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Táxis “verdes” invadem as capitais

Nissan e Toyota fazem parcerias com concessionárias de táxi e prefeituras e colocam a propulsão elétrica/híbrida nas ruas das duas maiores capitais do país

Texto: Fernando Lalli
Fotos: Divulgação

Carros com propulsão elétrica ou híbrida são praticamente extraterrestres ruas do Brasil, já que não há incentivo tributário algum para impulsionar a venda desse tipo de veículo por aqui, ao contrário do que já é feito em outros países. Por isso, de acordo com as fabricantes, é tão difícil trazer esses modelos, apesar do relativo sucesso que fazem em outros mercados. Mas quem quer ter um gostinho de como é andar em um veículo desses dispõe de uma opção bem interessante: Nissan e Toyota firmaram parcerias com prefeituras e empresas de táxis para colocar seus carros movidos a energias mais limpas nas ruas. Os modelos Nissan Leaf e Toyota Prius rodam nas capitais São Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ e são bastante disputados entre os clientes.

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Os programas piloto de táxis “verdes” das Prefeituras de São Paulo e Rio de Janeiro se espelham em demais iniciativas ao redor do mundo para promover o transporte sustentável. Na capital paulista, o programa está em sua segunda fase e tem 10 unidades do Leaf e 40 unidades do Prius em atividade. No Rio, o projeto começou com duas unidades do elétrico da Nissan, número que a fabricante pretende aumentar para quinze até o final de 2013.

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As experiências com os veículos ainda servirão de laboratório para analisar seus respectivos desempenhos e as necessidades de manutenção, dos taxistas e, no caso do Leaf, da infraestrutura de recarga.

Propulsão
A tecnologia dos dois veículos, apesar de ter um objetivo em comum, é bastante diferente um do outro. O Toyota Prius alia motores a gasolina e elétrico funcionando em sincronia: dos 0 aos 50 km/h, o veículo funciona apenas com motor elétrico; dos 50 km/h em diante, o motor a gasolina é acionado e ambos impulsionam o veículo simultaneamente, gerando 138 cv de potência somada.

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Esse motor a gasolina de quatro cilindros em linha tem 1798 cm³ de deslocamento e 98 cv. É um motor é de ciclo Atkinson, chamado assim por ter tempos diferentes de abertura de válvula na admissão e expansão, priorizando a economia de combustível ao invés da potência. Outra característica é a ausência da correia auxiliar para mover outros componentes do veículo, como o compressor do ar-condicionado, a bomba de água e a assistência elétrica da direção, que funcionam com a eletricidade gerada pelo sistema de baterias. Isso também diminui a carga sobre o motor e colabora para a economia de combustível.

O motor elétrico, por sua vez, é dotado de corrente elétrica alternada trifásica, tem 650 Volts e gera 40 cv de potência quando acionado. O motor dispensa carga externa, já que se alimenta de carga, principalmente, de duas fontes: através de uma bateria autônoma de 27 kW e da energia do freio regenerativo.

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A Toyota explica que, durante o processo de frenagem regenerativa, o motor elétrico trabalha como gerador de energia de grande capacidade, transformando parte da energia cinética em energia, carregando tanto a bateria híbrida quanto a bateria regular. A bateria autônoma, por sua vez, dispensa qualquer tipo de manutenção ou troca periódica; a fabricante afirma que as baterias podem ultrapassar facilmente os 10 anos de uso contínuo.

Graças a esse sistema – e ao casamento com o câmbio CVT –, a Toyota garante que o veículo pode atingir consumo urbano de até 25,5 km/l e autonomia de 1.150 km com seu tanque de 45 litros. Vale lembrar que, em percurso de estrada, pelo uso constante do motor a combustão, o Prius faz “apenas” 16,1 km/l. Ainda de acordo com os dados da Toyota, a tecnologia empregada no híbrido permite que ele polua 44% menos que os veículos convencionais com a mesma cilindrada.

Já o totalmente elétrico Nissan Leaf é essencialmente urbano. Movido a bateria de íon de lítio, o Leaf possui autonomia de 160 km com uma única carga e é capaz de se recarregar completamente em 8 horas em uma tomada de 220 volts, ou ainda de ter 80% de carga em apenas 30 minutos, utilizando um carregador de 400 volts. A Nissan dá garantia de fábrica para o pacote de bateria íon de lítio de 8 anos ou 160 mil km.

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Seu motor CA síncrono de 80 kW gera 107 cv e torque de 28,5 kgfm, equivalente ao de um motor V6. Como é um motor elétrico, oferece 100% de seu torque desde o início, sua aceleração é gradual e consistente e pode surpreender em um movimento mais forte. Outra vantagem é que o motor 100% elétrico não polui. O motor do Leaf também utiliza a força de frenagem para alimentar novamente a bateria, a exemplo do Prius.

