Mão de obra em extinção

Donos de oficina sentem a ausência de reparadores qualificados para contratar; problema está associado ao crescimento da indústria e à falta de interesse das novas gerações na profissão

Vitor Marcondes

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Há mais de um ano com vagas abertas para técnico em injeção eletrônica e montador de motor, Silvio Candido, gerente operacional da mecânica Peghasus, está preocupado com a dificuldade de encontrar profissionais para os cargos. Perplexo por saber que a escassez atinge toda a cadeia automotiva, ele arrisca um palpite sobre o fenômeno. “Não conseguimos incentivar os estudantes ou até mesmo outras pessoas a se encantar pela reparação”.

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Fiola: evolução tecnológica contribui para falta de profissionais qualificados

As palavras deste apaixonado pela área definem apenas uma parcela da questão. Muitos outros fatores respondem pela carência de mecânicos que assola o setor, como o aumento de carros nas ruas e o avanço tecnológico dos veículos. “A ampliação da frota circulante e a evolução tecnológica contribuíram para a falta de mecânicos qualificados. Antes da injeção eletrônica, o reparador aprendia o serviço na prática. Agora, a profissão exige treinamento constante e conhecimento técnico”, analisa Antonio Fiola, presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo (Sindirepa-SP).

“Antes de ingressar no mercado de trabalho, o reparador tem que estar completamente preparado”, comenta Fiola. Mas isso não é o que acontece quando candidatos recém-formados formam fila em frente às oficinas e são descartados logo na primeira entrevista. Pedro Scopino, administrador da Auto Mecânica Scopino, está a seis meses em busca de um auxiliar de mecânico. “Chegam candidatos com muita teoria e nenhuma prática”, diz.

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SENAI teve mais de 315 mil vagas para cursos de especialização

Silvio sofre o mesmo drama que o colega de profissão. “Já perdi as contas de quantas pessoas avaliei. A maioria chega com diploma, mas sem nenhuma qualificação para o trabalho. Temos um questionário com cerca de vinte perguntas de múltipla escolha, mas muitas vezes o resultado é calamitoso”, diz inconformado. “Em alguns casos ainda dou chance para o candidato, mas sempre acabo decepcionado.”

De acordo com Mauro Alves, coordenador técnico do SENAI-Ipiranga, o grande problema não está na formação dos alunos, já que os cursos de mecânica da instituição desenvolvem as competências técnicas e sociais de cada profissional, principalmente, por meio de aulas práticas. “O mercado precisa entender que esse período inicial faz parte do processo de formação do trabalhador. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informa que após a conclusão do curso, no caso do Mecânico de Automóvel, é necessária a experiência dentro do ambiente de trabalho de três a quatro anos para o pleno exercício da profissão”, explica Mauro.

Para ele, o reparador que acabou de pegar o diploma deve ser encarado como um aprendiz ou um estagiário, de acordo com o módulo que estudou. O coordenador admite a falta de mão de obra no setor, mas atrela o problema ao aquecimento econômico brasileiro. “Segundo um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o setor automotivo, incluindo as montadoras e indústria de autopeças, prevê a abertura de 59,7 mil postos de trabalho até 2012.”

Outro índice de que o número de empregos deve crescer são os dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que prevê a comercialização de 3,63 milhões de veículos em 2011, um aumento de 5,2 % em relação ao ano de 2010. Por outro lado, isso também significa que a situação pode agravar com os profissionais migrando para as montadoras e deixando a reparação independente numa situação ainda mais complicada.

Alerta vermelho

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Não apenas as oficinas de rua têm dificuldades na contratação, as concessionárias também começam a observar a ausência de mecânicos no mercado. O presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo (Sincodiv-SP), Octavio Leite Vallejo, analisa o caso e denuncia que em breve o País poderá sofrer um apagão de mão de obra. “Não só as concessionárias, ou o setor automotivo, mas em todos os setores da economia nacional. O brasileiro não quer seguir uma carreira profissionalizante, quer ser doutor”, critica.

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Octávio acredita que pode haver apagão de mão de obra

E essa temida escuridão proletária já pode ser sentida em toda a indústria nacional, de acordo com uma pesquisa realizada pela Manpower, empresa internacional de serviços em recursos humanos. O estudo apontou o Brasil como um dos países com mais obstáculos no preenchimento de vagas; 64% dos entrevistados disseram ter dificuldades para contratar. Entre os dez cargos com maior escassez os que aparecem em primeiro no ranking são técnicos em produção, operações, engenharia e manutenção.

