Empresas do setor de reparação realizam ações para contribuir com a preservação do meio ambiente e reduzir a quantidade de resíduos automotivos descartados incorretamente.
Daniela Giopato
Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Essa frase, formulada pelo químico francês Lavoisier em 1789, sintetiza uma das principais soluções para um dos maiores problemas da sociedade moderna: o aumento excessivo do lixo e a falta de áreas para o destino final. Pesquisas indicam que a produção anual de lixo em todo o planeta é de aproximadamente 400 milhões de toneladas. Toda essa sujeira despejada no ambiente, aumentou a poluição do solo, das águas, do ar, e agravou as condições de saúde da população mundial. Além disso, dados mostram que 80% do volume total do lixo produzido poderia ser reaproveitado.
Esse quadro foi gerado pelo crescimento acelerado das metrópoles, do consumo de produtos industrializados e descartáveis, e da frota circulante de veículos. Os carros, por exemplo, geram um impacto ambiental em quase todo o seu ciclo de vida: na produção, durante o uso e no descarte. Dentro desse processo, as oficinas mecânicas, assim como as indústrias, são responsáveis por grande parte desse lixo no ambiente. E com um grande agravante: quase todos os resíduos são perigosos, ou seja, apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente.
Algumas empresas de reparação, conscientes do problema, resolveram criar esquemas de coleta seletiva para contribuir com a reciclagem e garantir que os resíduos automotivos, gerados em seus estabelecimentos, tenham um destino correto.
Há 36 anos no mercado, a Mecânica Mano, da cidade de Salto/SP, realiza a coleta seletiva de lixo há oito, separando os resíduos e entregando-os a cooperativas que reciclam os materiais. O investimento foi de apenas R$ 1.500,00 e o proprietário Lázaro José Mano afirma que o ganho para o ambiente compensa. “Acredito que as oficinas mecânicas têm muito o que contribuir com a reciclagem porque lidamos com produtos muito tóxicos. Uma gota de óleo lubrificante, por exemplo, contamina 100 litros de água. Hoje, os resíduos de lavagens de peças, como querosene, fluídos e graxa, vão para uma caixa de decantação e não mais para o esgoto”.
Os frascos de óleo passam por um processo de decantação antes de serem entregues ao processo de reciclagem
A Mecânica Mano faz a coleta de diversos itens e cada um é destinado a um tipo de empresa, todas cadastradas no Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e na ANP (Agência Nacional do Petróleo). A Cooperativa Recicooper retira as embalagens de papelão – sem contaminar a água com graxa – e as plásticas. Antes, porém, os frascos de óleo passam por um processo de decantação para eliminar completamente os resíduos e são armazenados em locais seguros. Os materiais ferrosos e filtros de ar vão para a CORBES, que faz a classificação de cada componente.
Os panos sujos utilizados na Mecânica Mano são retirados por uma empresa cadastrada na Cetesb, que tem função de lavá-los e devolver para uso
O óleo lubrificante usado é destinado a empresas de refino para fazer a filtragem, separando o resíduo do óleo para que volte a ser puro. “Este óleo chega a ser melhor do que o que o originou. Para que essa operação seja realizada com sucesso fizemos um esquema na qual o óleo sai do veículo e é acomodado diretamente em tambores de 200 litros, sem entrar em contato com o ambiente”, afirma Mano.
Um dos diferenciais destacados por Mano é o reaproveitamento dos panos sujos. “Os panos utilizados na nossa oficina são retirados por uma empresa cadastrada na Cetesb, que tem função de lavá-los e nos devolver. A água suja e tóxica também tem destino certo. Assim evitamos o antigo costume de jogar no lixo ou queimar”.
Ainda não existe nenhuma lei que obrigue as oficinas a realizarem esse tipo de trabalho, depende da conscientização de cada um. “A única obrigatoriedade é quanto ao óleo lubrificante, que a ANP exige que 60% do total de óleo deve ter um certificado de recompra. Mas é claro que só vale a pena se tem uma empresa séria retirando o material e não os famosos “catadores avulsos”. Além disso, a coleta desses materiais ajuda a oficina a proporcionar aos seus clientes um ambiente limpo e organizado”, afirma Mano.
Outra empresa que também realiza reciclagem é a DPaschoal, por meio do Programa Reciclando Numa Boa, que recolhe em todos os seus 200 pontos de vendas nas regiões Sul e Sudeste do País, escapamentos, molas de suspensão, bandejas, amortecedores, baterias, entre outros componentes. Estes materiais são resultantes de manutenções e voltam ao mercado como novos produtos. Segundo a empresa, nos oito primeiros meses deste ano foram recolhidos para reciclagem mais de 2 mil toneladas de escapamentos. A expectativa é de alcançar 5 mil toneladas até dezembro. “É nossa responsabilidade, mesmo não sendo obrigação legal, nos preocuparmos com o que será feito dos resíduos que produzimos. Estamos cuidando do nosso futuro”, alerta Fábio Basso, gerente de marketing da empresa.
