Conheça o diagnóstico e a substituição correta dos componentes de acionamento do sistema de embreagem do modelo campeão de vendas da GM. Na segunda parte, veja a troca do cilindro-mestre (CMC), ligado ao pedal de acionamento
Na primeira parte desta reportagem (ed. 329, setembro/2021), explicamos que a primeira geração do Onix e seu sedã, Prisma (2013 em diante), possuem embreagem com acionamento hidráulico. Esse sistema é semelhante ao de outros modelos da General Motors, como Cobalt e Spin – inclusive, nestes, com a possibilidade de compartilhamento de peças, dependendo do código de aplicação.
O acionamento do conjunto de embreagem em si nesse tipo de sistema envolve dois atuadores. Um é o cilindro- -mestre (CMC, do inglês “Clutch Master Cylinder”), ligado diretamente ao pedal. Dentro da caixa seca do câmbio, está o cilindro-escravo concêntrico (ou CSC, “Concentric Slave Cylinder”).
Quando o pedal de embreagem é acionado, o cilindro-mestre (CMC) envia a pressão hidráulica para o circuito. Essa pressão chega no cilindro-escravo (CSC) e faz com que ele pressione seu rolamento contra a mola-membrana do platô, assim, liberando o disco de embreagem, interrompendo o fluxo de força do motor para o câmbio e possibilitando a troca de marchas.
O circuito hidráulico é integrado com os freios, compartilhando os mesmos fluido e reservatório. Esse sistema também dispensa a utilização de garfo de acionamento do rolamento, afinal, o CSC já incorpora essa função com o rolamento integrado ao conjunto.
COMPONENTES DE EMBREAGEM CHEVROLET ONIX 1ª GERAÇÃO
Códigos Valeo/FTE AutomotiveEmbreagem: 228323
Cilindro-mestre (CMC): 2118115
Cilindro-escravo (CSC): 1102031Aplicações: Onix (2012 a 2019), Prisma (2013 a 2019), Joy/Joy Plus (2019 em diante)
Atenção: As mesmas peças se aplicam a diversos veículos da General Motors. Confira a compatibilidade consultando o catálogo da fabricante.
MANUTENÇÃO GERAL DO SISTEMA
Nesta segunda parte da reportagem, o promotor técnico da Valeo Neilson Amorim explica como fazer a remoção, diagnóstico e instalação do cilindro- -mestre (CMC) em um Chevrolet Onix 2019 1.0. A remoção e instalação desse componente são mais trabalhosos, pois, envolvem fixações na parede corta-fogo tanto do lado do habitáculo quanto do lado do motor.
Também existem cuidados com a peça nova que devem ser tomados como, por exemplo, não “escorvar” sua haste – ou seja, ficar recolhendo e esticando a haste constantemente. Segundo Neilson, isso pode danificar o atuador internamente.
Após a troca dos componentes em si, é necessário sangrar o sistema hidráulico para eliminar as bolhas de ar do circuito hidráulico. A recomendação da General Motors para o Onix de primeira geração (incluindo Prisma e modelos “Joy”) é verificar nível do reservatório e estado do fluido a cada revisão do veículo, ou seja, no mínimo, a cada 10 mil km ou 12 meses. A substituição completa deve ser feita a cada 20 mil km ou 2 anos, o que ocorrer primeiro.
“O que sempre indicamos é, ao trocar a embreagem ou o sistema de acionamento, o fluido também seja substituído”, recomenda Neilson, da Valeo. Assim, o procedimento indicado nesta situação de troca dos atuadores é a substituição completa do fluido – sempre usando a especificação DOT 4, como está gravada na tampa do reservatório.
A operação foi executada pelo mecânico Anderson Patrocínio Cunha, proprietário da Mecânica Anderson, oficina localizada na Zona Sul de São Paulo/SP, com a supervisão de Neilson. O procedimento foi executado a título de demonstração, uma vez que o veículo não apresentava problema.
REMOÇÃO DO CILINDRO-MESTRE DA EMBREAGEM (CMC)
1) Solte as conexões da tubulação do fluido no cilindro-mestre. O acesso é feito pela parede corta-fogo, ao lado do servo-freio. São duas tubulações: solte primeiro a rígida, que leva a pressão até o cilindro- -escravo. O acesso é feito por trás do módulo do ABS (1a). Utilize uma ferramenta como uma chave de fenda fina para soltar (descer) a trava metálica e permitir a desconexão (1b).
2) A segunda mangueira do cilindro- -mestre conduz ao atuador o fluido que vem diretamente do reservatório. Trata-se de um tubo flexível: basta puxar para desconectá-lo. Ao soltar o flexível, imediatamente coloque o dedo na ponta do tubo para conter a saída do fluido (2a). Posicione a mangueira voltada para cima para conter o vazamento (2b).
Obs: Mantenha uma bandeja embaixo do carro nessa região para colher o fluido que eventualmente caia no momento do desligamento do circuito.
3) Agora dentro do habitáculo, solte os dois parafusos de fixação do atuador na carcaça do veículo (3a). Utilize chave-catraca com soquete hexalobular (torx) 30 (3b).
4) O cilindro-mestre se prende ao pedal de embreagem por uma peça plástica branca com duas abas, que funciona como uma trava. Aperte as abas na extremidade (4a) e empurre o eixo do atuador para trás, o que deve separar o atuador do pedal (4b).
