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Entrevista: Nasce uma nova indústria

entrevista Luiz Carlos de Moraes

Atual presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e diretor de relações governamentais e comunicação corporativa da Mercedes-Benz do Brasil, Luiz Carlos Moraes é economista e trabalha no setor automotivo desde 1978. Sua atuação na Anfavea iniciou em 2012, ele participou da estruturação de regimes automotivos como o Inovar Auto e o atual Rota 2030. Esteve em reuniões governamentais sobre as normas de emissões, segurança e comércio exterior. Seu mandato à frente da entidade teve início em abril deste ano e termina em 2022. Neste período o executivo trabalha para conquistar novos clientes e fortalecer as exportações. Além disso, busca soluções para que a indústria brasileira de automóveis evolua tecnologicamente no mesmo ritmo dos maiores mercados mundiais.


Por Edison Ragassi

REVISTA O MECÂNICO: Nos últimos 35 anos, a indústria automotiva evoluiu, como por exemplo, a troca do carburador pela injeção eletrônica, a entrada da injeção direta. A engenharia de matérias trocou aço e vidro por plástico, ferro por alumínio, entre tantas outras soluções. Os veículos ficaram mais leves e eficientes. Recentemente presenciamos a entrada da eletrificação. Qual é a projeção que a Anfavea faz para os próximos 35 anos?

LUIZ CARLOS MORAES: Eu acredito que a evolução será muito mais rápida. Nós tivemos evoluções importantes nos últimos 35 anos, mas o que vai acontecer nos próximos cinco anos, dez anos é mais impactante ainda. Por questões de exigências de segurança, níveis de emissões mais rígidos, por obrigações mais rígidas de eficiência energética, as novas tecnologias em conectividade, eletrificação e por conta do nosso consumidor. Ele é um consumidor diferente, que vive este mundo. Eu acredito que a indústria irá passar pela maior transformação de sua história. O modelo de negócio vai mudar, o que vai impactar a produção, as vendas e isso eu vejo com bons olhos.
A indústria automobilística pode contribuir para a sociedade como a grande indústria que vai transformar com vários impactos positivos para todos. Esta evolução é um desafio que traz risco, mas muito impactante e produtivo para o setor.

O MECÂNICO: O mercado europeu caminha para eletrificação dos automóveis. Vários países já determinaram prazos para encerrar a fabricação de veículos com motores a combustão interna. E o Brasil está preparado para esta nova fase da mobilidade?

LUIZ CARLOS: O Brasil vai caminhar nesta direção de forma mais lenta do que se observa na Europa por vários fatores. O custo do veículo elétrico ainda é muito alto. Na Europa também é, mas eles oferecem incentivos que apoiam o consumidor e a sociedade europeia, dependendo de cada país, há suporte com subsídios que estimulam estas novas tecnologias. No Brasil temos várias montadoras trazendo veículos elétricos, híbridos, para mostrar esta tecnologia ao consumidor e para a indústria local entender como é este novo mundo, treinar a rede de concessionárias, já que é um veículo diferente tecnicamente. Eu penso que a velocidade de implantação será menor que da Europa, mas que vem, vem!

O MECÂNICO: No contexto global, quais são os principais pontos fracos da indústria nacional?

LUIZ CARLOS: O que eu coloco não como ponto fraco, mas como desafio, é esse novo mundo. Conectividade, eletrificação, novas metas de eficiência, isso já está exigindo da indústria altíssimos investimentos e nem as grandes montadoras terão como fazer isso sozinhas. Eu acredito na possibilidade de grandes parcerias entre as mondaras, fornecedores e a entrada de novos fornecedores de baterias, itens de conectividade, para atender estas novas demandas.

O MECÂNICO: A evolução tecnológica necessita da mão de obra especializada. Ela é fundamental para qualquer segmento que busca crescer e se consolidar. As escolas existentes no país são suficientes?

