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Especial Dia do Mecânico: Mecânicos em retrospectiva

Dez gestores relatam como enfrentaram o ano de 2020 em suas oficinas e mostram que, mesmo com o cenário econômico turbulento imposto pela pandemia, o segmento de manutenção automotiva segue forte e aquecido

 

 

Este ano de 2020 foi absolutamente atípico para a manutenção automotiva. Ao mesmo tempo em que as oficinas foram afetadas pela queda de faturamento no primeiro semestre, criou-se uma demanda reprimida por serviços, entre outros motivos, pela adoção em massa de transporte individual em detrimento de ônibus e metrôs. Oficinas por todo o Brasil que conseguiram sobreviver à queda de movimento entre abril e junho já estão colhendo os frutos com a retomada do mercado.

Isso já se reflete em números: dados do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) apontam que o setor de reposição de autopeças brasileiro apresentou queda de 7,20% no faturamento entre janeiro e setembro de 2020 se comparado ao mesmo período no ano passado. Porém, ao se comparar somente os meses de setembro deste ano e de 2019, o faturamento em 2020 foi quase 20% maior.

Para celebrar o Dia do Mecânico no dia 20 de dezembro, selecionamos dez gestores de oficina que participaram das edições da Revista O Mecânico neste ano. O objetivo foi traçar uma retrospectiva de como as adversidades econômicas impostas pela pandemia se refletiram no negócio e quais medidas foram tomadas para se manterem no mercado. Quase todos os relatos surpreendem pelo otimismo e resiliência, o que mostra, apesar das dificuldades, como o segmento segue forte e aquecido.

AJ MOTOSPORT

A oficina AJ MotoSport que fica na Chácara Santo Antônio, em São Paulo, teve um excelente ano. Quem conta é Antonio Aparicio, sócio-proprietário. “Mantivemos um ritmo muito bom. Na quarentena trabalhamos de porta fechada, apenas com agendamentos, pois só fazemos serviços por indicação. Esse ano ganhamos mais clientes e logicamente trabalhamos mais do que nunca. Foi um crescimento de aproximadamente 40% no movimento da oficina”, celebrou o mecânico. Aparicio destacou também que o fato de serem especialistas em carros importados ajudou a amenizar os efeitos ruins da pandemia.

Para ele, há dois motivos que explicam os bons resultados: “acredito que muita gente aproveitou que seu carro estava parado para cuidar dele, pois tivemos muitos atendimentos de manutenção preventiva. Outro motivo para o crescimento é a justamente o inverso. Como muitas pessoas estão evitando usar transporte público, os carros estão sendo mais usados, logo evidenciando os problemas que o automóvel tem”.

Quanto a 2021, o mecânico tem expectativas positivas. “Esperamos o melhor para 2021, já que temos manutenções agendadas para praticamente o mês de janeiro inteiro, ou seja, um bom sinal para os negócios”.

“Muitas pessoas estão evitando usar transporte público e os carros estão sendo mais usados”

CÁSSIO SERVIÇOS AUTOMOTIVOS

O ano de 2020 marcou mais um período desafiador na história profissional do mecânico Cássio Yassaka, proprietário da oficina Cassio Serviços Automotivos, em São Paulo/SP. Com a crise da pandemia de Covid-19, o mecânico utilizou a experiência acumulada em 36 anos de atuação no segmento para superar os obstáculos. “No início da crise, reduzi a equipe e fiquei com 5 funcionários. Baixei os custos, negociei o valor do aluguel e consegui obter empréstimo com juros reduzidos para investir na oficina”, explica. Cassio revela que a demanda voltou a crescer nos últimos meses. “Em períodos de crise, as pessoas adiam a troca do carro e investem mais na manutenção. Isso ajuda o nosso setor”, conta.

O empresário faz um alerta aos proprietários de oficina sobre a importância de enxergá-la como uma empresa igual a qualquer outra. “É preciso planejar as metas para curto, médio e longo prazo. O proprietário precisa botar na cabeça que a oficina, antes de tudo, é uma empresa. De porte reduzido, mas não deixa de ser uma empresa”, orienta.

