Rolamento de roda em caminhões

Fizemos a troca dos rolamentos do cubo de rodas do eixo dianteiro do Mercedes-Benz 1318, um componente que precisa cuidado para não deixar o transportador na mão

Carolina Vilanova

Os cubos das rodas são componentes mais do que importantes quando se fala em segurança de veículos pesados e de carga. Um conjunto extremamente exigido nas estradas, seja em subidas, descidas, em retas ou curvas e, principalmente, no momento da frenagem. E no trânsito da cidade não é diferente, tanto para e anda, sobe e desce, que todo cuidado é pouco para o motorista.

A falta de manutenção desse componente pode causar um acidente e tanto, imagina se uma roda de caminhão, ou de um ônibus, se desprende do eixo e sai rolando numa rua cheia de carros e pedestres? Então, convencer o seu cliente que essa revisão é necessária é responsabilidade do mecânico. Para ajudá-lo, mostramos nessa matéria a revisão do cubo e troca dos rolamentos de roda do eixo dianteiro VL 3, que equipa os caminhões Mercedes-Benz 1318.

A primeira recomendação de Silas Bhering, instrutor do módulo de veículos diesel do SENAI-Ipiranga, é quanto a utilização de equipamentos de proteção, que nesse caso são óculos de segurança, luvas e sapatos com biqueira de aço. “É essencial também ter em mãos as ferramentas convencionais e as especiais, inclusive, o relógio comparador, para a manutenção do conjunto. E não podemos esquecer de utilizar peças originais e de boa procedência”, avisa.

De acordo com o instrutor, a revisão do sistema deve ser feita a cada 40 mil km, ou dentro do período recomendado pelo fabricante do veículo, o que inclui a desmontagem, uma inspeção nos componentes internos e a troca da graxa do rolamento. “Sempre que se detectar avaria nos rolamentos, o técnico deve substituir as peças”, complementa. No entanto, esse período deve ser diminuído pela metade, se o veículo for submetido a condições severas, excesso de carga, vias mal pavimentadas, etc.

Quando um caminhão ou um ônibus chega na oficina se queixando de ruídos na roda, um “ronco”, ou trepidação do eixo dianteiro, o problema pode estar no rolamento. “Esse é um item que pode causar acidentes se sofrer quebras enquanto está rodando, pois a roda pode cair sem que o motorista perceba”, comenta Silas.

Outro caso que pode complicar a vida do transportador é quando o rolamento sem manutenção entra em processo de fundição por falta de lubrificação adequada. Nesse caso, o desgaste, além de provocar a queda da roda, pode ainda danificar a ponta da carcaça do eixo rígido, bem como a manga de eixo.

É comum que os veículos urbanos tenham problemas com os rolamentos com mais freqüência por conta das condições severas de utilização as quais são expostos. É necessário lembrar, porém, que os rolamentos devem ser trocados em pares, capa e rolamento, e jamais reutilizar as capas de rolamentos usados nos conjuntos novos, pois tratam-se de peças usinadas em conjunto que não devem ser separadas na montagem.

Procedimentos

1) A primeira etapa do processo de desmontagem para acessar os rolamentos é tirar a roda do eixo e desregular o freio através da catraca.

2) Depois, o técnico pode remover o tambor de freio. Aproveite e inspecione o conjunto quanto a trincas, desgastes e espelhamento. Veja as condições da guarnição da sapata de freio quanto a desgaste e contaminação por graxa do rolamento.

3) Retire agora a calota do cubo com um soquete de 60mm e um cabo de força de ¾ de polegada. Na montagem, aplique torque de 120 -150 Nm.

4) Faça a remoção da trava elástica da porca do cubo (4A) e do anel dentado que trava a porca. (4B)

 

5) Use o soquete 55 mm e um cabo de força de ¾ de polegadas para soltar a porca do cubo. Retire a arruela de encosto. (5A)

Obs.: Na montagem, não aperte a porca para não estrangular. Faça os procedimentos de regulagem da folga axial do cubo descrita no final da reportagem. (5B)

 

6) Remova o cubo com o auxílio o extrator 321599999043300, da Mercedes-Benz. Leve a peça com segurança para uma bancada para ser desmontada e lavada. (6A)

Obs.: Aproveite que o cubo está desmontado e faça uma boa inspeção no conjunto de freios, ou seja, nas molas de retorno das sapatas, na folga do eixo excêntrico e no embuchamento dos pinos das sapatas. Substitua as peças se necessário. (6B)

7) Agora que o cubo está na bancada, remova o extrator do cubo e o rolamento cônico externo. Retire o retentor, que deve ser substituído todas as vezes em que for removido.

