RAIO X: Jeep Compass Overland

Como fica a manutenção agora com o motor 2.0 turbo, derivado da Rampage?

texto Vitor Lima   fotos Lucas Porto

 

A nova linha do Jeep Compass trouxe uma atualização muito bem-vinda ao SUV. Se contarmos os números de versões apenas do modelo com motor a combustão, serão sete opções aos consumidores, porém, cinco dessas opções mantiveram os motores já conhecidos do público e claro, dos mecânicos, com opções entre o motor 1.3 T270 turbo flex e o motor a diesel TD350. Mas a grande novidade se deu pelo uso de um motor 2.0L para as duas versões topo de linha, Overland e Blackhawk.

Essas duas versões usufruem do motor 2.0 Turbo Hurricane 4 derivado da Rampage? O motor é monocombustível, utilizando apenas a gasolina e gera 272 cv de potência e 40,7 kgfm de torque. Em conjunto com uma transmissão automática de 9 velocidades da ZF e tração integral 4×4 sob demanda, a Jeep divulga que o SUV acelera de 0-100km/h em apenas 6,3 segundos. Com isso, outros componentes precisaram de atualização para aguentar o ganho de potência gerado pelo conjunto propulsor e entregar uma boa dinâmica ao SUV como a recalibração da suspensão, o redimensionamento do conjunto de freios que agora utilizam discos de 330 mm na dianteira e a substituição da bomba de vácuo.

Em relação ao pacote ADAS, o Jeep Compass Overland oferece assistente ativo de direção (ADA); centralização de faixa (lane centering); piloto automático adaptativo com stop & go (ACC); comutação automática dos faróis (DDT); detector de fadiga do motorista; aviso de mudança de faixa (LDW); aviso de colisão frontal com frenagem automática; reconhecimento de placas de trânsito (TSR); monitoramento de ponto cego; detector de tráfego cruzado traseiro (RCM) e park assist que ajudam a manobrar o SUV no momento de estacionar. Para analisar as condições de manutenção com o novo Jeep Compass em sua versão Overland, que parte de R$ 266.990, a Revista O Mecânico convidou Cleyton André, proprietário da oficina Repair Car Service, localizada em São Bernardo do Campo/SP.

Por baixo do capô

Ao erguer o capô do novo Jeep Compass, Cleyton analisou o espaço mais apertado devido a nova motorização 2.0L turboalimentada. “É um espaço bem compacto, limitado no quesito de manutenção. Vejo algumas dificuldades de acessar alguns componentes que, em outros modelos, até mesmo no Jeep Compass anterior, eram mais fáceis. Isso é ocasionado por conta da tecnologia que o veículo traz com este motor”, comenta.

Um ponto de atenção ao mecânico é a existência de dois reservatórios com fluido de arrefecimento no cofre do motor. O primeiro (1) é utilizado apenas para arrefecimento do sistema do turbocompressor e tem capacidade para 3 litros. Já o segundo (2), é responsável pela troca térmica do motor a combustão e do câmbio automático com capacidade para 6,4 litros no sistema. O prazo para substituição do fluido é de 240 mil km ou 120 meses, o que ocorrer primeiro e o fluido de arrefecimento homologado é o Mopar Coolant OAT 50 que não precisa de diluição.

Questionado sobre o período de recomendação da fabricante, o profissional deu a sua opinião. “É importante deixar claro que, o período longo, estipulado pelo fabricante, não quer dizer que não você pode deixar esse sistema sem nenhum tipo de atenção. É necessário verificar o nível dos reservatórios, pois, nunca se sabe quando pode ocorrer algum tipo de vazamento. Não faça o abastecimento com algum produto que não seja o recomendado pela fabricante para que possa ter um período de substituição longo”, explica.

Na linha de fluidos, serviços de rotina nas oficinas mecânicas, como a substituição do lubrificante de motor, mantém-se facilitadas. Pois, o bocal de abastecimento de óleo (3) tem fácil acesso, assim como a vareta de verificação do nível de óleo (4).