“Não basta dizer que o mercado está ruim. Temos que olhar as oportunidades. E isso significa investir em equipamentos, fazer a gestão da oficina, treinar e liderar a equipe. Você é o capitão do navio”, explica Cassio. “A gestão tem que fazer parte da vida do mecânico independente. O problema é que nem sempre todos fazem a lição de casa”, exalta.

“Não basta dizer que o mercado está ruim. Temos que olhas as oportunidades”

DOCTOR AMERICAN CAR

“Em 32 anos de mecânica, eu nunca vi um mês como esse de abril. Foi o pior faturamento da minha história”, declarou Sandro dos Santos, sócio-proprietário da Doctor American Car na Zona Norte de São Paulo/SP, especializada nas linhas Chrysler, Dodge e Jeep. A Covid-19 obrigou Sandro e seu sócio, Silvio Ricardo Cândido, a buscar alternativas.

O mecânico observou que a pandemia trouxe incerteza aos clientes, nem sempre dispostos a investir. “O cliente está um pouco diferente. Hoje ele faz só o estritamente necessário, e muitos optam por não fazer a manutenção preventiva”. Para estimular o retorno à oficina, adotou ainda em abril o sistema leva-e-traz de veículos, mas o movimento cresceu em cerca de apenas 5%. Não era o suficiente.

Gradualmente, o que trouxe resultado foi o trabalho maciço na divulgação da Dr. American Car nas redes sociais, em um modelo que Sandro chama de “oficina online”, ajudando com dicas técnicas outras oficinas ao redor do Brasil que recebessem veículos das marcas que são especialidade da casa. Até aí, retorno financeiro zero. Mas a iniciativa começou a atingir o público final, e novos clientes apareceram.

“De maio para cá, estamos com as atividades normais”, comemorou Sandro, relatando que desde outubro voltou a trabalhar com agendamento prévio devido ao aumento na demanda de serviços.

“O cliente está um pouco diferente. Hoje ele faz só o estritamente necessário”

DR. AUTO MECÂNICA

Hoje funcionando em dois locais e com divulgação bem ativa em redes sociais, a Dr. Auto Mecânica começou como uma oficina de carburadores há 40 anos com o pai do mecânico Ricardo Chiarato. “Minhas expectativas eram as melhores possíveis”, afirmou Ricardo, que estava muito confiante para o ano de 2020. Porém, a pandemia o obrigou a adotar medidas de segurança para clientes e funcionários e mudou a rotina das duas oficinas que gerencia por completo.

“Estamos tomando todo cuidado possível com nosso pessoal e com os clientes, como permanência dos clientes na oficina, higienização do veículo quando chega, álcool em gel em vários pontos da oficina”, conta Ricardo. “Em relação ao contato com o cliente, que ficou mais distante, passamos a trabalhar apenas por agendamento”, aponta. “Mas não foram mudanças de todo ruins. Serviram para percebermos que esse cuidado é importante e que serão condutas que ainda teremos que ter por um bom tempo por conta da pandemia”.

Entretanto, Ricardo aponta que, ao invés de cair, o volume de serviços aumentou devido ao coronavírus. “Percebemos que as pessoas estão com medo de andar de transporte público e não querem investir muito dinheiro em carros novos, por medo do que ainda pode acontecer. Por isso, estão investindo em carros seminovos e que precisam de alguma revisão”, relatou.

“As pessoas estão investindo em carros seminovos e que precisam de alguma revisão”

ENGIN MANUTENÇÃO AUTOMOTIVA

Proprietário de duas empresas localizadas na zona sul de São Paulo, Paulo Bueno destacou as perdas que o ano de 2020 proporcionou para os negócios. Segundo ele, suas oficinas, Engin Manutenção Automotiva e a Engin Manutenção Estética Automotiva, vinham de uma crescente muito boa em dezembro de 2019 e janeiro deste ano, mas tudo foi interrompido pela pandemia. “Tinha planos de abrir uma filial esse ano, porém esse é um projeto que foi adiado e agora não tem data”. Apesar da queda no movimento, a oficina focada em estética conseguiu realizar algumas parcerias e se sobressair na crise.

