Superbanner - Texaco (30/08 a 24/01/24)

Escola de Restauração | História da Agrale

Por Fábio de Cillo Pagotto*


A história do jovem Francisco Stedile, filho de imigrantes italianos e morador da cidade de Caxias do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul, foi sempre de muita perseverança e trabalho. Na época da Segunda Guerra Mundial trabalhou como caminhoneiro, carregando seu velho caminhão Ford e transportando toras de madeira pela serra gaúcha até o Estado do Paraná e, após o término do conflito, foi comerciante de autopeças, acumulando conhecimento e experiência no mercado de assistência técnica de veículos.

No início da década de 50, juntou suas economias e viajou para a Itália em busca de tecnologia para fabricar rodas, tendo em vista o crescente mercado automobilístico. Trouxe de lá uma licença para fabricar lonas de freio e assim, surge a Fras-Le, que com a implantação de novas indústrias de automóveis no País obteve muito sucesso e apresentou um forte crescimento, até tornar-se a maior fabricante de lonas de freio da América Latina.

Tratores e Motocicletas



Em 1965, a Francisco Stedile S.A. adquiriu a Agrisa – Indústria Gaúcha de Implementos e Máquinas Agrícolas, que estava em dificuldades financeiras, e dois anos depois começa a produzir seu primeiro motor Diesel, sob licença da empresa Hatz alemã.

A Agrale S.A – Tratores e Motores, novo nome da empresa, apresenta seu primeiro trator, o T- 415, em 1968, com preço acessível ao pequeno e médio agricultor, começando assim a trajetória como fabricante de tratores.



Já nos anos 1980, com a aquisição da Alpina do Brasil em 1981, uma fabricante de ciclomotores, e dois anos depois, firmou um acordo para a fabricação das motocicletas da italiana Cagiva, com potentes motores de dois tempos e refrigeração líquida.
Assim, a linha de motocicletas Agrale ganha espaço no mercado nacional, numa época em que a importação estava fechada e as concorrentes montavam suas motos na zona franca de Manaus/AM.



Caminhões



Stedile, sempre atento a novas oportunidades e a necessidade do mercado, observou que muitos agricultores precisavam de carretas agrícolas motorizadas. Encomendou um projeto aos engenheiros da empresa utilizando o motor de dois cilindros que já era produzido por eles. Surgiu, então, um pequeno caminhão aproveitando itens já existentes no mercado, com uma carroceria em fibra de vidro feita pela Hidroplas de Botucatu, interior de São Paulo.

O Agrale TX-100 diesel foi apresentado em 1982, junto com o TX 1200 movido a álcool, equipado com motor GM de quatro cilindros e ainda o TX 1600 diesel, com motor MWM de três cilindros. Com isso, a Agrale tornou-se também fabricante de caminhões e sua linha fez sucesso em pequenos nichos de mercado, como concessionárias de energia elétrica, algumas prefeituras e até como transporte de resíduos.



No final dos anos 80 e inicio dos anos 90, a linha de caminhões se expandiu e foi oferecido inclusive um chassis para micro-ônibus urbano, aproveitado por encarroçadoras. Os modelos de caminhões evoluíram em tamanho, potência e principalmente capacidade de carga.

O Jipe Marruá



Nos anos 80, A ENGESA – Engenheiros Especializados S/A, (empresa nacional fundada em 1958, que atuava no setor bélico e desenvolvia projetos especiais, veículos e armamentos para o Brasil, e exportava para diversos países), lançou o EE-12, conhecido também como Engesa 4, um eficiente jipe com tração 4X4 desenvolvido para todo tipo de terreno, com suspensão independente nas quatro rodas com molas helicoidais, ótimo ângulo de ataque e fuga, câmbio de cinco velocidades, tração nas quatro rodas e reduzida. Usava o robusto e confiável motor do Chevrolet Opala quatro cilindros de 88 cv, movido à gasolina ou álcool (90cv). Após passar por dificuldades financeiras, que culminou com a decretação de sua falência, em 1993, alguns ex-funcionários da empresa adquiriram o direito para fabricação do jipe, desenvolveram e aperfeiçoaram o projeto para oferecer uma viatura às Forças Armadas Brasileiras.



A Agrale, mais uma vez, viu uma oportunidade e então decidiu investir 11 milhões de reais, em 2003, para desenvolvimento e com o desejo de iniciar a produção do modelo já no ano seguinte. O Jipe foi adequado para cumprir os Requisitos do Exército Brasileiro, foi submetido a rigorosas provas para sua homologação. Aprovado e homologado pelo Exercito Brasileiro foi enviado, em 2005, o primeiro lote com as primeiras oito unidades do Agrale Marruá para os testes finais e de aceitação. Seu nome não poderia ser mais adequado: Marruá é um touro selvagem, muito bravo, forte e valente, da região do Pantanal.



A versão militar básica recebeu o código AM2 e estava apta, segundo as exigências do Exército, a transportar uma guarnição de quatro pessoas, devidamente equipada para instalar os equipamentos necessários ao uso militar, desde metralhadoras 7,62 mm ou 12,7 mm, lançador de míssil, anticarro, canhão sem recuo 106mm, etc. Existiam versões para transporte de passageiros e utilitários, também oferecidos em versão civil.

O Marruá possuía um chassi de perfil tubular com caixa fechada e carroceria de aço galvanizado, fabricados pela própria Agrale. Usava o motor de 2,8 litros MWM turbo, movido a diesel e aftercooler, com 132 cv e 34 kgfm de torque, câmbio de cinco marchas Eaton, caixa de transferência Agrale e tração nas quatro rodas (que poderia ser acionada com o veículo em movimento a velocidade de até 80 km/h). Os freios eram a disco nas rodas dianteiras e a direção era hidráulica.



