Artigo – Combustíveis e mais combustíveis

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Por Fernando Landulfo

É líquido e certo. Pode até apostar. Toda vez que dois ou mais mecânicos se encontram para conversar sobre os defeitos que aparecem no cotidiano da oficina o combustível entra na pauta, e quase sempre como o vilão da história. Também, com tanta adulteração presente no mercado: é gasolina batizada com álcool, álcool batizado com água, gasolina comum vendida como aditivada, mistura de solventes vendida como gasolina Premium. Uma verdadeira “casa da sogra” (com todo respeito às sogras).

As distribuidoras até tentam controlar o produto que é vendido nos postos com suas bandeiras: chaves de tanques codificadas, combustível com DNA, programas de controle etc. O Governo Estadual faz a sua parte caçando a Inscrição Estadual dos estabelecimentos que forem flagrados comercializando combustível adulterado. Mas não tem jeito, aquela MINORIA que não tem um pingo de vergonha na cara, que só quer ganhar dinheiro fácil, continua a burlar os sistemas e vender o seu lixo a preço de produto de primeira. E quem é que arca com o prejuízo? O consumidor é claro. Ou seja: todos nós.

Isso sem falar nas mudanças de formulação impostas pelo Governo Federal: uma hora aumenta a quantidade de álcool na gasolina, algum tempo depois diminui… As montadoras (nacionais ou estrangeiras) ficam quase “loucas”. Afinal de contas, produzir veículos mais econômicos e menos poluentes, que necessitam da mais alta tecnologia, sem ter a disposição do mercado um combustível de qualidade e formulação estável, tornou-se uma tarefa quase heroica. E as cobranças (que vem de todos os lados) são constantes.

O mecânico, então, é o profissional que mais pena com essa situação. Afinal de contas, é ele que tem que manter funcionando, e bem, todos esses veículos que utilizam essas “maravilhas” nos seus motores.

O combustível adulterado provoca uma série de problemas, de curto médio e longo prazo. Irregularidades na marcha lenta, falta de potência, excesso de poluentes, consumo elevado e falhas de aceleração, são exemplos típicos de problemas de curto prazo. Na grande maioria das vezes, a simples substituição do combustível elimina os sintomas. O problema é que esses combustíveis costumam mascarar sintomas, dificultando o diagnóstico. Ou seja: mais trabalho para o mecânico.

No entanto, quando combustíveis de baixa qualidade são utilizados por períodos prolongados, a situação tende a se agravar muito. A formação de depósitos no interior do motor, principalmente nas válvulas, tende a trazer consequências graves, que exigem intervenções corretivas trabalhosas e caras.

Mas afinal de contas quais são os combustíveis utilizados no Brasil? Quais as suas características básicas?

Gasolina

A gasolina é um derivado do petróleo, de composição complexa, constituído por hidrocarbonetos de pequena cadeia carbônica, o que lhe proporciona a característica de ser “mais leve” do que outros derivados do petróleo. No Brasil, a gasolina comercializada (especificada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP) possui também outros compostos, como o álcool etílico anidro (sem água), o MTBE (Metil, Terc-Butil-Éter) além de outros aditivos. Para o mercado nacional são especificados quatro tipos básicos de gasolina:

Gasolina tipo A: É a gasolina produzida pelas refinarias e entregue diretamente às distribuidoras. Trata-se basicamente de uma mistura de naftas, numa proporção tal que a enquadre numa determinada especificação. Ainda dentro da refinaria, é aditivada com antioxidantes. É a base das gasolinas comuns e aditivadas comercializadas postos revendedores.

Gasolina tipo A Premium: É uma gasolina que apresenta uma formulação especial, possuindo maior octanagem do que a gasolina tipo A. Nela se encontram as naftas craqueadas, reformadas a alquiladas. Entregue diretamente às companhias distribuidoras, é a base da gasolina Premium comercializada nos postos revendedores.

Gasolina tipo C: Preparada pelas distribuidoras, é a base para dois produtos comerciais:

1) Gasolina Comum: quando se adiciona a gasolina do tipo A de álcool etílico anidro (cuja porcentagem, em volume, depende da legislação vigente) e corantes.

2) Gasolina aditivada: quando além do álcool etílico anidro, também são adicionados à gasolina tipo A aditivos detergentes e controladores de depósitos.

Estas duas gasolinas devem apresentar uma octanagem no mínimo igual a 80 (MON) e um índice de octanagem (IAD) de, no mínimo, 87.

Gasolina tipo C Premium: Chamada comercialmente de Gasolina Premium, é a gasolina obtida mediante a adição, pelas companhias distribuidoras, de álcool anidro, corantes e aditivos detergentes e controladores de depósitos à gasolina tipo A Premium.

Esta gasolina deve apresentar um índice de octanagem (IAD), no mínimo, igual a 91.

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Etanol (álcool)

É utilizado no Brasil como combustível para motores e aditivo para a gasolina. Quando utilizado como combustível, deve ser diluído em água (hidratado), podendo também ser acrescido de uma pequena quantidade de gasolina. No entanto, quando utilizado apenas como aditivo antidetonante para a gasolina, substituindo os tóxicos compostos de chumbo, não deve ser diluído (anidro). Seja qual for a sua utilização, deve ser produzido e distribuído segundo especificações determinadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Pode ser obtido de extratos da cana de açúcar, beterraba ou batata.

Sua densidade relativa média é de 0,79, podendo, no entanto, variar de acordo com a diluição e do teor de gasolina nele presentes. Vale a pena ser mencionado que esse valor tende a aumentar à medida que o álcool vai sendo hidratado.

Apresenta uma octanagem superior à da gasolina, permitindo que os motores trabalhem com taxas de compressão e avanços de ignição maiores, o que proporciona um maior rendimento, menor formação de depósitos nas câmaras de combustão, além de menor emissão de gases poluentes, sem a inconveniência do fenômeno da detonação. Por outro lado, por gerar, durante a combustão, uma quantidade de energia menor que a gasolina, aumenta significativamente o consumo do veículo.

Gás Natural Veicular (GNV)

Mistura de hidrocarbonetos leves, contendo predominantemente metano, etano, propano, além de outros componentes de maior peso molecular. Contém baixos teores de contaminantes tais como nitrogênio, dióxido de carbono, água e compostos de enxofre. Geralmente encontra-se acumulado em rochas porosas no subsolo, sendo frequentemente acompanhado por petróleo. Como combustível automotivo, possui qualidades excepcionais como ser pouco poluente, produzir poucos resíduos no interior das câmaras de combustão, ter uma elevada octanagem (maior que a do álcool), ser facilmente controlável e ser comercializado, até o presente momento, a preços bem reduzidos. No entanto reduz a potência do motor e exige um elevado investimento inicial com a conversão do veículo, facilmente amortizado se muito utilizado.

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Bibliografia: Manual Completo do Automóvel. Volume 1. O Motor – Fernando Landulfo & Equipe Técnica Hemus. Editora Hemus.

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