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ESPECIAL DIA DO MECÂNICO: Como o mecânico encara a chegada da eletrificação?

Entrevistamos seis mecânicos e proprietários de oficinas para entender como os veículos eletrificados são vistos pelos profissionais de manutenção

Por Vitor Lima   Fotos Arquivo O Mecânico

Falar sobre eletrificação está cada vez mais comum hoje em dia entre os profissionais do setor automotivo. Por isso, há quem busque informação sobre como funcionam os veículos eletrificados, desde o sistema híbrido, que combina um ou mais motores elétricos com o comum motor a combustão interna, questões de infraestrutura, como locais de carregamento da bateria, investimentos para recarga em casa e em apartamentos, tempo de carregamento, entre outras incertezas.

Em relação ao consumidor, que comprou um veículo eletrificado e, também, compartilha toda experiência da rotina com um carro deste tipo com os amigos, familiares, colegas de trabalho, faz com que algumas ideias sejam solidificadas e surjam outras dúvidas a respeito. Contudo, o grande questionamento é: A eletrificação dos automóveis veio para ficar?

Para responder essa questão, basta olhar o movimento da indústria, que tem cada vez mais produzido veículos eletrificados, o que reflete no aumento das vendas. Segundo a Associação Brasileiro do Veículo Elétrico – ABVE, entre janeiro e outubro deste ano foram emplacadas 67.047 unidades, o que representa um aumento de 73% contra o mesmo período do ano passado, quando foram vendidas 38.663 unidades. Deste modo, esse crescimento já chama a atenção dos mecânicos brasileiros, que neste mês comemoram no dia 20 de dezembro o Dia do Mecânico. Por isso, esse especial da Revista O Mecânico entrevistou seis mecânicos para falarem sobre eletrificação e, também, qual é a visão deles sobre esses tipos de veículos que chegarão às oficinais nos próximos anos.

Camilo Matos – Garagem 85
Aos 16 anos de idade, Camilo Matos começou o seu contato com a mecânica automotiva trabalhando como ajudante de mecânico, em uma oficina localizada no Bairro do Bexiga, na cidade de São Paulo. Hoje, ele é proprietário da oficina Garagem 85, localizada em Guarulhos/SP, especializada nos veículos da Honda. Ele conta que alguns carros que frequentavam a oficina que trabalhava no começo, o ajudaram na paixão pela profissão. “Veículos que ainda frequentavam muito as oficinas da época eram os Alfa Romeo, Opala, Chevette, DKW, Ford Galaxie e Maverick, Dodge, e até alguns Renault Gordini. Foi quando eu me apaixonei ainda mais pela profissão”.

Camilo Matos

O profissional conta a sua visão sobre os veículos eletrificados no mercado e alerta os mecânicos sobre o crescimento dos veículos eletrificados. “Assim como começaram a surgir, ainda nos anos 80, os veículos com injeção eletrônica, o que deixou muitos mecânicos incrédulos, acreditando que ainda se passariam muitos anos até que isso se tornasse uma realidade, hoje muitos dos que não acreditam nesse novo segmento (híbridos e elétricos) devem começar a se preparar para essa nova realidade, pois a tendência é o crescimento desse ‘novo’ mercado”, analisou.

Apesar desse “novo mercado” cada vez mais próximo, muitos mecânicos acreditam que ainda irá demorar para que os eletrificados apareçam nas oficinas independentes, por causa dos maiores tempos de garantia que as montadoras têm oferecido e toda questão de infraestrutura que as concessionárias possuem para trabalhar com esses veículos, como informa Matos. “Acredito que ainda vai levar um tempo para que possam começar a frequentar oficinas fora do serviço em concessionárias, mesmo porque é um tipo de manutenção onde se exige treinamentos e equipamentos diferenciados”.

Carlos Eduardo Farias Vieira – Auto Center Veleiro
A paixão por carros é algo criado, em grande parte das vezes, desde que somos pequenos, o que não foi diferente com o Carlos Eduardo Farias Vieira, mecânico da Auto Center Veleiro, localizada em São Paulo/SP. Carlos, mais conhecido como China, montava e desmontava seus carrinhos e sempre estava de olho em seu pai que trabalhava em uma oficina. Apesar do contato prévio, Carlos conta que a paixão pela mecânica e os motores a combustão surgiu quando foi acompanhar um treino da categoria Speed 1600. “Eu via muitas peças separadas na bancada e depois se tornavam um conjunto de sistemas, funcionando harmoniosamente, aquilo me fascinava”.

Como o mecânico encara a chegada da eletrificação?
Carlos Eduardo Farias Vieira

China começou a trabalhar no meio automotivo em 1994, como ajudante em uma oficina. De lá para cá, ele acumulou diferentes experiências, inclusive em competições de automobilismo, como a Mil Milhas de Interlagos. Também fez parte de diferentes equipes como Sttutgart Porsche, Interlagos Home Car, Jaguar Land Rover, entre outras. Com esse histórico, o mecânico vê a chegada dos veículos eletrificados no mercado como um divisor de águas para a profissão. “A palavra-chave é estudar e se atualizar. O profissional mecânico, sempre teve que se aperfeiçoar para poder trabalhar, claro que existia quem aprende na tentativa de erros e acertos, porém, agora não é mais assim, se não fizer o correto, pode ocorrer uma fatalidade. O profissional que se manter atualizado, irá permanecer no mercado”.

