Aumento da frota circulante cria cenário favorável para a reposição

Seminário da Reposição Automotiva traça projeções otimistas para toda a cadeia, de fabricantes de autopeças a oficinas; entretanto, a necessidade de evolução em diversas áreas precisa ser discutida
 
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Representantes de todos os elos do mercado de reparação e reposição se reuniram nesta terça-feira, 18/08, na sede da FIESP em São Paulo/SP para o 21º Seminário da Reposição Automotiva. Neste ano, os assuntos discutidos estiveram debaixo do guarda-chuva do momento econômico do país e as oportunidades que estão sendo geradas para o futuro dos negócios. Destaque para o levantamento da necessidade da normatização do processo de garantia na relação entre fabricantes, distribuidores, varejistas e oficinas.

 

O evento começou com mensagens positivas de dirigentes das entidades Sindipeças, Andap, Sicap, Sincopeças-SP, Sindirepa Nacional e Sindirepa-SP e GMA. Entre as autoridades, o presidente do Sindirepa-SP e Sindirepa Nacional, Antonio Fiola, também coordenador do evento, avaliou que o mercado está num momento de profissionalização. Por sua vez, o presidente do Sincopeças-SP, Francisco de La Tôrre, sublinhou a entrada de mais de 3,7 milhões de veículos no mercado de reposição que estão saindo da garantia de fábrica. Paulo Butori, presidente do Sindipeças, observou que, enquanto a venda da indústria para montadoras está em queda, a reposição e exportação estão crescendo.
 
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Para traçar o cenário atual do mercado, um dos palestrantes, Martin Bodewig, diretor da Roland Berger, apresentou resultados do estudo sobre o mercado automotivo brasileiro feito pela empresa de consultoria. Segundo os números divulgados, a projeção para a recuperação do volume de vendas das fabricantes de automóveis vai ser lenta: dos esperados 2,6 milhões de unidades em 2015, espera-se que o mercado volte ao patamar acima dos 3 milhões apenas em 2018. No entanto, a frota de veículos no Brasil tende a crescer 3% ao ano constantemente até 2020.

 

Para a reposição, a faixa de veículos entre 3 e 15 anos tende a aumentar significativamente até o final da década, criando uma boa base para o mercado de reposição. Destaque para modelos SUVs que cada vez mais tomam espaço no segmento de médios. Entre veículos pesados, o mesmo deve acontecer com os semipesados, explicou Martin.

 

O mercado total da reposição em 2014, de acordo com o levantamento da Roland Berger, foi de R$ 23,1 bilhões, considerando apenas peças e fluidos. Através da análise do estudo, Martin acredita que a reposição irá continuar crescendo 4,6% ao ano até 2020, puxado pelo aumento da frota de veículos leves, e não será afetado pelo momento atual da economia brasileira. Pelo contrário, com a queda da venda de veículos novos, o estudo constata que o consumidor está demorando mais tempo para trocar de veículo, o que estimula a manutenção do carro que ele tem nas mãos. “Ainda que os consumidores deixem de fazer a manutenção preventiva, tem a corretiva, esta é imprescindível para que o veículo continue rodando”, contou.

 

Essa mudança no mercado já está acontecendo e o diretor da Roland Berger já enxerga movimentos, como o varejo e distribuidores muito competitivos, as oficinas independentes que precisam conviver com as redes de serviços e as concessionárias enxergam o mercado de reposição como negócio interessante diante da queda das vendas de veículos novos. “Várias montadoras estão criando modelos para atrair o consumidor”, observou.  Outras questões levantadas são a chegada e a consolidação do comércio eletrônico de autopeças, estimulado pela necessidade de disponibilidade da peça de acordo com a demanda.

 

Porém, o presidente do Sindirepa Nacional, Antônio Fiola, ressaltou que há desafios a serem superados, como a necessidade de qualificar a mão de obra, facilitar o acesso às informações técnicas para aplicação da peça e convencer o motorista a cuidar de forma preventiva do veículo.

 

A garantia na reposição
 
Em painel que reuniu um membro de cada elo do setor, foram discutidas soluções que simplifiquem o processo de garantia. Mediado por Antonio Fiola, o painel teve a participação de Alfredo Bastos (MTE-Thomson), Antonio Carlos de Paula (rede distribuidora Pellegrino), Ricardo Carnevalle (loja JoseCar) e Eduardo de Oliveira Neves (Centro Automotivo Nipo Brasileiro).

