Renault reforça a eficiência energética de seus automóveis produzidos no Brasil, exibe a linha Z.E. vendida na Europa e anuncia que os veículos elétricos da marca devem surgir no mercado nacional nos próximos 10 anos
Fernando Lalli
Em uma estrutura montada no Velopark, complexo de automobilismo próximo a Porto Alegre/RS, a Renault demonstrou estar preocupada em atrelar sua marca à eficiência energética. Voltado para a imprensa, o Seminário de Eficiência Energética revelou os planos da empresa para o Brasil, criou expectativas para o futuro de sua linha de veículos Z.E. (Zero Emission) por aqui e ainda serviu de base para o anúncio da primeira venda de carros elétricos da fabricante no Brasil.
Durante as palestras, o diretor de relações públicas da Renault, Antônio Calcagnotto, revelou que a montadora espera começar a vender seus veículos elétricos no mercado nacional até 2023, porém, podemos ver esses modelos nas ruas vai acontecer muito em breve: a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), foi a primeira empresa brasileira a comprar unidades dos modelos Kangoo Z.E. e Zoe, totalmente movidos a eletricidade, e que farão parte da frota de trabalho da companhia.
Linha Z.E. da Renault no Seminário de Eficiência Energética
Mas Antônio também enfatizou que o futuro dos motores a combustão é bem mais promissor do que se imagina. O executivo citou um estudo da Universidade de Boston que afirma que, em 2050, nada menos que 60% dos veículos vendidos no mundo ainda terão algum propulsor queimando combustível.
Portanto, amigo mecânico, fique tranquilo: seus conhecimentos sobre injeção, ignição e demais sistemas ainda serão valiosos por muito e muito tempo – mas não custa nada ficar por dentro das novidades, não é mesmo?
Preocupação com o consumo
Enquanto os elétricos não chegam, a Renault trabalha para que sua linha reflita a preocupação da marca com a eficiência energética. Os fatos: a fabricante conseguiu que seis de seus modelos tirassem “nota A” em consumo de combustível no Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro, o que significa que, segundo o instituto de metrologia, tratam-se dos carros mais econômicos de suas respectivas categorias. São eles: Clio 1.0 16V Hi-Power (categoria Subcompacto), Sandero 1.0 16V Hi-Flex (categoria Compacto), Logan 1.0 16V Hi-Flex (categoria Médio), Fluence 2.0 16V Hi-Flex (categoria Grande), Duster 4×4 2.0 16V Hi-Flex (Fora-de-Estrada) e Kangoo Express 1.6 16V Hi-Flex (Comercial Leve). Isso, segundo a fabricante, mostra a preocupação da engenharia da marca com o argumento.
Desses modelos, o Inmetro elegeu o Clio com motor 1.0 16V Hi-Power (80 cv e 10,5 kgfm de torque com etanol) como o carro movido a gasolina/etanol mais econômico do Brasil. A versão equipada ar-condicionado e direção hidráulica registra 9,1 km/l e 9,6 km/l (cidade e estrada) com etanol; e 13,1 km/l e 14,3 km/l (cidade e estrada) com gasolina. Os padrões de medição do Inmetro são específicos, mas são os mesmos para todos os carros vendidos atualmente no Brasil.
A Renault atribui os resultados ao trabalho dos engenheiros em seu centro tecnológico localizado em São José dos Pinhais/PR, responsável por desenvolver veículos voltados especialmente às necessidades de brasileiros e latino-americanos. O Portal O Mecânico já fez uma matéria detalhando as melhorias do motor 1.0 16V Hi-Power para a linha Clio 2014: é só clicar aqui.
Zero emissões ao rodar
A linha Z.E. da Renault é a outra ponta do trabalho da fabricante de automóveis na investida pela eficiência de seus veículos, dispensando o uso de combustíveis fósseis para se movimentar. A tecnologia empregada é a de motores 100% elétricos, sem qualquer auxílio ou sistema híbrido. Quatro modelos compõem a gama: Twizy, Fluence, Kangoo e o novíssimo hatch Zoe, projetado desde o primeiro traço na prancheta para ser totalmente movido a eletricidade.
Para quem não está acostumado, é uma sensação das mais estranhas ver um desses modelos “arrancando”: a aceleração gradual e sem barulho de motor dá a impressão de que alguém se esqueceu de puxar o freio de mão e o carro está descendo “na banguela”. O único ruído inicial é dos pneus com o solo. Pisando fundo, vem o som das outras peças funcionando, mas ainda se assemelha mais ao de uma nave espacial do que com um carro comum. E isso acontece com toda a linha, dando um sabor especial à experiência.
