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Entrevista | Peças remanufaturadas: Sustentabilidade visando a reposição

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Paulo Solti

Vice-Presidente de Peças e Serviços da Stellantis para a América do Sul, Paulo Solti concedeu entrevista exclusiva para a Revista O Mecânico para falar sobre a SUSTAINera, marca de peças remanufaturadas do Grupo que hoje é representado no mercado brasileiro por Abarth, Chrysler, Citroën, Dodge, Fiat, Jeep, Peugeot e RAM. O executivo também destacou as mudanças que a sociedade vem passando nos últimos anos, comentou sobre sua visão para o mercado de reposição no futuro e como o Grupo Stellantis está se preparando para esse cenário.

REVISTA O MECÂNICO: Quais as expectativas do Grupo Stellantis para a SUSTAINera?

PAULO SOLTI: O SUSTAINera traz para dentro da nossa operação, do nosso dia a dia, peças que têm um olhar não só econômico para o cliente, mas também um olhar de (prevenção de) impacto ao meio ambiente. Por isso ela chama SUSTAINera, era da sustentabilidade. Temos uma linha de peças pensadas para reduzir o custo de manutenção dos carros, porque ela é até 40% mais barata em média do que uma peça nova e tem um consumo energético mais ou menos 50% menor de energia. Para produzir uma bomba d’água, por exemplo, que nós temos dentro da linha SUSTAINera, consumimos 50% menos energia em comparação com uma peça nova e ao mesmo tempo, temos um consumo de 80% a menos de matéria prima, uma vez que a gente reutiliza basicamente todo o componente.

O SUSTAINera é parte de uma estratégia global que está dentro do plano para a empresa neutralizar o impacto de carbono em toda a cadeia até 2038. Até 2030 temos que reduzir 50% o nosso impacto de carbono como grupo e o SUSTAINera vem dentro desse envelope. O SUSTAINera é a redução na utilização de materiais na fabricação e distribuição de peças de reposição. O SUSTAINera são peças que, dentro dos pilares dos quatro R’s (Remanufaturar, Reparar, Reutilizar, Reciclar), o SUSTAINera vem na lógica da reparação e da reciclagem também.

O MECÂNICO: O mercado automotivo caminha para a descarbonização gradual dos motores até zerar completamente as emissões de gases nocivos ao meio ambiente. A preocupação com a sustentabilidade será também uma tendência para o mercado de reposição?

SOLTI: Estamos vivendo o que chamamos de movimento de sociedade, então a própria sociedade vai exigir isso das empresas pouco a pouco. Se você olha, hoje, a geração dos adolescentes a partir dos dez anos de idade, você vê isso muito claro na mentalidade e no dia a dia deles. Eles com certeza vão consumir produtos com esse olhar, como a gente nos anos 80 e 90 falávamos muito sobre produtos biodegradáveis e embalagens biodegradáveis. Você começa a sentir que as pessoas começam a se preocupar em não tomar certas atitudes que impactam o meio ambiente, e essa população será o meu consumidor daqui a dois, três, cinco, dez, quinze anos e cada vez mais forte. Primeiro, é um movimento de sociedade onde todas as empresas de todos os segmentos vão precisar olhar para isso mais cedo ou mais tarde, se não eles vão estar fora do mercado. Os clientes não vão consumir os produtos deles se eles não tiverem esse olhar, por isso, a preocupação do grupo em reduzir esse impacto de carbono em toda a cadeia. Nós estamos trazendo essa linha SUSTAINera como um primeiro movimento nessa direção e isso só vai crescer, porque queremos ser líderes. Estamos antecipando essa tendência e posicionando a Stellantis com a força que ela tem no mercado brasileiro e na América Latina como referência nesse tipo de mercado de peças que tem a sustentabilidade como seu eixo principal.

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O MECÂNICO: As vendas das peças remanufaturadas da SUSTAINera serão feitas apenas nas concessionárias, ou a empresa pretende utilizar também outros canais de vendas?