 

Representando a indústria, Alfredo Bastos da MTE-Thomson comentou que a garantia, além de ser uma relação comercial de alto custo, envolve a lei do consumidor, pequenas causas, redes sociais, Reclame Aqui, por isso é um tema de grande preocupação do setor. “O problema é apresentado em 1,5% das peças e 94% e 95% delas estão em boas condições”, afirmou.

 

Na opinião de Antonio Carlos, da Pellegrino, a garantia é uma relação de consumo contra uma relação de mercado, e o setor precisa se unir e encontrar uma forma de fazer uma padronização do procedimento. “No balcão da loja abrange a lei do consumidor e a partir dali a tratativa é de acordo com a regra de cada fabricante”, declarou.

 

Antonio atentou também que, mesmo em casos de erros de aplicações das peças, os fabricantes oferecem a garantia de cortesia, mas o custo é alto pelo caminho que a peça tem que percorrer: sai da fábrica, vai para o distribuidor, varejo, oficina e consumidor e, depois, tem de fazer o caminho inverso. Outro empecilho citado por ele é a legislação tributária, que gera dificuldades e gastos elevados para a maioria dos distribuidores que tem redes espalhadas pelo Brasil.

 

Mas é no balcão da loja que a relação fica complexa – tão complexa que é necessário um departamento exclusivo, treinado pelos fabricantes, para atender a garantia e fazer a pré-análise do produto. “Lidamos com a insatisfação dos clientes e a segurança do veículo. Há duas situações a venda direta ao consumidor final e a direta ao aplicador, ambos utilizam a legislação do consumidor”, explicou Ricardo Carnevalle, da JoseCar.

 

Representando as oficinas, Eduardo de Oliveira Neves, do Centro Automotivo Nipo Brasileiro, traçou o panorama de quem precisa dar garantia ao cliente e receber do restante da cadeia. “Substituo a peça para satisfazer o cliente e aí começa a tarefa com o componente ao fabricante. Muitas vezes, a garantia demora 1 ou 2 meses para ser resolvida”, relatou.

 

Especializado no setor de reposição, o advogado Odair de Moraes Júnior toda a cadeia responde para o consumidor, independente de culpa, e deve fazer a prova que não houve o problema. Ele ainda afirmou que futuras normas de garantia devem ser baseadas no Código de Defesa do Consumidor e, desde que haja consenso, funcionará.

 

O mediador Antonio Fiola conclamou Sindirepa-SP e Sindirepa Nacional, Andap, Sincopeças-SP e Sindipeças para ser unirem e desenvolverem uma norma ou padronização de procedimentos de garantia, pois todo o segmento tem prejuízo. “Não dá para cada um fazer do seu jeito”, declarou Antonio Fiola. “O setor de reparação independente é responsável por 80% da manutenção dos veículos. Mas, temos de fazer a diferença e criar um procedimento para avançar neste setor”, ressaltou.

 

Necessidades do mercado
 
Três palestras falaram aos presentes sobre adequações e alternativas para seus negócios. O advogado do departamento jurídico da Fiesp, Leandro de Paula Souza, palestrou sobre o eSocial, documento único padronizado dos dados de folha de pagamento que será enviado à Receita Federal. Prevista para entrar em vigor em 2016, esta medida que visa maior rigor na fiscalização acarreta custos e investimento em software e treinamento de profissionais. Empresas de grande porte serão as primeiras a serem obrigadas a adotar o eSocial.

 

Dentro do processo de informatização do setor, dois recursos foram apresentados. O primeiro foi o TecDoc, banco de dados que abriga o maior catálogo eletrônico de autopeças da Europa e que agora chega ao mercado brasileiro. Heloísa Monzani, diretora da TecAlliance no Brasil, falou que a base de dados do sistema é a frota circulante do País e que os dados fornecidos pelos fabricantes de autopeças são consolidados e padronizados em uma única plataforma, o que facilita a pesquisa de várias formas, seja por modelo do veículo, código de referência da peça, sendo possível fazer comparativos entre as marcas. “É um serviço que facilita o trabalho de distribuidores, varejo e oficinas. É possível identificar a peça correta para o veículo, garantindo agilidade no serviço”, acrescentou Heloísa.

 

O outro recurso apresentado é o aplicativo de celular Carro 100%, que funciona como uma agenda das manutenções do carro avisando a hora da revisão de 25 componentes do automóvel. “Mostra os itens dos veículos que estão em estado crítico e em boas condições. Os usuários que utilizarem o aplicativo podem receber medalhas de segurança, economia, meio ambiente e ainda há a nota geral do veículo”, explicou Emerson Mello, responsável pela área de reposição do Sindipeças e assessor do GMA.

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