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Especial Dia do Mecânico: Mecânica de pai para filho

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Uma profissão que atravessa gerações e, não raramente, flui através de um atento processo de observação: o mecânico automotivo sabe desde pequeno o que vai ser quando crescer. A paixão pelo trabalho na oficina é alimentada por meio dos olhos inocentes de quem acompanhou o pai montar e desmontar carros, motores e outros sistemas automotivos diariamente.

Cena que se repete ao longo da formação básica do aspirante, aguçando a curiosidade sobre a genialidade por trás do funcionamento das novas e velhas tecnologias da indústria de veículos. Com bastante paciência, examina minuciosamente como retirar, limpar, colocar e parafusar até que, finalmente, ele chega à idade em que pode colocar as próprias mãos nos objetos de desejo.

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Mas até lá, no máximo, fica empregado apenas de ir buscar algumas peças que, eventualmente, poderiam faltar. Roberto Ghelardi Montibeller, 48 anos, gerente do centro automotivo Vera Lucia, fez muito disso na infância na oficina do pai, tanto que ganhou gosto pelo ramo. “Aos poucos fui ficando e ajudando nos serviços gerais de funilaria, pintura e mecânica”, diz.

Antonio Sérgio Monibeller, 75 anos, proprietário da Vera Lucia afirma que nunca fez questão que o filho seguisse a sua profissão. “Sempre mostrei as dificuldades que iria encontrar. Ensinei a ele tudo que aprendi e depois o mandei para a escola para conhecer a teoria, além da prática, é claro. Todo o resto é mérito dele.”

Desde 1973 no mercado, o estabelecimento ainda permanece no mesmo local. Mas as reformas ao longo dos anos lhe conferiram um novo aspecto. Até os funcionários foram atualizados para entender sobre os novos equipamentos e tecnologias embarcadas. Os anos de experiência ainda proporcionaram a abertura de uma segunda oficina, na mesma região, a High Tech, inaugurada em 2006.

De antigamente, segundo Roberto, o que restou foi apenas o método de trabalho, que ainda é o mesmo do progenitor. “Trabalhamos igual, pois nosso principio é fazer bem feito, com amor, muita dedicação, honestidade e transparência. Mudou-se o ferramental, mas o capricho ainda é o mesmo. Além disso, contamos com um computador para nos auxiliar nas tarefas diárias”, conta.

Agora, “apesar das diferenças em diversos pontos”, ele acredita que o pai sente-se orgulhoso ao ver o filho seguindo a mesma carreira. “Vivemos dela ate hoje, meu avô já trabalhava com roda de madeira, carros de lixo e derivados dos carros da guerra”, diz. “Eu me sinto a pessoa mais orgulhosa do mundo por meu filho estar nesta carreira, lutando por ela. Eu lutei muito e vou continuar lutando”, conclui Antônio.

Reparação em família

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Formada em administração de empresas, Rosana Aparecida Kubota, 44 anos, decidiu abrir sociedade com o pai e o irmão na Auto Mecânica Unamam. “Meu irmão foi o primeiro a entrar na sociedade, como mecânico. Em seguida, entrei para auxiliar na área administrativa e colocar em prática o que havia aprendido na faculdade. Mas acabei me identificando tanto com a parte operacional que mergulhei de cabeça nesta empreitada”, revela.

Para Antonio Fiola, presidente Sidnirepa-SP e Sindirepa Nacional , é comum encontrar esposas e filhas na administração da oficina. “Isso tem aumentado muito nos últimos anos devido à modernização das oficinas, as mulheres passaram a frequentar esse ambiente como clientes e também a trabalhar”, diz. “Acabou aquele receio de que a oficina era ambiente para homens. Hoje, em alguns casos, há mais mulheres trabalhando do que homens, principalmente, na parte administrativa e atendimento, o que era impossível de imaginar há 20 anos”, analisa.

De acordo com Rosana, seu pai conta histórias que para aprender mecânica, no passado, tinha que ser “na raça”. “Quem queria conhecer de verdade o que era um automóvel ia para uma oficina, começava desde cedo, com 13 ou 14 anos de idade, e trabalhava muitas vezes sem ganhar nada, só para aprender”, relata.

“O principal meio de aprendizado sempre foi a prática, começando como lavador de peças”, complementa o senhor Katsutoshi Kubota, 72 anos, pai de Rosana e sócio-fundador da Unamam. Ele, que já trabalhou com borracharia, elétrica e pintura, ingressou na área em 1949, incentivado pelo pai, com o simples intuito de aprender alguma profissão.

Se antes o conhecimento era adquirido à aventura, hoje, quem deseja ser profissional, conta com cursos, especializações e muito mais informação que no passado. Para se manter num ramo que flerta com o sentimento de fanatismo, nenhuma obrigação com os estudos é encarada com dificuldade.

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Para aprender sobre manutenção, Rosana solicitou ajuda dos dois sócios, mas desde 2000 ela tem feito vários cursos na escola SENAI-Ipiranga. “Em 2011 concluí o curso Técnico em Manutenção Automotiva, mas não parei por aí. Como as mudanças nos veículos estão ocorrendo muito rápido, fiz mais alguns cursos voltados para a eletrônica e elétrica para conseguir fazer diagnósticos mais precisos e rápidos”.