Carlos também apresentou uma perspectiva de manutenção com os sistemas de alta voltagem, pois atualmente, os eletrificados já aparecem nas oficinas para serviços comuns como troca de pastilhas de freio, pneus e reparos de suspensão. “Acredito que a manutenção com os sistemas de alta voltagem e reparos em pacotes de baterias levará ao menos 5 anos, isso se deve a garantia oferecida de 5 a 8 anos pelas montadoras”, disse.

O profissional complementa sua opinião sobre os eletrificados. “Muitas pessoas ainda têm dúvidas se eles vão emplacar de vez no mercado. É a quarta vez que a indústria tenta introduzir os elétricos, mas ainda temos os problemas de tempo de carregamento, peso das baterias e durabilidade, descarte, entre outros”.

Cassio Yassaka – Cassio Serviços Automotivos
Há 40 anos, no ramo automotivo, Cassio Yassaka, proprietário da Cassio Serviços Automotivos, localizada em São Paulo/SP, mescla a sua rotina de trabalho com o aprimoramento de seu conhecimento, o que o permitiu acumular 10 anos de cursos relacionados à mecânica. Também trabalhou por 13 anos como gerente de oficina e há 27 anos montou a própria oficina e continuou a se atualizar. Para Cassio, essa chegada da eletrificação é “uma evolução”. Ele cita que o profissional mecânico está acostumado com evoluções, assim como foi na época da injeção eletrônica em substituição dos carburadores, a questão de gerenciamento de motor, comandos variáveis, entre outras sistemas. “O híbrido, nada mais é uma evolução. Claro, com muito mais eletroeletrônica do que o usual”.

Como o mecânico encara a chegada da eletrificação?
Cassio Yassaka

O mecânico acredita que existe a necessidade de estudo e investimento por parte dos profissionais para que não fiquem defasados. “O grande problema é que, os profissionais ficam muito tempo sem treinamento, sem investir em equipamentos e ficam defasados por muitos anos. Nesse caso, ficará mais difícil absorver essa evolução”. Cassio informa que essa evolução será mais rápida se comparada com a época da injeção eletrônica no país, mas ressalta que nos próximos três a cinco anos, provavelmente, a frota de veículos híbridos ficará entre 50% e 60% do mercado nacional. Todavia, tem uma visão diferente dos 100% elétricos. “Os veículos totalmente elétricos eu acho que vai demorar para vingar no mercado, por causa da infraestrutura do nosso país, dos custos elevados de manutenção e da falta de mão de obra para reparo”.

Para o profissional, muitos proprietários não cuidam, devidamente das manutenções de seus veículos, em específico, com os carros que já ultrapassaram o período de garantia. Esse problema acaba subindo o valor de manutenção do carro, o mecânico acredita que primeiro, esse cenário tem que mudar, além do alto preço de muitos componentes. “As pessoas têm costume de não levar o carro para manutenção, e quando o carro sai da garantia e chega na oficina, o valor fica alto. Já vimos casos de veículos que apenas com uma colisão frontal, onde era necessário a substituição do farol, o preço chegar a 15 mil reais, imagine o preço quando houver algum problema com a bateria desses veículos”.

Edson Roberto de Ávila – Mingau Automobilística
Desde pequeno, Edson Roberto de Ávila, mais conhecido como Mingau, proprietário da Mingau Automobilística, localizada em Suzano/SP, começou o seu contato com o mercado automotivo. Iniciou sua carreira com serviços de funilaria e pintura e adquiriu conhecimento e prática na parte de montagem e desmontagem dos veículos. Com o tempo, passou a administrar esse serviço de montagem e desmontagem em outras oficinas. Em uma delas, criou interesse em aprender sobre motores ao ver um outro profissional trabalhando com um motor no chão. Após adquirir conhecimento e prática com motores, passou a trabalhar em indústrias e até executar serviços de mecânica em uma garagem.

Como o mecânico encara a chegada da eletrificação?
Edson Roberto

Com toda sua experiência e anos no setor automotivo, Mingau entende que o veículo híbrido é autossustentável, pois crê que o etanol é o combustível que menos polui. “A própria energia quando acionado o motor elétrico, é gerada pelo próprio veículo em movimento para os acumuladores. Isso é bacana, eu vejo que esse é o caminho. Sobre os totalmente elétricos, é a quarta vez que estão tentando emplacar esse tipo de veículo. Claro, as tecnologias são diferentes, porém, as perguntas que ficam são as mesmas, para onde irão essas baterias após a sua vida útil? Como é feito para produzir tudo isso? A ideia não é ruim, mas eu me questiono, como eles irão manter tudo isso?”, opinou com questionamentos.

