O procedimento correto da retífica de um motor recupera componentes com perfeição, dando vida nova ao propulsor
Carolina Vilanova
Alto consumo de combustível e óleo lubrificante, excesso de fumaça, redução de potência, superaquecimento e barulhos estranhos dentro do motor são os principais indicadores de que o equipamento está com problemas e precisa de uma retífica.
Este é um trabalho minucioso, que deve ser efetuado por profissionais qualificados e de acordo com as normas NBR 13032 – Execução de Retífica de Motores – da ABTN (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Dessa maneira, os componentes danificados podem ser recuperados e o motor volta a desenvolver suas características originais em relação ao desempenho e economia.
Uma retífica especializada deve ser certificada pelo Inmetro e contar com mão-de-obra treinada, ferramentas específicas e equipamentos, como dinamômetro e banco de provas. O processo de usinagem realizado na retífica restaura componentes com eficácia mas deve ser complementado com a reinstalação correta do motor no veículo.
Quando fazer a retífica
Dentro de um motor em funcionamento, os componentes estão em constante atrito e trabalham sempre em alta temperatura. Esses fatores contribuem para o desgaste natural das peças e, após um certo tempo de uso, geralmente acima de 300.000 km, é necessário retificar o motor.
Uma retífica preventiva é realizada antes do motor fundir e o profissional deve saber identificar o problema com precisão. Os sintomas nesse caso são: redução de compressão nos cilindros, aumento do consumo de óleo e redução da pressão do óleo lubrificante, rajadas e ruídos internos e superaquecimento. Os defeitos devem ser detectados a tempo para que somente as peças necessárias passem pela recuperação.
Quando o motor já atingiu um estado avançado de desgaste, pode ocorrer a quebra da biela e até mesmo do bloco. Quando a biela trava e quebra, o pedaço gira dentro do motor e vai batendo na parede do bloco, com perigo até de causar uma “fratura exposta” (quando a peça atravessa o bloco).
Explicar ao cliente a importância da manutenção adequada, nos prazos determinados pela montadora, como troca de lubrificantes e filtros, além do uso de produtos de qualidade, essenciais para evitar uma retífica precoce. Vale lembrar que a mistura de óleos de diferentes procedências podem reagir quimicamente e danificar o motor. Geralmente o cliente vai à retífica quando o motor já está travado, quer dizer, ele não fica atento aos avisos recebidos antes de chegar nessas condições.
Tabela de Falhas e causas
Defeitos Causas
Motor cansado: começa a apresentar os primeiros sintomas
Motor rajando: está batendo biela, engripamento de pistão – causados pela falta de água ou superaquecimento.
Motor fundido: a biela está próxima a estourar, nesse caso o motor emite muita fumaça e apresenta ruídos anormais de pancadas internas.
Motor com fratura exposta: é quando a biela já atravessou a parede do bloco do motor, com o risco até mesmo do bloco ter que ser substituído, o que, evidentemente, custa muito mais caro
As etapas de uma retífica
Uma retífica pode ser completa ou parcial. O processo parcial é dividido em parte de baixo e parte de cima do motor. Recuperar a parte de baixo significa restaurar o bloco, que inclui camisas dos cilindros, virabrequim, pistões e bielas. Quando há necessidade de retificar a parte de cima é porque os componentes do cabeçote estão danificados, ou seja, válvulas, guias, sedes e comando de válvulas (na maioria dos motores atuais o comando de válvulas trabalha no cabeçote e em outros, no bloco do motor).
Depois que identificar onde é o problema, o motor deve ser retirado do carro e desmontado por profissionais qualificados para o trabalho. As peças, então, passam por uma lavagem química para retirar óleo e impurezas. Em seguida, devem ser inspecionadas para saber quais podem ser reaproveitadas. A última etapa da desmontagem é a pulverização dos componentes que serão recuperados com óleo anti-ferrugem.
Bloco do motor
1) Quando esta parte passa para a retífica, o primeiro passo é medir os cilindros e se for o caso, recuperá-los para deixá-los com uma medida imediatamente superior ou, em alguns casos, passando-os, por intermédio de encamisamento, para a medida Standard, com as folgas exatas para o funcionamento correto de pistões e anéis. Essas medidas são indicadas pelo fabricante. Também é necessário recuperar o berço do alojamento da árvore de manivelas (virabrequim).
