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Permanecendo na luta diária

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Proprietário do Centro Automotivo Mascotte, Luis Filipe Cruz divide a rotina na oficina com a advocacia e enfrenta as dificuldades de manter seu sonho

 

Revista O Mecânico: Há quantos anos o Centro Automotivo Mascotte funciona e como começou a sua história?

Luiz Filipe Cruz: O Centro Automotivo Mascotte foi fundado em 1984 na Av. Santa Catarina, próximo ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo. O nome inicial era Jet Escape, pois a especialidade era vendas e consertos de escapamentos. Eu já tinha trabalhado 8 anos no posto de escapamentos do meu pai na Av. Cupecê e após fazer um curso na Freios Varga resolvi montar meu próprio posto de freios, escapamentos e amortecedores. Em 1995 mudamos para um galpão de 700 m2 na mesma avenida. Lá se vão quase 40 anos no ramo automotivo! Muita, muita coisa mudou!

O Mecânico: Você é o proprietário mas também é mecânico? Qual a sua formação?

Luiz Filipe: Frequentei o SENAI em diversos cursos. De ajustador mecânico a inspetor de segurança veicular. Tenho CREA de técnico em eletrônica e sou advogado atuante, embora seja difícil conciliar duas atividades tão distintas. Meu escritório fica numa sala em cima do centro automotivo.

O Mecânico: Quantos mecânicos trabalham com você hoje e qual o fluxo da sua oficina?

Luiz Filipe: Atualmente temos 3 mecânicos mas nosso quadro já foi de 14 pessoas entre gerente, atendente, montadores e mecânicos. Nos bons tempos atendíamos 25 carros/dia em média. Hoje atendemos 6 veículos e a maioria com pré-agendamento.

O Mecânico: Seu filho trabalha com você, quando ele se interessou pela mecânica?

Luiz Filipe: Na realidade ele chegou quando nosso último gerente se foi há uns 6 anos. O que seria provisório tornou-se quase que definitivo. Não é o que eu desejo para ele. Na minha opinião, um potencial desperdiçado uma vez que ele é formado em TI e pós graduado no ITA. Caso ele permaneça neste ramo numa empresa familiar como é a minha, estará fadado a não ter férias, 13º e quem sabe receber aposentadoria irrisória. Vivo o alertando!

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Luiz Filipe Cruz, proprietário do Centro Automotivo Mascotte

O Mecânico: Você tem encontrado dificuldade de encontrar mão de obra especializada, em sua opinião, por que isso está acontecendo?

Luiz Filipe: Basicamente, assim como eu, qual o pai que quer que seu filho seja mecânico? Ou pedreiro? Ou até professor? Vocês conhecem algum? Pois é. A dificuldade em preencher estas vagas é grande e não é de hoje. Temos muita, pois os automóveis tem de ser consertados por pessoas com conhecimento em mecânica e eletrônica além de atualizações contínuas destes profissionais. Este profissional completo hoje faz o seu salário e escolhe onde se colocar.

O Mecânico: Quais serviços que vocês oferecem aí no Centro Automotivo?

Luiz Filipe: Fazemos revisões gerais. Até 2009 nosso carro chefe era “undercar”. O giro era rápido e vendíamos e instalávamos freios, amortecedores, peças de suspensão e muitos escapamentos além de alinhar e balancear rodas. Hoje oferecemos tudo isso, porém nos últimos anos e de modo geral os clientes nos procuram para revisões corretivas e mais demoradas.

O Mecânico: Um dia montar uma oficina foi um sonho, esse sonho valeu a pena?

Luiz Filipe: Valeu sim! Hoje porém, pelo menos eu, estou cansado e desanimado. Tenho um cadastro com mais de 10 mil clientes atendidos nestes anos e tenho de trabalhar muito mais para faturar muito menos. Ganhei muitos amigos e sinto não poder atendê-los e servi-los rapidamente como antes. Sem eu querer, o centro automotivo tornou-se uma oficina mecânica onde muitos serviços são lentos, obrigando muitas vezes os clientes deixarem o veículo por um ou até mais dias.

O Mecânico: Como é o relacionamento entre você e os mecânicos?

Luiz Filipe: O relacionamento é bastante complicado com os mais novos de casa. É aquele período de adaptação mútua que ocorre quando este vem de outros trabalhos com hábitos diferentes.

O Mecânico: Os mecânicos de sua oficina costumam utilizar a internet para se atualizar?

Luiz Filipe: Sim. Há um notebook com WIFI no meio do pátio e eles estão constantemente em fóruns trocando informações com mecânicos de todo o Brasil.

O Mecânico: Como mais ou menos é a estrutura da oficina, em relação a equipamentos e ferramentas? Quem sabe o que precisa ou não?

Luiz Filipe: Temos 4 elevadores, uma rampa para alinhamento de direção, balanceador e desmontadora de pneus, duas valetas, soldas Mig, Oxi-acetileno e elétrica, girafa e macaco de câmbio, 2 scanners, máquina para limpeza de bicos injetores, analisador de gases e uma estação completa para inspeção veicular que nunca foi usada. De modo geral sou eu quem analiso e compro, ou melhor, comprava os equipamentos. Em 2014 não comprei e não pretendo investir nisso.

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Atualmente, a oficina emprega três mecânicos, mas já chegou a ter 14 funcionários

O Mecânico: Você acha importante manter um estoque?

Luiz Filipe: Hoje não mais. Pra se ter uma ideia, tenho um enorme estoque de auto peças com tudo o que se vendia há uns 10 ou 12 anos. Na hora de comprar uma peça, comprávamos duas e uma ia para o estoque e quando chegasse o próximo carro não haveria demora, além de termos pago mais barato do distribuidor. Resultado, por algum motivo as peças ficaram encalhadas, pois os automóveis da minha região devem ter migrado para longe e os que frequentam nossa oficina são mais modernos. Tenho certeza que uma boa parte do meu lucro de anos está no meu grande estoque obsoleto. E hoje, com exceção de filtros e óleo, tudo é comprado quando o veículo está com o orçamento aprovado.

O Mecânico: Vocês trabalham com certificação da oficina ou dos mecânicos, que cuidados tomam nesse sentido?

Luiz Filipe: Com exceção do montador e de meu filho todos possuímos a “extinta” certificação ASE. Sei que há uma certificação no Brasil chamada IQA, porém ainda não tivemos contato com o tal instituto.

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