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O mecânico do milênio

Com as evoluções do setor automotivo, os mecânicos tiveram de se adaptar às novidades e tecnologias das grandes marcas, o que fez surgir um novo conceito de profissional e de oficina mecânica, para atender um cliente que também evoluiu.

Carolina Vilanova

1950

Uniforme branco mostra preocupação com a aparência

Já faz parte de um passado bem distante o tempo em que o mecânico era um indivíduo grosseiro, de roupas e mãos sujas, trabalhando em uma oficina desorganizada, sem limpeza, proteção, qualidade ou garantia de serviço. Se a indústria automobilística evoluiu com a incorporação de cada vez mais tecnologia e a de autopeças acompanhou esse processo, se fez mais do que necessário que o profissional de mecânica automotiva embarcasse nesse caminho, afinal, o cliente também já não era mais o mesmo de anos atrás.

O mecânico passou a ser conhecido como profissional da reparação, ou reparador, e atende em sua oficina clientes muito mais exigentes do que no passado, sendo que boa parte é formada por mulheres. O mecânico do novo milênio está sempre bem vestido, com uniforme em ordem e mãos limpas, além disso faz uso de equipamentos de segurança como óculos, luvas e cremes protetores para as mãos.

1949

Ambiente claro, arejado, organizado e bem equipado,

essa é a oficina do mecânico do novo milênio

A oficina é organizada e muitas vezes tão limpa quanto uma sala de cirurgia, e até o lixo é limpo e reciclado, tudo em nome do meio ambiente. Computadores e equipamentos de alta tecnologia são essenciais para a sobrevivência do negócio, mas acima de tudo, saber como funcionam e como operá-los com eficiência é ainda mais importante. O mecânico do novo milênio busca informações na Internet e em publicações especializadas diariamente, ele ainda freqüenta cursos de especialização, feiras do setor e está sempre preocupado em conquistar certificados.

O bom atendimento, a recepção na oficina e a captação de novos clientes também se tornaram de extrema importância para o mecânico do novo milênio, que tem como objetivo principal a satisfação do seu cliente. A fidelização ficou bem mais difícil e os estabelecimentos de qualidade sabem disso e oferecem produtos e serviços extras, como leva e traz, lavagem do carro, ou seja, um agrado a mais.

Qualquer falha pode comprometer a volta dele na oficina, além de prejudicar na hora da propaganda boca-a-boca, um recurso que ainda não caiu de moda. Todos os proprietários querem ter um mecânico de confiança, um amigo em quem confiar para consertar o seu veículo e até ajudar na compra de outro. Mas conquistar essa confiança e mantê-la não é das tarefas mais fáceis, principalmente, num mercado tão competitivo com tantos profissionais de qualidade, no qual a reparação brasileira pode contar nos dias de hoje.

O mecânico do novo milênio preza pela qualidade das peças que aplica e pelos serviços que oferece, e muitas vezes ele se torna conselheiro do cliente quando o assunto é carro, reparos e manutenções. E para alcançar um padrão de excelência em qualidade não existe outra maneira senão investir em equipamentos, tecnologias e treinamentos de funcionários. Essa é a fórmula utilizada nas oficinas de concessionárias das grandes marcas há tempos, que seguem os moldes exigidos pelas montadoras,modelos que abaram se estendendo para um grande grupo de oficinas independentes que querem obter sucesso nos negócios.

Uma história dentro da reparação

Muito influente no setor da reparação veicular, Geraldo Santo Mauro, presidente da ASE Brasil, uma entidade especializada em certificar a categoria de reparadores, acompanhou toda a evolução do setor, por meio das oficinas dais quais já foi proprietário e de sua participação como presidente do Sindirepa-SP por 21 anos e da Abrive (Associação Brasileira dos Reparadores Independentes de Veículos).

1957

O Fusca sempre foi considerado “fácil de mexer”

“Meu pai abriu uma oficina nos anos 30 e foi pioneiro no conceito de oficina de emergência. Comecei a trabalhar com ele quando tinha 14 anos e acompanhei toda a história da reparação e da chegada das fábricas de carros no Brasil. Conforme os carros e as tecnologias chegavam, os mecânicos se empenhavam para aprender. Apenas no final dos anos 30, por exemplo, é que surgiu o freio hidráulico e em seguida o servo-freio”, lembra.

O bom mecânico naquela época era aquele que sabia como e por que o sistema funcionava, além de ser capaz de fazer um diagnóstico correto. O melhor aparelho de testes do profissional era o ouvido.
O número de mecânicos cresceu conforme a necessidade da indústria e os próprios fabricantes ministravamos treinamentos. Mesmo com o racionamento do combustível no período de guerra, a frota continuou crescendo e a utilização do gasogênio causou diversos problemas como redução de potência e avarias no motor. “Foi quando surgiram as retíficas de motores”,conta.

1955

Santo Mauro, presidente da ASE, começou sua carreira na oficina do pai

“Outro destaque que aconteceu após a segunda guerra, quando as fábricas se instalaram no Brasil e encontraram a indústria de autopeças se preparando para atender a demanda. Mas a grande revolução aconteceu com a entrada da tecnologia que começara a surgir no mercado e, com isso, os mecânicos tiveram que buscar cursos e conhecimento básico de como manusear as novas ferramentas e equipamentos para eventuais reparos”.

