Pilares do conhecimento

Multinacional realiza programa de capacitação para jovens de baixa renda a fim de suprir a falta de profissionais no mercado de reparação de pesados. Dedicação e organização são algumas das bases do curso que tem atributos o bastante para chamar a atenção até do público feminino

Victor Marcondes

A profissão de mecânico automotivo, em geral, se inicia por uma curiosidade bastante comum àqueles que ingressam nesta área: desvendar a genialidade por detrás do funcionamento dos diversos motores e veículos lançados pela indústria. Uma paixão, frequentemente, passada de geração em geração e apoiada pela iniciativa de empresas, como a Auto Sueco, um grupo de origem portuguesa que atua no Brasil como concessionário de caminhões e ônibus da Volvo.

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Terceira turma do ProJovem conta com 11 alunos, sendo que três são meninas

Desde 2009, a companhia tem investido cerca de R$ 300 mil por ano na formação de jovens profissionais da reparação por meio do Projeto Jovem Mecânico (ProJovem). Criado com o intuito de reter técnicos capacitados em razão da atual escassez do mercado, o programa qualifica adolescentes com idade entre 16 e 18 anos oriundos de comunidades carentes no estado de São Paulo.

Os candidatos são selecionados pelo Centro de Assistência e Motivação de Pessoas (CAMP Oeste), uma organização não governamental (ONG) parceira da Auto Sueco. A terceira turma, com 11 alunos, iniciou as aulas em agosto de 2011 e deve terminar em dezembro deste ano. “Parte do curso é ministrada em sala de aula, parte ministrada em laboratório e, nos últimos meses, após alcançarem a maioridade civil, estarão aptos a concluírem o restante do treinamento com práticas de oficina”, explica Jaime Ferreira, instrutor responsável pelo ProJovem.

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Jaime se orgulha em repassar informação para a nova geração de mecânicos

O foco do programa é formar profissionais em Mecânica Diesel Básica. A carga horária completa é de 1.776 horas, divididas entre disciplinas como Metrologia, Motor, Transmissão, Freios, 5S, Ferramentas da Qualidade, Processos e Padrões Volvo, Garantia e Segurança no Trabalho. A empresa também fornece aulas de português e matemática. A ONG, por sua vez, tem a função de trabalhar o aspecto moral dos jovens com palestras sobre noções de cidadania.

Durante o curso, os alunos são incentivados com o pagamento de um salário mínimo, além de benefícios como seguro de vida, vale transporte, cesta básica, refeição e convênio médico. No entanto, para abraçar a oportunidade os estudantes devem estar matriculados no ensino médio.

Na seleção do atual grupo, o CAMP Oeste recebeu a inscrição de aproximadamente 145 jovens. “Após a verificação de pré-requisitos, como idade, situação orçamentária e social da família, restaram 45 jovens. Destes, 11 se destacaram e foram escolhidos através de dinâmicas aplicadas por profissionais da concessionária”, diz Alessandra Lima, Business Partner RH da Auto Sueco.

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Segundo Alessandra, os jovens podem seguir carreira em outras áreas da empresa

De acordo com e empresa, já é possível observar os resultados do ProJovem em razão do crescimento de profissionais dentro da companhia que passaram pelo programa. Dos 21 alunos das duas primeiras turmas, 15 ocupam vagas em várias áreas como oficina, almoxarifado e consultoria técnica.

Apesar do foco do curso ser mecânica diesel, Alessandra explica que os alunos podem ter oportunidades em outras áreas de aprendizado como a administrativa, comercial, marketing, recepção de clientes, garantia, apontadoria e ferramentaria. “A identificação do jovem com todos os processos presentes no negócio é essencial para sua formação”, diz.

Para meninos (e meninas)

A Auto Sueco oferece estrutura necessária para o desenvolvimento completo dos jovens, afirma Jaime. “Porém, a grande tarefa é fazer com que eles abracem a profissão de mecânico diesel com amor e dedicação, uma vez que, no início, esse universo da mecânica é desconhecido por eles”. Tanto empenho em ajudar os futuros profissionais, desencadeou também o interesse do público feminino. Do total de alunos, três são meninas.

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Raquel Batista Soarez, 18 anos, decidiu se aventurar na área a fim de aprender algo novo. A poucos meses de se formar, demonstra que fez a escolha certa. “Gosto muito de receber informações sobre peças, ferramentas, especialmente, sobre o funcionamento do pistão”, diz. Para ela, a mulher está ganhando espaço nas oficinas por provar que não é sexo frágil e também pode pegar no pesado.

Depois de ouvir uma palestra sobre a respeito de reparação no CAMP Oeste, a curiosidade de Joyce Ramos, 17 anos, sobre o segmento aumentou. Resolveu se candidatar ao ProJovem e, para sua surpresa, passou e recebeu total apoio da família. “Meus tios ficaram todos muito felizes, sem contar a minha mãe. A maioria dos meus tios mexe com reparação e outros são taxistas. Eles acharam interessante eu ser uma menina e entrar para o curso”.

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Da esq. para a dir. Joyce Ramos, Ana Carolina e Raquel Batista 

A pouca incidência de mulheres em oficinas foi uma das razões que motivaram Ana Carolina de Souza Bernardes, 17 anos, a buscar conhecer melhor o ramo. “Acho que essa profissão não pode ser somente de um sexo, tem que abrir oportunidades para todos que querem aprender”, analisa.

Do lado masculino, Diego Silva Bezerra, 19 anos, é um formado que participou da 2ª turma do ProJovem e hoje é Instrutor Trainee de Treinamentos Técnicos para os novos grupos do programa. Desde quando ingressou no curso, iniciou também o curso de engenharia mecânica. “Alguma das coisas que eu aprendo na faculdade eu tento repassar para o pessoal aqui, para melhorar o conhecimento de todos”, diz.

Sobre o crescimento de mulheres no setor, ele acredita que o caminho seja a união dos sexos na oficina. “Acho bem empolgante ter mais mulheres na área. Com o gerenciamento eletrônico, hoje em dia, já não é tão necessária a força braçal como antes. Temos que trabalhar com diagnóstico, verificar o que o veículo precisa e depois reparar”, explica.

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Da esq. para a dir. O instrutor Jaime Ferreira e o Instrutor Trainee Diego Silva

Os alunos do programa da Auto Sueco podem se considerar privilegiados: além de mudar o próprio destino, ganharam a chance de encarar o mundo com mais maturidade, como demonstra Diego. “Se eu pudesse resumir o que eu mais gosto na mecânica seria o trabalho em equipe. Não há como um profissional saber tudo sobre reparação. Então o grande desafio é transformar todas as informações do grupo na solução do problema daquele veículo”, finaliza.

Para se candidatar ao processo seletivo, que normalmente inicia na segunda quinzena de Novembro, segundo a empresa, o jovem interessado deve buscar as informações junto ao CAMP Oeste no site: www.campoeste.org.br.

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