Uma característica inerente a todo veículo com motor elétrico é o alto torque disponível em relação à potência. Por exemplo: o Fluence Z.E. tem apenas 95 cv, mas sua força é de 23,06 kgfm (para feito de comparação, suas versões com motor 2.0 16V HI-Flex, aspirado, tem 20,3 kgfm quando abastecido com etanol). Mais: motores elétricos não têm curva de torque: desde a partida, eles trabalham com força máxima.
Câmbio automático da linha Z.E. tem apenas
uma marcha à frente e uma à ré
Como a potência é baixa e não há relação reduzida de marcha (o câmbio automático dos modelos tem apenas uma marcha à frente e outra à ré), a partida é um pouco lenta, mas por volta dos 30 km/h, a aceleração se multiplica. Todos os modelos da linha têm motor elétrico alimentado por baterias de íon-lítio e, exceto o Twizy, ainda possuem direção elétrica e freios ABS.
Mas seria viável ter um veículo elétrico no Brasil?
De acordo com gerente de inovação da CPFL, Vinícius Teixeira, apesar do senso comum imaginar que a infraestrutura de fornecimento de eletricidade no Brasil não suportaria uma grande frota de carros elétricos, pesquisas da empresa chegaram à conclusão que, mesmo se 10% da frota brasileira fosse composta por esse tipo de veículo, o consumo de energia na rede aumentaria apenas 2% num período de 10 anos. Além disso, ele estima que o custo de consumo de um Renault Zoe seja de apenas R$ 7,00 a cada 200 km, considerando a tarifa elétrica mais cara.
Renault Zoe comprado pela CPFL para integrar sua frota
A manutenção dos modelos também não seria um problema, segundo a Renault. Com a vinda desses modelos, uma rede especializada nesse tipo de tecnologia teria que ser criada, mas a montadora garante que a retífica de um motor elétrico, que é projetado para rodar 10 anos sem manutenção, é mais barata que a de um conjunto a combustão. As baterias de íon-lítio (que são alugadas pela fabricante, e não vendidas, o que diminui o custo para o consumidor) têm garantia de 5 anos e podem ser abertas e remanufaturadas. Ou seja, a única coisa que falta para os elétricos se tornarem totalmente viáveis no país são os incentivos por parte do governo.
Motor elétrico do Renault Zoe: retífica mais barata
que a de um motor a combustão
No exterior, a Aliança Renault-Nissan declara já ter vendido mais de 100 mil unidades dos modelos elétricos das duas marcas. Por aqui, a expectativa é pela inciativa do governo brasileiro de estimular a venda desses veículos diminuindo ou abolindo a carga tributária sobre eles. Os valores da linha Z.E., se fossem importados para o Brasil hoje, seriam proibitivos: Antônio Calcagnotto declarou durante o seminário que um Zoe, que custa 21 mil euros na Europa (o mesmo que um VW Golf de entrada), chegaria ao consumidor brasileiro por quase R$ 215 mil, dado o montante de impostos em cascata sobre ele. Sem os impostos, o Zoe custaria entre R$ 80 mil e R$ 90 mil. Ainda caro, mas plenamente condizente com a categoria dos compactos Premium importados, como Mini e Audi A1.
Ao volante
Essencialmente urbano, o Twizy é mais um quadriciclo do que um carro, e quem diz isso é a própria Renault. Apesar de haver um assento e cinto de segurança atrás do banco do motorista, o espaço não abriga mais do que uma criança. Com apenas 20 cv de potência, ele demora para acelerar. No entanto, sua condução é diversão pura quando se exige o máximo do nas curvas, mas também não convém abusar. Para recarregar o Twizy, é só abrir a tampa plástica na dianteira, puxar o fio e pluga-lo na tomada mais próxima. Sua autonomia de 100 km é mais que suficiente para o uso diário, indo e voltando do trabalho.
