Confira a análise técnica da linha 2022 do SUV, que estreia motor turboflex de 170 cv e câmbio CVT com simulação de 8 marchas
Regras mais rígidas para emissões e a própria demanda dos consumidores por motores mais econômicos tem feito as fabricantes apostarem em novos motores turbo, especialmente no segmento dos SUVs. O mais novo integrante deste time é o Renault Captur 2022, que passa a vir com o inédito motor 1.3 TCe turboflex em todas as versões.
Este 1.3 turbo foi desenvolvido em parceria com a Daimler e é utilizado em modelos como Mercedes-Benz Classe A Sedan, GLA e GLB, em ajuste de 163 cv. Para o Brasil, a Renault desenvolveu sistema de injeção flex, fazendo o 1.3 alcançar 170 /162 cv de potência (E/G) entre 5.500 e 6.000 rpm. O torque máximo de 27,5 kgfm aparece entre 1.600 e 3.750 rpm com qualquer um dos combustíveis.
Importado da Espanha, este 4-cilindros possui bloco em alumínio, duplo comando de válvulas variável com atuadores elétricos, sistema de injeção direta e turbocompressor com válvula wastegate de acionamento eletrônico. O turbo trabalha com pressão máxima de 1,4 bar. Este motor possui ainda tratamentos especiais de superfícies para a redução de atrito em componentes móveis do cabeçote, anéis e pinos dos pistões, além do virabrequim e dos mancais.
Para trabalhar em conjunto com este novo motor, que possui torque bem mais expressivo do que os 16,2 kgfm gerados pelo antigo 1.6 SCe flex, a Renault substituiu a transmissão por uma caixa automática do tipo CVT com simulação de 8 marchas – antes, o antigo câmbio tinha simulação de 6 marchas. O novo CVT Xtronic tem bomba de óleo de dimensões reduzidas, cárter de menor volume, válvula de controle hidráulico com maior precisão e corrente de menor largura do que o anterior.
O Captur 1.3 2022 é vendido em três versões (Zen, Intense e Iconic), com preços entre R$ 126.690 e R$ 139.690. O modelo aqui avaliado é uma unidade da versão topo de linha, que traz os exclusivos faróis full LED, sensores de pontos cegos, partida do motor à distância e sistema Multiview com 4 câmeras ao redor do carro.
Para a análise técnica das condições de manutenção e reparabilidade do novo Renault Captur Intense 2022, contamos com o auxílio dos mecânicos Camilo de Lelis Matos e Matheus de Moura Matos, pai e filho, que trabalham juntos na oficina Garagem 85, em Guarulhos/SP.
ACESSO FÁCIL
Os mecânicos iniciam a avaliação técnica pelo cofre do motor, que mostra espaço adequado ao trabalho. “A disposição dos injetores (1), bem na parte superior do cabeçote, indica facilidade na manutenção do sistema de injeção.
A bomba de alta pressão (2) também fica posicionada em local de fácil acesso”, observa Camilo.
Na análise dos mecânicos da Garagem 85, o sistema de injeção direta exige cuidado maior com a origem do combustível. “Todo carro com injeção direta é mais sensível a combustível adulterado ou de má qualidade, que pode causar falhas e alta no consumo. Os donos devem sempre buscar abastecer com combustível de qualidade”, adverte.
De acordo com a Renault, o desenvolvimento deste motor envolveu mais de 40 mil horas de testes e 300 mil km de validação com rodagem em condições extremas. Nesta versão flex, a fabricante adotou injetores de 250 bar de pressão com design desenvolvido para o etanol (incluindo a vazão, a direção e o tamanho de jato), com seis furos por injetor.
Na visão de Camilo, entretanto, é preciso tomar cuidado com a carbonização. “Como a injeção é direto na câmara de combustão, pode acabar contaminando a admissão e carbonizando bastante. Minha recomendação é evitar abastecer o tanque somente com etanol com muita frequência”, explica.
Para o profissional, o desenho e a estrutura do cabeçote, em forma de delta, aumenta o espaço no cofre para a manutenção. “Se fosse um cabeçote comum, ocuparia todo a área livre. Neste novo Captur, é possível ter acesso a vários componentes com pouca ou nenhuma desmontagem”, afirma Camilo. Além do tamanho compacto, o formato do cabeçote ajuda na redução do centro de gravidade, de acordo com a Renault.
No sistema de ignição, a troca das velas é recomendada pelo manual a cada 40 mil quilômetros ou 3 anos, o que ocorrer primeiro. “Em alguns carros, as velas possuem um tratamento especial na rosca. Com uso excessivo de etanol, pode haver oxidação da rosca. Por isso, é recomendado remover a vela periodicamente para inspeção visual”, salienta Matheus.
O sincronismo deste motor é feito por corrente, livre de manutenção periódica. Já a correia de acessórios e os rolamentos têm substituição prevista em manual a cada 80 mil quilômetros ou 4 anos. O módulo do ABS fica próximo à parede corta-fogo, escondido atrás de um defletor metálico (3). “Nessa posição, ele acaba ficando protegido contra pequenas colisões e umidade”, nota Matheus.
