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Dia das mulheres | a paixão por carros e mecânica também faz parte do universo feminino

Dia das Mulheres - 08.03.2023

Entrevistamos cinco mulheres para falar sobre a paixão por veículos, o amor pela mecânica e os desafios em atuar em um mundo predominantemente masculino

 

Em um mundo onde desde a infância a orientação recebida é para os meninos brincarem de carrinho e as meninas de boneca, somos condicionados a pensar que carros e mulheres são assuntos que não combinam. Diferentemente do que somos levados a acreditar, a paixão por carros também faz parte do universo feminino e cada vez mais, elas estão marcando presença no meio.

Podemos observar a presença das mulheres em diversos segmentos automotivos, como por exemplo no automobilismo como um todo. Segundo dados divulgados pela SPTuris, a presença feminina nas arquibancadas do GP São Paulo de F1 em 2022 foi de 36,4%, número semelhante ao apresentado na NASCAR, categoria dos Estados Unidos onde 37% do público é formado por mulheres.

Mas não é apenas nas arquibancadas que podemos observar esse crescimento. De forma cada vez mais constante, encontramos mulheres competindo em corridas Brasil afora, desde a Copa Truck até competições de arrancadas, atuando na cobertura de eventos, produzindo conteúdos de qualidade nas redes sociais e até mesmo trabalhando em oficinas mecânicas, seja na gestão ou colocando a mão na massa.

Cercadas de desafios e conquistas diárias, as mulheres começam a estar mais presentes no dia a dia da oficina. Apesar de uma presença maior na parte da gestão, o campo técnico também começa a ser ocupado por elas.

A Revista O Mecânico conversou com cinco mulheres que fizeram do mundo automotivo não apenas sua paixão, mas também sua profissão. Atuando na parte técnica das oficinas, quebram paradigmas e compartilham a rotina nas redes sociais, a fim de incentivar outras mulheres que possuem o mesmo sonho a trilharem esse caminho.

Ao falar sobre a rotina dentro das oficinas, elas são unânimes: a mulher pode trazer um olhar mais detalhista à mecânica, contribuindo ainda mais para a prestação de um bom serviço. Apesar disso, ainda falta apoio do poder público e privado para fomentar esse caminho para aquelas que desejam fazer da mecânica a profissão de suas vidas.

Amanda Medeiros - Dia Internacional das Mulheres
Amanda Medeiros | Foto: Arquivo pessoal

Amanda Medeiros é uma profissional que atua no ramo de consultoria para mecânicos, compartilhando seu conhecimento adquirido como proprietária de oficina e também através da sua formação em contabilidade. Ela conta que desde pequena frequentava oficinas, já que seu pai, irmãos e tios trabalham no ramo há bastante tempo.

Após um tempo trabalhando em uma oficina própria, decidiu abrir um escritório de contabilidade ao terminar sua graduação na área. Paralelo a esse trabalho, passou a prestar consultoria financeira e um dos clientes atendidos era proprietário de uma oficina prestes a falir, que teve seu negócio salvo através do trabalho desenvolvido pela empresa da Amanda.

“Conseguimos reverter o caso, fazer uma reserva financeira e até comprar um elevador que ele queria há mais de dez anos e nunca conseguiu”, conta Amanda. A partir desse ponto, decidiu atuar exclusivamente com oficinas mecânicas em suas consultorias e também em seu Instagram, onde compartilha dicas para mais de 25 mil seguidores.

Ao falar sobre a presença das mulheres dentro das oficinas, ela define a situação como um mar cheio de oportunidades a serem exploradas. “Precisamos fazer um trabalho voltado para a mulher como profissional. Tanto para a parte de gestão, quanto para a parte técnica operacional”, afirma Amanda, que completa: “As empresas precisam abraçar essa causa para ter foco na mulher”.

 

Amanda Tomasine- Dia Internacional das Mulheres
Amanda Tomasine | Foto: Arquivo pessoal

Amanda Tomasine trabalha como mecânica de carros premium e de competição, além de competir em campeonatos de arrancada, compartilhando sua rotina em seu perfil do Instagram com mais de 108 mil seguidores. Apesar de não saber exatamente quando começou sua paixão por carros, ela conta que achava o máximo quando fazia trilhas em um buggy com a família e precisava consertar o veículo para poder continuar o percurso.

“Eu achava incrível ir para uma trilha, o carro quebrar e a gente poder pegar ferramentas e arrumar na hora”, conta Amanda. Mais tarde, já adulta, trilhou outros caminhos profissionais até descobrir que o que gostava de verdade eram os carros e a mecânica.  “Eu fui a persistência! Sou formada em design de interiores e estudei engenharia civil e arquitetura, mas nada conseguiu me fazer sair de perto da mecânica e dos carros”, disse Amanda.

Para ela, o conhecimento e o interesse pela mecânica chegam a ser uma necessidade, já que cuida pessoalmente do seu carro para as competições que disputa. Seu primeiro carro foi um Gol, que antes mesmo dela comprar o veículo, já possuía praticamente todas as peças para prepará-lo.

