Para acompanhar as novas tendências de mercado e a evolução dos veículos, oficinas mecânicas se informatizaram e adquiriram equipamentos modernos e mais precisos, se transformando em prestadoras de serviços de excelência para o cliente
Daniela Giopato
O início da década de 90 foi marcado por uma série de novidades que modificaram radicalmente o perfil das oficinas. O grande marco foi a chegada ao Brasil dos carros importados, com padrões elevados que acabaram impulsionando as montadoras e a indústria automobilística em geral a se modernizarem através de novos processos e formas de produção.
Diante dessa nova realidade, a estrutura oferecida pelos reparadores já não mais atendia às expectativas dos clientes, afinal, os veículos com tecnologia embarcada exigiam equipamentos mais precisos, como o scanner automotivo, que é considerado por muitos especialistas como o grande precursor dessas mudanças estruturais.
A impressão que se tinha é que, nesse primeiro momento, as então microempresas, de estrutura familiar, pareciam estar paralisadas no tempo e todo conhecimento transferido de pai para filho já não era suficiente para atender o cliente que trocou a “carroça” pelas supermáquinas equipadas com injeção eletrônica. A incerteza e a falta de informação tomaram conta desses pequenos empresários que se viram obrigados a escolher entre se manter na zona de conforto ou investir na informatização de seu estabelecimento e crescer no mercado.
Os que migraram por esse caminho trataram de se atualizar em relação às novas tecnologias disponíveis. Equiparam e organizaram a oficina de forma a receber adequadamente esse novo cliente, mais exigente, e que não queria mais ser atendido por um profissional vestindo um macacão sujo e muito menos em um ambiente poluído por graxa e por peças e bugigangas perdidas dentro da oficina, sem oferecer sequer um copo de água ou um cafezinho fresquinho para o consumidor.
A partir desse modelo de reparador independente, que passou a ser um prestador de serviços automotivos e não mais um simples “especialista em conserto de carro”, a necessidade de inovar e evoluir não parou de crescer. Logo na segunda metade da década de 90, conforme lembra Antonio Fiola, presidente do Sindirepa-SP, os orçamentos já eram enviados via e-mail e as oficinas passaram a disponibilizar sites com a apresentação da empresa e os serviços oferecidos.
“No primeiro contato com todas essas novas tecnologias o reparador relutou, principalmente por prever um grande investimento sem informações sobre o lucro. Mas a partir do momento em que todo o mercado migrou e incorporou as tecnologias foi necessário sair da zona de conforto e enfrentar as novidades”, lembra Fiola. Para o empresário, a injeção eletrônica desencadeou todas essas mudanças que começou com o scanner.
Para José Palácio, auditor do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva), estar em conformidade com as novas tecnologias é imprescindível em qualquer oficina, assim como utilizar sistemas de gestão administrativa, de negócios, de estoque, entre outros. Ele acredita que é importante também investir em equipamentos para recuperação nos veículos, como o scanner que detecta falhas no sistema de injeção e, principalmente, os aparelhos de regulagem de emissão de gases para veículos de ciclo Otto e opacímetro para os diesel, como contribuição para o meio ambiente.
“A mudança na cultura é essencial para que o empresário entenda as vantagens de incorporar todas essas novas tecnologias. Tanto é verdade que muitas empresas pequenas ainda não aderiram pela falta de informação sobre as vantagens, como o atendimento rápido e eficaz, que traz mais lucro. Afinal, o cliente não quer esperar pelo atendimento, quer agilidade na informação e diagnóstico e exige cumprimento de prazo. Para atender todas essas exigências é necessário uma boa informática, profissionais treinados e equipamento”, aconselha.
Fiola acredita que ainda existe um grupo de pequenos empresários que preferiram se manter como a “oficina de bairro” e não acompanharam as tendências de mercado. A justificativa é a falta de verba e até de interesse de aperfeiçoar o seu negócio. “Na verdade ainda não conseguiram enxergar todas as vantagens e a rentabilidade que uma oficina informatizada pode trazer”, afirma. Para Fiola, essa parcela ainda sobrevive por conta da frota de veículos com mais de 20 anos.