Os mecânicos notam que o Captur tem a opção de retirada fácil da grelha (conhecida popularmente como churrasqueira) para manutenção do corpo de borboleta e outros elementos na parte traseira do motor, como a sonda lambda (4) e o turbocompressor (5). “O filtro de ar tem fácil acesso, mas exige uma ferramenta para soltar a trava (6), que é bem rígida”, nota. De acordo com o manual, a troca do filtro de ar do motor deve ser feita a cada 10 mil km ou 1 ano.
O mesmo prazo é válido para a substituição do filtro de cabine. “Ele fica localizado abaixo do porta-luvas, próximo à parede corta-fogo, na região dos pés do passageiro dianteiro. Para removê-lo, basta soltar dois parafusos da tampa de proteção (7)”, explica Matheus.
A manutenção da bateria (8) também merece atenção pois o Captur 1.3 mantém o sistema stop-start, que desliga e religa o motor automaticamente em breves paradas. A bateria é do tipo EFB, de 60 Ah e CCA de 510 ampères (SAE). “Nesses carros com stop-start indicamos a troca preventiva da bateria. Se esperar perder totalmente a carga, pode acabar prejudicando outros sistemas”, alerta Matheus.
O fluido de freio (9) possui especificação DOT4+ e possui indicação de substituição no manual apenas a cada 80 mil quilômetros ou 4 anos. O mesmo prazo é considerando para o fluido de arrefecimento (10), cuja produto homologado é o Glaceol RX Type D (do tipo pronto para uso e de cor amarela). Para a troca, são necessários 5,45 litros.
UNDERCAR
Com o carro no elevador, a dupla de mecânicos começa observando a região inferior do motor. “É possível notar que houve o cuidado, por parte da fábrica, de acrescentar uma proteção isolante (11) abaixo do cárter”, nota Camilo.
A troca de óleo e filtro de óleo (12), que é do tipo ecológico, deve ser feita a cada 10 mil km ou 1 ano. O manual recomenda óleo de motor Castrol que atenda à classificação ACEA A3/B4, mudando a viscosidade apenas na especificação de baixas temperaturas (W). No plano de manutenção, estão previstos os graus de viscosidade 15W40 (para temperaturas de até -15ºC ou superior), 10W40 (-20ºC), 5W40 (-25ºC) e 0W40 (-30ºC). A capacidade do cárter, incluída a troca do filtro, é de 4,8 litros.
Ainda em relação a fluidos, o manual do fabricante indica que não há necessidade de inspeção de nível e troca do óleo do câmbio CVT (13). A capacidade total do sistema é de 8,6 litros, sendo o valor de enchimento após a drenagem especificado em 3,9 litros. O fluido homologado é o CVT Gearbox Oil NS3.
Para o mecânico, mesmo sem a previsão de troca, a manutenção preventiva do câmbio é essencial para evitar problemas no futuro. “Sempre bom alertar que, na nossa visão, é importante sim a substituição de óleo do câmbio e filtro. Como ele trabalha em uma faixa de temperatura elevada, a degradação do fluido é muito rápida. Para clientes da nossa oficina, recomendamos a troca do óleo de câmbio CVT a cada 40 mil quilômetros”, ressalta Camilo.
Os mecânicos fazem uma ressalva em relação ao coxim inferior (14) de motor e câmbio. “O restritor de torque é basicamente o mesmo dos modelos 1.6 e parece um tanto limitado para um carro turbo com tanto torque”, analisa.
Com a atualização da plataforma B0 para B0+ (a mesma do novo Duster), o Captur 2022 finalmente ganhou assistência elétrica da direção – antes, era do tipo eletro-hidráulica. “A caixa de direção tem fácil acesso e traz um cuidado adicional na montagem, com a instalação de um defletor (15) que impede que o calor do escapamento chegue à caixa”, nota Matheus.
Nos conjuntos de suspensão e freios dianteiros (16), Camilo não observa mudanças e dificuldade para a manutenção. “O amortecedor tem fixação simples, de fácil remoção”, observa Camilo.
A barra estabilizadora, que interliga os elementos da suspensão dianteira, fica alojada na parte frontal. “Isso acaba facilitando o acesso às buchas (17) da barra”, complementa.
Na traseira, o Captur possui suspensão por eixo de torção e freios a tambor (18), também com manutenção simples. “O eixo possui uma curiosa proteção plástica (19), possivelmente com algum efeito aerodinâmico.
O acesso à fixação superior do amortecedor é interno, pelo porta-malas”, observa Matheus. O filtro de combustível (20) fica alojado próximo à roda traseira direita e tem substituição prevista a cada 10 mil km ou 1 ano.
Após a análise do Captur na oficina, os mecânicos aprovaram as condições dos principais pontos de manutenção do SUV. “Gostaríamos que todos os carros, ou pelo menos a maioria, tivesse a manutenção fácil como a do novo Captur”, conta Camilo. Para Matheus, a facilidade de acesso aos componentes ajuda na produtividade dentro da oficina. “Perder menos tempo na desmontagem é um ponto positivo para o mecânico e também para o cliente, que pode ter o veículo pronto em menos tempo”, exemplifica.
Texto & fotos Gustavo de Sá