Na hora de escolher o que colocar dentro do arrefecimento deve prevalecer o bom senso: os motores evoluíram e os aditivos também
Artigo por Fernando Landulfo
Um dos assuntos que mais tem gerado discussão dentro das “rodas” de mecânicos entusiastas, presenciais e virtuais, é o quais produtos utilizar nos sistemas de arrefecimento. E como a internet dá oportunidade para todos se expressarem, muitos mitos acabam surgindo e viralizando. Alguns deles até algum embasamento técnico/científico. Já outros não passam de pura crendice.
É claro que o Guerreiro das Oficinas sempre procura seguir à risca as especificações técnicas e recomendações dos fabricantes de cada modelo. Sobretudo no que diz respeito à fluidos e lubrificantes. E não é para menos. Ele sabe muito bem que uma aplicação errada, pode provocar um dano gravíssimo no veículo do cliente. Dano esse que gera, além de um prejuízo financeiro enorme, aborrecimentos e a perda da confiança do cliente. Algo, por sinal, muito difícil de reconquistar.
Mas como a internet se encontra inundada de informações, muitas vezes de origem conhecida, por vezes o profissional a acaba ficando em dúvida se realmente está tomando o caminho correto.
Como exemplo, pode-se citar o uso de óleo solúvel como aditivo para os sistemas de arrefecimento, ao invés dos produtos à base de etilenoglicol. Está errado? De acordo com o manual de instruções para motores industriais da Mercedes-Benz do Brasil, do ano de 1987, está corretíssimo:
“Utilizar no sistema de arrefecimento somente água beneficiada. Denominamos água beneficiada, a adição de 10 cm³ de óleo solúvel anticorrosivo para cada litro de água utilizado no sistema. (Para compensar pequenas perdas de água por evaporação, adicionar ao sistema somente água limpa)” (p. 26).
Note que a água recomendada para se misturar com o óleo solúvel é descrita apenas como água limpa. Uma definição muito ampla, que abrange desde a água desmineralizada, passando pela água de chuva (via de regra, ácida), água de condensação de ar-condicionado (contém sais minerais), água de poço (contém sais minerais), até chegar na água oferecida nas torneiras pelas concessionárias de saneamento (contém cloro, flúor e sais minerais). Desde que fosse limpa… Servia. Afinal de contas, o comportamento do óleo solúvel pouco se alterava com o PH da água utilizada, ou mesmo, com a presença de sais mineiras na mesma.
Naquela época, aqueles motores, que trabalhavam sob aquelas condições, equipados com aqueles radiadores aceitavam bem esse fluido.
Só que estamos no ano de 2022! Tudo está diferente. Os motores evoluíram e junto com eles os sistemas de arrefecimento e os seus respectivos fluidos. A recomendação atual em dia é utilizar água desmineralizada junto com o aditivo homologado (a grande maioria dos aditivos genuínos é à base de etilenoglicol) ou fluido oferecido já preparado.
Frescura? Claro que não! Trata-se apenas de uma simples precaução contra possíveis ataques químicos e/ou corrosão galvânica sobre os materiais que compõem os modernos motores e respectivos sistemas de arrefecimento. Além de garantir que o aditivo não reaja com outras substâncias e funcione plenamente.
Mas e se numa situação de reparo de emergência a água desmineralizada e o aditivo recomendado não estiverem disponíveis?
Se isso acontecer, hora de fazer uso do bom senso. Situação de emergência é situação de emergência. Muitas vezes é preciso tirar o cliente de um determinado local. Ou fazer com que ele possa seguir viagem até uma localidade com melhores recursos. Nessa situação, “se não tem tu, vai tu mesmo”.
Ou seja: utiliza-se o que há disponível, que mais se assemelhe com o produto genuíno. Mas sempre de forma clara e transparente para o cliente, que precisa autorizar.
O bom senso – algo que o Guerreiro das Oficinas tem de sobra – também diz que tudo o que é feito nessas condições é temporário e precisa ser revisto posteriormente, na primeira oportunidade, sob condições técnicas mais favoráveis. E sob essas novas condições faz-se a reparação definitiva com todos os produtos recomendados.
Mas é importante ressaltar: não é porque essas soluções temporárias são eventualmente recomendadas que devem se tornar permanentes. Insisto: bom senso! Se antigamente funcionavam, é porque as temperaturas de funcionamento eram muito mais baixas, os motores trabalhavam com muito mais folga e os materiais utilizados toleravam fluidos desse tipo.
Hoje, a engenharia moderna de motores não permite mais qualquer fluido no arrefecimento. São outros tempos, outros aditivos, outras tecnologias.
REFERÊNCIAS:
MERCEDES BENZ DO BRASIL S/A. Manual de Instruções Motores Industriais OM-314, OM-352, OM-352-A, OM-355/5, OM-355. São Bernardo do Campo: Mercedes Benz do Brasil S/A, 1987.