Por Fernando Landulfo
Ecovias/ Divulgação
Basta chegar o período das férias escolares ou um feriado prolongado que o fenômeno se repete: acidentes e mais acidentes nas estradas brasileiras. Não interessa a região. Tanto faz se a rodovia é estatal ou privatizada, se o Código Nacional de Trânsito é um dos mais rígidos do mundo e se os veículos atuais estão equipados com os mais modernos sistemas de segurança. “O monstro se esconde atrás de cada curva”.
E nossas estatísticas continuam a horrorizar os especialistas, tanto aqui quanto “lá fora”. Não acredita? Ora, basta acompanhar os números oficiais. É claro que os esforços empreendidos pelas autoridades provocam uma redução dessa carnificina a cada ano. Mas ainda nos encontramos muito longe de um número que possa ser chamado de ideal.
As consequências mais cruéis desses acidentes todo mundo conhece: famílias desfeitas ou desmembradas, jovens mutilados, talentos perdidos e pais de família inutilizados. Ou seja: vidas desperdiçadas.
No entanto, existe um outro tipo de reflexo que, apesar de não chocar tanto é igualmente preocupante, pois prejudica gravemente toda a população: o econômico. Enormes gastos com indenizações, pensões e tratamentos consomem milhões de reais que poderiam ser utilizados para melhorar a condição de vida de inúmeros brasileiros. Além disso, muitas famílias são lançadas à condição de “quase miséria”, porque seu provedor não pode mais trabalhar devido a um acidente.
Mas por que esses acidentes ocorrem?
Bem, em raríssimas ocasiões os acidentes são gerados por um único fator. Via de regra, o que ocorre é uma combinação de dois ou mais que interagem entre si. No entanto, é possível resumir em três os principais grupos de fatores que provocam os acidentes em nossas estradas e cidades:
a) Ambientais
b) Veiculares
c) Humanos
Fatores ambientais: São aqueles relativos ao ambiente onde se trafega. Ou seja: as condições do piso, da sinalização, da iluminação e da fiscalização. Não há sombra de dúvidas que uma estrada mal projetada, esburacada, mal sinalizada, escura e sem fiscalização aumenta consideravelmente o risco de ocorrência de acidentes.
A responsabilidade pela redução do risco, devido a esses fatores, é exclusiva dos administradores da rodovia e do estado, que devem fazer os devidos investimentos com as verbas arrecadadas, na forma de pedágios e tributos. Ao estado cabe ainda fiscalizar rigidamente o cumprimento da lei e das normas de trânsito pelos usuários e a atuação dos concessionários.
Deve-se ainda acrescentar a lista dos fatores ambientais: o horário (amanhecer, dia, entardecer e noite) e o clima (chuva, neblina, garoa, etc). Esses fatores, por si só, aumentam consideravelmente o risco de ocorrência de acidentes. Não menos perturbador é conduzir o veículo sob garoa fina que “transforma o pavimento em sabão”. Agora, quando esses fatores se combinam com os primeiros: chuva intensa pista com drenagem deficiente (cheia de poças d’água), o risco aumenta radicalmente.
Fatores veiculares: São aqueles relativos à conservação do veículo. Apesar do brasileiro ter fama de ser “apaixonado por automóvel”, muitas vezes, ele negligencia a manutenção preventiva e economiza, o que não deve, na corretiva: uso de peças de baixa qualidade, contratação de mão obra não treinada, procedimentos de reparo não recomendados pelo fabricante, adaptações, gambiarras, etc.
O mesmo, por incrível que pareça, ainda ocorre com alguns poucos veículos comerciais pesados (carga e passageiros). As explicações para tal prática são as mais variadas (falta de recursos, falta de tempo, alto custo dos reparos, etc.). Como consequência imediata, temos verdadeiras “bombas” rodando pelas cidades e estradas, prontas para estourar a qualquer momento.
São veículos que não apresentam a necessária capacidade de frenagem, não têm dirigibilidade em curvas e pisos irregulares, perdem partes mecânicas sobre a pista, têm as rodas soltas, ofuscam a visão dos outros condutores com seus faróis desregulados, não são visíveis à noite devido as suas luzes apagadas, deslizam sobre as pistas molhadas com pneus “carecas” e tantas outras ocorrências que, fatalmente, acabam sendo ajuda para provocar um acidente.
A fiscalização alega que faz o que pode, que o efetivo não é suficiente, mas muitos problemas não são evidentes a aqueles que não foram devidamente treinados, ou não podem ser detectados sem a utilização e recursos especiais. Um rígido programa de inspeção veicular, focado em itens de segurança e atrelado ao licenciamento, certamente reduziria sensivelmente esses fatores.
Fatores humanos: São aqueles relativos às atitudes dos condutores, proprietários de veículos e frotas, administradores de estradas, agentes de fiscalização, autoridades, profissionais da reparação e público em geral. Por estarem diretamente ligados à maioria dos demais, podem ser considerados os fatores de maior influência na ocorrência dos acidentes, pois não construir, conservar, iluminar e fiscalizar devidamente uma rodovia são consequências de decisões humanas.
O mesmo pode ser dito com relação à manutenção dos veículos: são decisões humanas que levam a não execução dos procedimentos de manutenção, ou executá-los de forma indevida. Não se pode controlar o clima, mas é uma decisão humana dirigir sob condições desfavoráveis, ou à noite, sem o devido treinamento ou experiência.
Também é uma decisão humana dirigir sob efeito de álcool, com sono (ou obrigar alguém a fazer isso), desrespeitar a sinalização e as normas de trânsito. São também os mais difíceis de controlar, pois dependem do livre arbítrio de cada indivíduo. Mudanças para melhor? Sim, são possíveis, mas apenas a médio e longo prazo, através da única ferramenta capaz de moldar e mudar as atitudes do ser humano: a educação.
E o mecânico, onde entra nisso?
O “Guerreiro das Oficinas”, apenas exercendo o seu papel de forma responsável, contribui enormemente para a redução dos fatores veiculares. Não basta apenas dizer não as peças pirateadas ou de qualidade duvidosa, aos pedidos de “gambiarra”, a fraude e aos procedimentos não recomendados.
Ele também deve buscar o auto-aperfeiçoamento e melhoria técnica das suas instalações. Além disso, o mecânico deve atuar como consultor, mostrando ao seu cliente as vantagens da execução da manutenção preventiva periódica e da corretiva “sem quebra galho”. Mas para isso é preciso ter em mãos dados concretos (números e valores), que permitam ao cliente chegar a uma conclusão.
Elaborar seus próprios planos de manutenção preventiva pode ser uma solução bastante interessante. Dá um pouco de trabalho, mas o retorno é, sem dúvida, bastante compensador. Só assim teremos menos monstros nas estradas e nas ruas, e por consequência, menos vidas serão desperdiçadas. Pensem nisso!