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Transmissão: Substituição do conjunto de dupla embreagem no câmbio Ford PowerShift

Conheça o procedimento de remoção e instalação do conjunto de dupla embreagem e seus periféricos de acionamento em um câmbio Ford PowerShift para veículos com motor 2.0

 

Instalado nos modelos Focus, EcoSport e Fiesta, o câmbio automatizado de dupla embreagem PowerShift manteve-se por cerca de seis anos na linha de produção da Ford no Brasil. Este câmbio ainda se encontra em dezenas de milhares de veículos rodando todos os dias em nosso país e, como todo sistema, requer manutenção adequada, seja preventiva ou corretiva.

O primeiro veículo Ford lançado no Brasil com a caixa PowerShift foi o SUV EcoSport com motor Duratec 2.0 na virada de 2012 para 2013. Segundo a montadora à época, quando comparado a uma caixa similar automática de seis velocidades, o câmbio PowerShift era 20 kg mais leve e podia fazer troca de marchas em até um terço do tempo, resultando em 10% de redução em consumo de combustível.

Após a reclamação de proprietários dos veículos quanto a sintomas de mau funcionamento (trepidação, principalmente), em 2016, a Ford respondeu oficialmente à notificação do Procon afirmando que os sintomas poderiam ser causados por vazamento de óleo do câmbio pelo retentor da caixa seca, que atingia as embreagens e as contaminava.

Esse sintoma, observou a Ford, também indica final de vida útil do conjunto de dupla embreagem. Porém, a montadora não especifica nos manuais dos veículos períodos de reparo preventivo do sistema ou, mesmo, de troca do óleo do câmbio.

No ano seguinte, a Ford seguiu com o câmbio de dupla embreagem na última reestilização do Fiesta no Brasil, mas com o nome “transmissão sequencial”. Entre as alterações, o câmbio recebeu nova calibração, novo módulo, novos retentores e novo material de atrito das embreagens. Com o fim da produção do compacto no Brasil em 2019, o
PowerShift também saiu de linha.

CONJUNTO DE DUPLA EMBREAGEM

Nesta reportagem, o assistente técnico da Schaeffler, Ricardo Melo, demonstra como fazer a remoção e instalação do conjunto da embreagem dupla do câmbio Ford PowerShift em uma unidade da transmissão projetada para trabalhar com motores 2.0. O procedimento foi feito na sala de treinamentos da Schaeffler em Sorocaba/SP com uma unidade do câmbio PowerShift utilizada para estudos, fora do veículo. A operação focou no passo a passo com a caixa em bancada.

Ricardo ressalta que, para fazer a manutenção no sistema, é obrigatório remover o câmbio do veículo e usar um cavalete específico para fixá-lo com a caixa seca virada para cima – ou com um suporte que permita que o câmbio fique apoiado e nivelado em bancada, como foi feito nesta reportagem. Não existe outra forma de se fazer a remoção e instalação do conjunto adequadamente.

O especialista ainda aponta que existem duas situações no reparo desse sistema: a remoção e reinstalação do mesmo conjunto em caso de reparo em outra parte do câmbio (como uma substituição do retentor do eixo primário) ou a simples troca de um conjunto por outro novo.

Para a reinstalação do mesmo conjunto, o mecânico precisa fazer o “reset” das embreagens, travando as respectivas molas membranas com ferramentas específicas. Já no caso da troca por um conjunto novo, o conjunto já vem travado de fábrica. Ainda segundo Ricardo, não existe procedimento de reparo para o conjunto de dupla embreagem em si: caso apresente qualquer problema, o sistema sempre deve ser trocado por completo, incluindo as peças do kit de acionamento (garfos, molas compensadoras e rolamentos).

REMOÇÃO DO CONJUNTO

1) Com o câmbio devidamente apoiado (1a), remova o anel elástico que trava o disco de embreagem das marchas ímpares. É permitido usar uma chave de fenda para tal (1b).