Paulo também lamentou a falência de alguns amigos de setor: “Foi desesperador e por isso tive que pensar no faturamento dia após dia para não fechar também. Tivemos uma queda brusca na clientela, e o pior: tive que fazer cortes de funcionários, infelizmente. Tenho alguns amigos que fecharam suas oficinas. Só na minha região foram quatro oficinas que morreram”.

Para ele, manter os pés no chão é essencial para pensar em um futuro. “Por conta da pandemia, hoje você tem todo um processo de buscar e levar o carro, o que demanda muito tempo e gasto. Pelo o que eu vejo, não existe uma previsão de normalidade, o que complica na hora de ter alguma expectativa de melhora para o próximo ano. Estou segurando as pontas ao máximo e gastando o mínimo para não ser surpreendido novamente”, finaliza o mecânico.

“Tenho alguns amigos que fecharam suas oficinas. Só na minha região foram quatro oficinas que morreram”

G.PAUTO

A gestão e formação do fluxo de caixa da oficina foram essenciais para enfrentar o período de quarentena e restrições rígidas de circulação durante a pandemia na oficina G.Pauto, em São Paulo/SP, comandada pelo proprietário e mecânico Antônio Augusto Aranda, conhecido como Guto. “Até fevereiro, o movimento de clientes estava normal. Bem no início da epidemia, fechamos por uma semana e, quando o governo autorizou a reabertura, voltamos. Porém, a procura ficou apenas entre 10% e 20% do normal”, explica Guto.

De acordo com o mecânico, a baixa demanda se estendeu até o fim de julho. “Felizmente, não demitimos nenhum de nossos funcionários e conseguimos manter todas as contas em dia com o fluxo de caixa”, revela. O período em que muitas pessoas mantiveram o carro parado na garagem acabou criando uma demanda reprimida, na visão de Aranda. “O saldo desses meses veio de uma vez. Hoje, estamos com muita procura por serviços e até contratamos mais um colaborador”, conta.

Para o próximo ano, Guto estima que o setor de manutenção seguirá em ascensão pela mudança no perfil de consumo durante a pandemia. “As pessoas decidiram guardar dinheiro e postergar a troca do carro por um zero-quilômetro. Os clientes estão preferindo investir na manutenção do veículo atual, deixando a mecânica em dia e cuidando da estética”, afirma.

“Os clientes estão preferindo investir na manutenção do veículo atual, deixando a mecânica em dia”

HIGH TECH

A oficina High Tech, localizada em São Paulo/SP no bairro da Lapa, sentiu o impacto que 2020 teve no mercado automotivo assim que a pandemia chegou ao país. Apesar da diminuição aguda de clientes, o mecânico proprietário da oficina, Roberto Montibeller, comenta que encontrou em cada fase do ano um meio de continuar exercendo o que sabe de melhor: manutenção automotiva.

“Em março fechei as portas por 20 dias. Por conta da pandemia, foi explícito o fato de que nos meses de março e abril não havia muitos carros na rua e consequentemente muito pouco serviço, então achei melhor dar férias para os funcionários, porém não demiti ninguém, somos a mesma equipe de 2019”.

Roberto salienta que vinha em um crescimento e a chegada de 2020 fez com que sua oficina tivesse que se reinventar: “Na retomada, começamos com agendamentos de serviços, depois trabalhando à meia porta e quando enfim os carros voltaram às ruas abrimos totalmente.” Sobre suas expectativas para o próximo ano, o mecânico acha que o mercado deve voltar vagarosamente ao ritmo normal ou ao crescimento. “A clientela ainda está baixa, há uma queda nos atendimentos, mas não paramos os trabalhos”.

“A clientela ainda está baixa, há uma queda nos atendimentos, mas não paramos os trabalhos”

 

MINGAU AUTOMOBILÍSTICA

No final de 2019, o mecânico Edson Roberto de Ávila, o Mingau, colocou em prática em sua oficina uma medida oportunamente adequada para 2020: atendimento com portões fechados. Desde outubro do ano passado, a Mingau Automobilística, que funciona há 29 anos na cidade de Suzano/SP, trabalha exclusivamente por agendamento. Ele avalia que, por causa desse projeto – que ele já ensaiava implementar há alguns anos –, sua oficina não sentiu a turbulência econômica deste ano.

