Por Fernando Landulfo
Segundo o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), em seu último levantamento publicado em abril de 2012, a frota nacional de automóveis apresentava, no ano de 2011, uma idade média de 8 anos e 9 meses. De todo o montante, 44% tinha idade entre 1 e 5 anos. Os de “meia idade” (6 a 10 anos) eram 21%. Os “velhinhos”, com idade entre 11 e 20 anos, 32%. E por fim, as “relíquias” (com mais de 20 anos de idade), correspondiam a apenas 3% da frota circulante.
Ou seja: com base nesses dados, pode-se afirmar que: aquilo que o mercado cruelmente costuma taxar de “carro velho” representa quase 50% de todos os automóveis circulantes no país! Pois é, apesar de todos os “incentivos governamentais” para a produção e venda de veículos novos (principalmente, os populares), os carros com mais de 10 anos de idade continuam sendo um dos principais pilares da frota nacional. Mas por que isso ocorre?
Bem, essa resposta, que envolve desde os altos valores cobrados pelo imposto sobre a propriedade e prêmio de seguro sobre os veículos mais novos, além de dar “muito pano para a manga”, não faz parte do foco desse artigo. Por essa razão, será tratado numa ocasião mais oportuna. Neste momento, o importante é frisar que a quantidade de “velhinhos” que circula pelas nossas ruas é bem grande!
E quem é que cuida da “saúde” de todos esses veteranos, que diariamente locomovem milhões de pessoas? O “Guerreiro das Oficinas” é claro. Só que essa tarefa está ficando cada vez mais difícil, pois encontrar peças de reposição de boa qualidade (sobretudo as genuínas), para modelos fora de linha, é um verdadeiro pesadelo neste país. E esta dificuldade está fazendo com que muitas oficinas fujam desses modelos, deixando seus proprietários a mercê de pessoas despreparadas, ou mesmo, amadores.
É claro que não se deve esperar grande coisa, no que diz respeito a certos modelos importados, cujas montadoras entraram no mercado nacional, como ocorreu na década de 90, venderam um monte de veículos (prometendo mundos e fundos) e depois abandonaram o país, deixando seus clientes literalmente com o “mico na mão”. Peças de reposição para esses carros, só em importadoras a peso de ouro. E para piorar: nem sempre são genuínas ou de boa qualidade. É claro que a qualidade e a durabilidade do reparo ficam comprometidas. Mas é o que se encontra!
Fazer o quê? O mesmo ocorre com alguns modelos médios ou de alto luxo, cujas montadoras ainda se encontram no país. Neste caso, as explicações para o não fornecimento variam entre a indisponibilidade no país de origem e o desinteresse do proprietário do veículo, que não quer ou não pode pagar o preço praticado. Não que isso não seja a verdade. Na grande maioria dos casos é exatamente o que ocorre. Mas esse não é grande incômodo para o reparador.
Afinal de contas, exemplos como esses, além de constituir uma minoria dos casos, acabam por se “auto-resolver”, pois o cliente que não pode “bancar” uma peça nova importada acaba, ele mesmo, adquirindo uma usada em um desmanche ou, simplesmente, remove o carro, no estado em que se encontra, da oficina. O grande problema é que isso também ocorre com veículos nacionais.
Quem trabalha com reparação sabe: tentar procurar peças para carros com mais de 5 anos nas concessionárias é um verdadeiro calvário. A situação melhora um pouco quando a peça é aplicada em modelos mais recentes. Caso contrário, como ocorre com as peças de acabamento, a resposta pode ser: encomenda a fábrica (a melhor das hipóteses) ou simplesmente: “sinto muito, mas o item não é mais fornecido”.
A situação é mais complicada quando se trata de um item importado aplicado em um veículo nacional. Consultar a montadora, pelo SAC, para tentar localizar um item fora de linha, nem sempre dá o resultado esperado. E o pessoal que faz inspeção veicular (poluentes, ruídos), vistoria prévia de seguro e laudos para lojistas, não quer nem saber. Se o veículo não atende aos padrões estabelecidos, é sumariamente reprovado.
E quem é que tem que resolver o caso? O mecânico é claro. Mas para isso ele precisa de peças! Se não é mais fornecido, não é mais fornecido e acabou. Reclamar? Só se for para o bispo.
Pois bem, quando a peça genuína não pode ser encontrada é hora de procurar as originais, ou seja, aquelas produzidas por empresas que fornecem às montadoras. Numa boa parte das vezes, o “Guerreiro das Oficinas” obtém sucesso. Com o advento da inspeção veicular, muitas fábricas retomaram a produção de muitos itens que se encontravam fora de linha. No entanto, mesmo esses fabricantes não se interessam em produzir determinados componentes. Alguns deles até constam do catálogo, mas não há disponibilidade de estoque. Aí a situação se complica. E o mecânico é obrigado a apelar para a mercadoria paralela, usada ou, em último caso, a recondicionada.
O porque de não termos, aqui no Brasil, uma política de fornecimento de componentes de primeiríssima qualidade para veículos fora de linha, como a que existe nos Estados Unidos, é um mistério. Afinal de contas, somos o povo apaixonado por automóvel. Para muitos, o carrinho ” velho” é um companheiro inseparável de muitos anos, ou um sonho de criança que se realizou. Para outros é o único veículo que ele pode comprar, e dele depende para ganhar o seu sustento.
É claro que um carro novo oferece inúmeras vantagens. Mas não é todo mundo que pode ou está disposto a “limpar” a poupança, ou se endividar para comprar um carro novo. E isso precisa ser respeitado. Além disso, o mecânico autônomo (empresário) tem direito ao seu ganha pão. Os carros novos apresentam garantias cada vez maiores, ou seja, vão demorar cada vez mais para deixar as concessionárias. Logo, a vida profissional desses empreendedores vai depender cada vez mais dos carros com idade de 5 anos ou mais. É nessa hora que as entidades de classe precisam agir, para garantir que essas pessoas tenham condições de exercer suas profissões.
Mas enquanto isso não acontece, vão aqui algumas dicas de como “garimpar” peças para veículos fora de linha:
a) Adquira e guarde a maior quantidade de catálogos de peças possível (montadoras e fabricantes de peças). É muito mais fácil e preciso localizar uma peça pelo número do que pela descrição.
b) Antes de jogar fora uma peça anote o seu número, pelo mesmo motivo anterior.
c) Ao consultar um concessionário, forneça o número da peça e não o modelo e o ano do veículo. Isso evita preconceito com relação a idade do veículo. Caso ele esteja desatualizado, peça ao atendente o novo número.
d) Adote o mesmo procedimento anterior às autopeças independentes e distribuidores.
e) Utilize sites específicos de busca de peças, como o “Peças Online” (www.pecas-on-line.com.br). Eles costumam ter acesso a estoques de concessionárias e distribuidores independentes.
f) Estabeleça contatos com concessionários e distribuidores no exterior. Pode ser que uma peça que não seja mais fornecida aqui ainda seja comercializada normalmente lá fora. Mas para isso é preciso ter em mãos os números das peças.
g) Use e abuse dos SAC das montadoras e fábricas, quando tiver dúvidas quanto a localização de um determinado item. Mas é preciso ter o número da peça em mãos.
h) Utilize sites de busca, como o Google, para localizar peças. Basta digitar o número.