  

2) Retire o miolo da embreagem ímpar, que faz o engrenamento do respectivo disco de embreagem com o eixo principal (rígido) do câmbio.

3) Com um alicate apropriado, retire o anel elástico que prende o disco da embreagem das marchas pares ao seu eixo secundário (oco).

Obs: Neste momento, não há mais nenhuma trava entre o conjunto da embreagem dupla com os eixos além do atrito de interferência entre as peças. Mas, segundo a fabricante, a extração segura e correta do conjunto de embreagens do câmbio só é possível com as ferramentas apropriadas da Schaeffler, vendidas em maletas com a marca “LuK Special Tool” nos principais distribuidores da empresa alemã no mercado de reposição. São três maletas cujas ferramentas servem não só para o câmbio Ford PowerShift como, também, para os conjuntos dos câmbios Volkswagen DSG.

4) Antes de instalar a ferramenta de extração, identifique os pontos de apoio das garras sacadoras com um gabarito que indica os encaixes conforme a motorização do veículo. São dois gabaritos: código KL-0500-8341 para veículos 1.6 e KL-0500-8342 para veículos 2.0. A embreagem é a mesma para ambos, mas os pontos de encaixe mudam pelo formato da caixa seca.

5) O gabarito deve ser alinhado por 3 rasgos na parte superior do conjunto (5a) para encaixar as garras (5b). Depois de ajustada a posição do gabarito, as setas vão apontar as posições de encaixe das três garras: as posições “1” indicam onde devem ser encaixadas as duas garras fixas e a posição “2” mostra o ponto em que deve ficar a garra com ímã.

6) Perceba que as garras seguem a numeração do gabarito, ou seja, a garra “2” fica na posição “2” (6a) e as duas garras “1” nas posições “1” (6b). Instale os suportes das garras, que vão fazer o apoio no momento da retirada da dupla embreagem. Os suportes também seguem a mesma numeração, sendo que os suportes “1” devem ser encaixados em um pino-guia na tampa do conjunto (6c). Já o suporte “2” é magnético e não possui guia (6d).

 

  7) Em seguida, instale o pino extrator, que fica apoiado no eixo secundário (oco) do câmbio.

8) Instale o extrator (8a). Ele deve ser fixado com os rasgos de seus braços sobre as três garras e possui um fuso que se encaixa ao pino extrator (8b). Gire o fuso para fazer o ajuste da altura da ferramenta antes de parafusar os apoios que vão fixar o extrator às garras. Não há sequência de aperto.

 

9) Com uma chave de força ou catraca com soquete sextavado 22 mm, gire o fuso no sentido horário para que o extrator puxe as garras para cima e possam sacar o conjunto de dupla embreagem. Faça o movimento com o extrator até perceber que o conjunto está solto. Desmonte todo o ferramental em seguida.

10) Para remover o conjunto de dupla embreagem com segurança, parafuse as duas alças nos prisioneiros da tampa da dupla embreagem. Na sequência, basta puxar o conjunto para fora do câmbio.

Obs: As alças, o pino extrator, os gabaritos, as garras sacadoras e os seus suportes estão inclusos na maleta
LuK 400 0427 10. Já o extrator está na maleta LuK 400 0418 10.

11) Já é possível ver os garfos de engate e suas fixações. O garfo maior, posicionado acima, é o das marchas ímpares (identificado conforme o software do scanner como “A” ou “K1”) e o outro, o garfo das marchas pares (“B” ou “K2”). Porém, não os remova neste momento.

12) Retire o conjunto de rolamentos manualmente.

13) Antes de soltar os garfos, é obrigatório retirar seus respectivos motores. Cada um é preso por quatro parafusos que devem ser trocados a cada remoção.

14) Com os motores removidos, agora é seguro fazer a soltura dos garfos de engate (14a). São quatro parafusos para cada garfo, sendo dois (soquete E10) das molas compensadoras (14b) e outros dois (soquete T45) de fixação da base (14c).

