A Mahle Metal Leve vem trabalhando no desenvolvimento de componentes que em breve poderão vir a fazer parte de um motor que a empresa vem denominando como Global Flex. É de domínio geral que os motores bicombustíveis produzidos no Brasil, por causa da diferença de taxa de compressão adequada para cada um dos combustíveis, não apresentam eficiência ótima nem com etanol nem com gasolina. Portanto, o objetivo desse projeto, segundo a Mahle é reduzir drasticamente a ineficiência que os propulsores flex têm em relação aos motores que se utilizam de somente um tipo de combustível (só gasolina ou só etanol).
O Global Flex já vem sendo estudado e desenvolvido há algum tempo pelo Centro Tecnológico Mahle, em Jundiaí/SP, mas também vem sendo largamente discutido pela Frente Inovar-Auto do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), grupo do qual a Mahle faz parte e que vislumbra a solução como uma das mais completas e importantes para o País. O grupo tem feito aprofundadas discussões técnicas no sentido de definir os melhores caminhos a serem tomados.
De acordo com a Mahle, na atualidade, muito se fala sobre as próximas tecnologias que serão aplicadas aos automóveis para reduzir o nível de emissões de CO2, mas ainda há muito que ser feito para melhorar os motores a combustão interna em termos de eficiência antes de se partir para soluções que no momento ainda são inviáveis financeiramente sem subsídios governamentais. Em especial o uso de biocombustíveis é um vetor estratégico importante para o país que, combinado com o abastecimento flexível, dá segurança logística e comercial.
Um dos grandes entraves para um melhor rendimento dos atuais motores flex do mercado é a taxa de compressão (em torno de 10 ou 11:1) que precisa ficar a meio termo do que seria ideal para cada um dos combustíveis: em torno de 9:1 para a gasolina e perto de 14:1 para o etanol. Isso significa que os motores flex brasileiros não são tão eficientes com nenhum dos dois combustíveis, e muito menos com a mistura de ambos.
De acordo com a Mahle, com algumas tecnologias já existentes na atualidade, como o turbo, a injeção direta de combustível e os comandos de válvulas variáveis já se conseguiria um bom grau de otimização dos motores bicombustíveis. Com alimentação direta e com o turbo com comando eletrônico, por exemplo, já é possível se obter uma melhoria de até três pontos a mais na taxa de compressão. Ou seja, um motor flex com uma taxa de compressão geométrica de 10:1 pode passar a ter uma taxa de compressão efetiva de até 13:1. Isso significa poder usar maior percentual de etanol tirando maior proveito das suas qualidades, economizar com a importação de gasolina, obter maior eficiência e, consequentemente, emitir menos CO2.
Outra solução desejável, explica a Mahle, seria a utilização de combustíveis de melhor qualidade, com maior octanagem, mas isso depende de decisões governamentais e da ANP, que regula o combustível básico utilizado no Brasil. Um estágio ainda mais avançado, mas que expandiria ainda mais a eficiência dos motores a combustão interna, exige a taxa de compressão variável, dispositivo de desenvolvimento complexo e com custos relativamente altos atualmente.
Independente de todas as vantagens tecnológicas que seriam conseguidas com o motor Global Flex, essa seria uma tecnologia extremamente positiva para o Brasil, afirma a empresa. Com motores mais eficientes e mais próximos dos produzidos em outros continentes, seria aberta uma possibilidade ainda mais ampla de exportação de veículos. Além das divisas que seriam resultantes dessa prática (para governo e exportadores), ainda teríamos o bônus de estar usando parte da capacidade ociosa da indústria automobilística do país (hoje ao redor de 50%).
Para André Ferrarese, Gerente de Inovação do Centro Tecnológico Mahle, “A empresa vem avaliando qual seria a melhor combinação tecnológica que levaria esse motor aos melhores resultados de eficiência e redução de emissões. Sem contar que o Global Flex também colocaria o Brasil em destaque como uma plataforma de fornecimento de engenharia. O motor daria a chance da engenharia nacional se posicionar internacionalmente na liderança do desenvolvimento de soluções para a redução de CO2 em curto espaço de tempo, além de colaborar para ajudar a equilibrar a balança comercial com a redução da importação de gasolina”.