Além disso, a recomendação em sua tampa sobre o tipo de fluido que deve ser utilizado. No caso do motor Hurricane 4, a Jeep recomenda a utilização de um lubrificante com viscosidade SAE 5W-30 com classificação API SP/GF-6A. O produto homologado é o Mopar Maxpro Synthetic SAE 5W30 API SP/GF-6A e o seu período de substituição é a cada 12 mil km ou 12 meses, o que ocorrer primeiro. O sistema tem capacidade total para 4,5 litros de fluido lubrificante incluindo o filtro.

Caso não seja utilizado o fluido com as características corretas, solicitadas pela montadora, o que pode acontecer? O mecânico nos respondeu da seguinte forma. “Provavelmente não iremos sentir problemas a curto prazo, porém, ao longo prazo o motor sofrerá bastante. vale lembrar que é um motor com muita tecnologia, turboalimentado, então é necessário seguir as classificações de lubrificação exigidas. Isso também está relacionado com as questões de emissões de poluentes”.

O acesso ao turbocompressor (5) foi elogiado por Cleyton. “O turbocompressor está em um local favorável para os mecânicos. Ainda que seja um espaço limitado, ao comparar com outros modelos de veículos, não teremos tantas dificuldades para realizar intervenções”.

Em contrapartida, o acesso ao coletor de admissão está na parte de trás do motor, o que dificulta bastante o seu acesso. O mecânico disse que em benefício, os injetores não são posicionados na parte lateral do motor, mas sim, na parte superior. Próximo das bobinas de ignição, é possível visualizar uma manta térmica da qual está por cima do início do tubo de distribuição de combustível (6). “Caso seja necessário realizar intervenção nos injetores, vai precisar retirar a caixa do filtro de ar. Em quase todas as manutenções, será necessário a retirada desta caixa”, explica o mecânico.

Isso reforça a importância do cuidado por parte do profissional ao executar qualquer tipo de manutenção no veículo. O filtro de ar (7) deve ser substituído a cada 20 mil km ou 24 meses, o que ocorrer primeiro. Vale lembrar que, em caso de uso severo do veículo, reduza os períodos pela metade, ou seja, 10 mil km ou 12 meses.

A localização das válvulas de serviço do ar-condicionado difere em sua acessibilidade.  Sem nenhum tipo de intervenção dos demais componentes do motor, a linha de alta pressão (8) é totalmente acessível, porém, a linha de baixa pressão (9) não tem fácil acesso, o que necessita da retirada, de pelo menos, a caixa do filtro de ar.

Facilitado é o acesso a sonda lambda pré-catalisador (10). “De modo geral, é um componente que tem pouca necessidade de manutenção. Boa parte dos diagnósticos e análises da sonda lambda é de forma indireta por meio do scanner”, comenta Cleyton.

A bateria 12V (11) do Jeep Compass é do tipo EFB com 72Ah e CCA de 620A. “72Ah é a reserva de carga que temos dessa bateria, o que é muito considerável, já que o carro tem grandes tecnologias, faz sentido essa reserva. Porém, quero deixar a observação sobre a tecnologia EFB que essa bateria traz. É muito importante em caso de substituição da bateria, que seja utilizada uma bateria com essa tecnologia. Ao utilizar uma bateria convencional, provavelmente em pouco tempo o sistema Stop-Start ficará inativado”, alerta o profissional.

Componente que na grande maioria dos veículos não traz dificuldade em acesso aos mecânicos é a caixa de fusíveis e relés (12). “Vale um aviso importante, para que apenas as pessoas capacitadas façam alguma intervenção nesse sistema, e se realmente houver necessidade”, avisa o mecânico.

O reservatório do fluido de freio (13) não é totalmente livre para acesso, mas também não dificulta segundo Cleyton. “Ele tem uma localização um pouco mais protegida para acessar, mas eu já vi outros muito mais complicados. Importante dizer que, o manual do fabricante indica a necessidade de substituição desse fluido a cada 24 meses. O fluido é higroscópico, ou seja, absorve a umidade do ar, então é preciso estar atento e realizar as manutenções devidas, realizando o monitoramento e verificando se não há contaminação”. O fluido utilizado é DOT 4.

