Protótipo híbrido movido a eletricidade e gasolina marca o retorno da montadora alemã após 16 anos longe do Campeonato Mundial de Endurance
Texto: F. Tavares
Fotos: Divulgação
Para quem esteve nos arredores do autódromo de Interlagos, em 30 de novembro, percebeu que o já habitual barulho dos carros de corrida foi um pouco mais extenso, durando aproximadamente 6 horas. Uma das responsáveis por esse grito dos motores foi a Porsche, com o seu 919 Hybrid movido a eletricidade e gasolina. Após 16 anos fora da competição, a montadora uniu o que há de mais avançado no automobilismo, vencendo as 6 Horas de São Paulo, a última etapa do Campeonato Mundial de Endurance (World Endurance Championship, WEC) na categoria LMP1.
O Porsche 919 Hybrid possui chassi e corpo de fibra de carbono
O 919 Hybrid possui motor V4 turbo 2.0 e injeção direta, com quatro válvulas por cilindro e é capaz de gerar 507 cv de potência máxima. Já o sistema híbrido é formado por células de bateria de íon de lítio refrigeradas a líquido, que são alimentadas por dois sistemas: durante a frenagem, a energia cinética é convertida em uma corrente elétrica no eixo dianteiro, enquanto que a energia elétrica utilizável na traseira é obtida partir do inovador sistema de recuperação da energia termodinâmica a partir de gases de exaustão.
O motor V4 turbo 2.0 possui injeção direta e gera 507 cv de potência máxima
Segundo a Porsche, o sistema utiliza mais uma unidade de gerador de turbina em vez de o que é chamado de válvula de descarga. O que esta válvula normalmente faz é permitir que o excesso de energia gerado pelos gases de exaustão que não é exigido para acionar o compressor seja liberado na atmosfera. O Porsche 919 Hybrid utiliza este excesso de energia gerado pelos gases de exaustão para acionar uma segunda turbina que, por sua vez, aciona um gerador que gera energia elétrica.
O sistema de recuperação de energia dos gases de exaustão do 919 Hybrid faz com que este seja o único dentre os automóveis da disputa que regenera energia durante a frenagem e também durante a aceleração. Ambos os sistemas direcionam a energia cinética e a térmica que foram convertidas em energia elétrica de volta a uma bateria de íon de lítio arrefecida a líquido.
As regras não especificam como o sistema híbrido deve ser feito. O número de cilindros, a capacidade cúbica, diesel ou gasolina, tudo isso teve que ser decidido pelas próprias equipes. As novas regras de eficiência do Campeonato Mundial de Endurance, determinam uma quantidade fixa de energia por volta, que, no caso do 919, é de 6 megajoules. A quantidade de energia disponível por volta foi o fator limitante, tanto para à quantidade de combustível como à energia elétrica que pode ser usada a partir dos sistemas de armazenamento.
A fabricante afirma que o sistema híbrido do 919 Hybrid tem tecnologias que podem ser utilizadas em futuros sistemas de propulsão sustentáveis a serem desenvolvidos pela Porsche.
Eficiência aerodinâmica
Tanto na parte aerodinâmica quanto na escolha dos materiais para a construção com baixo peso, todos os processos que integram o carro estão dedicados à exigência de eficiência extrema com desempenho máximo. A competitividade do protótipo da Porsche também é responsabilidade da aerodinâmica precisamente equilibrada. A força vertical descendente garante boa velocidade em curvas rápidas. Contrário a isto se encontram os menores valores de resistência ao ar possíveis, para que assim o 919 Hybrid consiga alcançar velocidades máximas nos longos trechos retos.
A aerodinâmica do 919 Hybrid reduz a resistência ao ar e aumentar a velocidade
Outro bom motivo para o desempenho da equipe em 2014, na categoria 1 (LMP1) deve-se ao planejamento e capacidade para a preparação do Porsche 919 Hybrid, que teve início em 2011. Para isso, montadora construiu um novo edifício de escritórios e uma oficina para os protótipos no Centro de Desenvolvimento da Porsche em Weissach, na Alemanha.
Ao todo, foram 230 especialistas em automobilismo trabalhando no protótipo, sendo que entre eles haviam 150 engenheiros. A empresa investiu em maquinário, materiais e componentes, desde equipamento de alta tensão até um simulador de direção.
Segundo a Porsche, esse foi o carro mais complexo construído pela fábrica e teve entre os profissionais envolvidos o líder do projeto LMP1, Fritz Enzinger, além de Alexander Hitzinger, diretor técnico, e Andreas Seidl como diretor da equipe.
A Corrida
O Campeonato Mundial de Endurance (FIA WEC) teve dois extremos para a Porsche. Enquanto o trio formado por Romain Dumas (França), Neel Jani (Suíça) e Marc Lieb (Alemanha) fazia história ao vencer pela primeira vez uma corrida na categoria, o australiano Mark Webber pregava um susto na equipe e na torcida. Ele sofreu um sério acidente com o segundo 919 Hybrid a menos de meia hora do final das seis horas.
O 919 Hybrid chegou em primeiro lugar com Neel Jani ao volante
O ex-piloto de Fórmula 1, que divide o protótipo LMP1 com Timo Bernhard (Alemanha) e Brendon Hartley (Nova Zelândia), bateu forte na barreira de proteção da Curva do Café, quando estava em sexto lugar. Apesar do impacto, Webber não sofreu ferimentos graves, foi levado ao hospital para alguns exames e liberado no dia seguinte.
Romain Dumas, Fritz Enzinger (vice-presidente da LMP1), Marc Lieb, Neel Jani
Mesmo com o susto, a corrida terminou bem para a equipe, pois o 919 Hybrid número 14 conquistou a vitória com Neel Jani ao volante, após alterar entre o primeiro e o segundo lugar por diversas vezes com a Toyota.