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Artigo – Carro elétrico: o jovem centenário está de volta

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Por Fernando Landulfo

Lançado oficialmente no final do ano passado, o Chevrolet Volt utiliza tração elétrica, alimentada por uma bateria, que pode ser recarregada em uma tomada comum. A primeira vista, sua autonomia média de modestos 60 quilômetros não impressiona. No entanto, um pequeno e eficiente motor de combustão interna, cuja única função é impulsionar um gerador, estende a autonomia em até 500 respeitáveis quilômetros adicionais, a um custo muito, mas muito tentador mesmo. O veículo é classificado como híbrido do tipo plug-in. No entanto, como apenas o motor elétrico está ligado às rodas, a General Motors considera o Volt um autêntico veículo elétrico.

 

Agora, muito se engana quem pensa que os veículos elétricos são uma novidade, criada pela necessidade de conservação do meio ambiente e/ou economia de combustível. No final do século XIX e início do século XX, os carros elétricos competiam de igual para igual com os de tração por combustão. Analistas da época afirmavam todos os tipos iriam coexistir. E não era por menos. A tração elétrica gozava de uma enorme simpatia do público e da comunidade científica.

 

A respeitada revista Scientific American, de 1899, defendia fervorosamente os veículos elétricos, alegando que a eletricidade eliminava dispositivos complicados, associados aos motores de combustão, evitando assim ruídos, vibrações e os calores associados aos mesmos. Inventores renomados, como Thomas Edison, promoviam esses veículos ou tomavam parte no seu desenvolvimento. Além disso, muitos usuários preferiam utilizar os carros elétricos para evitar a utilização da incômoda e perigosa manivela de partida do motor, e de manipular um complicado sistema de troca de marchas.

 

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Painel da Fiat: velocímetro e consumo de energia são informados ao motorista

 

Em 1900, cerca de 28% dos carros produzidos nos Estados Unidos eram elétricos. E mais! No Salão do Automóvel de Nova Iorque daquele mesmo ano a quantidade de carros de tração elétrica exposta superava a dos equipados com motores de combustão interna ou a vapor.

 

No entanto, no final dos anos 20, o carro elétrico era um produto comercialmente morto. Em 1905, os veículos a gasolina começaram a tomar a dianteira, no quesito popularidade. E as razões eram bem simples: eram mais baratos, apresentavam maior autonomia e um custo operacional bem mais baixo. Isso, sem falar na descoberta de grandes campos de petróleo, que fez os custos operacionais cair ainda mais. Entre 1906 e 1910 tornou-se evidente que o carro elétrico tinha um desempenho inferior.

 

Além disso, naquela época, não havia qualquer preocupação com a poluição do ar, ou o déficit da balança comercial gerado pelas importações de petróleo. Logo, não havia razão em se gastar tempo e dinheiro com o desenvolvimento de uma tecnologia que, naquele momento, se mostrava inferior. Para piorar ainda mais a situação, o surgimento do motor de arranque elétrico em 1912 tornou os motores de combustão interna ainda mais atraentes.

 

O carro elétrico ficou meio que “engavetado” até meados doa anos 60, quando a poluição produzida pelos veículos automotores, em áreas urbanas, tornou-se uma preocupação para os governantes. Os projetos que surgiram no final da década visavam aumentar a autonomia e velocidade máxima. Grandes fabricantes, como a Ford, General Motors e Renault chegaram a produzir alguns protótipos. No entanto, como as velocidades de cruzeiro e autonomias deixavam muito a desejar, os projetos acabaram fracassando.

 

A vez do meio ambiente

 

A crise do petróleo dos anos 70 e a preocupação com a preservação do meio ambiente deram novas esperanças para os carros elétricos. Mas as motivações para o desenvolvimento do programa, agora, eram políticas e econômicas. As questões ambientais apenas consideravam o uso de carros elétricos para a melhoria da qualidade do ar. Apesar das iniciativas governamentais, os consumidores continuavam não vendo razões para comprar carros elétricos lentos e de baixa autonomia.

