Chevrolet Caravan: De olho nas emissões de um clássico

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Confira como é feito o processo de pré-inspeção em uma Chevrolet Caravan 1979, tratada com requintes de colecionador, mas que, como todo carro antigo, precisa de cuidados específicos para ser aprovada na Inspeção Veicular Ambiental de SP

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Quem é apaixonado por carros sempre guarda um lugar no coração para algum modelo com mais idade. Mas quem se propõe a manter e rodar com um veículo com mais de 30 anos de vida pelas ruas de São Paulo tem que se atentar a um detalhe muito importante: a Inspeção Veicular Ambiental obrigatória, executada pela empresa Controlar. A não ser que o veículo tenha sido fabricado antes de 1965 ou tenha placa preta, é obrigatório que passe pela Inspeção anualmente, como qualquer outro automóvel mais novo.

A linha Chevrolet Opala é uma das que tem o maior número de fãs na história da GM do Brasil. Inicialmente com carroceria derivada do sedã europeu Opel Rekord combinada a um powertrain da Chevrolet americana, o Opala foi fabricado no Brasil de 1969 a 1992, chegando a marca de 1 milhão de unidades produzidas. Destas, dezenas de milhares ainda estão plenamente operantes em nossas ruas, nos mais diversos modelos que a gama gerou.

Muitos desses clássicos, porém, precisam passar na inspeção veicular ambiental para rodarem com documento em dia e com o mínimo de emissão de poluentes. Para isso, o mecânico precisa fazer os procedimentos de pré-inspeção que garantam a aprovação do veículo. Mostramos nessa matéria os procedimentos feitos em uma Chevrolet Caravan 1979 com motor 151, de quatro cilindros, a gasolina.

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Segundo o instrutor do SENAI-Vila Leopoldina, Marcelio Gonçalves da Matta, proprietário da oficina M.M.L.M. Serviços Automotivos, há uma modificação importante nesta Caravan em relação à original: a ignição foi totalmente trocada por um sistema eletrônico, o mesmo utilizado em motores Chevrolet do final dos anos 80 em diante. A originalidade do carro não é um item avaliado pela Inspeção Veicular, mas, neste caso, a substituição da ignição manteve as características do carro dentro dos padrões de qualidade, segurança e desempenho exigidos, como veremos a seguir.

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Pré-inspeção visual: colocando tudo em ordem

Quando o mecânico recebe um carro como esta Caravan 1979 para fazer a pré-inspeção, deve ficar atento a alguns detalhes que, segundo a Controlar, são itens de reprovação imediata na pré-inspeção visual. Esta etapa consiste na simples observação do funcionamento regular do carro quanto a seu comportamento e conservação. Não haverá quaisquer procedimentos de desmontagem de peças por parte do técnico que examinará o carro, mas se o veículo for rejeitado nessa fase, sequer passará pela análise de gases de escape.

“A preparação para esta fase não exige nada além da manutenção preventiva normal do carro”, afirma o engenheiro Fernando Landulfo, técnico de ensino do SENAI-Vila Leopoldina em São Paulo/SP, que acompanhou o procedimento executado na M.M.L.M. Serviços Automotivos.

1) Abertura do capô: Um detalhe pequeno que pode virar um grande problema. O capô do motor deve abrir e se sustentar aberto, ou seja, a haste de sustentação e as braçadeiras devem estar em ordem.

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2) Vazamentos: Toda espécie de vazamento deve ser identificada e contida. Qualquer respingo de óleo, fluído ou combustível no chão da área de inspeção causa a rejeição imediata do veículo. Por isso, levante o carro e examine as possíveis fontes. No caso da Caravan, dê uma boa olhada nas regiões onde podem ocorrer vazamentos de óleo de motor, óleo de câmbio (2a), na tubulação do filtro de combustível (2b), na mangueira do radiador e sistema de arrefecimento em geral, na caixa de direção hidráulica e na tubulação de freios.

“Os motores mais antigos da linha merecem uma atenção especial. A vedação do mancal traseiro era feita por meio de uma gaxeta que, com a idade, tinha tendência a apresentar vazamentos”, conta Landulfo. Nesta Caravan, após o enchimento do óleo de câmbio, uma parte do líquido escorreu pela caixa e estava prestes a pingar no chão (2c). Isso não pode acontecer, porque, se aquela gota pingar, o técnico da inspeção poderá reprovar o veículo independentemente da causa, seja ela um defeito crônico ou não. Fique atento e certifique-se da limpeza tanto do cárter do motor quanto da caixa de câmbio antes de liberar o veículo.

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2c

3) Mangueiras e vedações: A troca de um sistema como o de ignição da Caravan é permitida porque não altera e até melhora o funcionamento do motor. Mas emendas feitas com epóxi e mangueiras presas ou remendadas com fita isolante são terminantemente proibidas. A Controlar informa que o item mais observado pelos técnicos na pré-inspeção visual é o sistema PCV (Ventilação Positiva do Cárter), também conhecido como “respiro” do motor, que causa reprovação se estiver desconectado, ausente ou com a mangueira trincada. Certifique-se também que as conexões da caixa do filtro de ar e do coletor de admissão estejam compatíveis e que não haja parafusos vedando mangueiras soltas.

 

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4) Sistema de admissão: Procure também por folgas que causem vazamentos ou entradas falsas de ar no sistema de admissão. É importante também observar o estado do filtro de ar, que deve estar limpo e dentro da vida útil.

