Veja todos os bólidos que o tricampeão mundial guiou em sua carreira na Fórmula 1
Texto: Fernando Lalli
Fotos: Wikipedia
Parece que foi ontem, não? Vinte anos depois de sua morte, Ayrton Senna ainda encanta os apaixonados por automobilismo. Muito além do mito que se criou sobre sua imagem, há quem diga que Senna foi a pedra fundamental para a Fórmula 1 moderna ao combinar agressividade com precisão ao volante, conhecimento técnico para acerto de carro e preocupação com o preparo físico fora das pistas – modelo copiado por todos os pilotos de ponta desde então. Alonso, Hamilton e Vettel que o digam: todos eles já declararam que têm Senna como herói particular e seguem sua cartilha à risca.
Em seus 10 anos de carreira na Fórmula 1, o brasileiro passou por duas grandes transições técnicas no regulamento da categoria: a mudança dos motores turbo para os aspirados (de 1988 para 1989) e, depois, o banimento dos auxílios eletrônicos (de 1993 para 1994). Além disso, pilotou o carro pioneiro em suspensão ativa (o Lotus 99T).
Abaixo, compilamos todos os carros com os quais Senna disputou seus 161 Grandes Prêmios, e suas respectivas fichas técnicas.
1984

– Toleman TG183B
Chassi: Monocoque de fibra de carbono com motor fazendo parte da estrutura do chassi (“semi-stressed”)
Suspensão dianteira: tipo pull-rod
Suspensão traseira: tipo push-rod
Motor: Hart 415T, 1.459 cm³, quatro cilindros em linha, turbo
Transmissão: câmbio manual Hewland de 5 marchas
Gasolina: Agip
Pneus: Pirelli
Senna estreou na Fórmula 1 utilizando uma versão atualizada do carro da Toleman de 1983. Foram quatro corridas, sendo a estreia no Brasil, em Jacarépaguá (largou em 13º e quebrou na 6ª volta), dois sextos lugares (na África do Sul e na Bélgica) e a única desqualificação da carreira, em San Marino.

– Toleman TG184/ TG184B
Chassi: Monocoque de fibra de carbono
Suspensão dianteira: tipo pull-rod
Suspensão traseira: tipo push-rod
Motor: Hart 415T, 1.459 cm³, quatro cilindros em linha, turbo
Transmissão: câmbio manual Hewland de 5 marchas
Gasolina: Agip
Pneus: Michelin
Foi com este carro que Ayrton Senna apareceu para o mundo, com o 2º lugar conquistado sob a chuva torrencial do GP de Mônaco daquele ano. Além da corrida monegasca, Senna conquistou outros dois pódios, na Inglaterra e em Portugal, além de um 7º lugar no Canadá. De resto, apenas abandonos por acidentes ou quebras.
1985

– Lotus 97T
Chassi: Monocoque de fibra de carbono
Motor: Renault Gordini EF15B, 1.492 cm³, V6 a 90°, turbo
Transmissão: câmbio manual Lotus/Hewland de seis marchas
Gasolina: Elf
Pneus: Goodyear
A primeira vitória de Ayrton na F-1 veio logo na segunda corrida do ano, no GP de Portugal, em mais uma atuação sob chuva que consolidaria sua fama de especialista em pista molhada. Sua outra vitória na temporada também veio debaixo d’água, no GP da Bélgica. Senna ainda conseguiu mais quatro pódios nesse ano, com dois segundos e dois terceiros lugares.
1986

– Lotus 98T
Chassi: Monocoque feito em fibra de carbono, alumínio e kevlar
Suspensão dianteira: tipo pull-rod com barra estabilizadora
Suspensão traseira: tipo pull-rod com barra estabilizadora
Motor: Renault Gordini EF15B, 1.492 cm³, V6 a 90°, turbo
Transmissão: câmbio manual Lotus/Hewland de seis marchas
Peso: 540 kg
Gasolina: Elf
Pneus: Goodyear
Este carro rendeu mais duas vitórias para Senna (Espanha e Estados Unidos) e mais sete pódios (quatro segundos e dois terceiros lugares). Mesmo com o Lotus 98T sendo inferior à Williams e McLaren, o brasileiro chegou a liderar a tabela de pontos da temporada. Ao final do ano, Senna foi “campeão” apenas em pole-positions, nada menos do que oito conquistadas durante a temporada: Brasil, Espanha, San Marino, Estados Unidos, França, Hungria, Portugal e México. Um feito para quem tinha apenas o terceiro melhor carro do grid disputando contra pilotos já várias vezes campeões mundiais, como Alain Prost e Nelson Piquet, em equipes maiores. Era o início de um recorde aparentemente inatingível de 65 pole-positions que só cairia com Michael Schumacher em 2006.
1987