Apesar do amor e curiosidade pela mecânica e pelo mundo automotivo, Amanda conta que é difícil encontrar apoio dentro da área. “É engraçado porque muita gente acompanha e vem com o discurso de que tem que apoiar as mulheres e ter mais mulheres no meio automotivo, mas na hora de ajudar de verdade, somem”, pondera.

 

Andreia Justo- Dia Internacional das Mulheres
Andreia Justo | Foto: Arquivo pessoal

Diferente de outras mulheres que sempre contaram com o apoio das famílias para atuar na profissão, Andreia Justos teve que lutar para seguir esse sonho. Desde pequena gostava de acompanhar o trabalho dos mecânicos na oficina do pai, mas era desencorajada a aprender a profissão.

“Quando eu era criança sempre fui doida por carro, meu interesse por carros vem dessa época”, conta Andreia que continua: “Eu ficava em cima dos funcionários da oficina do meu pai para aprender, mas ninguém deixava eu mexer, mandavam eu ir brincar de boneca”.

Para seguir seu sonho, precisou sair de casa aos 15 anos de idade, começar a comprar as ferramentas com o dinheiro de vendas de roupas e passou a consertar carros na garagem da casa aos 16. “O primeiro carro que eu arrumei foi um Celta que eu troquei cabo e vela”, diz Andreia.

Atualmente ela compete em campeonatos de drift e em sua oficina, trabalha com manutenção geral e preparação automotiva, uma das suas paixões e mostra seu trabalho no Instagram, onde possui um perfil com mais de 26 mil seguidores. “De um modo geral a mecânica me encanta, mas gosto muito da preparação automotiva”, comenta Andreia que completa: “Pegar algo que está ruim e consertá-lo é algo que me encanta”.

Andreia também faz coro para falar sobre a falta de apoio que, para ela, deveria vir do governo. “O governo deveria ter um programa para angariar mais mulheres para a mecânica. O mundo automotivo precisa abrir alas para as mulheres que querem trabalhar”, diz Andreia.

 

Daiane Pimenta- Dia Internacional das Mulheres
Daiane Pimenta | Foto: Arquivo pessoal

Daiane Pimenta atua no segmento de recuperação estética de veículos, compartilhando sua rotina diária para 74 mil seguidores no Instagram. Rindo, ela comenta que não sabe quando começou sua paixão por carros, mas que desde pequena possuía uma relação especial com eles. “Eu não sei explicar, já nasci gostando. Minha mãe e meu pai contam que fui uma bebê muito chorona e para me acalmar, era só me colocar dentro do carro que eu parava”, diz Daiane.

Filha de mecânico, começou a tomar gosto pela profissão ao acompanhar o trabalho do pai. Apesar de sempre gostar desse mundo, ela afirma que a paixão por esse mundo só apareceu um pouco mais tarde, em 2018, quando começou a trabalhar na área.

Ao falar sobre o que mais gosta na área, ela comenta que o que mais a fascina é visualizar o resultado após a conclusão do trabalho e compará-lo com a situação anterior do veículo. “Nós começamos a mexer com o carro e durante o processo, acabamos esquecendo como ele estava. Então quando vemos o resultado final, isso não tem preço, é incrível”, comenta Daiane.

Sobre a situação do mercado de trabalho para o público feminino, Daiane enxerga bastante espaço para crescimento. “O mercado não está aquecido para as mulheres. Aqui na minha região eu não conheço nenhuma que atua na área”, comenta Daiane que completa: “É preciso incentivar o conhecimento, oferecer cursos às mulheres para fomentar o mercado feminino na mecânica.”

 

Ellen Nascimento- Dia Internacional das Mulheres
Ellen Nascimento | Foto: Arquivo pessoal

Ellen Nascimento, mecânica e piloto de arrancadas, conta que a paixão por carros vem desde a infância. Aos risos, ela narra um episódio da infância. “Sempre fui maluca por carros, teve um episódio em que meu irmão ganhou uma carretinha de madeira e eu uma boneca, só que eu queria uma carretinha. Eu roubei a carretinha do meu irmão e apanhei depois por ter roubado o presente”, conta Ellen.

Formada em contabilidade e dona de uma carreira na área, ela conta que também não obteve apoio da família para trocar de profissão e partir para o mundo mecânico. Seus familiares, principalmente sua mãe, preferiam que ela seguisse na área contábil. Hoje, ela possui uma oficina em Porto Alegre e participa de competições de arrancada com um Maverick V8 que ela mesma cuida. “Eu mesma cuido do carro. Faço as manutenções e se precisar, troco as peças também”, conta Ellen.

Ao ser questionada sobre o que mais gosta na mecânica, ela afirma que é mais fácil falar do que não gosta, já que é apaixonada por quase tudo que envolve a profissão.  “É mais fácil falar do que eu não gosto, não gosto de trocar correia dentada”, comenta Ellen.

Além do incentivo do governo, Ellen acredita que é necessário o apoio das oficinas para ter cada vez mais mulheres atuando com mecânica. “Não é mais questão de força, é técnica e uso de ferramentas. Então falta apoio do governo, mas também é importante as oficinas darem oportunidades para as mulheres”.

por Daniel Palermo

 

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