“Parece-me que foi na hora certa”, declarou. “Essa decisão melhorou 100% (a minha rotina), consigo me programar melhor para tudo”. O único ajuste necessário em meio à pandemia foi aumentar o prazo de agendamento de cada serviço para poder atender a todos. “Nós temos recebido veículos de outros municípios do interior de São Paulo e também de outros estados. É bem legal quando você implanta um trabalho e colhe os seus resultados”, celebra.

Refletindo sobre o cenário que se formou no setor neste ano, Mingau enxerga que a clientela cujo perfil é colocar a qualidade de serviço em primeiro lugar, e não o preço, está aumentando, e que tanto as oficinas como os próprios profissionais precisam acompanhar essa evolução, acelerada pelas condições impostas pela pandemia. “Isso para nós que somos profissionais, só agregou”, disse o mecânico.

“É bem legal quando você implanta um trabalho e colhe os seus resultados”

MOTORFAST

O ano de 2020 marcou a conclusão do projeto de expansão da oficina Motorfast, no bairro do Brooklin, Zona Sul de São Paulo/SP. Com uma reforma iniciada em 2018, o local teve a área construída ampliada, que passou de 300 m² para 600 m². “Nestes dois anos, dobramos nosso espaço físico e conseguimos crescer também em número de atendimentos, além de manter a equipe de profissionais. Apesar de todas as dificuldades causadas pela pandemia, no geral, foi um bom ano para a oficina”, comemora Bruno Tinoco, mecânico e proprietário da Motorfast.

No começo da quarentena, Tinoco optou por fechar a oficina por três semanas. “Colocamos os funcionários em regime de férias nesse período. No retorno ao trabalho, fizemos um esquema de rodízio de colaboradores e priorizamos o transporte individual dos funcionários, com caronas e viagens por carros de aplicativo para maior segurança”, conta.

“Felizmente, a procura por serviços de manutenção tem crescido. Atualmente, estamos com mais movimento do que antes da pandemia”, revela. Para o próximo ano, Bruno espera que a demanda continue alta pelo disparo na venda de usados. “Não tem carro zero-quilômetro à pronta entrega. As pessoas estão comprando seminovos próximos ao período de fim da garantia. Então, vamos começar a receber esses carros muito em breve”, avalia Tinoco.

“Atualmente, estamos com mais movimentos do que antes da pandemia”

POWER CLASS

Proprietário da oficina Power Class, situada em São Bernardo do Campo/SP, Nilson Patrone afirmou que 2020 foi um dos melhores anos para ele e sua equipe. Com um crescimento exponencial desde o ano passado, Nilson ressaltou que neste ano a oficina bateu seus próprios recordes em atendimento. “É uma surpresa esses resultados em meio de uma pandemia, mas realmente foi um ano ótimo para nós. Pretendemos fechar o ano muito melhor do que imaginávamos”. Patrone ainda reforçou que a equipe continua sendo a mesma.

Para o mecânico, a própria pande-mia impulsionou o segmento de manu-tenção automotiva em alguns aspectos: “por conta da queda na compra de veí-culos novos, o pessoal está comprando carros usados ou mantendo o que já tem na garagem, ou seja, a procura por manutenção preventiva acaba crescen-do. Além disso, outro fator importante nesse período foi a questão das pessoas estarem usando mais os carros em lugar de ônibus ou avião para realizar viagens. A manutenção se faz ainda mais presente em um cenário que o transporte individual se tornou a primeira opção”. Ele ainda conta que, conversando com alguns amigos do setor, outras oficinas também estão se sobressaindo diante a pandemia, apresentando bons resultados.

“Pretendemos fechar o ano muito melhor do que imaginávamos”

texto: Fernando Lalli, Gustavo de Sá & Raycia Lima
fotos: Arquivo Pessoal & Arquivo O Mecânico

 

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