Num mercado em que a evolução passa em alta velocidade, as tendências do que vêm por aí são ditadas pela tecnologia que já são utilizadas na indústria automotiva e logo estará na sua oficina como parte real do seu trabalho
Algum dia, passeando pelo Salão do Automóvel, você se deparou com um desses carros-conceito e se perguntou: “será que esse veículo vai chegar na minha oficina?” Aposto que sim e aposto também que você já recebeu vários conceitos para reparar na sua oficina, com a única diferença de que eles já tinham se tornado veículos de série. Isso acontece porque todo carro já foi um conceito e o que hoje é nova tecnologia, pode tranquilamente ser realidade daqui a alguns anos.
É lógico que para você receber um desses carros, já como de linha, se esforçou muito para saber um pouco sobre sua mecânica e tecnologia embarcada. E assim vai ser de agora por diante: todo mecânico vai ter que aprender para enfrentar com sucesso o que vem por aí. Para nos ajudar nesse sentido, o auditor de serviços do IQA (Instituto da Qualidade Automotiva), José Palacio, vai contar um pouco das armas necessárias para trabalhar numa oficina do futuro, seguindo as tendências do mercado já!
“A palavra ‘tendência’ quer dizer para onde estamos caminhando, qual é o rumo que será seguido daqui pra frente. E no mercado de reposição não é diferente, existem tendências que ditam o caminho a seguir, e esse caminho só pode ser trilhado por quem se prepara e se dedica a ele. Esse é o primeiro passo do mecânico que quer se destacar no futuro: se atualizar sempre”, reflete Palacio.
Reparação no passado
Para sentir como será a reparação no futuro, não podemos deixar de nos lembrar do tanto que a oficina e o profissional evoluiram nas últimas décadas. Nos anos 80 era difícil o mecânico pensar o que ele teria em mãos no futuro. “A oficina não tinha perfil de qualidade, não havia a preocupação com o ambiente de trabalho, muito menos com a natureza. Além disso, não havia equipamentos sofisticados para detectar falhas, tudo era feito na base da tentativa e da eliminação”, relembra o auditor.
Palacio explica que o mecânico fazia um acordo com a loja de varejo e pegava as peças por consignação. Depois de aplicada, se solucionasse o problema, estava bem, se não solucionasse, devolvia a peça e tentava outra. Isso se seguia até que o problema do carro fosse corrigido.
Em relação ao profissional, o que contava era a habilidade do mecânico. Ele era como um amigo do cliente, que conhecia o seu carro e sabia o que tinha de errado pelo barulho, pelo cheiro e pela aparência. “O profissional tinha conhecimento prático, sendo que a maior parte deles aprendia com outro mecânico mais velho, que nem sempre teve o estudo teórico necessário para isso. Ele aprendia olhando, tentando e trabalhando no dia a dia”, comenta.
Na verdade, o bom mecânico tinha, além da habilidade, um espírito mais curioso e perfeccionista, que fazia com que ele fosse buscar informações, se aperfeiçoar, mesmo com muito mais dificuldade do que existe hoje. “Nas oficinas, sempre teve aquele mecânico que sabia mais, ele comandava o bom trabalho. Mas não tinha onde buscar informações, o SENAI não oferecia tantos recursos como atualmente, pois ainda não tinha a estrutura automotiva que tem hoje”, avalia.
Palacio diz que quem conseguia um pouco mais de subsídios eram as redes de concessionárias, por conta das informações de lançamento passada pelas montadoras. Mas nada disso chegava aos independentes. A rivalidade entre eles era muito mais forte do que hoje.
O ambiente de oficina era precário, muito mais masculino, via de regra, com chão de terra batida e folhinha de mulheres sensuais pendurada na parede. Muita sujeira, graxa, estopas e materiais espalhados sem organização. O mecânico não era uniformizado e muito menos usava uma identificação.
A relação com o cliente era somente em relação ao atendimento no reparo do veículo, sem pensar se ele tinha ou não ficado satisfeito. Os empresários não tinham noção de pesquisa de trabalho, de marketing ou divulgação, apenas o boca a boca funcionava para expandir o negócio. “A confiança no amigo mecânico era maior porque na hora que encontrava um cara bom, que consertava o seu carro, aquele era o homem de confiança. Quando o mecânico trocava de oficina e o cliente percebia, migrava com o mecânico”.
O carro também não era nada tecnológico, essa era a realidade da ocasião. Os materiais que eram utilizados na época eram convencionais, não tinham equipamentos ou ferramentas específicas, nem oficina especializada. “Naquela época também não tinha sido aberta a importação de veículos, então as oficinas trabalhavam somente com carros nacionais. Pouquíssimas oficinas tinham equipamentos suficiente para fazer reparo em carro importado”, diz Palacio.
Quando um carro quebrava na estrada, o proprietário já tinha consigo algumas chaves, um alicate, um condensador, um jogo de platinado e uma correia, que eram suficientes para colocar o carro em funcionamento. Só em último caso o socorro mecânico era acionado, o profissional levava uma caixa com ferramentas e caso não conseguisse consertar, o carro era guinchado para a oficina. “Plataforma na época, nem pensar, somente algumas seguradoras é que dispunham dessa modalidade”, lembra.