Os resíduos resultantes da lavagem de peças, como querosene, fluídos e graxa vão para uma caixa de decantação
O início da reciclagem, conforme a DPaschoal, se dá com a orientação dos funcionários, que aprendem a separar e armazenar o lixo de maneira correta. Em seguida, todas essas peças acondicionadas são coletadas nos sete Estados onde a DPaschoal atua, através de um operador logístico capacitado pela Mazola Logística e Reciclagem. “O processo é longo, vai desde o local onde os resíduos ficam armazenados nas lojas até o acompanhamento do correto destino na última etapa, que é o reciclador. E todos os meses temos a comprovação do destino dos materiais através de relatórios”, conclui.
O óleo que sai do veículo é acomodado diretamente em tambores de 200 litros sem entrer em contato com o ambiente.
O IQA – Instituto de Qualidade Automotiva – alerta que apesar de ainda não existir uma fiscalização quanto ao descarte adequado dos materiais, considerando-se aspectos ambientais, em um futuro breve será exigência obrigatória para a certificação do IQA. O Instituto ressalta que o procedimento correto é a coleta seletiva para produtos sólidos e um sistema de decantação para produtos químicos e oleosos. “Algumas empresas certificadas já efetuam esse procedimento por conta de exigências da própria legislação e recomendação do IQA nas auditorias”, afirma Alexandre Xavier, coordenador de Marketing e Comunicação.
Já o Sindirepa-SP – Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo – afirma que a conscientização ecológica é fundamental nesse tipo de ação, mas as oficinas podem obter ainda mais benefícios com essa prática. “A coleta seletiva resulta em ganhos financeiros e ambientais. Mas, para um trabalho mais efetivo, precisamos promover campanhas e incluir tema ambiental no conteúdo programático dos cursos do setor”, afirma Antônio Gaspar de Oliveira, diretor técnico da instituição.
A DPaschoal faz coleta das peças e armazena separadamente para facilitar
O Sindirepa-SP realiza uma série de atividades para contribuir com a preservação do meio ambiente. “Iniciamos com o tratamento de efluentes líquidos para que a água resultante da lavagem de peças impregnadas com óleo, graxa, querosene e outros derivados de petróleo, seja descartada na rede de esgotos sem a presença de hidrocarbonetos e para isso recomendamos o uso da caixa separadora de areia e óleo cujo modelo está disponível no nosso site. www.sindirepa-sp.org.br. Sugerimos também cuidados com o descarte do líquido de arrefecimento (água do radiador), que pode ser reciclado, ou solicitar que empresas especializadas façam a remoção e destino conforme lei vigente”, completa.
Os frascos de óleo passam por um processo de decantação antes de serem entregues ao processo de reciclagem
Os panos sujos utilizados na Mecânica Mano são retirados por uma empresa cadastrada na Cetesb, que tem função de lavá-los e devolver para uso
Os resíduos resultantes da lavagem de peças, como querosene, fluídos e graxa vão para uma caixa de decantação
O óleo que sai do veículo é acomodado diretamente em tambores de 200 litros, sem entrar em contato com o ambiente
A DPaschoal faz coleta das peças e armazena separadamente para facilitar a reciclagem
Destinos possíveis para peças automotivas
1. Sistema de Rodagem e Suspensão:
Pneus inutilizados são utilizados como combustível alternativo no co-processamento em fábricas de cimento; transformados em pó de borracha para uso em asfalto; para ser utilizado como matéria prima na produção de tapetes, mantas, coxins, etc; e em subprodutos derivados diretamente dos pneus, como percinta para sofá, tubo de drenagem de água, batentes, etc. Além disso, são reutilizados na produção de óleo combustível e gás, através da mistura do pneu picado com a rocha de xisto pirobituminoso.
Rodas de ferro são transformadas em matéria prima para a industrialização de peças metálicas e para materiais da construção civil, como ferramentas, barras de ferro, etc. As rodas de liga leve, ou de alumínio, são reutilizadas na manufatura de produtos de alumínio.
2. Amortecedores, Molas, Bandejas e outras peças metálicas da suspensão:
O óleo interno do amortecedor é extraído e refinado para ser utilizado na fabricação de lubrificantes; as partes metálicas são transformadas em matéria prima para a indústria de peças metálicas ou em produtos utilizados na construção civil.
3. Sistema de freio:
Tambores e discos de freio são reutilizados como matéria prima na fabricação de discos e tambores novos, entre outras peças. As partes metálicas servem para a indústria de peças metálicas ou em produtos utilizados na construção civil.
4. Sistema de Exaustão:
Os escapamentos servem para a indústria de peças metálicas e para a construção civil. Já dos catalisadores são extraídos os metais nobres: platina (Pt), Paládio (Pd) e o Ródio (Rd) da parte interna, entre outros componentes que são reutilizados como matéria prima na fabricação de catalisadores novos.
5. Diversos:
Óleo do motor é refinado e utilizado como matéria prima nas indústrias de óleos lubrificantes. Das baterias é retirado o chumbo, para ser utilizado como matéria prima na fabricação de baterias novas, o plástico que servirá para produção de peças plásticas. E o ácido, que deve ser tratado e pode ser utilizado ou descartado corretamente.
Outros resíduos gerados indiretamente são os contrapeso de chumbo, utilizado na fabricação de novos contrapesos; embalagens plásticas e de papelão.
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