15) Remova primeiro o garfo de acionamento das marchas ímpares e, depois, o das pares.

CUIDADOS NA CAIXA SECA

16) Antes de iniciar o procedimento de instalação do conjunto de dupla embreagem, certifique-se de que a caixa seca esteja completamente limpa, para que nenhum resíduo de óleo ou água possa contaminar a embreagem nova.

17) Segundo Ricardo Melo, é prudente ficar esperto com a estanqueidade da caixa seca desse câmbio. “Esta transmissão em específico da Ford tem problema de entrada de água porque ela possui alguns canais na caixa seca (17a e 17b). Em alguns casos que já vimos em campo, pode entrar água até pelo motor de partida ou pelo motor dos garfos”, declarou. A assistência técnica da Schaeffler recomenda passar silicone na borda inteira da transmissão para evitar a entrada da umidade, assim também como na região de encaixe do motor de partida e também no flange de assentamento dos motores dos garfos. “Que não seja em excesso”, pondera o especialista.

18) Se o reparo demandar a troca do conjunto de dupla embreagem por um novo, todo o kit deve ser substituído: ambos os garfos de acionamento, as quatro molas compensadoras, o jogo de rolamentos completo com as chapas de contato, anéis-trava, disco estriado e todas as porcas e parafusos. A dupla embreagem nova já vem travada e pronta para uso. Já se o sistema for reaproveitado, é necessário o “reset”.

“RESET” (TRAVAMENTO) DO CONJUNTO USADO

Obs: Antes de remontar o conjunto de dupla embreagem usado anteriormente, é necessário o procedimento de travamento das molas das embreagens ímpares e pares na posição de instalação – o chamado “reset”. As ferramentas para esta operação estão na maleta
LuK 400 0425 10.

19) Posicione a base (código Kl-0500-713) na morsa e monte o conjunto da dupla embreagem com os prisioneiros para baixo.

20) Primeiro, encaixe os ganchos do anel acionador maior nas abas da embreagem par para travá-la. Instale o apoio da mola membrana e o dispositivo de pressão sobre o conjunto.

21) Gire o anel no sentido anti-horário até o limite e mantenha-o nessa posição enquanto aperta o dispositivo de pressão sobre a mola membrana até chegar ao batente.

22) Retire o anel e o dispositivo de pressão. A embreagem das marchas pares deve estar travada. Confira a posição das travas, que devem estar encaixadas nos furos da mola.

23) Para travar as marchas ímpares, reinstale novamente o dispositivo de pressão (23a) e use o anel acionador menor e dispositivo de aperto. As garras do anel menor devem coincidir com os rasgos próximo às travas. (23b) Desta vez, o retrocesso da mola deve ser feito no sentido horário. Gire, mantenha assim e aperte o dispositivo até novamente encontrar o batente (23c).

24) Remova o anel, mas não o dispositivo de pressão. Neste momento, o mecânico deve aplicar os grampos para travar a mola (24a). São três grampos: encaixe-o e empurre a aba da mola para frente (24b).

25) Somente após encaixar os três grampos, libere o dispositivo. A mola deve ficar travada com os grampos mantendo a posição. Retire os grampos em seguida e confira e o travamento se manteve.

INSTALAÇÃO DA DUPLA EMBREAGEM

26) Para evitar a movimentação do eixo (popularmente conhecido por “carrinho”), instale o garfo com sua trava (26a). Importante: não acione os garfos das embreagens. Embora sejam feitos para aguentar a carga do acionamento das marchas, ao serem movimentados manualmente, eles podem ter danos por sobrecurso no eixo (26b).

27) Cada garfo possui duas molas compensadoras e ambas possuem um código numérico cuja referência deve coincidir com a do garfo. Não podem ser usadas molas em garfos com códigos diferentes.

