Os três lados da verdade

Octávio Guazzelli é gestor do Autódromo de Interlagos e trabalhou durante muito tempo na Equipe Minardi de Fórmula 1. E-mails para: [email protected]

 

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Dizem que a verdade sobre um fato tem sempre três lados: 1) o lado de quem conta a história, 2) o lado de quem é o objeto da história e 3) o lado verdadeiro mesmo. Simplificando para o uso no dia a dia: a minha, a sua e a que aconteceu de fato.

 

Pois no incrível ano de 1990, todos nós na Minardi F1 estávamos sobrecarregados não só por ter que acompanhar o mundial de F1, como também no preparo da equipe para o novo projeto com a chegada do motor Ferrari para 1991. Problemas de relacionamento. Não foram fáceis e nem amenas as primeiras conversas e reuniões técnicas com a turma de Maranello. É que com o apoio e o dinheiro da FIAT e de seus outros patrocinadores, eles tinham uma verba em torno de 150 milhões de dólares para investir, na época, no Alan Prost e companhia, e podiam se permitir a certos luxos, arroubos e até erros que para a Minardi seriam fatais.

 

Comparando os dotes. Nosso budget era de 30 milhões de dólares, dos quais em caixa já tínhamos 20 e mais a promessa do Giancarlo Minardi de achar essa grana faltante se desdobrando como sempre. Quando arrumamos um “piloto-padrinho” como o Paolo Barilla, dono da maior fábrica de macarrão do mundo, todos pensaram que ele traria um caminhão de dinheiro que ia facilitar a nossa futura vida em comum com a Ferrari.

 

Os tiros saindo pela culatra. Mas aconteceu o efeito contrário, muitos dos patrocinadores que tínhamos pensaram da mesma forma e foram embora argumentando: “Agora que vocês têm a Barilla, não precisam mais de minha pequena contribuição…” E como se não bastasse, quando foi anunciado o acordo com a Ferrari, todo mundo pensou que já éramos a Ferrari e que nossos problemas de dinheiro estavam resolvidos! Outra vez o “Agora que vocês são Ferrari, não precisam mais de minha humilde participação…” O resultado prático é que ficamos sós com a brocha na mão no meio da temporada, sem combustível para alimentar a nossa F1.

 

Entram os “Colunistas Sociais”. Como em todo casamento que se preze surge sempre essa figura do colunismo. Aquela que na mais típica atitude desse tipo de atividade, vive de “caçar” notícias e criar polêmicas gratuitas. Os famosos boateiros que, em vez de ajudar, começaram a espalhar que a Minardi era timinho de segunda, de aluguel. Informação e ética zero sem se darem conta do prejuízo que causam na imagem dos outros e sem perceberem das falsidades que estão transmitindo para o público que está sedento de informações sérias. E olha que estou falando de gente conhecida, que até aquele momento (e desconfio que até hoje) não tinham aprendido nada, era só inveja e má fé mesmo.

 

Mas a fé move montanhas. É claro que muito da temporada de 1990 ficou comprometido e como “não há bem que sempre dure e nem mal que nunca se acabe”, ter investido tanto tempo e esforço (além da fé, um bom suor e algumas pás dão cabo da montanha da mesma forma) nos trouxe a melhor temporada da Minardi em 1991. O que nos ensinou mais um ditado importantíssimo na vida e que devemos usar todos os dias: “Os cães ladram e a caravana passa.”

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