Palacio acredita que a qualidade do produto naquela época era diferente dos modelos de hoje, por isso existia tanta diferença no reparo em geral. “A manutenção preventiva sempre existiu, mas ninguém fazia. Esperava o carro quebrar para vir consertar, mas da mesma forma que acontece hoje, as peças tinham vida útil, mas ninguém se atentava a esse detalhe importante. Manutenção preventiva, nem pensar”, complementa.
Nos dias atuais
Conforme o carro foi evoluindo, a tecnologia embarcada foi sendo adotada, assim como novos conceitos foram incorporados. “As informações que não existiam hoje começaram a aparecer, pelo menos o mecânico já sabe onde procurar: SENAI, Sindirepas, publicações especializadas como a Revista O Mecânico, embora com certa dificuldade no começo”, afirma Palacio.
A começar pelo ambiente de trabalho, hoje a oficina é mais familiar, muitas mulheres frequentam, é limpa, organizada e voltada para garantir a satisfação do cliente. “Existe uma infraestrutura que vai desde a recepção dos clientes até a entrega do carro. O próprio prédio tem fachada diferenciada. Passamos de oficina mecânica para centro de reparação, com suas especificações e modalidades de trabalho mais focados, com uma preocupação grande também em relação ao meio ambiente, com descarte correto e reciclagem”, observa o auditor.
O profissional também evoluiu, bem como seu grau de escolaridade, diferente do mecânico mais antigo que tinha baixa escolaridade, e começava a trabalhar por falta de opção. “Isso se tornou uma necessidade, pois o carro evoluiu e está mais tecnológico, se o profissional não acompanhar com a escolaridade, ele não consegue efetuar um correto diagnóstico, até porque não consegue ler o scanner, usar o computador, baixar um arquivo, interpretar as falhas, etc”.
Hoje existe a preocupação com treinamento e atualização do profissional, tendo sempre em vista a satisfação do cliente. “Tem que estar constantemente evoluindo e hoje você tem opções de treinamento por meio de fabricantes, fornecedoras, até mesmo das montadoras, por meio das redes de concessionárias. O mecânico de confiança hoje é aquele que tem informações técnicas especificas, que cuida do veículo do cliente e se preocupa com qualidade do serviço e fidelização”.
Há uma gama extensa de ferramentas específicas e especializadas, manuais ou eletrônicas, além de equipamentos de alta tecnologia, scanner de diagnóstico que mostra diretamente o defeito. Tudo isso dentro de um universo que dá ainda suporte técnico e agrega valor aos produtos, oferecendo garantia e treinamento para operação.
O futuro da oficina:
Com o avanço tecnológico que está ocorrendo na indústria, já temos veículos do futuro andando entre nós. São modelos dotados de sistemas tecnológicos tão avançados que chegam até a falar. Hoje temos injeção eletrônica direta, piloto automático, assistente de frenagem, veículos híbridos, sensores de distância, etc.
“Muitos concept-cars se tornaram realidade, e muitos outros virão. Os caminhões estão muito avançados, hoje tem modelos automatizados que usam um joystick no lugar da alavanca de cambio”, observa, ressaltando que até o motorista deve estar atualizado.
“E tudo está acontecendo muito rápido, considerando que a cada ano que se passa os modelos evoluem de tal forma que precisaria de cinco anos se fosse no passado. É claro que a reparação vai seguir esse mesmo caminho, com a mesma velocidade”, afirma Palacio. Ele lembra que antigamente o motorista tinha uma caixa de ferramenta no carro, e hoje leva o cartão da seguradora, pois nem mesmo o mecânico com todo seu conhecimento, mas sem os equipamentos necessários, se arriscaria a mexer num motor moderno.
A tendência do futuro é ter cada vez mais a eletrônica embarcada nos modelos, como já vem acontecendo na Europa, e isso vai exigir cada vez mais conhecimento dos mecânicos que querem ser bem sucedidos. “É bem provável que tanto diagnóstico quanto conserto sejam feitos com ajuda de vídeo e de alta tecnologia, como uma endoscopia ou uma cirurgia a distância”, acredita Palacio.
A oficina vai ser um ambiente tecnologicamente avançado e limpo como um consultório, para poder lidar com tantos componentes eletrônicos com segurança. Os clientes estarão cada vez mais atentos em seus veículos e preocupados com os reparos que vão querer acompanhar o trabalho através de câmeras, o que na verdade já existe em redes mais sofisticadas.
“As informações vão chegar pela internet e o mecânico vai precisar de curso superior, capacitação e desenvolvimento constante para reparar com qualidade o carro do futuro, que, na verdade, não está tão longe assim”, completa Palacio.
Também precisamos de conteúdo para podermos nos atualizar, infelizmente o conhecimento esta nas mãos das montadoras.
Por sorte temos algumas instituições como o Senai / Sindirepa – SP para nos auxiliar com o pouco que conseguem extrair das fabricantes.
precizamos estudar cada vez mais a tecnologia desenvolve muito rapido
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