 

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5) Sistema de escapamento: Para analisar este item, o técnico não levanta o veículo, mas, sim, passa um espelho por baixo do carro a fim de observar se o conjunto de escapamento está completo, sem emendas nem furos. Estas falhas podem causar entrada de ar falso no equipamento de medição e prejudicar o resultado do exame. No caso da Caravan, a corrosão apresentada em alguns pontos do escapamento não é item de rejeição, porque o conjunto está com sua integridade preservada. Mas examine atentamente o conjunto quanto a deformações e marcas de pancadas ou pontos vulneráveis. A conservação do sistema de escapamento também influencia no ruído, que pode fazer com que o veículo passe pelo Medidor de Nível Sonoro (MNS), caso ele seja selecionado.

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6) Condição dos freios: Na manobra do veículo na área de inspeção, se o técnico perceber o mau funcionamento do sistema de freios, o carro será rejeitado. Certifique-se que o conjunto, principalmente o freio de mão, esteja em ordem. Durante a pré-inspeção visual, o reservatório do fluido de freio também será conferido, portanto, fique atento e faça a reposição caso o nível esteja abaixo do limite mínimo.

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7) Níveis de reservatórios transparentes: O técnico de inspeção não desmonta qualquer peça, mas se houver reservatórios transparentes, como o do fluido de freio, ele vai observar se está dentro da marcação mínima estabelecida. No caso da Caravan, por exemplo, não há tanque de expansão no sistema de arrefecimento, mas será observado também o nível de água do limpador de para-brisa.

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8) Comportamento do motor: Também durante a condução do veículo à área de inspeção, se o técnico perceber que o motor funciona de forma irregular, o veículo poderá ser rejeitado. Por isso, a regulagem de marcha lenta e do ponto de ignição do motor é fundamental para que o motor não trabalhe “quadrado”, ou seja, vibrando excessivamente. Outro item que envolve diretamente o motor é a fumaça que sai no escape, que não deve ser visível. Fumaça azul ou branca mal cheirosa (decorrentes do desgaste dos aneis e problemas de vedação interna do motor) ou preta (excesso de combustível na mistura) são itens de rejeição imediata.

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Análise de gases de escape

Com o carro visualmente em ordem, siga para a análise de gases, que é feita como em qualquer outro carro. “Os veículos com mais de 30 anos devem se atentar ao limite de hidrocarbonetos (HC), muitas vezes alto em virtude do desgaste do motor entre os anéis do pistão e camisa do cilindro, e ao limite de CO, que está relacionado com a mistura ar/combustível”, informa a Controlar. Os motores 151 são dotados de tuchos hidráulicos. Logo, a princípio, não necessitam de regulagem de folga das válvulas. No entanto, se as varetas estiveram ajustadas incorretamente, haverá um ruído característico de “batida de válvulas”. Se as válvulas estiverem plenamente reguladas e não houver alteração nos resultados, siga para a análise dos seguintes tópicos:

1) Ignição: Elimine todas as possíveis fontes na ignição – neste caso, eletrônica -, fazendo as seguintes operações: medição de cabos de vela (1a), da folga do eletrodo das velas, examinar se há folga no eixo do distribuidor (1b), medição da resistência do rotor (1c), medição da tensão da bobina e observar a condição dos contatos na tampa. Se equipado com platinado, verificar o estado e a folga dos contatos assim como o estado do condensador. Falhas no sistema de ignição são um dos principais responsáveis pelo aumento da emissão de HC.

 

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1a

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2) Compressão: Se houver suspeita de problema com a compressão do motor, utilize um medidor de compressão para tirar a dúvida – lembrando que baixa compressão significa alta emissão de poluentes , principalmente o CO.

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3) Carburador: Observe se preserva sua configuração original. As cores dos motores dos Opalas e Caravans dos anos 70 têm cores diferentes com relação a épocas e combustíveis utilizados. Por exemplo, os motores 151 amarelos eram todos movidos a álcool. Já o motor verde da Caravan 1979 da reportagem é alimentado pelo carburador Webber/DFV 228, de corpo simples, mas existem Opalas de mesmo ano/modelo movidos pelo motor 151-S, cuja única modificação é a utilização do carburador Webber/DFV 446, de corpo duplo, que conferia mais potência, mas era mais “beberrão”.

Utilizar um carburador não original, ou modificado, pode aumentar as emissões e impossibilitar a aprovação na inspeção veicular. (3a) “Por exemplo, se os giclês e emulsionadores forem trocados, dificilmente as emissões ficarão dentro dos limites estabelecidos”, afirma Fernando Landulfo. “Se forem instalados componentes de maior diâmetro, a mistura ficará excessivamente rica, aumentando muito o CO. No entanto, se forem instalados componentes de menor diâmetro, a mistura ficará excessivamente pobre, vai diminuir o CO, mas vai aumentar muito o combustível não queimado (HC). O ideal é utilizar o carburador na configuração original”, explica. (3b)

Para garantir seu funcionamento pleno, o carburador deve ser inteiramente desmontado, examinado e montado, e além dos giclês, devem ser examinados o volume da bomba de aceleração e altura de nível de cuba, tudo dentro dos valores especificados pelo fabricante. O mesmo princípio se aplica ao ajuste do sistema de ignição (avanço inicial, avanço centrífugo e a vácuo e ângulo de permanência).

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Colaboração Técnica: M.M.L.M.
Serviços Automotivos

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