Importação de peças enfrenta desafios particulares no mercado brasileiro
Texto: Fernando Lalli e Gustavo de Sá
Foto: Rafael Guimarães
Trabalhando com as marcas próprias MecArm, Allen, DLZ, Frontier, ROC e Autotec, a ISAPA Autopeças busca se diferenciar no mercado. Roland Setton, diretor comercial da empresa, traça um panorama do mercado a partir da visão do importador de componentes automotivos, que, apesar do momento positivo da reposição, lida com outros fatores, como, por exemplo, a valorização do dólar perante ao Real.
Revista O Mecânico: Como a Isapa trabalha suas marcas próprias atualmente?
Roland Setton: A Isapa existe há quase 20 anos. No início, percebemos que o mercado era totalmente preenchido pelos grandes fabricantes nacionais. Procuramos entrar em um nicho diferenciado, sem competir diretamente com os grandes fabricantes e, sim, suprir as carências do mercado com a diversificação da frota. Fomos evoluindo e verificamos que não poderíamos vender produtos de marcas desconhecidas. Daí surgiu a ideia de criar as marcas próprias, na linha de embreagem, transmissão, motor e suspensão.
O Mecânico: Onde são fabricadas essas peças?
Setton: Mais de 90% dos nossos produtos são importados. No início, trazíamos da Argentina, Alemanha, da Espanha e Itália. Ainda trazemos um pouco da Itália e da Argentina, mas houve uma grande migração para a China. Hoje, além desses países, importamos da Coreia e Taiwan.
O Mecânico:Como a empresa identifica a demanda por novas peças?
Setton: Temos mais de 50 vendedores pelo Brasil, além do trabalho desenvolvido pela área de telemarketing. Como ficamos conhecidos por atender as carências do mercado, o próprio mercado nos procura. Há pouco tempo, nos procuraram com uma demanda de embreagem para o Lifan X60. Nós corremos atrás e conseguimos a peça. Gostamos desses desafios. O que nos destaca é essa possibilidade de atender o cliente com novidades. Só para se ter uma ideia, em 2017, até o momento, já lançamos mais de mil itens novos.
“Procuramos entrar em um nicho diferenciado, sem competir diretamente com os grandes fabricantes e, sim, suprir as carências do mercado com a diversificação da frota.”
O Mecânico: Vocês também aceitam solicitações para veículos com mais de 10 anos de fabricação?
Setton: Sim, especialmente no segmento de vans e picapes. Esse é um bom mercado e que tem uma alta demanda, pois são veículos de trabalho, que rodam muito. Enquanto nos carros de passeio a média é de 10 a 15 mil quilômetros por ano, nos veículos de carga essa chega a ser a média de rodagem mensal.
O Mecânico: Como é feita a certificação do Inmetro dessas peças importadas?
Setton: A certificação é um pouco burocrática, custosa e leva tempo. Porém, sabemos que isso é importante para evitar a entrada no mercado de produtos de baixa qualidade. Principalmente em épocas de câmbio favorável, surgem empresas oportunistas que trazem apenas pequenos lotes por um período curto de tempo. A certificação do Inmetro inibe essa prática. Por isso, somos a favor.
“A certificação é um pouco burocrática, custosa e leva tempo. Porém, sabemos que isso é importante para evitar a entrada no mercado de produtos de baixa qualidade. Somos a favor.”
O Mecânico: Como a crise afetou a Isapa? Qual a visão da empresa sobre esse momento ruim para a economia brasileira?
Setton: A crise nos afetou tanto quanto qualquer outra empresa do Brasil. Até 2014, crescíamos entre 15% e 20% ao ano. Em 2015 e 2016, esse número foi bastante discreto, de até 3%, no máximo. E não é necessariamente verdade que, quando a venda de usados está em alta, o mercado de autopeças também cresce. Se a pessoa não tem dinheiro para comprar carro 0km, também não tem para fazer a manutenção completa no carro usado. Claro que a queda das montadoras foi maior que a do setor de autopeças, mas também fomos afetados pela crise sim.
O Mecânico: Então a tendência de crescimento parou?
Setton: Sim, mas voltamos a ter esperança de alta para este ano. O pior momento (2015 e 2016) já passou. Daqui para a frente, a expectativa é melhor. Quando o País voltar a gerar empregos, se desenvolver, nosso setor vai crescer.
O Mecânico: Qual a importância do mecânico independente para a Isapa?
Setton: O mecânico não quer correr risco. Em geral, ele quer optar por peças que ele trabalhou a vida inteira, que já conhece. Portanto, há uma certa resistência ao novo. Mas isso está mudando. Aos poucos, ele vai se dando conta de que muitas das peças que ele já usa no dia a dia também são chinesas.
O Mecânico: Como vocês mostram para o mercado que as peças da Isapa têm qualidade?
Setton: Nós fazemos palestras técnicas, encontros, cafés da manhã com balconistas e mecânicos. Esse trabalho de relacionamento é algo que exige bastante investimento. É difícil reunir todo esse público. Mas procuramos mostrar que somos uma empresa séria, que existe há 19 anos, pois não é qualquer marca que se mantém no mercado por quase duas décadas.