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Artigo – Se o mecânico não recomendar, o cliente não vai comprar



Já faz algum tempo que o mercado tem se deparado com veículos equipados com conjuntos mecânicos (motor, transmissão etc.) cuja reparação ou reforma não é considerada possível pelos fabricantes. E por conta disso, muitos “Guerreiros das Oficinas” se viram obrigados a passar (e ainda passam) por alguns “apuros”.

Por Fernando Landulfo

POR EXEMPLO:

a) Informar o seu cliente que não há no mercado componentes genuínos ou originais (sob medida ou não), para reformar o motor que superaqueceu por acidente (engripando o pistão contra o cilindro), ou mesmo, que perdeu a compressão por desgaste. A única solução (recomendada pelo fabricante) é a compra de um motor parcial novo a um custo totalmente fora do seu alcance. O mesmo se aplica a algumas transmissões do tipo CVT, cujo fornecimento de peças de reposição era ou ainda é vedado, dependendo do caso.

b) Buscar uma solução economicamente viável, sem prejuízos a técnica (segurança e durabilidade) e a legalidade.

O curioso é que as razões para tais restrições de fornecimento nunca foram totalmente esclarecidas. Muitas hipóteses foram levantadas a respeito desse assunto.

a) – Falta de confiança na competência do mecânico. Todo mundo sabe que o mecânico da atualidade é muito preparado tecnicamente. Muitos são engenheiros mecânicos com especializações feitas, até mesmo, no exterior. Logo, esse argumento não se sustenta.

b) – Necessidade de ferramentas, equipamentos e técnicas especiais de produção (usinagem, desmontagem e montagem). A competente e versátil indústria brasileira de ferramentas e equipamentos tem plena capacidade de produzir qualquer tipo de ferramenta ou equipamento especial, a um preço bastante competitivo. Por sua vez, as oficinas e/ou retíficas de ponta tem condição de adquirir qualquer tipo de equipamento industrial especial, necessário para fazer os procedimentos recomendados. Além do mais essas empresas costumam ser dirigidas por competentes engenheiros mecânicos. Mais um argumento que não se sustenta.

c) Diminuir o tempo do reparo e de permanência do carro na oficina. Ar¬gumento discutível. Até que ponto isso vale a pena para o mecânico?

D) Aumentar os lucros com a venda de peças de reposição, usando a restrição como um tipo de reserva de mercado.Argumento também discutível. Até que ponto isso vale a pena para os fabricantes?



Pois bem, em países onde a renda per capita é elevada, até se poderia tentar justificar tal prática (trocar o conjunto por um novo). Mas aqui? Como justificar ao proprietário de um veículo, com mais de 10 anos que o conserto vai custar mais caro que o valor do carro no mercado? E mais, que ele jamais recuperará esse in¬vestimento? É claro que, por conta disso, muitas reparos não são realizadas. No seu lugar tem-se a troca do componente por um usado obtido em desmanche.

Isso é bom para o cliente? Claro que não. Ele se vê forçado a instalar no seu veículo um conjunto usado, cujo histórico e estado real detalhado não é conhecido. E depois que a mirrada garantia fornecida pelo desmanche acabar… Só as divindades sabem o que pode ocorrer. Além do mais, o cliente precisa gastar tempo e dinheiro para legalizar o com¬ponente transplantado.



Isso é bom para o mecânico? Claro que não. Ao invés de realizar uma reparação técnica, baseada em componentes de primeira qualidade e procedimentos similares ao da fábrica, cuja garantia pode ser fornecida com segurança, ele, para atender o seu cliente, se vê obriga-do a fazer uma simples substituição de conjunto, cujo estado real, por vezes, não conhece por completo.

Isso é bom para o meio ambiente? Claro que não. Segundo o Prof. Dr. Paulo Sergio Germano de Carvalho, uma das referências em engenharia mecânica no Brasil, a não reutilização dos conjuntos aumenta a demanda por materiais e insumos, que precisam ser extraídos da natureza. Isso sem falar na energia excedente consumida.

Isso é bom para o país? Claro que não. Essa prática estimula o consumo de partes oriundas de desmanches. A maioria é honesta. Mas existem aqueles que vendem peças oriundas de furto ou roubo. O registro de motores por parte dos Detran tem coibido um pouco essa pratica. Mas todo mundo sabe que “pinar” um bloco de motor é totalmente possível.



E para piorar as coisas, a tendência ao uso desse tipo de conjunto (descartável) parece estar aumentando.
É claro que, como o brasileiro é um povo muito criativo, não demora muito tempo para alguém acabar descobrindo alguma forma de adaptar peças de outros conjuntos para fazer uma reparação. E muitos usuários juram de pé junto que o resultado é excelente.

Agora, o mais curioso é que, para a surpresa do mecânico e posteriormente do cliente (para o seu alívio), quando ele pesquisa no mercado estrangeiro, por muitas vezes, aquilo que era impossível se torna possível. Ou seja: disponibilidade de peças de reposição (sob medida ou não, produzidas por renomados fabricantes renomados e fornecedores de montadoras), especificações técnicas, ferramentas especiais e equipamentos. Ué? Por que será? Alguém sabe responder?



Resultado: o profissional fica enfurecido (com razão) e estigmatiza o modelo de veículo. Ou seja, passa aos seus clientes que aquele determinado mode¬lo é muito difícil e caro de consertar. Consequência: o cliente foge do mesmo que nem o diabo da cruz. E não adianta o fabricante gastar milhões com propagandas, feirões e promoções e fazer discursos sobre a alta tecnologia do seu produto: se o mecânico de confiança disse que um determinado veículo é uma “bomba”, o cliente não compra.

Mas parece que alguns fabricantes ainda não entenderam essa relação de amizade e confiança entre o mecânico e o seu cliente. Vamos deixar mais claro, então: facilitar a vida do mecânico é ter garantida a melhor de todas as propagandas. E, ainda por cima, gratuita.

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