A suspensão, oriunda do Engesa EE12, foi mantida, pois era impecável tanto no uso fora de estrada como em conforto, independente nas quatro rodas, usando molas helicoidais e braços oscilantes. A boa altura em relação ao solo e o ângulo de ataque de 64°, com ângulo de saída 52°, permitia um excelente comportamento no fora de estrada.

Com tanque de combustível de 102 litros, possuía uma autonomia de mais de 1.000 km. A capacidade de carga era de 500 kg, em qualquer terreno, e ainda poderia puxar de um reboque de igual peso, ou seja, mais 500 kg.

Em novembro de 2004, foi oferecida uma primeira série, de 100 unidades para uso civil. As alterações eram apenas no sistema elétrico (que passou de 24 para 12 V), a eliminação dos faróis auxiliares e do para-brisa dianteiro basculante, sendo que todas as demais características da versão militar foram mantidas.

Linha Marruá cresce



Na feira de segurança LAAD 2005 – Defense & Security, realizada no Rio de Janeiro, a Agrale apresentou o protótipo militar do Marruá Longo (AM11), com quatro portas, entre eixos de 2,9 m (60 cm a mais do que na versão normal) e capacidade de carga de 750 kg. E ainda o Marruá Cargo AM100, na versão militar, com caçamba metálica, 4,73 m de comprimento (entre eixos maior de 3,10 m) e capacidade para uma tonelada. Em outra mostra, a Interdefesa 2005, realizada na cidade de São Paulo, além do Marruá Longo (AM11), uma versão para combate a incêndios, montada sobre o chassi curto e, também do Cargo cabine dupla. O primeiro caminhão 4X4 cabine dupla do Brasil. Em 2010, o Exercito Brasileiro já possuía mais de 200 viaturas do Marruá.



Além do uso militar, o Marruá foi sempre muito procurado por civis para uso no trabalho em locais de difícil acesso, empresas mineradoras e pedreiras, empresas de segurança pública, bombeiros, empresas de eletrificação rural, de reflorestamento, entre muitas outras aplicações em que um veículo com tração 4X4 e força é necessário.

Marruá elétrico



Por ocasião da Rio + 20, em 2012, a Agrale apresentou o protótipo de uma versão elétrica do Marruá, em parceria com a Itaipu Binacional e a Stola do Brasil: o Marruá elétrico – AM 50, que tinha o mesmo desempenho, robustez e versatilidade no fora de estrada da versão movida a diesel. Equipado com motor 100% elétrico de 54 cv e 13,3 kgf de torque, com zero emissão de poluentes e baixos níveis de ruído, a sua autonomia era de 100 km, utilizando baterias recarregáveis de sódio.

O novo Marruá

No inicio de 2015, a Agrale apresentou a nova geração do jipe Marruá, com uma pequena reestilização na carroceria de cantos mais retos, portas e capô com maior abertura (de até 90 graus), protetores de para-lamas de borracha, e melhor acabamento geral. Mais moderno e sofisticado, com uma maior lista de equipamentos de conforto, sem perder o espirito de veículo robusto, forte e valente, sempre muito eficiente nos trabalhos e em condições severas de uso no fora de estrada.



Com um novo chassi, maior e mais largo, a cabine ficou mais ampla e espaçosa e mais confortável, graças ainda ao reposicionamento dos amortecedores. O novo Marruá ficou muito mais desejado, pois continuava com seus principais atributos, e com sua suspensão independente eficiente, o motor diesel agora Cummins ISF 2.8 de 150cv, transmissão Eaton cinco velocidades, mas oferecendo um maior conforto ao motorista e passageiros. A transmissão reduzida opcional para o AM 200, e preparação para blindagem no AM 300 e nova tampa traseira e caçamba com maior capacidade.

O Hummer brasileiro



Com novos protetores dos para-lamas e laterais, de visual arrojado e agressivo, logo o novo Marruá ganhou o apelido de Hummer Brasileiro, uma alusão ao famoso jipe americano que também teve sua origem militar, criado para o exercito americano na Guerra do Golfo, ganhou depois suas versões civis e tornou-se uma referencia mundial em veículo fora de estrada. A nova tampa traseira removível da caçamba torna mais fáceis às operações de carregamento e descarregamento.

Atualmente, o Marruá para uso civil é oferecido em diversas versões e modelos de jipes com capota rígida ou de lona, chassi curto ou longo, com duas ou quatro portas e ainda picapes com cabine simples ou dupla, duas diferentes distâncias entre eixos, com ou sem caçamba e Peso Bruto total de 3,5 e 4,3 t. Ou seja, mais de uma dezena de versões disponíveis aos compradores.

Fábio de Cillo Pagotto é Engenheiro Mecânico apaixonado por automóveis, atua ativamente no meio antigomobilista há mais de 30 anos. Foi editor da revista Collector’s Magazine e é autor de diversos livros da série Clássicos do Brasil, da Ed. Alaúde. Fundador do Chrysler Clube do Brasil, onde hoje é Diretor social, é ainda Diretor técnico da FBVA e do Clube do Carro Antigo do Brasil, além professor e palestrante da Escola de Restauração de Veículos Antigos (www.escoladerestauracao.com.br)

2 comentários em “Escola de Restauração | História da Agrale

  1. tenho um agrale tx 1200 motor gm opala 4 cc,anda na cidade na temperatura normal,mas saio no trecho estico marcha e pronto,sobe la no vermeho em 6 km.alguem me ajuda?????

  2. MUITO legal a matéria!! Faz um bom tempo que pesquiso sobre o Marrua, mas não aparecem e muitas matérias sobre ele. Caiu como é uma luva!!! Obs: se Deus quiser eu ainda terei meu Marrua AM200… Abração!

Envie um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

css.php