2) Responsáveis pela aspiração da mistura ar/combustível e pela compressão, os pistões recebem a força da explosão e expulsam os gases queimados do motor e por isso exigem uma avaliação minuciosa quanto às medidas de diâmetro, altura de canaletas e folga dos pinos. Se as especificações não estiverem de acordo com o fabricante do motor, o pistão deve ser substituído. Os anéis são obrigatoriamente trocados sempre que o conjunto é desmontado, devido ao assentamento único no cilindro. A montagem dos anéis antigos pode causar excesso de consumo do óleo lubrificante.
3) O bloco do motor tem duas versões: o de camisa seca e o de camisa molhada. Os procedimentos para sua recuperação são diferentes.
Camisa seca: Nesse modelo, os cilindros são parte integrante do bloco e, quando se desgastam, permitem a usinagem das paredes dos cilindros para uma sobremedida imediatamente superior ou a abertura completa desses diâmetros para seu encamisamento, recuperando-se a medida original.
Camisa molhada: Nesses casos, os blocos são internamente vazados e os cilindros fazem parte de uma camisa avulsa ao motor, que por ocasião do recondicionamento, são substituídas por medidas standart. Sua vedação do líquido de arrefecimento é conseguida com a montagem de retentores de borracha nas partes superiores e inferiores das camisas, montados em canaletas próprias, existentes tanto nas camisas como nos blocos, garantindo sua total vedação.
Em ambos os casos, os demais procedimentos são idênticos no que se refere à planicidade da face superior do bloco, altura das camisas e teste hidrostático, para a verificação da estanqueidade dos dutos de água de forma que, por eventuais falhas, não venham a se misturar com o óleo lubrificante.
4) A verificação dos pistões quanto ao seu aproveitamento são semelhantes. O profissional deve analisar o dimensional, o desgaste das canaletas e a folga dos pinos dos pistões. As camisas são analisadas quanto ao desgaste sofrido e, caso seja possível , podem ser brunidas, recuperando a superfície de assentamento para os novos anéis. No caso de substituição, diferem no fato de que as camisas molhadas vêm prontas de fábrica e são apenas montadas em seus alojamentos, enquanto as camisas secas, em função de sofrerem deformações por serem montadas com interferência nos blocos, precisam ser retificadas e brunidas após sua montagem.
5) As bielas transmitem a energia gerada na câmara de combustão para o virabrequim e devem ser testadas na máquina de fluxo (Magnaflux). Esse é um equipamento que magnetiza o componente, que passa depois por um líquido de contraste metalizado em toda sua superfície. Em seguida, em uma câmara escura, com uma luz negra, o profissional verifica o estado da peça em relação a trincas e fadiga. Os defeitos são indicados por uma marca branca. Depois, a biela é desmagnetizada e sua polaridade é invertida. Caso apresente as avarias neste teste, a peça deve ser substituída.
Na avaliação realizada na máquina de biela, são verificados o alinhamento, a torção e o paralelelismo da peça. As medidas do colo de biela devem ser checadas e colocadas no modo especificado com o mesmo equipamento, assim como o diâmetro dos alojamentos. Ainda nesse processo é realizada a troca das buchas e das bronzinas.
6) O próximo passo é o teste na máquina de fluxo da árvore de manivelas (virabrequim), também para descobrir se há trincas. A máquina de virabrequim avalia o alinhamento e os raios de concordância. Com uma ferramenta especial, denominada durômetro (esclerógrafo), é efetuado o teste de dureza superficial, para confirmar se a superfície dos colos está com a dureza mínima especificada. Em caso positivo, é retificado na máquina de retífica de virabrequim para a medida imediatamente superior a original, que varia em espaços de 0,25m/m, permitindo entre 3 a 4 sobremedidas, dependendo do fabricante. Nessa operação é importante observar o centro dos colos, sua conicidade, os raios de concordância e a rugosidade dos da peça.
7) Os colos de bielas e de mancais do virabrequim são retificados e polidos, para que se ajustem perfeitamente ao encaixe das bronzinas, que servem como pista de rolamento e são protegidas por uma película de óleo lubrificante.
Cabeçote
1) O comando de válvulas (eixo de comando) tem a função de abrir e fechar as válvulas de admissão e de escape, no mesmo ritmo do funcionamento do motor. Para ver se a peça pode ser recuperada deve-se inspecionar se há trincas e verificar – quando necessário – os cames, em relação à altura, alinhamento e empenamento. Quando aprovada no teste, componentes como colos centrais podem ser retificados com usinagem. Se o teste for negativo a peça deve ser trocada.