Ficha técnica: TWIZY
Arquitetura: Quadriciclo, 2 lugares, 2 portas
Motor: Elétrico, dianteiro, transversal
Tração: Traseira
Potência máxima (ABNT): 17 cv (13 kW)
Torque máximo (ABNT): 7,14 kgfm
Alimentação: Baterias de íon-lítio
Pneus: 125/80 R15
Suspensão dianteira: Dianteira do tipo MacPherson, com rodas independentes, braços triangulares transversais e barra estabilizadora
Suspensão traseira: Independente do tipo Multilink e amortecedores hidráulicos
Freios: A disco (dianteiros) e tambor (traseiros), com sistema ABS
Direção: Elétrica, diâmetro de giro 6,9 m
Câmbio: Automático, uma marcha à frente e uma à ré
Porta-malas: 31 litros
Peso em ordem de marcha: 445 kg
Autonomia: 100 km (ciclo urbano)
Já o Fluence e o Kangoo são bastante conhecidos pelo consumidor brasileiro, que em suas versões Z.E. foram adaptados para receberem a estrutura elétrica. Por isso, têm algumas restrições. No Kangoo, o espaço é grande de qualquer jeito – e se trata de um veículo de carga, afinal –, mas o Fluence, pelo volume das baterias, perdeu mais de 200 litros de capacidade do porta-malas, que caiu de 530 para 317 litros. Mas, o que se perde em bagagem, se ganha em conforto: a ausência de ruído e a aceleração progressiva, com o torque fazendo efeito entre 40 e 70 km/h, faz com que o Fluence Z.E. não deva nada em desempenho urbano para qualquer veículo, além de tratar muito melhor o motorista.
Ficha técnica: FLUENCE Z.E.
Motor: Elétrico, dianteiro, transversal
Tração: Dianteira
Potência máxima (ABNT): 95 cv (70 Kw)
Torque máximo (ABNT): 23,06 kgfm
Alimentação: Baterias de íon-lítio
Pneus: 205/55 R16
Suspensão dianteira: Dianteira, tipo MacPherson, com rodas independentes, braços triangulares transversais e barras estabilizadora
Suspensão traseira: Independente do tipo Multilink e amortecedores hidráulicos
Freios: A disco nas quatro rodas, com sistema ABS
Direção: Elétrica, diâmetro de giro 11,3 m
Câmbio: Automático, uma marcha à frente e uma à ré
Porta-malas (litros): 317 litros
Peso em ordem de marcha: 1.535 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 13,7 s
Velocidade máxima: 135 km/h
Autonomia: 185 km
Ficha técnica: KANGOO Z.E.
Motor: Elétrico, dianteiro, transversal
Tração: Dianteira
Potência máxima (ABNT): 60 cv (44 kW)
Torque máximo (ABNT): 23,06 kgfm
Alimentação: Baterias de íon-lítio
Pneus: 195/65 R15
Freios: A disco nas quatro rodas, com sistema ABS
Direção: Elétrica, diâmetro de giro 11,9 m
Câmbio: Automático, uma marcha à frente e uma à ré
Volume de carga: 3 m³
Carga útil: 650 kg
Peso em ordem de marcha: 1.410 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 20,3 s
Velocidade máxima: 130 km/h
Autonomia: 170 km
O hatch Zoe é a estrela da linha. Revelado no Salão de Genebra de 2012 e lançado neste ano na Europa, seu motor de 88 cv de potência e 22,45 kgfm de torque tem autonomia de 210 km – muito além de seu primo distante, o Nissan Leaf, modelo 100% elétrico mais vendido no mundo, que roda 160 km sem recarregar. Seu desempenho é semelhante ao do Fluence, mas a condução é bem mais ágil. A plataforma é a mesma do Clio, mas seu powertrain e seu aspecto geral estão anos à frente do compacto que conhecemos por aqui. O futuro está bem mais próximo do que se imagina.
Ficha técnica: ZOE
Arquitetura: Carroceria monobloco, dois volumes, cinco lugares, quatro portas
Motor: Elétrico, dianteiro, transversal
Tração: Dianteira
Potência máxima (ABNT): 88 cv (65 kW)
Torque máximo (ABNT): 22,45 kgfm
Alimentação: Baterias de íon-lítio
Pneus: 185/65 R15
Suspensão dianteira: Dianteira do tipo MacPherson, com rodas independentes, braços triangulares transversais e barra estabilizadora
Suspensão traseira:nbBarra de torção, amortecedores hidráulicos
Freios: A disco (dianteiros) e tambor (traseiros), com sistema ABS
Direção: Elétrica, diâmetro de giro 11,9 m
Câmbio: Automático, uma marcha à frente e uma à ré
Porta-malas: 388 litros
Aceleração 0 a 100 km/h: 13,5 s
Velocidade máxima: 135 km/h
Autonomia: 210 km