SOLTI: Nós vamos vender essas peças na nossa rede de concessionárias e temos uma estratégia de um canal de e-commerce que já está desenvolvida e vai acelerar isso também. Nós vamos responder ao que o cliente pedir. Hoje nós temos na região 1.300 oficinas em que teremos uma oferta de peças para o cliente. Aquele cliente que comprar a peça no balcão e instalar no mecânico independente terá três meses de garantia. Se comprar e instalar em nossas oficinas, terá um ano de garantia. Eu acho que isso não é uma tendência, é uma realidade que veio para ficar e nós como empresa, como um grupo com o peso que a gente tem, temos que responder a altura. Vamos buscar a liderança desse mercado, vamos buscar o protagonismo nesse segmento e o que é tão importante quanto, isso vai representar 5% do nosso faturamento na região somente com essas famílias de peças. Lembrando que a reciclagem de peças no Brasil e na Argentina é um pouco mais difícil porque você não pode importar peças usadas, você tem que fazer localmente. Nos outros mercados nós temos mais facilidade, eu posso trazer peças de outros mercados, posso importar peça do Brasil ou importar peça da Europa. Cada mercado tem a sua especificidade, cada mercado tem sua maneira de lidar, mas o que é fato é que em todos eles, seja uruguaio, seja paraguaio, seja chileno, equatoriano, seja qual for, eles vão ter o meio ambiente como asset maior e eu acho que as oficinas vão ter que responder isso não apenas na manutenção dos carros elétricos. Hoje o mecânico não consegue mais descartar qualquer tipo de líquido no esgoto, como faziam há 50 anos atrás. Hoje ele precisa ter um contrato com alguma empresa para não ser autuado. Essa lógica não é só uma questão de governo, as pessoas só vão frequentar empresas que são eco friendly. O mecânico vai ter que estar preparado, as oficinas vão ter que estar preparadas, a cadeia inteira vai ter que estar preparada para que a gente possa não só ser transparente, mas ser realmente ecológico no sentido amplo da palavra.

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O MECÂNICO: Com a chegada da SUSTAINera, como fica a Mopar?

SOLTI: A Mopar é a marca de peças e serviços do grupo, é o nosso guarda-chuva, debaixo da Mopar eu tenho toda estratégia seja ela para Fiat, Peugeot, Citroën, Opel, todo o guarda-chuva chama-se Mopar. O que muitas vezes as pessoas perguntam é sobre a parte de performance, a parte dos carros americanos, sim, isso vai existir para os carros que tem o DNA Muscle Cars como a RAM. Não adianta você querer imaginar um muscle car em outras marcas que não tenha isso no DNA, como por exemplo a DS que é sofisticação. Então nós vamos adaptar o guarda-chuva Mopar para cada uma das marcas e seu DNA. Ela vai existir com a mesma qualidade que fazemos os muscle cars, nós vamos fazer coisas para cada uma das outras marcas.

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O MECÂNICO: Essa nova linha vai atender carros de outras marcas que não pertencem ao Grupo Stellantis?

SOLTI: Começamos com os nossos produtos (veículos que englobam o grupo Stellantis), mas com certeza vamos abrir isso para ser multimarcas lá na frente.

O MECÂNICO: Ainda existe preconceito por parte dos consumidores em relação às peças remanufaturadas?

SOLTI: Esse é o ponto central de toda nossa estratégia e vou dizer o porquê. Por que uma pessoa tem uma desconfiança em algo remanufaturado ou recuperado? Porque ele não tem a certeza de que aquilo foi feito da melhor maneira possível. Então quando entramos com uma marca como a SUSTAINera, o processo é identificar quais peças temos possibilidade de aplicar os 4 R’s e a partir disso, descobrimos quem é o fornecedor que pode fazer isso, seja o nosso fornecedor de primeira monta como a Magneti Marelli, Bosch, entre outros, e que possam realmente remanufaturar as peças. Se eles não querem, quem faz isso da melhor maneira possível? Nós fazemos uma auditoria nessa empresa, entendemos como funciona o processo dele e, eventualmente, faremos alguma formação para corrigir algum gap. O que temos visto em muitos casos é que tem muitas empresas muito bem estruturadas e que tem capacidade técnica. Às vezes, a gente até aprende coisas com eles. Então é uma troca contínua e essa empresa é homologada. Quando ela é homologada, recebe uma certificação nossa para fazer esse trabalho e com isso, ela entrega uma peça que tem um certificado não só de origem, mas de reparabilidade, e eu coloco meu selo. Isso para nós é uma maneira de dizer ao cliente: “não se preocupe”. O cliente vai dizer: “ok, foi a própria montadora que refez essa peça”. Isso vai tirar uma barreira do cliente.