 

Nas décadas de 80 e 90, após um período de pouco desenvolvimento, o entusiasmo pelo carro elétrico ressurgiu. Os veículos começaram a ter um progresso marcante, ganhando apoio de governantes, ambientalistas e fabricantes. No final dos anos 90, tendo a consciência ambiental como um dos tratores, tem-se a introdução dos veículos híbridos. No Brasil, destaca o trabalho desenvolvido pela Gurgel na década de 80, com o veículo Carajás, que chegou a fazer parte da frota operacional da Telesp.

 

Como funciona:

 

Várias são as formas de se construir um veículo elétrico. A configuração mais simples é exibida na figura a seguir. O mecanismo opera a partir de um conjunto de baterias, alimentando um conversor eletrônico que, por sua vez, aciona um motor elétrico. Este motor fornece torque às rodas por meio uma transmissão convencional dotada de uma embreagem diferencial.

 

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Como alternativa, pode-se eliminar a embreagem diferencial, como exibido na figura 2. Neste caso, faz-se necessária a utilização de dois conversores e dois motores elétricos independentes. O efeito da embreagem diferencial é obtido eletronicamente, impondo-se velocidades levemente distintas para cada um dos motores e suas respectivas rodas.

 

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A figura 3 exibe um outro tipo de construção, que utiliza motores ligados diretamente às rodas. Sua grande vantagem sobre os demais é que permite um sistema de tração nas quatro rodas. Além disso, possibilita a construção de ônibus de piso baixo. No entanto, exige o uso de motores especiais de pequena dimensão.

 

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Desempenho esperado:

 

Não há dúvidas de que o carro elétrico, assim como seu irmão movido a motor de combustão interna, deve atender a todos os tipos de tráfego. No entanto, não é possível estabelecer um único padrão que represente simultaneamente todos os diferentes segmentos da população de veículos, assim como as necessidades dos seus usuários. Por isso existem: carros compactos, carros de família, carros de alto luxo, esportivos de alto desempenho, utilitários, caminhões, ônibus, vans, etc. Cada um deles dotado de um conjunto de características.

 

Umas das principais características que definem um veículo é a autonomia. No caso dos automóveis totalmente elétricos, esta característica esta diretamente ligada a capacidade de armazenamento do sistema de baterias. A frenagem regenerativa é outra característica fundamental. Neste caso, deve ser considerado um torque de frenagem suficientemente alto, associado a uma elevada corrente de recarga da bateria. A dirigibilidade do veículo também é muito importante. O veículo deve oferecer um elevado torque de arranque, uma resposta rápida e estável do motor, além de estabilidade e uma frenagem eficiente e controlável. Além disso, por razões de conforto a taxa de variação de potência do motor deve ser bastante limitada.

 

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Ainda não se sabe como será o abastecimento desses veículos quando chegarem ao mercado

 

E o que muda para o mecânico?

 

Bem, sem sombra de dúvidas, o “Guerreiro das Oficinas” terá que aprender a manusear uma tecnologia com a qual não está habituado e, por muitas vezes, nem tem muita zfinidade. Afinal de contas, “se ele gostasse de eletricidade não teria aprendido mecânica”.

 

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Cuidado: o barulho do motor elétrico é tão silencioso que parece que não está ligado

 

No entanto, é preciso lembrar que “tudo na vida muda”. E muitas vezes para melhor! Não foi o que ocorreu com a introdução da eletrônica embarcada nos veículos? Claro que foi! No princípio, houve um pouco de dificuldade até que a tecnologia fosse dominada. Mas depois… As oficinas ficaram cheias de serviço, gerando excelentes resultados. Isso sem falar que o profissional passou a trabalhar mais limpo, com equipamentos de alta tecnologia, foi obrigado a se aprimorar e tantos outros benefícios.

 

Então calma! Não há necessidade de entrar em pânico. Primeiro: porque o carro elétrico, apesar de possuir uma propulsão “diferente”, continua sendo um automóvel, cheio de partes mecânicas. Ou seja: a mecânica geral vai continuar existindo. Segundo: porque o motor de combustão interna ainda vai frequentar as nossas ruas por um bom tempo. Terceiro: porque aprender a trabalhar com esse novo tipo de tecnologia abrirá ainda mais os horizontes do profissional, permitindo ganhos ainda maiores. Quarto: porque no Brasil a tração elétrica está ainda no período inicial, permitindo que os profissionais tenham tempo suficiente para se preparar devidamente. É só mergulhar de cabeça no mundo da eletricidade e correr para ajudar o cliente!

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