Tanto o senhor Katsutoshi, como Rosana concordam que atualmente as dificuldades para ter um negócio de reparação automotiva são menores, principalmente, quando se trata de conseguir informação técnica, em razão da internet. “Sem contar que algumas montadoras já perceberam que é muito mais vantajoso compartilhar informações técnicas com os independentes”, avalia.

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Segundo ela, o que dificulta é a quantidade de marcas de veículos disponíveis no mercado e a velocidade com que avança a tecnologia empregada neles. Uma opinião unânime entre os mecânicos. Fiola concorda que o que mudou foi o número de veículos que aumentou muito e também as novas tecnologias, que obrigam a atualização constante do profissional da reparação.

“Hoje, os recursos eletrônicos e o acesso a informações técnicas são um desafio para a reparação. Além disso, é necessário ter preocupação com a aparência das instalações; o cliente está mais exigente. A legislação mais rigorosa também demanda atenção com a gestão”, conclui o presidente do Sindirepa.

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Mesmo com a exigência do mercado, Nelson Garbuggio, 66 anos, proprietário da Garbuggio Centro Automotivo e Peças, tenta superar o crescimento desenfreado no ramo com o amor que desenvolveu pela profissão. Para ele, o prazer de dirigir automóveis e a convivência com o pai foram determinantes para que seguisse a carreira.

Fundada em 1958 pelo pai João Carbug- gio, a oficina já mudou muito, continua no mesmo lugar, mas foi ampliada. Hoje, toca o negócio junto do irmão Dárcio Garbuggio; até a terceira geração, os filhos de Nelson, já está atuando na parte administrativa. “Apesar de enxergar um futuro muito promissor na área de manutenção veicular, deixo meus filhos à vontade para definirem o caminho deles”, diz.

Destino traçado

Das brincadeiras dentro da oficina nas férias escolares à desmontagem dos carrinhos de brinquedo, a vocação para mecânica sempre esteve presente na vida de Pedro Luiz Scopino, 39 anos, administrador e responsável técnico pela Auto Mecânica Scopino. “Quando, de repente, um carro da família quebrava, lá estava eu ao lado meu pai para ajudar”, recorda.

Se algumas pessoas caem de paraquedas na profissão, pode-se dizer que no caso do pai de Scopino, ela, literalmente, resolveu passar por cima e mudar a sua história. “Fui atropelado por um carro quando ainda morava na Itália. A partir daí me apaixonei por automóveis. Assim que cheguei ao Brasil, aos 12 anos, me tornei ajudante de um centro automotivo”, relata Giovanni Scopino, 67 anos, aposentado.

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A empresa foi aberta em 1971 e hoje conta com técnicos especializados em injeção eletrônica, freios ABS e air bag. Se antes as anotações de cada carro eram feitas em caderninhos e agendas, guardadas de recordação, agora há sistemas informatizados que cuidam da gestão e administração do que entra e sai, conta com nostalgia Pedro Scopino.

Reinaldo Nadim, 41 anos, até que tentou trabalhar em outros ramos, mas a paixão pela manutenção automotiva sempre falou mais alto. Diretor e mecânico da Foxcar Oficina Técnica, Nadim se formou em ciências contábeis, mas foram os cursos na área automotiva que prevaleceram. “Quando seu pai trabalha em algum ramo, fica mais fácil iniciar a profissão e ele me incentivava”, afirma o técnico.

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Com 72 anos e ainda atuante na oficina em que construiu, o pai Roberto Nadim aprendeu a mexer com carros numa mecânica do bairro onde morava. Na época, a mãe dele pagava para o dono ensinar a profissão ao filho. Agora, ele se emociona ao ver a sua prole dar continuidade no negócio que abriu em 1964, inicialmente, com nome Paulifusken. “Fico muito orgulhoso e me vejo 30 anos mais jovem no lugar dele.”

Para Reinaldo, o aprendizado com o pai foi essencial na construção da sua carreira. Porém, segundo o filho, ele ainda mantém certos métodos de trabalho vistos como obsoletos nos dias de hoje. “Antigamente não se trocava muita coisa, se consertava, e até hoje ele resiste em trocar peças, quer consertá-las”, diz. “Eu já vou por outro lado da tecnologia: se precisar trocar a peça, fazemos a troca para o serviço ficar perfeito”, argumenta.

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Os métodos mudam, as oficinas ganham novos equipamentos, crescem ou, na pior das hipóteses, deixam de existir. O universo da reparação está em constante expansão e sempre busca alternativas para se renovar, seguindo a mesma mecânica da vida. Sem saber qual será o próximo carro do futuro, o profissional, de geração em geração, empunha as suas ferramentas e vai à luta para aprender e ensinar, melhorando a qualidade do seu serviço, contribuindo para um trânsito mais seguro e uma sociedade mais saudável e consciente.

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