O ponto mais importante para nós na escolha de um fornecedor de qualquer natureza e qualquer tipo de material é a questão da segurança e da qualidade. A empresa quando vai nos fazer uma bomba d’água, uma bomba de combustível ou um bico injetor, precisamos ter a certeza de que ela vai fazer aquilo da melhor maneira possível, dentro dos nossos padrões de engenharia. Quando nós vamos reparar alguma coisa, tem que ser exatamente da mesma maneira, então como eu remonto, lubrifico, testo os canais de lubrificação e etc.? Nós precisamos ser mega exigentes porque precisamos ter a certeza que, primeiro, aquela peça deve ter sido desmontada da maneira correta. Segundo, estar em estado de reparabilidade. Terceiro, reparada da melhor maneira possível e, quarto, remontada da maneira correta. Então, é algo que é mais rigoroso do que um processo de concepção de uma peça.

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O MECÂNICO: Na sua opinião, qual será o papel do mecânico no processo de popularização das peças remanufaturadas?

SOLTI: Ele é chave, fundamental, por isso fomos ao Congresso Brasileiro do Mecânico com a marca SUSTAINera. Uma das coisas que nós percebemos falando com os mecânicos é que eles precisam não só de atenção e informação, mas precisam de formação. Nós temos que estar muito próximos deles porque quando eu fabrico um carro e três anos depois ele sai da garantia e passa a ser trabalhado pelo mercado independente, por reparadores independentes, ele tem um cliente por trás e minha marca está ali. Eu preciso me ocupar com esse público e as montadoras por muito tempo deixaram esse público de lado. E a gente está com uma proposta muito clara, muito forte, focada em ir ao encontro dessas pessoas.

Nós temos uma estratégia, que vamos apresentar um pouco mais pra frente, de criar um canal de comunicação estruturado. Nós fomos ao Congresso Brasileiro do Mecânico com o diretor técnico e de qualidade e também com o responsável por todo o processo de garantia para poder explicar o que era nosso carro, o que era motor diesel e é isso que eu quero. Eles têm que estar próximos a essas pessoas. É compartilhando conhecimento que eu vou poder falar pra eles: “quando eu faço uma peça SUSTAINera eu faço pensando nisso, nisso, nisso e nisso e você pode ficar tranquilo que você quando montar essa peça, não terá dor de cabeça”. Além de ter um carro com peças acessíveis e bem feitas, você tem a informação necessária para fazer bem o reparo. Tudo isso é um pacote que envolve uma série de coisas.

O mecânico é chave, seja ele da nossa rede de concessionárias, independente ou de uma rede de outra marca. Esses caras têm que ter a informação, formação e o contato com a gente, é por isso que fomos lançar isso no Congresso Brasileiro do Mecânico e ano que vem vamos estar lá novamente.

O MECÂNICO: Quais os canais que a Stellantis tem utilizado para conversar com os mecânicos?

SOLTI: Estamos começando a estruturar isso. Primeiro, em participação em eventos como o Congresso Brasileiro do Mecânico. Segundo, falar através de vocês da revista e dos meios de comunicação que eles têm informações. Estamos desenvolvendo algumas parcerias que está um pouco cedo para te falar, mas são coisas que tem todo um planejamento de comunicação bem estruturado para poder fazer a aproximação. Tudo de uma maneira estruturada, contínua e bem feita, é isso que queremos. Não queremos que seja igual a um voo de galinha que você vai lá, faz, esquece e nunca mais fala com essas pessoas. Queremos que isso vire um diferencial.

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