– Lotus 99T
Chassi: Monocoque feito em fibra de carbono e kevlar
Suspensão dianteira e traseira: sistema de suspensão ativa
Motor: Honda RA166-E, 1.494 cm³, V6 a 80°, turbo (limitado a 4,0 bar)
Transmissão: câmbio manual Lotus de seis marchas
Gasolina: Elf
Pneus: Goodyear
Após a boa temporada de 1986, e com a chegada da Honda à Lotus, imaginava-se que Senna brigaria facilmente pelo título do ano seguinte, mas não foi o que aconteceu. A revolucionária suspensão ativa do modelo 99T (primeiro F-1 a levar a tecnologia para a pista) não correspondeu às expectativas, deixando a briga mais uma vez para Williams e McLaren. Foram duas vitórias em circuitos de rua (Mônaco e Estados Unidos), mais seis pódios (novamente, quatro segundos e dois terceiros lugares) e apenas uma pole-position (San Marino).
1988

– McLaren MP4/4
Chassi: Monocoque de fibra de carbono
Suspensão dianteira: tipo pull-rod
Suspensão traseira: tipo rocker-arm
Motor: Honda RA168-E, 1.494 cm³, V6 a 80°, turbo (limitado a 2,5 Bar)
Transmissão: câmbio manual Weismann/McLaren de seis marchas
Gasolina: Shell
Pneus: Goodyear
Eis o último campeão da “Era Turbo” e, também, o Fórmula 1 mais dominante de todos os tempos. Não fosse uma tentativa de ultrapassagem atrapalhada do próprio Senna sobre um retardatário na penúltima volta do GP da Itália, que resultou em batida e abandono, o MP4/4 teria ganhado todas as corridas da temporada – algo que nunca aconteceu na história da categoria, nem nos tempos da dobradinha Schumacher/Ferrari. Como uma demonstração da velocidade desse carro, Senna cravou nada menos do que 13 pole-positions (Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Hungria, Itália, Japão, México, Mônaco, San Marino). O brasileiro ainda ganhou oito corridas (San Marino, Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Hungria, Bélgica e Japão) e mais três segundos lugares. E, obviamente, seu primeiro título mundial.
1989

– McLaren MP4/5
Chassi: Monocoque de fibra de carbono e kevlar
Suspensão dianteira: tipo pull-rod
Suspensão traseira: tipo rocker-arm
Motor: Honda RA109-E, 3.490 cm³, V10 a 72°, naturalmente aspirado
Transmissão: câmbio manual Weismann/McLaren de seis marchas, longitudinal e transversal
Gasolina: Shell
Pneus: Goodyear
Em uma encarniçada disputa dentro e fora da pista com Alain Prost, Senna amargou sua primeira derrota para um companheiro de equipe justamente quando carregada o número “1” em seu carro. A derrota no campeonato nada teve a ver com a volta dos motores aspirados, é bom que se diga: da configuração 1.5 turbo de quatro cilindros anterior, os motores passaram a ter 3,5 litros, de oito a doze cilindros, aspirados. Nas mãos do brasileiro, o MP4/5 conseguiu seis vitórias (San Marino, Mônaco, México, Alemanha, Bélgica e Espanha), um segundo lugar (Hungria) e, repetindo o ano anterior, incríveis 13 pole-positions.
1990

– McLaren MP4/5B
Chassi: Monocoque de fibra de carbono e kevlar
Suspensão dianteira: tipo pull-rod
Suspensão traseira: tipo rocker-arm
Motor: Honda RA100-E, 3.490 cm³, V10 a 72°, naturalmente aspirado
Transmissão: câmbio manual Weismann/McLaren de seis marchas, longitudinal e transversal
Gasolina: Shell
Pneus: Goodyear
Sem Alain Prost na mesma garagem, Senna teve caminho livre para vencer seu segundo campeonato mundial. O MP4/5B, na verdade, era uma mera evolução do ótimo carro da temporada anterior, que por sua vez era a adaptação do MP4/4 ao motor aspirado. Apesar da tranquilidade dentro da McLaren, desta vez o brasileiro conseguiu “apenas” 10 poles (Alemanha, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, Espanha, Itália, Japão, Mônaco e San Marino), seis vitórias (Estados Unidos, Mônaco, Canadá, Alemanha, Bélgica e Itália) e mais cinco pódios. O título foi decidido na controversa manobra em que Senna jogou o carro em cima da Ferrari do ex-companheiro Prost no GP do Japão – uma vingança pouco nobre sobre o francês, que havia feito a mesma coisa no ano anterior a seu favor.
1991

– McLaren MP4/6
Chassi: Monocoque de fibra de carbono
Motor: Honda RA121-E, 3.493 cm³, V12 a 60°, naturalmente aspirado
Transmissão: câmbio manual Weismann/McLaren de seis marchas, transversal
Gasolina: Shell
Pneus: Goodyear