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Aliança no setor

“Uma das soluções para que o mercado passe a ter acesso a reparadores mais preparados deve ser a união do segmento no sentido de investir em cursos e treinamentos de capacitação”, explica Fiola. O Sindirepa-SP em parceria com o SENAI-Ipiranga deverá criar novos cursos para a área a partir de uma pesquisa encerrada em dezembro de 2010, realizada com empresas e instituições. O estudo identificou as áreas da oficina que mais necessitam de atualização e servirá de base para elaboração do conteúdo que será ministrado nos módulos.

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SENAI continua sendo a melhor opção quando o assunto é formação de mecânico automotivo

Mauro explica que as informações coletadas ajudam a melhorar o trabalho feito com os alunos, além de ampliar a demanda de cursos e a oferta de novas turmas. “Apenas para exemplificar, nos cursos de Aprendizagem Mecânico Automobilístico e Técnico em Manutenção Automotiva do SENAI-Ipiranga, as vagas em 2011 aumentaram em 12 % com relação a 2010. Isso significa um salto de 420 para 470 matrículas só nessa unidade.”

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Apesar de o número a seguir estar em queda nos últimos anos, o Brasil possui 87 mil oficinas que empregam mais de 680 mil profissionais, segundo um estudo promovido pelo Grupo da Manutenção Automotiva (GMA). Baseado nisso, Mauro afirma que ainda é ampla a oferta de trabalho e fala da nova forma de gerenciamento de algumas empresas que pensam em reter os bons profissionais. “O mecânico também avalia as perspectivas de crescimento. Atentas a essa situação, muitas reparadoras estão criando planos de carreira para os funcionários, planejando e proporcionando o aperfeiçoamento profissional da sua equipe, o que pode tornar o segmento mais atrativo.”

Número de oficinas independentes por região

E nada mais incentivador que oferecer cursos, boas condições de trabalho e salário adequado. Segundo Fiola, o sindicato que representa a categoria vinculada à CUT estipula que a faixa salarial em São Paulo seja de R$ 792,00 para empresas com até 35 funcionários. Já a Força Sindical estabelece o valor de R$ 797,08 para empresas com até 100 funcionários. “Contudo, o profissional competente pode chegar a ganhar bem mais do que esse piso. Há casos em que mecânicos experientes chegam a ganhar R$ 3 mil por mês, depende do acordo firmado entre empregado e empresa que pode incluir remuneração extra por produção”, diz.

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José Carlos frequenta palestras e cursos ministrados na oficina

Um dos benefícios fornecidos pela mecânica Scopino são os prêmios por meta atingida. O funcionário José Carlos Cornélio diz que se sente reconhecido e bem pago, além de ser estimulado a estudar. “Frequento palestras de lojas de autopeças e cursos ministrados aqui na própria oficina”.

Por sua vez, o centro automotivo Peghasus oferece 5% por cada trabalho realizado e ainda dá compensações em dinheiro para os empregados que não faltam ou atrasam. Satisfeito com seu emprego, o técnico Daniel Camilo de Oliveira desenlaça o que todo administrador de uma oficina deseja ouvir para saber que está no caminho certo. “Gosto do que eu faço e me sinto bem. Estou realizado com minha profissão”.

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Daniel Camilo é apaixonado por mecânica e está satisfeito na profissão

Se a sociedade tomar as medidas corretas em conjunto com as devidas instituições e dirigentes do País, certamente o suposto apagão não passará de uma especulação. Os futuros reparadores estarão muito mais preparados e orgulhosos de trabalhar numa oficina mecânica e os empregadores, por sua vez, mais tranquilos e seguros com relação a sua equipe.

21 comentários em “Mão de obra em extinção

  1. Gostei muito dos comentários e como é bom ter esse espaço de fala para manifestarmos o que realmente sentimos na profissão de reparador automotivo.

  2. Não dão valor por isso o mercado vai cada vez ficar com menos promocional…
    Se os chefes e caciques quiserem índio a tribo partir para a dança do salário melhor….

  3. Bom dia. Pode até em partes ser verdade, mas eu sempre procurei, desde adolescente, trabalho na área e nunca tive oportunidade para trabalhar em uma oficina. O que aprendi foi fuçando, realizando treinamentos e na maioria dos casos foi em problemas com meus veículos em locais de quase nenhum recurso que tive que realizar uma troca de peças que havia sido trocada a pouco tempo. Fiz curso no Senai a pouco tempo e apesar de ter uma pequena oficina ainda estou a procura de um serviço para aquirir mais aprendizados.
    O que fez aprender foi me atualizar sempre. O difícil está sendo arrumar um emprego na área.

  4. Boa noite! Sou o João Rafael, já estou na profissão de mecânico há três anos. Gosto muito do que faço e com esse curso pretendo ser um Técnico de manutenção Automotiva qualificado.