Ao finalizar sua análise do cofre do motor, Cleyton salientou a dificuldade de acesso com o TBI. “Ele tem um acesso bem complicado, fica na parte de baixo, depois da pressurização. É um componente que, geralmente, encontramos de fácil acesso em outros veículos, porém, aqui temos uma certa dificuldade para acessá-lo”.

Undercar

Após subir o Jeep Compass no elevador, é possível perceber que as manutenções básicas poderão ser executadas pelos mecânicos sem nenhuma dificuldade. Isso é visto pelo filtro de óleo do motor (14). Com indicação de substituição a cada 12 mil km ou 12 meses, o componente não apresenta nenhuma dificuldade de acesso, assim como o bujão de escoamento de óleo do cárter (15).

Em contrapartida, o acesso ao compressor do ar-condicionado não é simples. Enquanto em outros veículos é comum que o componente esteja localizado na parte de baixo, próximo ao cárter do motor, no Jeep Compass Overland ele encontra-se em outro local. “Infelizmente neste caso, o que é bem diferente de outros veículos, o compressor está na parte de cima, próximo do turbocompressor”, informa Cleyton sobre a localização do componente.

Outro componente que não está com acesso facilitado é a correia de acessórios (16). “O acesso a correia fica um pouco restrito, mas não é nada que um bom mecânico não consiga executar a manutenção”, comenta o mecânico. A correia de acessórios tem prazo para troca de 192 mil km ou 72 meses, o que ocorrer primeiro.

Partindo para o sistema de suspensão, Cleyton deixou sua opinião sobre a construção do sistema. “É uma suspensão bem robusta, é possível ver de cara. Ele tem suspensão independente tanto na dianteira, quanto na parte traseira”. A manutenção com os pivôs de suspensão não traz nenhuma dificuldade, assim como as bandejas de suspensão (17).

Seguindo uma tendência dos novos veículos, as bieletas são de polímero plástico, o profissional comentou o motivo da utilização do componente com este tipo de material. “O primeiro motivo do uso desse material para o componente é a resistência apresentada, além de oferecer mais leveza para a suspensão”. Como o SUV atualizou a sua motorização e agora oferece maior potência, os freios foram redimensionados (18). “Temos um disco com diâmetro e espessura maiores, além do aumento das pinças de freio. Claro, aqui no Jeep Compass é um motor com potência considerável, então a suspensão e os freios tiveram que ser bem dimensionados, tanto para aguentar o conjunto, como ajudar nos momentos de frenagem”, comenta Cleyton.

Para o modelo do SUV com motor Hurricane 4, há utilização de uma transmissão de 9 velocidades da ZF (19). “Ela veio com uma boa melhoria. Antes, nos modelos anteriores, o trocador de calor era conectado diretamente na caixa de transmissão, neste veículo é semelhante aos modelos com motor a diesel, no qual o trocador de calor é localizado na parte frontal, o que evita o problema comum que aparece no mercado com os modelos mais antigos. Além disso a troca térmica dessa transmissão com certeza foi muito melhorada”, explica o mecânico sobre o posicionamento do trocador de calor da transmissão.

No manual de manutenção do Jeep Compass, não há recomendação para substituição do fluido de câmbio, o profissional deu a sua opinião sobre esta recomendação. “A objeção que eu utilizo sobre essa recomendação do fluido ‘For Life’ é a seguinte questão, na própria embalagem do fluido que é utilizado na transmissão automática, tem em média uma validade de 5 anos a partir da fabricação. Então o fluido tem uma validade dentro de uma embalagem que será mantida em um local arejado e seco, aqui na transmissão está ocorrendo atrito, mudança de temperatura e a própria transmissão tem seus respiros, ou seja, tem contato com o oxigênio. Logo, ele vai se degradar com certeza, então há necessidade da substituição do fluido da transmissão automática. Não só para este modelo, mas para qualquer veículo com esse tipo de transmissão. Deve ser feito uma análise criteriosa antes da substituição, para que assim, seja feita uma manutenção preventiva com a troca do fluido. É importante seguir alguns procedimentos, como utilizar um equipamento adequado com informações precisas para que seja feita a manutenção de forma correta”.