Nas oficinas
O principal objetivo das oficinas ao investirem em computadores, equipamentos de diagnóstico e instrumentos de medição é ganhar competitividade e assim se destacar no mercado, garante Palácio. Foi esse pensamento que fez Josmar Boschetti Jr., engenheiro mecânico da Especializada Josmar, reparadora com 46 anos de mercado na capital paulista, incorporar ao longo desses anos várias tecnologias e investir em treinamento, equipamento e sistemas de organização.
“Fechar os olhos para essas mudanças é como fechar a porta do estabelecimento, afinal, sem equipamentos adequados e equipe treinada fica impossível vender um serviço eficaz e de qualidade”, conta Josmar que herdou o estabelecimento do pai e está na ativa há mais de 20 anos. Para acompanhar todas essas mudanças a oficina se informatizou com softwares de gestão que, segundo Josmar, é o básico para estar vivo e competitivo.
Mas, o engenheiro faz questão de dizer que também teve de investir em treinamento para a equipe de mecânicos para acompanhar todas as novidades. “Fiz um curso básico de eletrônica digital e analógica. E alguns funcionários também passaram pela reciclagem e outros foram remanejados. É importante saber aproveitar o profissional onde ele se encaixa melhor”, afirma.
Apesar de tecnologia ser sinônimo de agilidade, Josmar informa que até 1990 conseguia atender uns 30 carros por dia e hoje esse número caiu para cinco, justamente porque a eletrônica exige um trabalho mais detalhado e o orçamento geralmente não agrada o cliente, que considera a mão-de-obra cara. “De qualquer maneira, quem quiser sobreviver realmente vai ter que investir em equipamento, treinamento e organização”.
Para tentar driblar os altos custos necessários para ter uma oficina preparada, Josmar explica que existe o Grupo de Mecânicos, onde um profissional ajuda o outro com troca de informações e até de equipamentos.
Na opinião de Valter Nishimoto, diretor técnico da Frison Conveniência e Serviços Automotivo, também de São Paulo, a receita para uma oficina oferecer serviços de qualidade é um sistema de gestão eficiente, pessoas capacitadas para dar informação correta ao cliente, mecânicos treinados e um scanner para precisar o problema do veículo. Para agilizar o contato entre a empresa e a oficina é disponibilizado um site com os serviços oferecidos e, futuramente, será aberto um canal para compras online.
“As tecnologias e sistemas de informática disponíveis hoje atendem as necessidades dos automóveis que evoluíram com rapidez na questão da eletrônica e conforto e também do cliente, que é muito exigente e faz questão de um atendimento personalizado. Assim é muito importante ter informação, equipamento e elemento humano”, comenta.
Outro ponto destacado pelo diretor é a organização e um ambiente limpo, afinal, “sujeira não é sinônimo de trabalho e sim de perda de tempo”, diz. Cada mecânico da oficina, por exemplo, tem um carrinho de ferramenta completo, o que agiliza o trabalho do profissional. O custo foi de aproximadamente 16 mil, porém, diz que isso não impede que uma oficina com menos recurso organize de outra maneira o seu equipamento.
O treinamento também é essencial para completar a formação do profissional. Para auxiliar o reparador, a empresa disponibiliza uma Sala Técnica com o manual digitalizado de todos os carros de cada montadora. A oficina também disponibiliza um terminal de produção, com a ordem de serviço e diário de atividades. “Essa integração de informação faz com que todos saibam sobre a situação do veículo e assim é possível dar uma informação precisa para o cliente”.
A oficina também é estruturada com laboratório para análise de circuito eletrônico equipado com fonte de alimentação regular, osciloscópio de bancada, multímetro digital de precisão, capacímetro, entre outros; equipamento para teste de bateria e de alternador portátil; scanner específico para cada marca e boxes de lavagem, de montagem e pintura. Tudo para facilitar o trabalho e atender melhor o cliente.
No mercado de reparação, cada empresário utiliza os equipamentos que precisa para realizar as suas atividades com qualidade e atenção, mas uma coisa todos têm em comum: um bom computador com acesso a internet e ao mundo da tecnologia automotiva. Para se destacar, quanto mais evoluído em termos de informática melhor para o reparador, e muito mais para o cliente.