  5. Em outras palavras, a mentalidade do contratante é “não adianta estudar tem que ter experiência” e estes são os primeiros a fechar as portas. Um cara que mal sabe ler e escrever, faz tudo a olho, sem embasamento, sem conhecimento, sem segurança, mas que mexe com isso há 10 anos tem muito mais chances do que um cara que se formou num curso técnico, estudou, fez aula teórica, fez aula prática, aula de segurança, entre outras. Como é possível ter experiência se ninguém dá uma oportunidade? Cheguei a pedir estágio, treinamento, aprendizado TUDO SEM REMUNERAÇÃO e só recebi NÃO. Se o setor vai sofrer “apagão” é por culpa das próprias empresas e num futuro talvez próximo, eles que se virem para contratar bons profissionais a peso de ouro, ou então mudem a mentalidade. Não custa nada pegar um pessoal periodicamente e ensinar, nem que seja só pra ficar olhando o pessoal trabalhar, mesmo que seja sem remuneração também, aí contrata só os melhores, os mais interessados. Eu sinceramente acho difícil de acreditar em textos como esse.

  6. Sou profissional desta área e garanto q sou muito exigente e capacitado para execução de projetos e serviços desta área automotiva,sou mais um apaixonado por veículos automotores.Gostaria muito de participar de algum curso e envestimento, obrigado.

  7. Pois é, custam a achar um mecânico qualificado…quando acham, querem pagar miséria. O resultado não poderia ser outro, a escassez de mão de obra.

  8. as oficinas querem um profissional q saiba tudo sobre mecanica eletrica e tapeçaria e oferecem um salario de porteiro…este é o real motivo da falta de mao de obra

  9. Só pode ser piada!

    Eles falam, falam e falam, mas fingem que ignoram o fato determinante para a falta de interessados em se especializarem no segmento de reparo automotivo!

    Salários baixíssimos!

    Ser um profissional competente no mercado de reparação automotiva demanda estudos contínuos e intermináveis, e para que alguém vai estudar tanto assim? Para ganhar R$ 3.000,00 no final do mês?

    Quem vai se interessar por isso?
    Simplesmente, não tem para onde crescer no mercado de reparação automotiva, se depender do patrão, o funcionário vai ser reparador até morrer e ganhando a mesma merda de salário passa fome, além disso o teto do reparador automotivo é ridículo!

    Para um garoto de 18 anos recém formado do SENAI, R$ 3.000,00 pode ser um salário atraente, mas é para um pai de família com 5, 6, 7, 10 anos de experiência, esse é um salário miserável!

    Hoje no mercado automotivo um profissional com 10 anos de experiência vai ganhar quanto? R$ 4.000,00? R$ 5.000,00? Lixo!

    Trabalhar e estudar 10 anos, para no final do mês garantir a miséria de R$ 5.000,00, para um pai de família que tem que educar seus filhos?

    Qual é o idiota que vai querer ser reparador hoje em dia, se é uma profissão que você já começa limitado pelo mercado, e com passar do anos, não vai mudar porcaria nenhuma?

    Quem vai seguir um caminho que já está com o destino de miséria traçado?

    Deem graças a Deus aos altos índices de desemprego no Brasil, pois só assim para os poucos profissionais existentes continuarem se sujeitando a esses salários passa fome!

    Ridículos.

    É muito melhor ser doutor e garantir o piso de R$ 8.000,00 por mês para trabalhar 6 horas diárias, em um ambiente agradável que é a sala de estudos, e com a possibilidade real de chegar ao teto acima dos R$ 20.000,00!

    Eu sou apaixonado por carros, vou abrir minha oficina, auto elétrica e retificadora, e quem trabalhar nela, se for competente, terá um salário digno e honesto!

    Ass: Elias Silva Mendes

  10. Maurício, o técnico em manutenção automotiva é um profissional mais administrativo (gestor). Um abraço.

  11. Gostaria de saber onde fazer os cursos na área de reparação de ECU e qual o salário desse profissional

  12. sobre essa falta de profissionais existe um porque , e so contratar profissional e pagar bem,valorizar o mesmo que talvez esses donos de oficina achen.o dono ganha dez mil reais e as vesez nem sabe ou sempre nunca esta a altura de ser profissional ,porque e zoiiuudo ,apenas quer lucrar ..so ele quer certo.ae quer pagar 1200 reais pra profissional ser humilhado e tirado.por favor se for pra humilhar profissional com trocados ..vai no senai pegar aprendiz…vamos ver se esses donos de oficina aguentam….so querem mandar e ganhar nome nas costas de pessoas gabaritadas e qualificadas…que infelizmente ainda nao conseguiram montar sua propia mecanica…….desculpem pelo desabafo mas as pessoas precisam ser mais valorisadas e ser mais respeitadas …e e por essas e outras que voces nao acham profissionais …pagando miseria vai demorar …achar o profissional a altura

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