2) A retífica inicia-se pela lavagem da peça e pelo jateamento de micro esferas, para a limpeza e verificação da altura. Caso esteja abaixo do mínimo especificado, a peça deve ser descartada. Se passível de recuperação, é realizado um teste hidrostático ou de estanqueidade, com água aquecida e sob pressão, indicando eventuais trincas, que permitem a passagem do líquido de arrefecimento para os dutos de lubrificação ou para dentro dos cilindros. Se não for aprovada no teste a peça é descartada.
3) Após o teste, é preciso conferir a altura das sedes em relação à face do cabeçote; se necessário, substituí-las. Verificar a planitude da face do cabeçote de apoio da junta, pois caso esteja empenada, a plainagem deve ser executada. A medida mínima de altura do cabeçote é especificada pelo fabricante.
4) As guias das válvulas de admissão e escape podem substituídas ou encamisadas. Nas válvulas é necessário checar o assentamento na sede, a altura da superfície e o grau de ângulo indicado. Se estiverem fora de especificação, deve-se retificar as peças com máquina apropriada, (esmerilhando-as). As sedes de admissão e escape também poderão ser retificadas. A última operação a ser executada é a do esmerilhamento entre as faces de assentamento das válvulas e sedes, de forma a garantir sua completa vedação.
5) Inspecionar, ainda, as seguintes partes do motor: balancins (superfície de contato, eixos, varetas e buchas); tuchos das válvulas (superfície de contato e diametro); volante do motor (assento do disco, cremalheira e diametro dos furos passantes para a fixação da rosca); bomba dágua ( substituição do reparo e análise de desgaste do eixo propulsor; a bomba de óleo, deve manter a especificação original da carcaça em relação as medidas especificadas, as engrenagens podem ser substituídas quando desgastadas ou danificadas.
Peças que não têm retífica e exigem substituição
Anél, corrente, engrenagem de distribuição (fibra), pistão, tensor, junta, camisa de água, retentor, filtro, bronzina, selo de água e de óleo, reparo da bomba de óleo, bucha de biela, eixo e balanceiros, válvula termostática e comando, guia, correia dentada
Montagem do motor
Em primeiro lugar as peças que foram retificadas passam por uma lavagem fina para limpeza antes da montagem de todas as peças, conforme o manual do fabricante, respeitando todos os apertos e folgas recomendadas, para garantir uma vida longa aos componentes envolvidos. Com o motor pronto são realizados testes de funcionamento no dinamômetro (banco de provas).
Depois o motor passa pela pintura e é embalado. O equipamento é, então, instalado no veículo conforme as normas e, em seguida, realizada a afinação, que inclui reapertar os elementos de fixação, verificar folga de válvulas e checar a tensão da correia de sincronismo. Em seguida faça o check-list de reinstalação. O profissional deve testar o veículo antes de entregá-lo.
Percebi meu caminhao mb 708 começou a soprar fumaça e pingar oleo no respiro .bem recente.. Ja quero abrir trocar as camisas e pistao…ja…motor funciona super bem…acho que so isso de problema. Tomara que resolva…
Gostei muito o apelo sobre a infomacao. Deu Para tira um bom proveito Como lidar com motor diesel.
um motor a disiel retificado ele depois vouta o normal ou fica apresentando poblemas
bom nota 200
ola parabéns pela matéria quero uma informação tenho uma l-200 motor 2.5 hpe sport motor 4D56 pois bem estava vazando muito oleo levei até o mecanico para tirar o vazamento, chegando la me disse que estava vazando muito teria que tirar o motor pra inspeção nisso verificou se que o bloco estava trincado resumindo comprei bloco novo original jogo pistao biela bronzina ´so não troquei a arvore dos pistoes comprei zero tudo std, ai ele me disse que tem que retificar e usinagem quero saber se realmente existe isso fico no aguardo obrigado abraços.
gostei da informacao da vossa revista de mecanica, agradecia que apresentasem alguns video de demostracao das operacoes de reparacao e ou descarbonizacao dos grupos geradores a diesel para melhor entendimento dos ciclos de reparacao ou instacao dos grupos geradores (centrais a diesel).
no nosso dia a dia usamos maquinas com motores diesel. É sempre importante dispormos de informação. Parabéns pelo artigo, foi bastante esclarecedor. Guga
Gostei muito das explicações sobre a retifica do motor a diesel. Parabéns.