Manutenção
Tanto o modelo da Nissan quanto Prius pouco foram alterados para rodar no Brasil. Enquanto o Leaf apenas recebeu itens como extintor de incêndio, triângulo e marcação do chassi nos vidros para atender à legislação brasileira, o híbrido da Toyota ganhou ajuste de suspensão mais firme para atender ao gosto brasileiro. Fora isso, é o são os mesmos carros vendidos no restante do mundo.

A rede autorizada das duas fabricantes, no entanto, precisou de treinamentos para lidar com as novidades. Como parte do projeto piloto de táxi em SP, uma concessionária Nissna foi preparada para receber as unidades que estão rodando. Quanto ao Prius, como é vendido ao grande público, a rede Toyota foram 100% treinadas para atender o modelo com cursos de 7 a 15 dias de duração. Chefes de oficina foram mandados para o Japão para aprender mais profundamente sobre a tecnologia.

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Mas, garantem, as fábricas, não há nada de sobrenatural na manutenção desses veículos. O Leaf, por exemplo, só requer manutenção preventiva em sua suspensão e freios, como em qualquer carro. Nenhuma peça precisa ser trocada em seu sistema de propulsão regularmente. O mesmo vale para o motor elétrico do Prius. Já seu motor a combustão tem a mesma manutenção preventiva de um propulsor comum.

Mudança de hábito
Alguns cuidados extras tiveram que entrar na rotina de quem trabalha rodando nas ruas da capital paulista dentro do projeto dos táxis elétricos. No caso do Nissan Leaf, a principal questão é o fato de sua autonomia ser de apenas 160 km, enquanto o percurso médio diário de um taxi na grande São Paulo chega a 200 km. Para se adequar, os taxistas tiveram que incluir no itinerário os pontos de recarga rápida instalados nos estacionamentos de cinco concessionárias Nissan. Esses postos conseguem fazer a recarga completa do veículo em 30 minutos. Nos quinze postos de recarga instalados pela AES Eletropaulo nos pátios das frotas, o processo demora oito horas. Por isso, os Leaf “dormem” ligados na tomada toda madrugada – assim como fazemos quando temos um smartphone.

Já o Prius não precisa de tomada, porque o motor a combustão e o sistema de freios regenerativos alimentam o motor elétrico. Mas alguns taxistas que usavam as unidades do modelo reclamavam que não estavam conseguindo atingir a economia de combustível que a fábrica garantia. A Toyota constatou que isso se devia ao modo de dirigir dos taxistas, que aceleravam demais em alguns momentos, ultrapassando os 50 km/h e acionando o motor a combustão sem necessidade. Por isso, os engenheiros da fabricante elaboraram um treinamento específico para os taxistas aprenderem a lidar com o modelo e guiar de modo mais econômico. Houve taxista com 40 anos na praça que disse ter reaprendido a dirigir.

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Mas de uma coisa os taxistas não podem se queixar: a clientela aumentou graças aos novos carros. Todo mundo quer experimentar como é andar em um elétrico/híbrido por alguns quilômetros.

Mercado
Enquanto a Toyota bancou a vinda do Prius para ser vendido ao grande público (por um preço salgado, R$ 120 mil), o Leaf veio ao Brasil apenas “a trabalho”, já que a Nissan não considera viável a venda do modelo por aqui.

“Não comercializamos o Leaf no Brasil, pois, para ser importado, o preço ficaria inviável para o consumidor final devido aos diversos impostos que teriam de ser recolhidos. O custo do Nissan LEAF poderia subir quase 120%, sem incluirmos o lucro da marca”, lamenta a assessoria de imprensa da Nissan, que explica que o modelo pagaria 35% de imposto de importação e 25% de IPI, além de outras taxas que incidem no processo de importação e na distribuição.

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Prefeito do Rio de Janeiro/RJ, Eduardo Paes (segundo da dir. para a esq.)
e taxista do Leaf na capital fluminense

A Toyota justifica o preço salgado de seu híbrido dizendo que, se houvesse estímulo do governo para cortar impostos de modelos ecologicamente corretos, o preço do Prius poderia cair até pela metade. Mas mesmo com o preço alto, a fabricante insiste em importar o modelo porque acredita que o Brasil merece ter mais carros “verdes” em seu mercado.

Que o investimento pesado em transporte público é a solução para amenizar os problemas tanto do trânsito quanto do meio ambiente, isso não se discute. Quanto mais pessoas deixarem seus carros em casa e puderem utilizar o mesmo meio de transporte, menos poluentes serão jogados no ar e no solo – e mais espaço sobrará nas ruas para que o fluxo flua normalmente. Agora, se pudermos unir transporte coletivo e motores que não poluam (ou poluam o mínimo), melhor ainda. Bem-vindos sejam, então, Prius e Leaf, às nossas ruas. Bom trabalho para vocês e continuem nos ensinando a respeitar o meio ambiente.

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