LUIZ CARLOS: Acredito que sim. O Rota 2030, programa da Anfavea que estabelece metas para a evolução da indústria, prevê investimentos em pesquisas e desenvolvimento para atender estas novas demandas, seja de segurança, emissões, eficiência energética. Nós vamos investir, pelo mecanismo do programa Rota 2030, cerca de R$2 milhões/ano em academias e institutos para ter mão de obra disponível. Temos também o Senai que é um grande
parceiro da indústria automobilística. São muitas as situações com o Senai, não só para as montadoras, mas também para os fornecedores, inclusive nas novas áreas de conectividade e eletrificação, justamente para formar mão de obra preparada e adequada a este novo desafio.

O MECÂNICO: Recentemente passamos uma crise econômica. Quais foram as consequências para o setor deste período recessivo?

LUIZ CARLOS: Os prejuízos foram enormes para o setor automobilístico, aumentou substancialmente a capacidade ociosa. Hoje, apesar do crescimento que estamos presenciando, ainda é pouco para cobrir esta ociosidade, pois ela (a ociosidade) está na ordem de 40% a 45%, o que ficou agravado pela queda nas exportações, principalmente para o mercado argentino. O impacto foi muito grande, mas estamos paulatinamente voltando a crescer, porém, precisamos de um crescimento mais forte e robusto da economia como um todo para voltar ao patamar de 3 a 4 milhões de veículos/ano.

O MECÂNICO: A Anfavea trabalha para incrementar as exportações. Recentemente tivemos o acordo do Mercosul com o Mercado Comum Europeu. Esta negociação irá auxiliar o Brasil a exportar mais? Em quanto tempo teremos resultados por causa deste acordo?

LUIZ CARLOS: Nosso entendimento é de que uma indústria saudável, que pode aliviar riscos, ela deve produzir entre 40% a 50% para o mercado externo. Isso permite não depender só do mercado interno e essa exportação, se possível deve ser feita para vários parceiros, entre eles a comunidade europeia. O acordo feito entre o Mercosul e a Comunidade Europeia é o maior e mais relevante da história no Brasil. Nós abraçamos um parceiro que tem um grande mercado, tem alta tecnologia, e pode trazer vários benefícios para a indústria. O impacto da redução tarifária deve demorar de dois a três anos até que os parlamentos dos respectivos países aprovarem e homologarem o acordo que foi negociado, mas o impacto no processo da decisão de novos investimentos leva em consideração que daqui dois a três anos vai entrar a redução tarifária. Eu acredito que o impacto no processo de decisão começa agora, o impacto da redução tarifaria daqui a dois ou três anos. E a vantagem para a indústria nacional será a de ter acesso a novas tecnologias, porque vai ser possível importar com redução tarifaria como previsto no acordo, poderemos trabalhar não necessariamente com a exportação de veículos, mas também exportando para a Europa, motores, agregados, componentes, e assim a indústria brasileira vai integrar a cadeia global de produção, o que é um grande benefício. E outro benefício que não podemos esquecer é que o acordo envolve diversos setores, não só a indústria automobilística. Outros setores, como o agronegócio, por exemplo, exportando para a Europa vai fomentar a economia local, gerar mais renda, novos negócios, vai estimular a economia como um todo, e a indústria automobilística pode se beneficiar deste crescimento.

O MECÂNICO: O mecânico de automóveis contribui para que a indústria e o mercado nacional cresçam?

LUIZ CARLOS: Com certeza! A indústria automobilística depende deste profissional. O nosso cliente só é bem atendido na ponta final porque o mecânico de automóveis realiza um excelente trabalho. A
indústria automobilística estimula muito o treinamento de seus mecânicos nas oficinas das concessionárias. Eu acredito que é um profissional muito importante e a qualidade do trabalho ajuda a ter um cliente mais fiel a marca.

O MECÂNICO: A Revista O Mecânico completa 35 anos de circulação. Desde seu nascimento em 1984 manteve o foco técnico, servindo como um canal de informação e atualização para o mecânico de automóveis. Qual a sua mensagem para o leitor da publicação?

LUIZ CARLOS: O leitor da Revista O Mecânico ao longo destes 35 anos viu muita evolução tecnológica e muita coisa mudando no setor. E neste novo ciclo que vamos passar vai ver muita coisa diferente, muita coisa inovadora, e vai poder usufruir destas inovações.

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