Arrefecimento – Substituição da válvula termostática do Volkswagen Gol G4 1.0 2006

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Confira os procedimentos de diagnóstico do sistema de arrefecimento, análise dos componentes e a substituição da válvula termostática, além do seu alojamento no Volkswagen Gol G4 2006 com motor 1.0 8v EA111

texto Vitor Lima | fotos Fernando Lalli & Lucas Porto

A válvula termostática é um componente que faz parte do sistema de arrefecimento do veículo e possui a função de garantir que a temperatura do motor esteja na faixa adequada de trabalho.

Para que a temperatura do motor respeite os limites máximos de trabalho projetados pelo fabricante, a válvula termostática faz o controle do fluxo do líquido que circula no sistema de arrefecimento entre o radiador e o motor.

Ao acionar o motor do veículo – como o mesmo ainda está em temperatura ambiente – a fim de que a sua temperatura de trabalho ideal seja alcançada, a válvula termostática permanece fechada. Dessa maneira, o fluxo do líquido circulante no sistema é bloqueado nas galerias do motor, uma vez que o lubrificante absorva mais calor que é emitido pela câmara de combustão e realize a troca térmica com o líquido de arrefecimento.

A abertura da válvula é gradativa, conforme o motor atinja a temperatura ambiente de trabalho determinada pela montadora. Isso permite que o líquido de arrefecimento localizado no radiador siga seu fluxo, comece o processo de troca dos fluidos e, literalmente, controle a temperatura do lubrificante em circulação no motor.

Vale ressaltar que, dentro de uma mesma linha de motores, uma mesma fabricante pode apresentar projetos de alojamentos (cúpulas de válvulas termostáticas) diferentes, pois, dependendo da região global que o veículo é comercializado, pode haver diferenças como a utilização de mais de um sensor acoplado à cúpula para medição dos parâmetros de temperatura do fluído.

É o caso do Volkswagen Gol G4 1.0 8v 2006. O modelo foi vendido no mercado não só com motor transversal como também em versões de trem de força longitudinal, como a unidade desta reportagem, reparada pelo técnico proprietário da Mingau Automobilística, Edson Roberto de Ávila, o “Mingau”, com a assistência do Consultor Técnico da Indústria Iguaçu, Igor Barros.

Gol G4 1.0 8v 2006

CUIDADO COM O USO INDEVIDO DE SILICONE  (VEDADOR SEMISECATIVO)

Durante o processo de remoção dos componentes do VW Gol G4 desta reportagem, foi constatado o uso excessivo de silicone para vedação de conexões da tubulação de acoplamento das mangueiras como também no assentamento da cúpula da válvula termostática com o cabeçote do motor. A principal consequência desse procedimento errôneo é a perda da própria capacidade de vedação dos componentes, que pode comprometer o bom funcionamento inclusive da válvula termostática.

Acoplamento das mangueiras

Segundo Mingau, o assentamento entre válvula e cabeçote apresentava corrosão galvânica provocada pelo excesso de água no fluido de arrefecimento combinado ao oxigênio que entrava lentamente no sistema devido à ausência de vedação provocada pelo uso de silicone. “O silicone cria uma camada, e ela não permite com que o anel de vedação cumpra com a sua função”, apontou o técnico. “O anel de vedação, não cumprindo com a sua função, com o tempo, ele permite que o oxigênio interfira e adentre na parte de vedação, produzindo uma reação química e trazendo essa corrosão galvânica”, conclui Mingau. O veículo havia passado por uma revisão no sistema de arrefecimento anteriormente e rodou apenas 10 mil km desde então.

O consultor técnico da Indústria Iguaçu, Igor Barros, também alerta que, além de ser aplicado em uma região indevida, pedaços do silicone se desprenderam e foram parar no alojamento da válvula termostática. “Muitos desconhecem essa informação, mas a válvula termostática tem uma abertura de 12 milímetros. O excesso de silicone muitas vezes ultrapassa essa abertura da válvula, causando uma obstrução. O que era solução vira um problema. Esse excesso (foto ao lado) pode parar também dentro do radiador, não só afetando a válvula termostática como todo o sistema de arrefecimento”, conclui.

