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Nova gasolina: muda algo no diagnóstico de motores?

Nova gasolina

Com mudança no padrão de octanagem mínima, combustível promete evitar ocorrência da detonação

 

Desde o início de agosto, a gasolina comercializada no Brasil passou a obedecer novos critérios de qualidade, o que inclui exigência de massa específica mínima e octanagem em novo padrão. O objetivo é evitar a ocorrência de detonação em motores mais modernos e melhorar os índices de eficiência energética, de acordo com a Resolução nº 807/2020, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Uma das mudanças é a necessidade de octanagem mínima de 92 para gasolina comum e aditivada e 97 para gasolina premium pela metodologia RON (Research Octane Number), padrão já utilizado na Europa. Anteriormente, era utilizada a classificação MON (Motor Octane Number), a mesma dos Estados Unidos. A octanagem RON não era um parâmetro regulado pela ANP, que limitava apenas o MON e o IAD (Índice Anti-detonante), que é a média entre MON e RON.

Na prática, todos estes índices são referentes à octanagem, que é a capacidade de resistência da gasolina às altas pressões e temperaturas dentro da câmara de combustão. Quanto maior o valor da octanagem, maior é a resistência à detonação.

Nova gasolina

“Os veículos de tecnologias mais modernas são muito mais sensíveis à octanagem RON e algumas montadoras chegaram a ter problemas de detonação em alguns modelos novos”, explica o especialista em novos produtos da Petrobras, Rogério Gonçalves.

Já para veículos mais antigos, não haverá prejuízo. “Não há qualquer inconveniente de utilizar a nova gasolina por motores mais antigos ou com taxa de compressão mais baixa. Devido à octanagem RON mais alta, os motores estarão ainda mais protegidos. A octanagem MON, mais representativa dos motores antigos, continuará com seu valor mínimo anterior, de 82”, ressalta o especialista. A Petrobras, inclusive, já padronizou a produção de gasolina comum com octanagem RON 93, valor será exigido por lei somente a partir de 2022.

Outra alteração da chamada “nova gasolina” é a exigência de densidade mínima de 715 kg/m³, o que ajudará na diminuição do consumo. “Quanto maior a massa específica do combustível em termos de hidrocarbonetos, maior é a densidade energética do combustível, ou seja, para o mesmo volume de combustível injetado no motor haverá a geração de maior quantidade de energia no momento da queima do combustível. Com isso, esperamos que proporcione maior rendimento, gerando diminuição do consumo”, detalha a especialista em regulação da ANP, Ednéa Caliman.

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“No passado havia muita ocorrência de gasolinas leves no mercado, principalmente de origem importada, o que prejudicava muito o consumo dos veículos, fossem eles novos ou antigos. O estabelecimento da massa específica mínima irá acabar com isso”, acrescenta Gonçalves.

A redução no consumo pode chegar a 5%, de acordo com testes realizados pela Petrobras com carros com diferentes tipos de injeção (multiponto e direta). “Os veículos mais modernos, principalmente os flex, com sistemas avançados de controle de detonação, podem ter vantagens ainda maiores”, revela o especialista da Petrobras.

A opinião é compartilhada pelo professor de Engenharia Mecânica e consultor técnico da Revista O Mecânico, Fernando Landulfo. “O novo padrão é bom para os motores flex e os de alta performance, que operarão com valores de avanço de ignição mais acentuados sem detonar. Isso implica em mais rendimento e menor consumo. As altas taxas de compressão dos motores flex obrigam as unidades de comando a atrasar a ignição em determinadas situações – quando o motor opera apenas com gasolina – a fim de evitar ou eliminar a detonação”, explica Landulfo.

Nova gasolina

O novo padrão não muda a durabilidade da gasolina, que teve o nível de estabilidade mantido. “É muito difícil estabelecer prazo de validade de uma gasolina depois que ela sai da refinaria e fica sujeita a variações de temperatura, umidade, manuseios incorretos e armazenamento inadequado”, ressalta Rogério Gonçalves. Outro benefício da nova gasolina é a maior dificuldade de adulteração. “A nova especificação possui requisitos mais rígidos, que dificultam a chance de fraudes”, relembra.

De acordo com a ANP, o novo padrão da gasolina atende aos atuais requisitos de consumo de combustível dos veículos e de níveis de emissões que serão exigidos pelas futuras fases L-7 e L-8 do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve), do Ibama, e do Programa Rota 2030.

E PARA O MECÂNICO?

 

A chegada do novo padrão da gasolina irá mudar o diagnóstico de problemas em motores na oficina? Na visão do professor Fernando Landulfo, não haverá alteração na hora da manutenção. “Para o mecânico pouco muda, pois ele não tem como identificar a octanagem da gasolina. O que importa, e mais influencia, é a qualidade do combustível. A exceção fica por conta da ocorrência de detonação. Se o mecânico tiver certeza de que o combustível utilizado é de alta octanagem, pode procurar a razão da ocorrência da detonação em outros lugares. Mas isso é muito difícil”, opina.

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Avanço de ignição indica o momento da emissão da centelha pela vela de ignição

“É esperada uma menor ocorrência de problemas de quebra de motor por detonação, uma vez que a nova especificação deverá reduzir a ocorrência de fraudes na gasolina”, conta Gonçalves. Em caso de consumo elevado, será mais fácil identificar combustível de má qualidade. “O mecânico consegue medir a massa específica da gasolina e detectar combustível adulterado, que pode estar provocando maior consumo”, explica Landulfo.

O cuidado com a qualidade do combustível escolhido pelos motoristas é justamente uma das recomendações do especialista da Petrobras. “Sendo a gasolina utilizada pelo usuário de boa procedência e seguindo as recomendações do fabricante em relação às manutenções periódicas, não é esperada nenhuma anomalia nos motores decorrente de combustível. Por isso recomenda-se sempre procurar abastecer em postos de serviço de boa reputação”, alerta Gonçalves.

 

Texto Gustavo de Sá

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