. Tenha certeza de que uma oficina mecânica pode ser instalada no local, de acordo com as legislações vigentes do município. A própria imobiliária pode ajudá-lo nessa questão”, comenta Fernando Landulfo, instrutor do SENAI – Ipiranga.

 

 

Quando chega a hora de colocar mão no bolso é melhor saber que está investindo corretamente. Mais uma vez, o seu ramo de atividade vai refletir no seu investimento. “De acordo com os serviços que se propõe a oferecer e o tipo de veículos que vai consertar, é que vai adquirir os equipamentos e ferramentas ideais e as peças que precisa ter em estoque”, analisa José Palácio, do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva), órgão certificador do setor automotivo.

 

 

Ele explica que é primordial montar uma estrutura organizacional na empresa, prevendo critérios, organograma, procedimentos e normas internas para serem cumpridas. Registro de reclamações, computador com programa de gerenciamento e gestão, e sistema programado de atendimento com uma pessoa treinada exclusivamente para essa função são necessários para oferecer serviços de qualidade para seu cliente.
“O bom atendimento é essencial e reflete a transparência para o cliente. Muitas oficinas não admitem que o cliente se dirija até a recepção, essa é a obrigação do atendente, de sair da sua mesa e ir recepcionar o cliente no momento em que ele chega”, conta Palácio.

 

 

Em termos de instalação, o empresário que já definiu o ramo de atividade e o espaço disponível, não pode esquecer do atendimento às normas legais, principalmente, nos quesitos estoque de peças e resíduos descartados (líquidos e sólidos), que não podem ser nocivos à natureza. Não esqueça também que equipamentos de proteção individual são obrigatórios por lei, pesquise exatamente o que vai precisar: uniformes, óculos, luvas, capacete etc.

 

 

“Essa deve ser uma preocupação inicial: sistema ambiental de trabalho, limpeza, iluminação, disposição das tomadas, sanitários, inclusive para clientes, entre outros pontos, garantem o bom atendimento e evita gastos desnecessários no futuro. É mais fácil e mais barato já começar da maneira certa do que ter que corrigir depois”, diz.

 

 

Outra preocupação, como alerta Landulfo, é oferecer facilidades para os clientes, como estacionamento, café e sanitários, além de lavagem do carro, sistema leva e traz ou contrato com táxi, tudo o que proporcione mais conforto para o cliente e que ganhe sua fidelidade.

 

 

A seleção dos profissionais que vão trabalhar na sua oficina também é de extrema importância, para isso procure ajuda das associações da classe, como o Sindirepa (sindicato da reparação) do seu estado. Depois vem o treinamento, que deve ser constante para que seus funcionários estejam sempre atualizados e por dentro do mercado. “É importante também buscar informações sobre questões trabalhistas, por isso, antes de abrir as portas de sua oficina contrate um bom contador”, completa Landulfo.
Conseguir informações técnicas é um fator determinante para o fluxo da sua oficina, por isso é aconselhável se filiar ao sindicato do seu estado, o que vai custar uma média de R$ 60,00 por mês mas permite utilizar as orientações e as informações do CDI (Centro de Documentação e Informações), muito valiosas na hora da manutenção e reparação do veículo.

 

“É importante mostrar para o cliente porque a sua qualidade é melhor do que a do vizinho que é mais barato, porque ele não presta os mesmos serviços e nem tem a mesma qualidade. Então, valorize o seu trabalho, faça cursos e treinamentos, e depois pendure o diploma na oficina. Isso vai ajudá-lo a conquistar clientes”, diz Palácio.

 

Oficina virtual

 

É muito difícil estimar um valor concreto de investimento para montar a sua oficina, principalmente, porque depende do setor em que vai atuar, mas o instrutor Landulfo preparou uma relação que pode ajudá-lo a computar os seus custos para adquirir o mínimo necessário para trabalhar com qualidade. Vale lembrar que as empresas fabricantes de equipamentos facilitam bastante o pagamento com base em financiamentos.

 

No caso de uma mecânica geral, que oferece serviços básicos, o empresário vai precisar de:

– Um conjunto de chaves universais (chave fixa, estrela, allen, alicates, torx etc).

 

– Para suspensão: elevador, saca terminal de direção, prensa, morsa e compressor de molas.

 

– Para injeção eletrônica e motor: scanner, torquímetro, gabaritos, osciloscópio, multímetro, sacadores, colocadores e chaves especiais para determinados serviços, como troca de correia e remoção de bicos injetores.

 

– Para o escritório: computador com programa de gestão para controlar os serviços, internet, literatura técnica.

 

– Para o estoque: contar com peças básicas e de alto giro como filtros, óleos lubrificantes, velas e pastilhas de freios. Tenha em estoque umas 10 unidades de cada peça, ou uns R$ 5.000,00 em peças.

 

– Capital de giro: tenha um dinheiro em caixa para fazer a empresa girar, nunca use capital de terceiros. Tenha pelo menos o dobro do valor referente a um mês de contas para dispor no caso de uma necessidade.

 

– Treinamento de profissionais: muitos cursos de especialização são oferecidos pelo SENAI e outras escolas particulares.

 

– Para preservar o meio ambiente: lixo seletivo, reciclagem e descarte adequado das peças é imprescindível para a sua oficina.

 

Serviços:

Mais Informações pelo site: SEBRAE/SP – www.sebraesp.com.br SENAI – www.senai.br Sindirepa – www.sindirepa-sp.org.br IQA – www.iqa.org.br