5) Para criar espaço suficiente para sacar o cilindro-mestre, solte (sem remover) quatro porcas que fixam a capa plástica que fica atrás dos pedais, na parede corta-fogo. Na imagem, a porca superior direita está encoberta pelo pedal do freio. Solte-as utilizando chave-catraca, soquete e extensor.
6) Depois, solte (sem remover) outras quatro porcas, que ficam em volta do servo-freio, fixadas à parede corta-fogo. Assim, haverá espaço suficiente para deslocar o atuador, tornando possível retirá-lo de seu lugar.
ANÁLISE DO ATUADOR EM BANCADA
7) No diagnóstico visual do atuador após ser removido do veículo, procure por sinais de contaminação, rupturas ou quebras. Como o veículo desta reportagem não apresentava sintomas de problema e o procedimento foi executado apenas a título de demonstração, a peça removida estava intacta.
8) Após retirar o atuador novo da caixa, nunca faça o escorvamento (abertura e fechamento constante) da haste. Isso pode romper os selos internos do componente e levar a um vazamento interno.
9) Não instale o cilindro-mestre sem as tampas das tubulações do atuador (conectores de segurança). Remova- -as apenas quando for fazer a conexão das tubulações pelo cofre do veículo.
10) Antes de montar o atuador no veículo, suba (sem remover) a trava metálica na conexão com a tubulação rígida. Isso vai facilitar o encaixe no momento da instalação. Recoloque a tampa da tubulação e leve o atuador ao veículo.
MONTAGEM DO ATUADOR NOVO
11) Encaixe o cilindro-mestre em sua posição na parede corta-fogo. Antes de aparafusar o atuador, centralize a capa plástica da parede corta-fogo e aperte suas quatro porcas de fixação do lado do habitáculo.
12) Com a capa plástica presa pelas porcas do lado do habitáculo, já é possível fixar o cilindro-mestre pelos dos parafusos de fixação com chave ou soquete torx 30.
13) Conecte a trava da haste do CMC no pedal de embreagem. Pressione as abas do atuador e faça o encaixe.
14) Reaperte as quatro porcas da parede corta-fogo do lado do motor.
15) Remova as tampas de proteção do cilindro-mestre e ligue as tubulações ao CMC. Primeiro, a tubulação rígida que vem do cilindro-escravo: conecte a tubulação ao furo inferior do atuador e encaixe a trava metálica para travar a conexão. Depois, ligue a tubulação que vem do reservatório ao duto superior do cilindro-mestre.
SANGRIA DO SISTEMA E TESTE DE ENGATE
16) Antes de adicionar fluido ao reservatório e sangrar o circuito, verifique as condições gerais tanto do fluido que já está no reservatório quanto do filtro (ou rede de proteção) que fica bem abaixo da tampa, responsável por reter a entrada de possíveis impurezas do ar no sistema (16a). O veículo desta reportagem tinha pouco mais de um ano de uso e já apresentava sujeira impregnada nessa rede de proteção (16b). O procedimento indicado é lavá-lo com água e detergente neutro, secando-o em seguida o máximo possível para não haver contato de umidade com o fluido novo.
17) Após a limpeza da rede de proteção, coloque-a de volta em seu lugar. Em seguida, abasteça o reservatório com fluido até a marcação de nível máximo. Não tampe o reservatório ainda.
18) Abra o parafuso sangrador do cotovelo na caixa de câmbio para observar se o fluido está gotejando. Use para isso uma mangueira transparente ligada ao parafuso, com uma garrafa ou vasilhame semelhante para colher o fluido. Se houver gotejamento, feche o parafuso e tampe o reservatório.
19) Com o auxílio de mais um operador, inicie o bombeamento do pedal de embreagem. Esse bombeamento deve ser feito de forma calma e progressiva, acionando o pedal até o final de seu curso e, depois, trazendo-o com a mão ou com a ponta do pé até seu início (19a). Enquanto um operador faz o bombeamento, o outro deve abrir o parafuso sangrador e observar a saída do fluido (19b). Se o fluido não apresentar bolhas, feche o parafuso e pare o bombeamento. Complete o fluido até a marcação de nível máximo do reservatório, se necessário.
20) Faça novamente o bombeamento, agora com parafuso sangrador e reservatório totalmente fechados. Repita o mesmo movimento do passo anterior, de forma calma e progressiva, levando o pedal até seu final de curso e trazendo-o para o início, até que a pressão de acionamento seja gerada e permita o acionamento da embreagem.
Obs. 1: Após o final da sangria, execute o procedimento de montagem dos componentes que ainda estavam desmontados (módulo de injeção, bateria etc.) antes de testar o engate das marchas.
Obs. 2: É recomendável também fazer a sangria nas pinças de freio para garantir que todo o fluido do sistema hidráulico integrado seja substituído.
21) Faça o teste de engate das marchas com o motor ligado. Acione o pedal e passe as marchas com o veículo estático. Tanto o pedal quanto o engate devem estar macios. Importante: siga para o teste de rodagem somente depois de garantir que embreagem e freios estão com acionamento adequado e seguro.
Colaboração técnica – Mecânica Anderson
Mais informações – Valeo: 0800-770-5693
Texto & fotos Fernando Lalli
Clique aqui e confira no canal O Mecâniconline no YouTube a live sobre este procedimento com a Valeo