28) Antes de colocar os parafusos e fazer os apertos, instale também o respectivo motor (28a). Assim, garante-se que o eixo entre garfo e motor estará alinhado no momento da fixação do garfo (28b e 28c). e “Se você apertar o garfo sem o motor, pode ocorrer desalinhamento do eixo e o motor sofrer encaixe forçado na instalação”, avisa Ricardo Melo, da Schaeffler.

29) Encaixe o garfo de acionamento das marchas pares (menor). Encoste as fixações e aplique torque de 19 Nm nos parafusos e 26 Nm nas molas compensadoras (29a). Atenção: não se esqueça de retirar a trava de segurança do garfo após o aperto (29b).

30) Após o torque final na mola compensadora, pode ser que o suporte fique fora de posição: ele deve ficar com os canais coincidindo com o ressalto do garfo (30a e 30b). Para corrigir isso, há outra ferramenta para girar o suporte e colocá-lo na posição correta (30c). Atenção: a operação deve ser sempre após o torque, nunca antes.

31) Repita toda a operação dos passos nº 26 a 30 no garfo das marchas ímpares.

32) Siga para o conjunto dos rolamentos de acionamento. A instalação é manual, mas o mecânico precisa verificar o ponto de encaixe girando a peça até que ela fique alinhada com os garfos ímpar (32a) e par (32b). Em seguida, posicione as duas chapas de contato (32c).

33) Instale as alças nos prisioneiros da dupla embreagem para montar o conjunto de dupla embreagem novamente nos eixos do câmbio.

34) Para assentar o conjunto de dupla embreagem em sua posição de trabalho, será instalado novamente o extrator, que desta vez será utilizado para empurrar o conjunto. Para essa função, é necessário utilizar uma bucha de assentamento (maleta
LuK 400 0427 10) (34a). O extrator deve ser apoiado com três elementos de apoio parafusados diretamente na carcaça do câmbio (todos da maleta LuK 400 0418 10) (34b).

35) Novamente com a chave de força ou catraca com soquete 22 mm, gire o fuso do extrator no sentido horário para descer o conjunto de dupla embreagem até o limite da bucha de assentamento (35a). Essa bucha possui uma guia como limitador (“stop”) para o eixo secundário (oco) e dois rasgos para visualizar o canal de alojamento do anel elástico que trava o eixo secundário quando a embreagem atinge o ponto desejado (35b). Ao final, desmonte novamente todas as ferramentas.

36) Com alicate apropriado, instale o anel elástico que trava o eixo secundário.

37) Reinstale o miolo do disco da embreagem ímpar, observando a marca que deve coincidir com a indicada no conjunto de dupla embreagem.

38) Reinstale o anel elástico que trava o disco da embreagem ímpar.

39) Após a montagem do conjunto de dupla embreagem, deve-se destravar os discos. Isso deve ser feito pelo eixo dos respectivos garfos de acionamento. Para acessá-los, remova novamente os motores. No ponto de conexão do eixo no garfo, encaixe a ferramenta KL-05008011 (39a). Com ela, o mecânico deve girar o eixo no sentido anti-horário até ouvir um estalo, que significa o destravamento daquela respectiva embreagem. Após o estalo, o mecânico deve dar mais uma volta completa na ferramenta por segurança (há uma marcação na ferramenta como referência para ajudar a contar as voltas) (39b). Cuidado: após terminar a última volta, não solte a ferramenta de uma vez porque ela tende a girar de volta com força e pode machucar sua mão. Solte-a aos poucos. Repita a operação no outro garfo.

Obs: Essa operação deve ser feita tanto em conjuntos de embreagens que passou pelo “reset” quanto em conjuntos novos – afinal, estes já vêm de fábrica travados.

40) Reinstale novamente os motores. O torque de aperto dos parafusos é 5,5 Nm.

Mais informações: Schaeffler: 0800 011 10 29

Texto & fotos: Fernando Lalli

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