Nenhum risco de trabalho deve ser ignorado na oficina, mas incêndios de origem elétrica requerem treinamento especial para serem combatidos
A profissão do mecânico sempre foi assombrada por alguns riscos: acidentes (cortes, quedas, prensagens, pequenas queimaduras, projeção de objetos, explosões, choques elétricos etc.), contaminações (tétano), alergias, intoxicações e doenças profissionais (Lesões por Esforço Repetitivo). Sim, é um trabalho perigoso.
Lamentavelmente, muitos desses riscos se concretizam, deixando muitos de nossos colegas incapacitados temporariamente ou permanentemente. Outros, infelizmente, não estão mais aqui conosco. Mas esses acidentes poderiam ter sido evitados? Sim, poderiam. Mas ocorreram por uma sequência de fatalidades, temperada por condições de trabalho e atos inseguros.
E a razão disso tudo é simples: tragicamente, a segurança no trabalho, até pouco tempo, nunca foi uma grande preocupação do mecânico. Uma verdade dura, mas que precisa ser dita.
Felizmente, depois de muito trabalho de conscientização, esse quadro tem mudado. O Guerreiro das Oficinas entendeu que certas medidas de segurança, como o uso de EPI e a manutenção dos seus equipamentos e ferramentas, são gastos inúteis e amolações. São investimentos – na vida.
Existe ainda um risco que eu considero o mais trágico de todos: o incêndio. E por essa razão o trato de forma destacada dos demais.
Fácil de começar, difícil de conter, mesmo para os profissionais, o incêndio já destruiu vidas, famílias e propriedades. E a oficina sempre foi um campo muito fértil para a sua ocorrência e proliferação. Casos e mais casos são comentados nas “rodinhas de bate papo” que ocorrem entre colegas. Aqueles que acabam bem são lembrados com certo ar de humor. Outros não.
O pior é que, somente depois que a tragédia ocorre, o profissional se lembra de recarregar os extintores, deixá-los onde deveriam ficar (não, eles não incomodam nem tomam espaço) e fazer um treinamento de como prevenir e proceder em inícios de incêndio. Treinamento este que pode salvar a propriedade do cliente, o seu negócio, a sua vida e a de seus funcionários. Não, apenas o seguro não basta!
A chegada dos veículos elétricos e híbridos trouxe uma dúvida para dentro das oficinas: será que esses veículos têm risco reduzido de incêndio, devido aos sofisticados sistemas de segurança embarcados?
Realmente, a segurança embarcada, ligada à tração elétrica, é primorosa nesses veículos. O risco de choque elétrico e curtos circuitos na rede de alta potência, desde que sejam obedecidos os procedimentos recomendados e as normas de segurança, é baixo.
Esses sofisticados sistemas de proteção também impedem o superaquecimento da bateria de tração durante a sua operação (carga e descarga). Nesse ponto é importante lembrar que essas baterias podem, em alguns casos, operar com 220 V. Isso sem falar na tensão de tração que pode chegar aos 650 V.
Mas se houver um descuido não previsto pelos projetistas… Nunca podemos esquecer que a “Lei de Murphy” impera: “Se algo pode dar errado, vai dar”.
Não há nada mais difícil de conter do que incêndio eletricamente provocado. Principalmente aqueles que tem origem em baterias (basta assistir aos vídeos na Internet). Quando essas baterias, por alguma razão, têm a sua resistência interna aumentada, a possibilidade de superaquecimento durante a operação aumenta muito.
Isso sem falar na corrente de curto circuito (de valor infinito) que provoca altíssimas temperaturas no elemento acumulador de carga e no circuito. Corrente essa que só cessa quando o elemento está descarregado. É rápido? Sim, com certeza. Mas o tempo é suficiente para inflamar materiais não metálicos. Daí…
Mas o sistema não tem dispositivos de segurança? Sim, tem! Mas estamos falando daqueles descuidos que não podem ocorrer, mas que infelizmente as vezes ocorrem. Logo, é preciso saber o que fazer para que um incidente não se transforme numa tragédia.
E para isso é preciso treinamento especial, além do técnico na reparação desses veículos, com foco no quesito segurança:
– Treinamento em NR 10;
– Treinamento em combate a incêndio de origem elétrica;
– Primeiros socorros em eletrocussão.
Mas isso não é o bastante. É preciso estar devidamente equipado para trabalhar combater fogo nesse tipo de veículo:
– Ferramentas adequadas;
– EPI adequado;
– Extintores adequados.
Quais equipamentos adquirir e como os usar, com certeza, será indicado nos treinamentos sugeridos.
Artigo por Fernando Landulfo
Gostaria de fazer um treinamento desse.