Saiba como identificar problemas e substituir corretamente o braço de suspensão dianteiro do Hyundai HB20 de primeira geração, incluindo os valores de torque de fábrica
Barulhos e folgas na suspensão podem ter diversas origens, afinal, trata-se de um sistema formado por várias articulações trabalhando constantemente. A bandeja (ou braço de suspensão) está sujeita a impactos que absorve durante a rodagem e, em caso de buracos mais profundos e colisões com meio-fio, por exemplo, as possíveis deformações consequentes em sua chapa podem alterar os ângulos de roda (geometria) do veículo e, também, prejudicar o trabalho dos demais componentes.
As peças de metal-borracha, como buchas da bandeja, podem ser diagnosticadas visualmente se houver rompimento por tração ou ressecamento. Porém, há a possibilidade de elas apresentarem problemas mesmo sem esse indício visual. Por isso, em caso de suspeita, o diagnóstico do sistema deve ser analisado ponto a ponto. E o reparo, embora conhecido, precisa seguir passos determinados para evitar erros.
Nesta reportagem, o consultor técnico da Nakata, Eduardo Guimarães, fez o diagnóstico e a substituição da bandeja de suspensão dianteira do Hyundai HB20 de primeira geração, ano/modelo 2014. O veículo estava com 101 mil km rodados e apresentava uma leve folga na roda dianteira. Embora o pivô estivesse com perda significativa de torque, indicando final de vida útil, a substituição completa foi feita em caráter preventivo.
Esse tipo de operação deve começar sempre pelo diagnóstico, levantando o veículo e examinando as rodas e estado geral da suspensão. “Como vamos trabalhar na parte inferior do veículo, é sempre importante a utilização do EPI: óculos de segurança, sapato e luvas”, reforça Eduardo. As ferramentas e procedimentos corretos devem ser seguidos e o momento do aperto final das fixações na peça nova também requer cuidados.
DICAS DE DIAGNÓSTICO PARA BANDEJAS DE SUSPENSÃO
Fonte: Nakata
Problema: Trincas, fissuras e/ou ruptura das soldas na bandeja.
Causas: Impacto violento e/ou sobrecarga; desgaste natural
Consequências: Desligamento da roda do chassi/quebra do pivô; rupturas na estrutura; ruídos na suspensão
Problema: Pinos folgados
Causas: Impacto violento com buraco ou lombada; desgaste natural.
Consequências: Desgaste irregular dos pneus/alteração na geometria de suspensão; barulhos na suspensão; desbaste nas buchas da bandeja/comportamento instável do veículo; trinca na estrutura (chapa).
Problema: Bandeja empenada, amassada ou fora de esquadro
Causas: Impacto violento com buraco, lombada etc.
Consequências: desgaste Irregular dos pneus/alteração na geometria da suspensão; veículo puxa para os lados; veículo não dá alinhamento; desgaste prematuro de pivôs, amortecedores e demais componentes.
Problema: Bucha com folga, rompida, tubo interno da bucha solto, desgaste nas faces
Causas: Impacto violento ou sobrecarga; regulagem inadequada dos ângulos de direção; pivôs folgados; rodas desbalanceadas; desgaste natural; aperto dos fixadores da bandeja com o veículo suspenso; amortecedores e molas inoperantes; deformação no chassi/monobloco (colisão), travessas ou agregados.
Consequências: Desgaste irregular nos pneus; barulhos na suspensão/desvio de trajetória (puxando); roda “bamba”/ruídos/estalo; vibração no volante; trinca da estrutura (chapa); diminuição da vida útil das buchas da bandeja; perda de estabilidade direcional; impossibilidade de alinhamento/alteração da geometria de suspensão e direção.
PROCEDIMENTO DE DIAGNÓSTICO E RETIRADA DA BANDEJA
1) Com o carro suspenso a meia altura, verifique se as rodas apresentam folga no sentido da torre de suspensão ou no sentido da articulação da bandeja. Pegue pelas laterais do pneu e faça o movimento de um lado para outro: primeiro na horizontal (1a), depois na vertical (1b). Eduardo Guimarães identificou que parecia existir uma pequena folga no sentido transversal, que poderia vir das buchas.