De acordo com santo Mauro, hoje tudo é muito diferente, pois os carros estão num nível de tecnologia e excelência tão alto que reflete numa durabilidade superior em relação ao veículo do passado. “Um serviço de retífica, por exemplo, ficou mais escasso, pois até os anos 90 um motor durava 100 mil km e hoje alcança os 400 mil km, em função da incorporação do sistema de injeção eletrônica”, diz.

1956

Com o passar dos anos, as oficinas começaram a investir em equipamentos e treinamentos

“Antigamente o próprio cliente tinha um perfil diferente, ele mesmo não sabia nada sobre seu carro e hoje está mais exigente e tem conhecimento básico do funcionamento do seu carro. Ele quer realizar as manutenções num lugar especializado, onde o problema será resolvido com segurança e garantia. Fica caro para o motorista deixar o carro em qualquer lugar, e ele sabe disso”.

O setor evolui a cada dia e a maioria dos sistemas dependem de chips, sensores e atuadores. Se uma peça tem problema é necessário substituir por outra nova.

1948

“O mecânico vai existir até quando existirem automóveis, seja na manutenção preventiva ou corretiva. A tendência, assim como nos EUA é a abertura de centros automotivos, onde se oferece todos os serviços de diagnósticos que deverão ser apresentados nas oficinas onde os reparos serão realizados. As oficinas vão seguir um padrão e a formação de parceria vai ficar cada vez mais necessária e eficaz”, finaliza.

A oficina do século XXI

A Tecnocar pode ser considerada um exemplo entre as oficinas de reparação. Num ambiente claro e limpo, a empresa funciona há 15 anos e sempre foi preocupada com organização e limpeza. Comandada por três irmãos, Paulo, Carlos e Roberto Kazlauskas, a oficina faz todos os tipos de serviços mecânicos e se intitula como uma oficina ecológica, afinal todo o lixo é reciclado e a água usada é tratada. Promoções por meio da internet é um diferencial: “propiciamos aos nossos clientes, inclusive, o histórico do carro online, que é acessado com senha e login”, diz Roberto, que administra o local. Os mecânicos são Paulo e Carlos, ambos com formação no SENAI e certificação ASE. Para divulgar a oficina os irmãos apostam em propagandas em revistas e jornais de bairro.

1952

Os clientes estão satisfeitos com os serviços.“Comecei a trazer meu carro por indicação de familiares e continuo trazendo aqui para fazer a manutenção preventiva pela qualidade dos serviços e das peças. Os certificados e cursos que eles conquistaram estão em evidência, o que nos ajuda a confiar mais no profissional”, conta Santiago Motta, empresário.

  • 1947
    Laboratório de testes e coleta
    seletiva fazem parte do novo padrão
  • 1951
    A atendimento e o conforto dos clientes é tão importante
    quantoa qualidade dos serviços

 
O sonho do negócio próprio

Apaixonada pela profissão, Roseli da Silva atua como mecânica há dez anos e acaba de montar seu próprio negócio, seu maior sonho. “Achava interessante ver os mecânicos trabalharem quando era criança, tanto que aos 10 anos já ajudava numa oficina lavando peças, mesmo contrariada pela minha família que dizia que aquele não era ambiente para uma menina”, contou.

  • 1953
    Roseli trocou a costura pela mecânica
  • 1954
    Deficiente visual, Pedro efetua
    todos os serviços numa oficina

 

Depois de um período trabalhando em uma oficina de costura, Roseli descobriu que não queria estar fora do ramo e então buscou um SENAI para fazer o curso de mecânica. Começou trabalhando numa concessionária mas sempre sonhou em montar seu próprio negócio, que teve início na garagem de sua casa. Tenho certificado da ASE e não meço esforços na hora de fazer cursos, afinal eu sempre busco a perfeição no meu trabalho”. Roseli está montando um site de mecânica para mulheres.

Sem obstáculos, nem limites

Quem conhece o trabalho do mecânico Pedro Fernando Melchert de Carvalho e Silva, da oficina Zelão-car, em São Paulo/SP, pode compreender o que é lutar por uma profissão. Pedro é deficiente visual e mesmo com essa barreira ele seguiu os passos do irmão, que já gostava muito de mexer em carros. Começou lavando peças, fez alguns cursos, adquiriu experiência e trabalhou em diferentes concessionárias. Hoje com 22 anos de carreira, ele é capaz de executar todos os serviços e diz que percebe tudo pelo barulho e pelo tato.

Em 1997 conquistou a certificação ASE nas modalidades freio e motor. “Um colega me descreve os desenhos durante a prova, além disso sempre leio livros técnicos com meus companheiros, afinal é muito importante obter o máximo de informações possíveis, pois quem não se atualiza vai ficar para trás”, alerta.

O patrão de Pedro, Renato Anselmo, conta que no começo as pessoas têm preconceito, mas depois que conhecem o seu trabalho pedem para que o Pedro faça o serviço. “Ele é um profissional normal, que não gosta de favoritismo, por isso os prazos em relação a tempo de serviço são cobrados da mesma maneira”, afirma.

Ele garante que nunca houve nenhum acidente com o funcionário e que ele é muito independente. “Esse profissional eu não quero perder, pela amizade, pelo seu trabalho e pela força que ele nos transmite”, finaliza.

2 comentários em “O mecânico do milênio

  1. Oi gostaria de saber mais sobre ei curso de mecânica básica do milênio…. Pode mandar resposta??

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