8) Retire o rolamento interno e com o extrator 00058916330 faça a retirada da pista do rolamento interno. (8A)

Obs.: Para recolocar a peça, use o mandril 98345589081500 e bata com o martelo de plástico até encaixar perfeitamente. (8B)

 

9) Agora, tire a pista do rolamento externo com a ferramenta 98718589041500. Encaixe o mandril e bata com o martelo de plástico ate sair a peça.

10) Para recolocar a pista use outra ferramenta, a 98309589071500. É muito importante que a ferramenta seja utilizada, caso contrário, pode causar danos ao rolamento.

Obs.: Não use marreta e nem bata no rolamento. Use sempre o martelo de plástico e o mandril apropriado.

11) Examine, em seguida, a condição dos rolamentos quanto a marcas de superaquecimento (azulado), erosões ou se apresentam pitting.

Na instalação

Agora que os rolamentos estão revisados ou devidamente trocados, faça o processo inverso para a montagem do conjunto. Não esqueça de aplicar a graxa específica, que para este veículo é do tipo API Gl4. As graxas Castrol LM2 e a Lubrax GMA 2 atendem a essas especificações.

No entanto, lembre-se: para outras marcas e modelos dê sempre preferência absoluta à graxa recomendada pelo fabricante do veículo. A utilização de graxas inadequadas pode trazer a destruição prematura dos rolamentos e provocar acidentes graves.

No que se refere à quantidade de graxa a ser aplicada, para este veiculo em especial, a quantidade correta é de 150 g no cubo e de 40g na calota. Instale um retentor novo com o mandril 321589021500.

De acordo com Airton Prado, Gerente Assistência Técnica / Planejamento de Produto do Grupo Schaeffler, em veículos pesados é importante o controle de troca do lubrificante. “A graxa de sabão de lítio é a mais recomendada para cubos de roda e nesta especificação o Grupo Schaeffler disponibiliza a GRAXAZUL para serviço misto e a GRAXAZULPLEX com aditivos de extrema pressão para serviço severo”, comenta.

O rolamento deve ser substituído de forma preventiva, para que se evite a sua quebra e a indisponibilidade do veículo, bem como um maior custo para reparação, pois quando se rompe em trabalho, danifica mais peças do conjunto”, Alexandre Santana, vendedor técnico da SKF do Brasil.

Regulagem de folga do cubo

Para regular a folga do cubo, aperte a peça com a mesma ferramenta com a qual foi solta até encostar. Gire e bata com o martelo de plástico no cubo até que a porca encoste totalmente. Em seguida, afrouxe ¼ de volta e instale o relógio comparador com a base magnética apoiada no cubo e a ponta do relógio apoiada na ponta da manga de eixo. Zere o relógio e puxe o cubo para medir a folga. O resultado deve ser um valor entre 0,2 a 0,6 mm. Se tiver abaixo de 0,2 mm, solte a porca para aumentar a folga e se tiver acima de 0,6 mm, aperte-a para diminuir a folga. Com o conjunto regulado, trave com o anel trava e a trava elástica. Instale a calota do cubo, o tambor de freio, a roda com o pneu e regule o freio.

O Mecânico pergunta:

Quais os sintomas que indicam problemas no componente?

Francisco de Assis,
Rental Retros Locações e Serviços

R) Os sintomas mais comuns são ruídos emitidos em trabalho, que podem ser detectados com uma maior atenção do condutor, ou submeter o veículo a uma inspeção periódica de acordo com a sua severidade de trabalho. A presença de folgas no rolamento pode ser observada durante inspeção periódica. O proprietário do veículo deve ficar atento às peças de boa qualidade oferecidas pelo mercado, bem como um lubrificante de igual qualidade e, se os eixos / alojamentos dos anéis internos/externos (cone/capa) estão com suas dimensões próprias para serem reutilizadas, pois um rolamento novo quando montado em eixo desgastado, ocasiona um desgaste prematuro, por exemplo.

Resposta de Alexandre Santana, vendedor técnico da SKF do Brasil

Como deve ser o armazenamento da peça no estoque da oficina e as recomendações de manuseio?
Carlos Eduardo Silva Oliveira,
Autônomo

R) O armazenamento de rolamentos de roda de veículos pesados deve ser em ambiente livre de impurezas e ou poeira com baixa umidade (seco), mantendo-os em sua embalagem até o momento de montagem na posição “deitada” com limite de empilhamento de cinco peças. Devemos evitar quedas e choques nos rolamentos para evitar marcações em suas pistas e corpos rolantes.
Resposta de Airton Prado, Gerente Assistência Técnica / Planejamento de Produto do Grupo Schaeffler