2º Fórum IQA da Qualidade Automotiva reúne representantes da área em montadoras e fabricantes de autopeças, além de órgãos do setor, para discutir tendências globais e alternativas para o Brasil
Fernando Lalli
União da cadeia e percepção do cliente. Estes foram dois dos principais temas levantados pelo 2º Fórum IQA da Qualidade Automotiva, que aconteceu nesta segunda-feira, 15/09, em São Paulo/SP. Com a participação de 250 representantes de montadoras, fabricantes de autopeças e órgãos do setor, o fórum promovido pelo IQA (Instituto da Qualidade Automotiva) teve dois painéis e sete palestras com o objetivo de debater as tendências globais e a situação atual da qualidade automotiva no Brasil.
Durante o evento, foram apresentadas as dificuldades, paradigmas e desafios que devem ser superados para conseguir evoluir dentro do contexto atual. Para o presidente do IQA, Ingo Pelikan, existe a necessidade de montadoras e autopeças estabelecerem um programa mais completo, tendo em vista o desenvolvimento de todos os elos da cadeia. “Para conquistar a qualidade, todos os segmentos envolvidos têm de se unir mais, pois não bastam ações isoladas”, afirmou.
Ingo destacou entre os pontos fortes que marcaram o encontro a primeira participação da Fenabrave, representada pelo diretor de Relações com o Mercado, Valdner Papa, mostrando a atuação do concessionário junto ao cliente final. O presidente do IQA ainda ressaltou a disponibilidade do Inmetro em apoiar as iniciativas e do programa Inovar-Auto.
Qualidade é aquilo que o cliente percebe
Por um lado, as montadoras se veem na obrigação de ver através dos olhos do cliente para que a percepção da qualidade aumente. Por outro, a qualidade também depende de seus fornecedores em todas as camadas, o que só é possível através da união em torno desse objetivo em comum.
O diretor da Qualidade Assegurada da Volkswagen do Brasil, Richard Schwarzwald, discursou sobre a importância da qualidade para a indústria ganhar competitividade e a exigência de novos patamares nesse quesito para diminuir os custos e atender às expectativas do cliente. “Máquinas não compram carro. Quem compra carro é gente”, declarou Richard durante sua fala, apontando para o fato de que a qualidade não deveria ser apenas estatística no produto, mas, sim, percebida pelo comprador do automóvel. Segundo ele, a insatisfação do cliente é tanto custosa quanto difícil de ser contabilizada.
A percepção do cliente também foi citada por Martin Bodewig, diretor da Roland Berger. Martin apresentou dados sobre a queda do volume de produção e vendas de veículos em 2014 no Brasil e as projeções para os próximos anos. Ele coloca a qualidade como um desafio a ser superado pela cadeia automotiva como um todo, algo essencial para construir uma reputação que mantenha os clientes da montadora e atraia novos compradores.
No entanto, os números que a diretora da Prada Assessoria, Letícia Costa, expôs durante sua fala, mostraram que o setor investe e evolui de forma descompassada. Enquanto há aportes constantes de investimento de montadoras, as sistemistas e fornecedores investem cada vez menos, enquanto a idade média de seus maquinários sobe cada vez mais e o faturamento diminui. Na interpretação de Letícia, isso faz com que a qualidade não venha melhorando no ritmo necessário, mas não é a única causa.
“Por melhor que seja o produto, se o cliente não estiver satisfeito, é preciso descobrir o motivo”, acrescentou durante explanação sobre os cinco desafios importantes para a melhoria do setor, do fabricante de veículos ao concessionário, em que ponderou as dificuldades para mudar o desempenho da qualidade de um patamar a outro.
Representando o pós-venda, Valdner Papa da Fenabrave colocou a perspectiva da ponta do mercado, citando que, atualmente, 98% das mais de 8 mil concessionárias do Brasil já possuem um profissional voltado para a qualidade, o que hoje é questão de sobrevivência para o negócio. “Fidelização é a única saída para a cadeia produtiva, e ela só vem com a qualidade do serviço”. sublinhou.
Cadeia automotiva tem que ser fortalecida
O diretor da Qualidade da Fiat Chrysler Latin America, Amin Alidina, ressaltou a importância da qualidade em todos os segmentos da cadeia automotiva. “Carros tem que ser mais do que preço. Queremos que nossos clientes sejam leais à marca”, declarou Amin. Outra representante da Fiat, Cristiane Paixão (diretora de Qualidade da Fiat Automóveis), participou de painel que também reuniu Bruno Neri (gerente da Qualidade Corporativa da Bosch), Leandro Siqueira (diretor da Qualidade da MAN Latin America) e Flávio Mateus (diretor executivo da Schaeffler). “A cadeia tem de ser toda fortalecida. A metodologia é global, mas a aplicação deve ser local”, disse Cristiane.
“Para conquistar a qualidade, todos os segmentos envolvidos têm de
se unir mais, pois não bastam ações isoladas”, afirmou
Ingo Pelikan, presidente do IQA
Flávio Mateus opinou que o problema de falta de qualidade dentro do setor também passa pela educação. “Quanto mais descemos na cadeia produtiva, maior a deficiência de formação básica e de compromisso. As empresas têm de qualificar o funcionário, culminando por encarecer o produto. A deficiência em educação, ou a falta dela, é um dos motivos por não sermos tão competitivos”, analisou. A saída comentada pelos palestrantes é o contínuo investimento em treinamentos e processos seletivos mais rigorosos.
Já os efeitos do programa Inovar-Auto foram abordados pelo vice-presidente da Anfavea, Rogério Rezende, que argumentou que até 2018 serão investidos no Brasil R$ 12 bilhões, somente em P&D e engenharia, ano em que o setor deverá exportar um milhão de unidades (18% da produção). A diretora substituta e coordenadora geral do Departamento de Indústrias de Equipamentos de Transporte do MDIC (Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Margarete Gandini, comentou durante sua fala que o Inovar-Auto tem o objetivo de estimular investimentos de montadoras e sistemistas, visando a competitividade e o desenvolvimento de produtos globais, gerando Efeitos multiplicadores na economia e na sociedade brasileira.
Em vista de oferecer ferramentas para o setor, o diretor da Divisão de Avaliação da Conformidade do Inmetro, Alfredo Lobo, falou sobre o Centro de Tecnologia Automotiva do órgão em Xerém/RJ que será estruturado para estabelecer parcerias com o setor produtivo e deve receber investimento de R$ 50 milhões.