Vale lembrar que no próprio manual há indicação do lubrificante para transmissão, o produto homologado é o Mopar 8&9 Speed ATF, seguindo as especificações ZF TL-ML 11 com qualificação 9.55550 – AV. Cleyton alerta sobre a necessidade de troca do fluido da caixa de transferência (20) que utiliza um lubrificante sintético SAE 75W-90 API GL5, o produto homologado é o Mopar SYN Gear&Axle – 75W90. “A caixa de transferência que está interligada com a transmissão automática também é necessária a substituição de seu fluido. Em conjunto a caixa de transferência, existe o eixo cardan que interliga a caixa com o diferencial traseiro”.

O sistema de exaustão (21) não apresenta nenhum segredo ao mecânico, com exceção da sonda lambda pós catalisador, no qual a visibilidade do componente é dificultosa. “Na parte da exaustão, o sistema é muito bem fixado, não há nenhum problema, com exceção da sonda lambda pós catalisador. Diferente da facilidade com a sonda pré-catalisador, a sonda pós tem um acesso bem complicado, isso dificulta bastante o trabalho do mecânico, caso seja necessária alguma manutenção com o componente”, explica o mecânico. Completando o sistema de exaustão, a dupla saída do escape se dá através de silencioso traseiro (22).

Na parte traseira do Jeep Compass, a suspensão (23) foi retrabalhada para melhorar o conjunto. “É uma suspensão independente da qual foi realizado uma excelente calibragem, para proporcionar uma boa condução deste veículo. Pois, é um motor com mais entrega potência. Ele não é um esportivo, mas é um carro que não deixa nada a desejar. Então é uma suspensão bem calibrada com diferentes articulações para que haja uma boa dinâmica do sistema”, informa o profissional. Outro ponto sobre a suspensão traseira, são as suas buchas de suspensão (24).

No que diz respeito ao freio de estacionamento, o sistema é eletrônico (25). Cleyton chama a atenção do mecânico para os momentos de manutenção com os freios traseiros. “Importante durante a manutenção, assim como a maioria dos veículos que tem essa tecnologia, há necessidade do equipamento de diagnóstico para que possa deixar o veículo em modo de manutenção e realize a substituição das pastilhas de freio traseira”. As bieletas da suspensão traseira têm um tamanho menor, se comparadas com as da suspensão dianteira, mas têm boa interligação com a barra estabilizadora traseira (26).

Em alguns veículos, o acesso ao filtro de combustível pode ser um pouco mais dificultoso, principalmente quando o componente está dentro do tanque de combustível, o que não é o caso do Jeep Compass. Para substituição do filtro de combustível (27) o mecânico não terá dificuldades no momento da manutenção que deve ser realizada a cada 12 mil km ou 12 meses, o que ocorrer primeiro. “É muito comum nos veículos que utilizam apenas um tipo de combustível ter apenas o filtro interno no tanque de combustível. Neste caso do Jeep Compass, com certeza temos o pré-filtro no módulo da bomba, mas temos o filtro externo ao tanque na parte de baixo”, comenta o mecânico sobre a localização do filtro de combustível.

O cânister (28) está em uma localização um pouco mais protegida, na parte traseira na lateral direita, acompanhando a tubulação azul, que indica a recirculação dos gases, é possível localizar e ver o componente.

Ao final da avaliação, Cleyton aprovou a manutenção do SUV com motor 2.0 Hurricane 4. “É um carro que tem bastante complexidade pela questão da tecnologia, das quais precisamos disso nos veículos, para atenderem as emissões de poluentes que nosso país exige. Mas de modo geral é um carro bem tranquilo, não é nenhum bicho de sete cabeças”.

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