2) Levante mais o carro para, com uma alavanca (tirante), examinar a folga e possíveis ruídos dos três pontos de fixação da bandeja: a bucha horizontal (2a), a bucha vertical (2b), mais o pivô (2c). Nessa verificação mais próxima, o consultor técnico da Nakata levantou a suspeita de que a bucha vertical apresentava ruídos e uma pequena folga. Seria necessário examiná-la mais de perto, fora do veículo, para confirmar o problema.
3) Inicie a remoção da bandeja pelo pivô, utilizando uma chave de boca 19 mm para soltar sua porca de fixação. Atente-se para o pouco espaço de movimentação da chave. É necessário paciência e cuidado para não espanar essa porca nem bater a mão contra a própria bandeja.
4) A porca de fixação não tem espaço suficiente para ser removida com o pivô dentro de seu alojamento na manga de eixo. Por isso, Eduardo utilizou uma ferramenta chamada cajado (referência Raven 103009) (4a). Com essa ferramenta, é possível articular a bandeja para baixo com segurança para desencaixar o pivô e permitir a remoção da porca (4b).
5) Siga para a bucha horizontal (dianteira). Seu parafuso de fixação de cabeça hexagonal 17 mm é bastante longo. A proteção plástica do cárter até permite espaço para o uso de uma chave-catraca com soquete, mas atrapalha bastante. Se possível, utilize para sua remoção uma chave combinada já catracada.
6) Já na fixação da bucha vertical (traseira), há uma contraporca de fixação do parafuso. Afaste a proteção plástica e posicione as chaves, ambas 19 mm.
7) Remova a bandeja de seu alojamento e analise-a fora do veículo para confirmar o diagnóstico.
ANÁLISE DA PEÇA ANTIGA E DA PEÇA NOVA
8) Faça a inspeção visual da bandeja. As buchas (8a) estavam em bom estado. Mesmo a bucha vertical estava íntegra (8b), apesar do sintoma apresentado anteriormente. Porém, o pivô apresentava perda de torque (8c). Com isso, há duas opções: trocar a bandeja por completo ou somente o pivô, que pode ser substituído separadamente (ele é preso por um anel-trava e instalado por interferência). Eduardo, técnico da Nakata, seguiu com a troca completa da bandeja por prevenção e para conhecimento do procedimento.
Obs: Além das articulações, outro ponto a ser observado é a chapa da bandeja. A que foi removida do HB20 da reportagem estava na dimensão correta, sem trincas ou deformações. Alterações nesses parâmetros afetam a geometria do veículo.
9) A bandeja nova (código Nakata NBJ9004DP) vem completa, com já com as buchas e o pivô. Este último vem ainda com uma porca de fixação nova e proteção plástica para evitar rupturas ou qualquer outro dano na coifa tanto no transporte como no estoque. Não se esqueça de preencher o termo de garantia na compra da peça.
INSTALAÇÃO DA PEÇA NOVA
10) Antes de instalar a bandeja, verifique os alojamentos das buchas no quadro de suspensão. Não podem apresentar deformações. Na instalação, encaixe primeiro a bucha vertical (traseira), depois a horizontal (dianteira) e, por último, o pivô. Apenas posicione os parafusos no lugar nesse momento.
11) Para torquear a porca de fixação do pivô, é necessário apoiá-lo por baixo, com algum calço ou até mesmo manualmente, e utilizar soquete especial para adaptação do torquímetro com para permitir esse tipo de encaixe. De acordo com a Hyundai, o torque de aperto nessa porca é de 59 a 89 Nm.
12) Já para torquear a fixação das buchas, a recomendação é fazer o aperto com a bandeja o mais plana possível – ou com a roda apoiada no chão ou com a bandeja apoiada em um cavalete, ou em uma rampa de alinhamento para que não haja torção da bucha dianteira. Neste caso, foi utilizado um cavalete. “Se eu aperto esse parafuso com o veículo no alto e abaixo o veículo depois, a peça, que é de metal-borracha, sofre um cisalhamento (desplacamento) e vai se estragar já na instalação”, adverte o especialista da Nakata.
13) O torque no parafuso da bucha vertical (traseira), segundo a Hyundai, é de 157 a 176 Nm.
14) Já no parafuso da bucha horizontal (dianteira), 118 a 137 Nm.
15) O torque de aperto dos parafusos das rodas é 110 Nm.
Obs: Não se esqueça de conferir alinhamento e balanceamento após qualquer serviço de reparo no sistema de suspensão do veículo.
Mais informações – Nakata: 0800-707-8022
Texto & fotos Fernando Lalli