Outro passo importante para o sucesso do procedimento nesse motor 1.0 EA111 da Volkswagen é a remoção do coletor do sistema de admissão. Embora ele não faça parte do sistema de arrefecimento, sua localização implica na correta remoção e instalação do conjunto, onde a tubulação é instalada na parte traseira da bomba de circulação do líquido de arrefecimento.

“A remoção do coletor é para facilitar o acesso visual de maneira clara o procedimento que você está fazendo”, comenta Igor Barros da Iguaçu, sobre a montagem do tubo que faz a conexão entre a cúpula da válvula termostática e a bomba de circulação do líquido de arrefecimento. Ele explica: “quando você tem o coletor instalado, ele limita a visão correta do procedimento. Ao fazer a instalação do tubo na parte traseira da bomba muitos profissionais não retirando o coletor, instalam o tubo e a consequência é a má instalação do anel de vedação, ocasionando o vazamento.”

Anel de vedação

Diagnóstico do sistema de arrefecimento

1)         Com o capô aberto, retire a tampa do vaso expansor (1a). Após, é possível verificar se há existência de bolhas no de ar no líquido de arrefecimento (1b).

Foto 1a e 1b

2)         Utilize um manômetro para o teste de pressão do sistema de arrefecimento (2a), juntamente com um equipamento de diagnóstico como, por exemplo um scanner (2b) e um termômetro a laser.

Foto 2a e 2b

3)         Não pressurize o sistema! Ligue o motor do veículo e faça o monitoramento do sistema de arrefecimento até o momento em que o sistema de ventilação forçada entrar em operação. Após o sistema de ventilação entrar em funcionamento, verifique se o valor de pressão está compatível com a temperatura apresentada no equipamento de diagnóstico que realize esta leitura.

Foto 3

4)         Para analisar o fluido do sistema de arrefecimento, uma ferramenta que pode facilitar em um simples diagnóstico é o refratômetro. Este tipo de ferramenta adianta um problema existente com o sistema de arrefecimento causado pela falta de aditivo na mistura. O equipamento é necessário para indicar se a diluição entre água desmineralizada e o aditivo estão em proporções corretas. Utilize uma pipeta para retirar uma pequena amostra do líquido de arrefecimento (4a). Coloque a amostra no prisma de análise do refratômetro (4b) e (4c).

Foto 4a 4b e 4c

5)         Observem como está a composição da amostra do líquido de arrefecimento com o refratômetro. A imagem apresenta colorações diferentes em azul e um tom mais claro (5a). A coloração mais clara indica a quantidade de monoetilenoglicol (aditivo) existente na mistura. A imagem (5b) mostra o monoetilenoglicol puro, sem diluição com a água desmineralizada. A dilução correta que deve ser observada no refratômetro para este véiculo é de 40% de aditivo e 60% de água desmineralizada.

Foto 5a e 5b

Remoção da cúpula da válvula termostática

6)         Eleve o veículo para ter acesso a mangueira inferior do radiador, solte sua abraçadeira e efetue o escoamento do líquido de arrefecimento.

Foto 6

7)         Na parte superior do motor, retire a mangueira que é acoplada com o sistema do filtro de ar. Remova a caixa do filtro.

Foto 7

8)         Remova todos os pontos que são fixados ao coletor do sistema de admissão (8a). Comece pela mangueira de combustível, retire a mangueira do sistema de partida a frio (8b).

Foto 8a e 8b

9)         Retire o conector elétrico do corpo de aceleração.

Foto 9

10)       Na sequência, faça a remoção da mangueira dedicada a recirculação dos gases do reservatório de combustível (10a), utilize um alicate especial para afrouxar a abraçadeira elástica e desconectar a mangueira do servo freio (10b).

Foto 10a e 10b

11)       Ao lado do coletor do sistema de admissão, faça a remoção do conector do sensor de depressão.