Motor Honda RA121-E, de 12 cilindros
No box ao lado, surge a primeira Williams “de outro mundo”, como Senna descreveria anos depois, com Nigel Mansell ameaçando o reinado da McLaren. Mesmo sem o melhor carro do grid, Senna se vale da potência do novo motor Honda V12 para vencer as primeiras quatro corridas (Estados Unidos, Brasil, San Marino e Mônaco) e mais três ao longo do ano (Hungria Bélgica e Austrália), além de mais cinco pódios e nove pole-positions, rumando firme para seu terceiro título mundial.
1992
– McLaren MP4/6B
Basicamente se trata do mesmo carro que terminou a temporada anterior. Com ele, Senna disputou o GP da África do Sul, que abriu a temporada, e nada pode fazer contra as Williams FW14 pilotadas Nigel Mansell e Riccardo Patrese, ficando apenas na 3ª posição. No GP seguinte, no México, Senna abandonou.

– McLaren MP4/7A
Chassi: Monocoque de fibra de carbono
Suspensão dianteira: tipo push-rod
Suspensão traseira: tipo push-rod
Motor: Honda RA122-E, 3.493 cm³, V12 a 60°, naturalmente aspirado
Transmissão: câmbio McLaren de seis marchas, transversal, semiautomático
Gasolina: Shell
Pneus: Goodyear
O último McLaren equipado com motor Honda e, ironicamente, o pior deles. Depois de quatro títulos mundiais, uma temporada ruim foi o suficiente para convencer a fabricante japonesa a se retirar das pistas. Os números de Senna na temporada refletem o desastre: três vitórias (entre elas, a história corrida de Mônaco em que Senna “trancou” Mansell nas voltas finais), três pódios, uma pole e apenas o quarto lugar no campeonato (atrás do campeão Mansell, Patrese e um certo Michael Schumacher).
1993

– McLaren MP4/8
Chassi: Estrutura em fibra de carbono e outros materiais compostos
Suspensão dianteira: tipo push-rod
Suspensão traseira: tipo push-rod
Motor: Ford HBD7, 3.494 cm³, V8 a 75°, naturalmente aspirado
Transmissão: câmbio McLaren de seis marchas, transversal, semiautomático
Gasolina: Shell
Pneus: Goodyear
Com a saída da Honda e sem uma grande fabricante disponível no mercado, a McLaren apelou para uma solução quase “genérica”: os motores Ford Cosworth, que equipavam mais três times do grid daquele ano (Benetton, Lotus e Minardi). Pior: quem tinha a prioridade de receber a versão mais atualizada e mais potente do motor era a Benetton, que tinha em Michael Schumacher uma ameaça real ao segundo lugar da McLaren entre as equipes do grid. O primeiro lugar era incontestável: o “alienígena” Williams FW15, com seus diversos auxílios eletrônicos e Alain Prost ao volante, seria insuperável. Mesmo assim, Senna fez o que muitos consideram a melhor temporada de sua carreira, arrancando um vice-campeonato a fórceps com cinco vitórias (incluindo sua segunda vitória no Brasil), dois segundos lugares e uma pole, na Austrália.
1994

– Williams FW16
Chassi: Monocoque em fibra de carbono e aramida
Motor: Renault RS6, 3,493 cm³, V10 a 67°, naturalmente aspirado
Transmissão: câmbio Williams de seis marchas, transversal, semiautomático
Gasolina: Elf
Pneus: Goodyear

Apresentação do novo motor Renault durante a pré-temporada de 1994
Com as mudanças do regulamento que vetaram a eletrônica embarcada, a base do projeto do tão sonhado Williams de Senna se revelou um carro instável, quase inguiável. Prost mais tarde revelaria a Senna que mesmo o carro antecessor, o FW15 com o qual foi campeão, era difícil de pilotar. Senna nunca se adaptou ao carro e nenhuma alteração feita pela Williams ajudou nesse aspecto. Seu talento apareceu nas três pole-positions nas três provas que disputou. No Brasil, rodou enquanto perseguia Schumacher. No GP do Pacífico, em Aida (Japão), foi tocado na largada por Mika Hakkinen. No trágico GP de San Marino, liderava a prova até a sétima volta quando a coluna de direção quebrou na curva Tamburello, causando o acidente. A versão é contestada por muitos dentro da Fórmula 1, que acreditam em quebra da suspensão traseira, furo do pneu (ocasionado pela perda de pressão nas voltas anteriores, que tiveram a intervenção do Safety Car) e até em mal súbito do brasileiro.
eu acredito em mau súbito dele.
Correto, Bruno, obrigado pela observação. Fizemos a correção no texto. Um abraço.
Não foi a barra de direção que quebrou,foi a coluna de direção!