Superbanner - Texaco (30/08 a 24/01/24)

Artigo – Quando devemos parar de estudar? Nunca!

13861

Por Fernando Landulfo

Não há sombra de dúvidas de que o automóvel mudou muito desde o tempo da sua invenção, que ocorreu lá no final do século retrasado, até os dias de hoje. Quem tem alguma dúvida basta colocar, lado a lado, dois veículos fabricados por uma montadora que está no mercado há muito tempo como, por exemplo, a Ford: um modelo T e um Fusion novinho em folha. E se após uma breve observação a dúvida persistir… Bem, é melhor procurar ajuda médica com urgência.

Pois é, o automóvel, essa máquina maravilhosa evoluiu a passos largos nos últimos 100 anos. Nasceu quase que totalmente mecânico e relativamente simples. Mas hoje, muito mais complexo e sofisticado, não funciona sem a mais alta tecnologia que, por sinal, continua evoluindo rapidamente (hoje já se fala em redes neurais embarcadas em automóveis). E se a máquina evoluiu, aquele que a mantém funcionando também precisou acompanhar as mudanças. Ou seja: voltar a sentar no banco da escola.

Bem, quando esse assunto surge é muito comum alguns colegas mais tradicionalistas afirmarem: “a profissão se aprende dentro da oficina. As novidades devem ser obtidas junto às fábricas com um treinamento rápido”. Realmente, nos primórdios da indústria automobilística, quase tudo que dizia respeito a uma determinada ocupação do tipo “mão na massa” se aprendia na prática. Afinal de contas, pelo menos aqui no Brasil, a maioria das escolas, focadas no ensino regular, era destinada aos bem nascidos, que posteriormente, ingressavam nas poucas universidades existentes, ou iam estudar as profissões “mais nobres” (medicina, direito e engenharia) no exterior.
Ensino profissionalizante de nível médio praticamente não existia (o SENAI só foi surgir quase 50 anos depois). Ou seja, quem se apaixonava por aquela máquina maravilhosa (o que não era nada difícil) e desejava trabalhar com ela, tinha que começar a trabalhar numa oficina (como ajudante) e ir aprendendo com os mais experientes. Quando o aprendiz atingia um determinado nível de conhecimento (experiência), era encaminhado para treinamentos nas fábricas, o que era considerado um prêmio. Afinal de contas, esses treinamentos eram disponibilizados com bastante restrição.

O “título” de mecânico, concedido pelos colegas de profissão, vinha depois algum tempo e muita “ralação” dentro da oficina. A própria oficina era bem diferente do que temos hoje em dia. A maioria era composta pequenos negócios de família (muitos deles informais), administrados de forma bastante amadorística. Mesmo assim muito prosperaram. Mas a indústria cresceu. Nos meados do século XX, a quantidade de veículos em circulação já era muito grande (principalmente, os usados que não frequentavam as caras oficinas das concessionarias). E como esses veículos precisavam de manutenção, a quantidade de oficinas independentes disparou.

No entanto, o automóvel se tornou mais complexo e sofisticado, repleto de complicados equipamentos elétricos e hidráulicos (direção hidráulica e transmissão automática), muitos deles ligados a segurança do veículo, que fugiam da rotina do mecânico. Ou seja: o aprendizado de “chão de oficina” já não era mais suficiente para preparar o profissional para a nova realidade. Tem-se então uma carência de mão de obra especializada. Agora, para poder ser chamado de mecânico, o aprendiz tinha que frequentar uma escola profissionalizante, passar por diversos treinamentos, reciclagens e ainda por cima sofrer uma certificação por um órgão técnico especializado (como a ASE nos Estados Unidos).

A forma de administrar o negócio também precisou mudar. As novas regras fiscais, trabalhistas e comerciais, não permitiam mais que a empresa fosse gerenciada como uma residência. A profissionalização da gestão não era mais uma opção. Sim, foi preciso frequentar uma escola para aprender como manter as contas em dia e os impostos pagos e as questões trabalhistas em ordem. Regras essas que, por sinal, vivem sendo modificadas. A concorrência forçou os orçamentos a ficarem mais enxutos: comprar bem, estocar devidamente, calcular o valor da mão de obra oferecida e cobrar corretamente foram outras coisas que também precisaram ser aprendidas na escola. Isso sem falar nas técnicas de atendimento ao cliente, que agora tinha muitas outras opções no mercado.

13776

Mas quem foi que disse que esse processo de evolução parou? Nos dias atuais, o automóvel evoluiu a um grau de complexidade e sofisticação tão grande, que para conseguir diagnosticá-lo e repará-lo com qualidade e rapidez é preciso dominar tecnologias que se aprendem em cursos técnicos ou mesmo cursos de engenharia. Isso sem falar nos treinamentos específicos das fábricas. Ou seja: o “Guerreiro das Oficinas” precisa novamente sentar no banco da escola e se aprimorar. A mesma tese vale para a administração da oficina, ou melhor, empresa, que tem que se manter sempre em dia com as suas obrigações, e gerar lucro, mas sem perder a competitividade. Um trabalho para verdadeiros profissionais da administração e contadores, formados em escolas técnicas ou faculdades (graduações e pós-graduações).

Ter conhecimento de informática é mais um “must” para o mecânico, ou seja, um dever. Não somente para operar com programas de computador e internet, que se tornaram partes integrantes e essenciais da oficina na área administrativa, haja vista, que sem um bom sistema de gerenciamento fica mais difícil controlar custos, processos e estoque. E na hora de gerar uma planilha de despesas e faturamento? Mesmo que tenha uma pessoa que faça isso por você, é imprescindível que você saiba entender o que está ali. Conhecer informática também é necessário para ler, interpretar e manusear um aparelho de scanner, um alinhador eletrônico ou um analisador de gases. É no mínimo, o óbvio!

13765

Hoje ainda é necessário falar um bom português, pois se o mecânico evoluiu, não pode mais ficar falando “nós vai” e “nós vem” na cara do cliente. Se apresentar bem, com educação e uma linguagem, no mínimo, correta do que aprendemos na escola, ficou longe de ser diferencial para se tornar obrigatório. Será que o cliente vai confiar num profissional para reparar seu carro cheio de tecnologia que fale tudo errado… Hum, acho que não!!! Isso exige boa vontade, prática e muita, muita leitura.

Até no inglês o mecânico moderno tem que se dedicar. Muitos manuais vêm escritos em inglês, e você tem que saber, no mínimo do que se trata. Eu sei que a internet ajuda na hora de traduzir alguma coisa, mas ter conhecimento também é bom. E se você quiser visitar uma feira no exterior, sabe que a língua oficial das feiras do setor é inglês, né? Então, você vai perder uma oportunidade por falta de conhecimento? Nem pensar! Hoje existem até cursos pela internet que são bastante razoáveis, basta, mais uma vez, boa vontade e disciplina.

E o que o futuro reserva? Ora, simplesmente a mesma coisa! A evolução não vai parar. Ou seja: a necessidade de aprimoramento profissional é constante. O que se aprende “hoje” nas faculdades, talvez não seja suficiente para fazer o negócio funcionar “amanhã”. A solução? Simples: continuar estudando. O quê, heim! Mecânico com pós-graduação… Ora, e por que não? Sabe quando não só o “Guerreiro das Oficinas”, mas qualquer profissional deve parar de estudar? Bem, se ele quiser sobreviver no mercado de trabalho atual e do futuro: Nunca!

Envie um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

css.php