Além dessas dúvidas, Mingau disse que os veículos eletrificados podem aparecer nas oficinas para manutenção de uma maneira natural, conforme os motores de ciclo Otto chegaram ao mercado mundial, porém, alguns pontos podem ser prejudiciais. “Hoje, o valor de um veículo desses é absurdo, informam que irá ficar um valor melhor, mas quando irá acontecer? Sobre as ferramentas, elas existem há anos, mas você só consegue encontrá-las com os profissionais das empresas fornecedoras de energia, pois todos trabalham com alta tensão. O valor de um kit para esse serviço é alto. Se nós não nos atentarmos, haverá um investimento sem parada”. Em homenagem ao dia do mecânico, Edson deixou um recado. “Eu quero parabenizar a todos os profissionais do setor de manutenção automobilística e todos os envolvidos do setor”.

Edualbert Ribeiro – Ridha Centro Automotivo
Edualbert Ribeiro, proprietário da Ridha Centro Automotivo, localizada em São Bernardo do Campo/SP, teve sua aproximação no universo da mecânica desde criança, quando ajudava seu pai dentro da oficina. O contato com a manutenção veio aos 16 anos, no qual começou a trabalhar mais com a parte eletrônica do veículo. Edualbert foi aprimorando os conhecimentos com os sistemas elétricos e eletrônicos dos carros, além da mecânica automotiva. O mecânico acredita que os veículos híbridos chegarão com força no mercado brasileiro, mas que os totalmente elétricos podem demorar mais tempo para chegar por aqui. Com isso, o profissional comenta sobre a necessidade de especialização para esses veículos. “A realidade vai chegar. Nós, mecânicos, precisamos nos especializar e correr atrás porque será forte a chegada dos eletrificados, principalmente citando os veículos híbridos”.

Como o mecânico encara a chegada da eletrificação?
Edualbert Ribeiro

No âmbito da manutenção, os veículos totalmente elétricos podem gerar menores custos até determinados períodos, por causa da inexistência do motor a combustão interna, uma vez que componentes de revisão e troca periódica como filtros de óleo, ar e combustível, correias de transmissão, óleo de motor, velas de ignição, entre outros, não são necessários revisões. O que não é o caso dos veículos híbridos, já que unem os motores elétricos com o motor a combustão, porém, ainda existem dúvidas sobre a parte de manutenção do conjunto de baterias de tração, máquina elétrica e componentes desse sistema. Mas calma, para Ribeiro ainda há tempo para buscar treinamentos para manutenção desses veículos. “Em torno de 5 anos, eu acredito que as oficinas estarão cheias de serviço com os híbridos e elétricos, pois os veículos começarão a sair da garantia de fábrica. Eu creio que muitos concessionários irão homologar algumas oficinas e empresas para prestação de serviços a eles. Futuramente, isso será um nicho muito bom para o mecânico, caso ele faça essa fusão, ampliando com uma área diferente, buscando treinamento e ter toda a infraestrutura básica para isso”, informa o profissional.

Maurício Marcelino – Auto Mecânica Louricar
Maurício Marcelino, proprietário da Auto Mecânica Louricar LM, iniciou na mecânica ajudando seu pai aos finais de semana com serviços realizados na garagem de casa. Em 1991, seu pai deixou a empresa que trabalhava para dedicar-se exclusivamente a própria oficina. Em meados dos anos 2000, conseguiram adquirir um terreno ao lado da casa para expandir a oficina em espaço e equipamentos mais adequados, colocando em prática todo o investimento em treinamentos que realizava.

Como o mecânico encara a chegada da eletrificação?
Mauricio Marcelino

Maurício conta que acompanha de perto essa transição com os exercícios que alguns alunos da escola do SENAI recebem. “Estou acompanhando os treinamentos na escola SENAI de perto, muitos alunos de concessionária já trabalham exclusivamente em veículos eletrificados. Alguns alunos de oficinas independentes já recebem veículos híbridos”. Mas ele alerta sobre as oficinas que já recebem veículos híbridos e avisa em questão do recebimento dos eletrificados nas oficinas independentes. “Para isso, é necessário que tenha investimento em treinamento, equipamentos de proteção individual e coletivos, e específicos para os testes em alta tensão. Acredito que em larga escala ainda vai demorar um pouco para os eletrificados estarem nas oficinas, mas pode ter certeza, quem está se preparando agora vai ter uma fatia boa do mercado, comparando com a injeção eletrônica quando chegou”.

Além disso, Marcelino conta que se sente orgulhoso dos colaboradores que passaram por sua oficina e, hoje, possuem as próprias empresas. “Já trabalharam conosco alguns colaboradores que entraram sem saber nada e temos muita alegria em dizer que saíram para trabalhar em suas próprias oficinas, em Pernambuco, no Amazonas, em Santo André, em São Paulo e, também, para trabalharem em grandes multinacionais”, disse.

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