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Quando o lubrificante vira um copo de veneno, e quem bebeu…

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Saiba como uma falsa mistura pode estragar o motor por inteiro e sem aviso prévio. Veja como ocorre a falsificação dos lubrificantes e o que é capaz de fazer com todo o conjunto

 

texto Rodrigo Samy    fotos Arquivo O Mecânico

Estima-se que o mercado de lubrificantes clandestinos corresponde a, aproximadamente, 10% de todo o volume global distribuído, e, no Brasil, a história não é diferente e vem impactando de maneira crescente consumidores e mecânicos. O problema é que, diferentemente do combustível adulterado, o lubrificante age de maneira silenciosa, estragando os componentes do motor aos poucos e sem deixar um sinal imediato. Em 2022, foram apreendidos 570.757 litros de produtos irregulares e, em 2023, até junho, 137.984 litros.

A maioria da falsificação está relacionada à não conformidade, ou seja, quando o lubrificante não atende às exigências para determinada aplicação. Quem faz o monitoramento do mercado de lubrificantes é a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) por meio de seu Programa de Monitoramento de Lubrificantes (PML), que, regularmente e sistematicamente, coleta amostras de lubrificantes no mercado e destina a ensaios laboratoriais, realizados pelo Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas (CPT).

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A agência fiscaliza tanto a adequação e a qualidade quanto o ponto de vista das informações disponibilizadas ao consumidor no rótulo. Vale lembrar que o índice de conformidade no Brasil, levando em conta a participação de cada empresa no mercado nacional, é superior a 97%. Não há no mundo um programa de monitoramento tão amplo como o do PML.

“Temos observado nessas apreensões que a falsificação vem ocorrendo de diversas formas. Desde a reutilização de embalagens com adulteração do conteúdo líquido até a falsificação completa de embalagens, rótulos e lubrificantes em fábricas clandestinas. Na falsificação do conteúdo líquido, o lubrificante pode ter sido diluído com produtos químicos inadequados ou mesmo ter sido misturado com óleo usado. Essas misturas têm viscosidade alterada e apresentam ausência ou insuficiência de aditivos, o que, por consequência, pode causar danos severos ao motor”, explica Roberta Teixeira, diretora de lubrificantes da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).

De acordo com Thiago Castilha, diretor de relações institucionais do Sindilub (Sindicato Interestadual do Comércio de Lubrificantes), irregularidades vêm acontecendo no Brasil e no mundo. Segundo ele, os lubrificantes impróprios para consumo e produção clandestina são ofertados para o canal varejista por 1/3 do valor. “Não existe milagre, preço muito baixo é sinal de desconfiança, na grande maioria dos casos leva o comerciante para uma armadilha”, alerta ele. Os produtores brasileiros comercializam seus produtos através de um canal de atacado. Os dois elos da cadeia produtiva trabalham com margens muito estreitas e preços com as mesmas especificações e homologações. “O distanciamento de valores é em torno de 15%. Na maioria das vezes essa diferença está relacionada com a escala de produção e custos logísticos”, alerta Castilha, explicando que o varejista pode sofrer sanções se adquirir produtos sem registro na ANP.

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Vale lembrar que os lubrificantes automotivos possuem 20% de aditivos em sua composição, entre eles estão os melhoradores do índice de viscosidade, antioxidantes, inibidores de corrosão ou ferrugem, abaixadores do ponto de fluidez, dispersantes e detergentes, redutores de atrito e antiespumantes. Com a ausência desses agentes, os problemas mais comuns são corrosão, dificuldades na remoção de depósitos, oxidação acelerada do óleo e aumento do consumo. O prejuízo é maior em motores turbo com injeção direta, mais sensíveis a adulterações e com peças de reposição de valor elevado.

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Roberta reforça que as empresas de lubrificantes vêm se organizando, por meio das associações do setor, desenvolvendo iniciativas que envolvem desde informação ao consumidor com dicas que podem mitigar a aquisição de produtos adulterados, bem como ações mais contundentes na geração de inteligência que suportem denúncias junto ao poder público e autoridades que investigam e combatem esses tipos de crime.

Além de escapar dos produtos piratas, é importante observar que os lubrificantes automotivos estão se tornando cada vez mais cruciais devido aos avanços tecnológicos e às necessidades atuais. Hoje, é possível dizer que os propulsores modernos estão operando em condições mais exigentes do que nunca, com altas temperaturas, pressões e cargas. Para garantir a proteção adequada e o desempenho ideal, os lubrificantes precisam atender a especificações corretas.

Tecnologias como turbocompressores, injeção direta de combustível e controle eletrônico exigem produtos que possam lidar com as condições e demandas desses itens. Os lubrificantes de baixa viscosidade, por exemplo, são frequentemente necessários para lubrificar corretamente os motores com injeção direta de combustível. Por isso, é importante seguir as recomendações do fabricante do veículo em relação ao tipo e às especificações do lubrificante a ser usado, pois isso ajudará a garantir o melhor desempenho e proteção do motor.

Daniel Gonçalves, proprietário da oficina mecânica Stone Motors, localizada em Diadema (SP), conta que o problema de óleo equivocado vem crescendo e atingindo veículos com baixa quilometragem. Em um simples vídeo de WhatsApp, ele nos comprovou o estrago de um motor MSI do Volkswagen Gol, ano 2023, com os pistões “fritados”, carbonizados, com apenas 7 mil quilômetros rodados. Outros modelos mostrados por ele, que tiveram o propulsor avariado por má lubrificação, foram um Fiat Mobi, quatro cilindros, e um Cronos, ambos 2023, e um HB20 2022, com 17 mil quilômetros. Ou seja, automóveis pouco utilizados.

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Gonçalves conta que na sua oficina cerca de 90% dos serviços estão relacionados ao mau uso de lubrificantes. Ele responsabiliza essa porcentagem à falta de informação e não à vontade do consumidor final de fazer a economia. “Um carro com 7 mil quilômetros não pode ser desperdiçado por um lubrificante mais em conta. Estamos falando de uma manutenção que custa de R$ 13 a R$ 17 mil e de um veículo parado por cerca de 25 dias. Se levarmos em conta que para uma frota cada dia parado gira em algo de R$ 100, aí são mais R$ 2,5 mil. Quem faria uma economia arriscada dessas?”.

O mecânico explica que a maioria dos veículos que utilizam produtos errados aparecem com problemas, como o entupimento por conta da borra ou superaquecimento, por falta da devida lubrificação.  Ele acrescenta que os motores atuais têm uma engenharia extremamente avançada e uma taxa de compreensão alta, exigindo ajustes perfeitos. “Os motores de três cilindros, por exemplo, nasceram com a ideia de unir a eficiência e o desempenho à economia de combustível e à baixa emissão de poluentes. Para que ocorra a entrega perfeita, é necessário que tudo seja orquestrado da melhor forma. São conjuntos muito menores e com muito mais potência, se comparados aos de gerações mais antigas”, explica o especialista, dizendo que a “margem” para retificar esses propulsores compactos é muito pequena. Outro alerta é que esses motores pedem um lubrificante específico, que foi criado para atender à crescente demanda desse tipo de motor. Trata-se de novas APNs (Abreviação de Ponto de Fluxo Normalizado, ou, em inglês, Normalized Point Flow), que são usadas para classificar os lubrificantes com base em suas características de viscosidade.

Ou seja, é necessário ficar de olho, pois, diferentemente do combustível adulterado, óleo é algo bem mais sério do que isso. Vale orientar o seu cliente e ficar muito atento na hora da aquisição de um produto, porque a próxima vítima pode ser você.

 

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