Foto 11

12)       Para ter mais espaço de trabalho no procedimento, faça a remoção do suporte que contém as conexões elétricas destinada aos eletroinjetores.

Foto 12

Obs: Tenha cuidado ao retirar as travas do suporte, pois devido ao seu tamanho pequeno, é possível perdê-la com facilidade.

13)       Agora, com o acesso aos parafusos do coletor do sistema de admissão, faça a retirada deles utilizando uma chave Allen 6 (13a) e o remova por completo (13b).

Foto 13a e 13b

14)       Retire o conector elétrico da bobina do sistema de ignição (14a). Em seguida, solte os parafusos da bobina com auxílio da chave Allen 5 (14b).

Foto 14a e 14b

15)      Para ter acesso as mangueiras do sistema de arrefecimento, faça a remoção do suporte do chicote elétrico.

Foto 15

16)       Ao analisar as mangueiras laterais do sistema de arrefecimento, foi observado a utilização de silicone (vedador semissecativo) como elemento vedante em sua conexão (16a) e (16b). O técnico, Mingau, adverte sobre a anulação da garantia caso as mangueiras apresentem algum problema: “Se ocorrer alguma deficiência em um componente desse, isso não vai beneficiar no processo de garantia. Possivelmente, o profissional vai ter que arcar com a responsabilidade da instalação”, conclui Mingau.

Foto 16a e 16b

17)       Após a retirada das conexões, Mingau faz um alerta com resquícios do silicone em sua mão, sobre o funcionamento do sistema de arrefecimento devido a utilização do vedante em local inapropriado: “Essa vedação estava na parte interna do tubo, ela desprendendo e entrando no fluxo do sistema de arrefecimento implica na funcionabilidade da própria válvula, onde o funcionamento dela será inadequado”. E completa com uma das possíveis consequências deste procedimento: “Todo o processo pode ser pedido. Detalhe, fazendo com que o motor sofra um dano maior por conta do excesso de temperatura, exatamente pelo mal funcionamento da válvula.” conclui.

Foto 17

18)       Faça a remoção das mangueiras superior (18a) e inferior (18b).

Foto 18a e 18b

19)       Desconecte o conector do sensor de pressão de óleo lubrificante e o conector do sensor de temperatura do líquido de arrefecimento.

Foto 19

20)       Utilize um soquete 10mm para remover os 3 parafusos que prendem o conjunto da cúpula. Comece pelo parafuso inferior, facilitando o processo de remoção nesta ordem.

Foto 20

21)       Após a retirada, é possível verificar a quantidade de vedante utilizado e os danos causados por ele no componente. Os pontos em branco, perceptíveis no componente, são sinais de início de corrosão, causada pela utilização do silicone.

Foto 21

22)       Analise as condições no ponto de contato do cabeçote e a cúpula. Foi verificado os danos causados devido ao uso de silicone.

Foto 22

23)       Com isso, a verificação dos danos causados no componente (23a) e (23b) foi simplificada. O indício no componente próximo de um dos dutos de conexão da mangueira apresentou um nítido vazamento do líquido do sistema de arrefecimento (23c).

Foto 23a-23b-23c

Análise dos componentes na bancada

24)       Retire o duto que conecta a cúpula da válvula termostática com a bomba de circulação. O duto não apresentou nenhum sinal da utilização de vedante.

Foto 24

25)       Com a cúpula (25a) e o coletor do sistema de admissão (25b) na bancada, faça uma inspeção geral dos componentes.

Foto 25a e 25b

 

26)       Retire o sensor de temperatura da cúpula e analise o seu estado.

Foto 26

 

27)       Com um soquete 10mm retire os parafusos e remova a válvula termostática. Analise o componente e verifique se há sinais da utilização de vedante em algumas partes da válvula.

Foto 27

 

Obs: Esse tipo de utilização pode causar obstrução e superaquecimento do motor, devido ao mal funcionamento gerado pelo uso do silicone.

 

28)       Na parte interna da cúpula da válvula termostática, há resquícios do vedante utilizado.

