A evolução dos veículos modernos, com a incorporação massiva de Sistemas Avançados de Assistência ao Condutor (ADAS), impõe um novo patamar de conhecimento e investimento nas oficinas mecânicas. Estes sistemas, que utilizam uma complexa rede de sensores, radares e câmeras para aumentar a segurança e o conforto, exigem procedimentos de manutenção, reparo e, principalmente, calibração extremamente precisos. Diego Riquero Tournier, explicou pontos que os mecânicos devem ter em suas oficinas com veículos que possuem esse sistema.
Componentes Chave e Funcionalidades ADAS
O coração dos sistemas ADAS reside na fusão de dados de diversos componentes de alta tecnologia. As câmeras, que podem ser frontais de longo alcance (até 80 metros), laterais (úteis para o ponto cego, como a detecção de um motoboy) ou de ré, utilizam a visão noturna por infravermelho para garantir a operação 24 horas. Essas câmeras, especialmente as do tipo estéreo (com mais de uma lente), conseguem gerar imagens em 3D, facilitando o cálculo e a interpretação de objetos pelo software.
Em paralelo, o radar de alcance longo (até 200 metros, geralmente na dianteira) e o radar de alcance médio (que pode estar na traseira) operam com altíssima precisão, na frequência de 77 GHz. O radar emite ondas que, ao rebaterem em um objeto, permitem o cálculo exato da distância e da velocidade de aproximação. Já os sensores ultrassônicos (com alcance de até 5 metros) são vitais para o assistente de estacionamento, detectando a proximidade de obstáculos em manobras.
A combinação e a comunicação entre esses componentes geram funcionalidades críticas:
Controle de Cruzeiro Adaptativo (ACC): O veículo acelera e freia sozinho, mantendo uma distância segura do carro à frente, a partir da leitura de câmeras e radares.
Frenagem Preditiva de Emergência: A eletrônica calcula a massa de movimento do veículo e a distância para a frenagem. Se o motorista estiver distraído e não agir, o sistema pode acionar os freios com toda a força, prevenindo acidentes, pois, como citado, “a eletrônica ajuda, mas não supera as leis da física”.
Assistência de Faixa e Reconhecimento de Sinais: A câmera é capaz de ler as linhas da pista e “os sinais de trânsito”, alertando o condutor sobre desvios de faixa ou excesso de velocidade.
Controle de Iluminação: O sistema identifica veículos na contramão e ajusta a intensidade ou desliga seletivamente os faróis para evitar cegar outros motoristas, mantendo a visibilidade máxima.
Vista Envolvente (Surround View): A união de câmeras de ré, laterais, radares e sensores ultrassônicos cria a “vista bird’s eye” (visão de pássaro), crucial para a assistência e alerta de trânsito em estacionamentos e engarrafamentos.
O Imperativo da Calibração ADAS
A manutenção em veículos com ADAS não se limita à substituição de peças. A calibração dos sensores e câmeras é o procedimento mais crítico. Um radar mal posicionado, com um desvio de ângulo mínimo, pode “passar a mentir na medição”, causando um erro de metros na detecção de um objeto a 200 metros. Isso pode levar a “um comportamento estranho quando [o carro] vai fazer uma curva, ele freia e ele dá umas corrigidas de volante”.
A calibração é obrigatória em diversas situações:
- Reparações de Carroceria: Qualquer batida ou reparo que mexa na base onde o sensor ou radar está instalado.
- Troca de Para-brisa: Como a câmera frontal de longo alcance está fixada no para-brisa, sua substituição exige o reposicionamento e calibração da câmera.
- Ajustes de Chassi e Geometria: Modificações significativas na altura, suspensão ou qualquer alteração na geometria da direção que não seja um simples alinhamento.
- Troca do Componente ADAS: A substituição do radar, câmera ou sensor danificado exige calibração para o novo componente.
O procedimento de calibração se divide em:
- Calibração Estática: Utiliza ferramentas específicas (targets ou gabaritos) fornecidas pelas montadoras. O scanner (software de diagnóstico) se comunica com a central do veículo para ajustar o ângulo de inclinação e a distância do sensor em relação ao centro do veículo. Este procedimento exige um piso muito plano, o controle da pressão dos pneus e a ausência de carga no porta-malas.
- Calibração Dinâmica: É feita em movimento, com o auxílio do scanner. O veículo deve ser conduzido em velocidade constante (ex: 60 km/h) em uma via com trânsito e marcações de faixa, permitindo que o sistema se calibre “com os objetos, com os outros carros, com caminhões”.
Oportunidade de Mercado e Investimento
A frota de veículos com ADAS está em franca expansão, a previsão é de que, até 2030, represente 22% do total de carros. Este crescimento transforma a manutenção ADAS em um negócio lucrativo.
O investimento inicial necessário para equipar uma oficina com scanners atualizados, targets específicos e capacitação técnica varia, mas é significativo. No entanto, o tempo de serviço é curto (em média, 1 a 2 horas), e o valor cobrado por uma calibração é substancialmente superior aos serviços tradicionais, com oficinas especializadas cobrando uma média elevada por procedimento. Diante desse panorama, o mecânico precisa acompanhar a evolução do mercado para decidir se deve “investir nisso” ou se especializar para garantir o futuro do seu negócio, pois a tecnologia ADAS não é mais uma exceção, mas sim a regra da indústria automotiva.