Foto 28

 

29)       Caso o componente removido seja original de fábrica ou possua o tampão do segundo orifício da cúpula, analise suas condições. Esse tampão fica ao lado do sensor de temperatura. Verifique se há ressecamento, trincas ou algum tipo de impureza. No componente que Igor Barros levou para exemplo, a tampão de polímero possuía contaminação, além da existência de dois o’rings para vedação, enquanto o componente necessita apenas de um o’ring para vedação. Isso denota uma instalação incorreta anterior.

Foto 29

 

30)       Utilize a chave torx T30 para remoção dos 4 parafusos de fixação do corpo de aceleração.

Foto 30

 

31)       Ao retirar o corpo de aceleração, note que há contaminação no anel de vedação do coletor (31a), apresentando umidade, caracterizando uma possível entrada de ar pelo local. Devido à contaminação sofrida pelo corpo de aceleração (31b), há necessidade de realizar o processo de descontaminação.

Foto 31a e 31b

 

32)       Remova a membrana do coletor de admissão (32a). A mesma serve para manter equilibrada a pressão dentro do coletor do sistema de admissão, atuando como uma válvula de alívio, evitando a pressão excessiva (32b).

Foto 32a e 32b

 

33)       Faça análise da membrana com o novo componente ao lado. Verifique o nível de contaminação que o componente sofreu.

Foto 33

 

Instalação da cúpula com a válvula termostática

 

34)       Com a nova cúpula e seus anéis de vedação instalados, utilize um pouco de lubrificante que não seja derivado de petróleo nos pontos de vedação (34a) e (34b). Essa pequena quantidade, serve para facilitar no deslizamento ao montar o componente.

Foto 34a e 34b

 

35)       Utilize o soquete de 10 mm para fixar os parafusos da cúpula da válvula e aplique o torque de 10 Nm

Foto 35

36)       Faça a sangria do sistema com a nova mistura do líquido de arrefecimento. Preencha pelo reservatório de expansão (36a), instale o mesmo manômetro usado no teste de estanqueidade. Utilize um alicate especial para retirar a mangueira de retorno do reservatório de expansão (36b) e a coloque em um reservatório para que não haja desperdício do líquido de arrefecimento (36c). Mediante o processo de pressurização se inicia a circulação do líquido no sistema para retirada do ar existente.

Fotos 36a-36b-36c

 

Obs: Conforme o nível diminua no reservatório de expansão, coloque mais líquido da nova mistura e repita o processo. Ao preencher o reservatório, repita o mesmo processo por duas vezes, utilizando o mesmo líquido que foi removido anteriormente nesse procedimento.

 

37)       Após o procedimento de retirada de ar do sistema, caso os níveis de diluição de aditivo estejam menores, deixe o reservatório de expansão preenchido com menor quantidade e acrescente mais aditivo na diluição até que os níveis estejam conforme o recomendado.

Foto 37

 

38)       Conecte a mangueira do retorno de volta ao reservatório de expansão. Note que foi utilizado um estrangulador para que não ocorra a despressurização do sistema (38a), dessa forma o sistema se mantém semi pressurizado. Efetue o teste de estanqueidade do sistema. A pressão de trabalho para este veículo que é de 1bar (38b).

Foto 38a e 38b

 

Obs: O restante do procedimento de montagem segue a ordem inversa da desmontagem, com os cuidados adicionais a seguir.

 

39)       Na montagem dos parafusos de fixação da bobina, utilize torque de aperto de 10 Nm.

Foto 39

 

40)       Na montagem dos parafusos de fixação do coletor do sistema de admissão, utilize torque de aperto de 20 Nm. Faça o aperto começando pelo parafuso do centro e partindo para as extremidades.

Foto 40

 

41)       Após a montagem de todos os componentes, funcione o motor e confira a evolução da temperatura e pressão do sistema de arrefecimento concluindo a eficácia do procedimento de manutenção do sistema.

Foto 41

 

Colaboração técnica:
Mingau Automobilística: (11) 4742-1024

Mais informações: Iguaçu: (11) 94010-9692

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