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Entrevista: Peças na reposição, não podem faltar

Nessa edição especial conversamos com Paulo Butori e Antonio Carlos Bento, presidente e conselheiro do Sindipeças, respectivamente, sobre o momento do mercado de reposição e as dificuldades do mecânico em adquirir bons produtos

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O Mecânico: Em termos de produção, faturamento e exportação, analisando os últimos anos, o mercado de autopeças no Brasil está com saldo positivo?
Paulo Butori: Sim. Os indicadores de 2010 são positivos, mas merecem análise. O cenário atual nos preocupa, pois apesar dos altos volumes de produção, as margens das empresas de autopeças estão apertadas e as importações crescem vertiginosamente. A previsão é de que a indústria brasileira de autopeças alcance o faturamento de R$ 79,8 bilhões no ano de 2010, cerca de 22,7% a mais do que o ano passado, quando foi faturado R$ 66,1 bilhões.

O Mecânico: No final de 2008, quando o setor ameaçou entrar em crise, a indústria de autopeças sentiu o abalo, inclusive com redução da capacidade de produção e de operários. Em seguida, a indústria de automóveis executou uma série de ações para retomar o mercado, como o setor de autopeças reagiu?
Butori: Somos muito dependentes de volumes e a rápida recuperação do mercado interno foi importantíssima. Mesmo assim, temos sofrido com o aumento das importações, tanto de autopeças quanto de automóveis. Além disso, enfrentamos o que chamo de “cecaderização”, que é o aumento da importação de conjuntos prontos. A oferta internacional é grande e o câmbio ajuda esse movimento.

O Mecânico: O setor de autopeças é responsável por fornecer produtos para o mercado de equipamentos originais, direto para as montadoras, e para a reposição. Existe uma média de quantas peças são destinadas à reposição e quanto somente esse mercado fatura?
Butori: A produção de autopeças é medida em faturamento. Este ano, nossos quinhentos associados devem faturar aproximadamente R$ 79,8 bilhões. A participação da reposição é de cerca de13%.

O Mecânico: Na reposição, a mesma fabricante de autopeça produz a peça genuína, que vai para as redes de concessionárias, e a peça original, que vai para o mercado independente. Existem diferenças entre essas duas peças em relação à produção e ao controle de qualidade?
Butori: No site www.sindipecas.org.br, o mecânico pode encontrar essas definições, determinadas por meio da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, contempla o mercado com a NBR – 15.296, que trata de “Veículos rodoviários automotores – Peças – Vocabulário”. Como segue:

 

Peça de produção original
Destina-se a linha de montagem do veículo.
Peça de reposição original
Destina-se à substituição da peça de produção original na reposição, fabricada com o mesmo processo e características técnicas.
Peça de reposição
Pode ter ou não as mesmas especificações da peça de produção original e da peça de reposição original, mas garante a intercambialidade.
Peça remanufaturada
É aquela submetida ao processo de remanufatura pelo próprio fabricante ou por estabelecimento autorizado por ele.
Peça recondicionada
É a peça submetida ao processo técnico ou industrial para ter restabelecida sua função.
Peça recuperada
É a peça submetida a processo artesanal.

 

 

O Mecânico: Uma peça que vai para a montadora e depois para a reposição deve passar por um grande processo de desenvolvimento? Como funciona? O Sindipeças fiscaliza isso de alguma maneira?
Butori: A entidade não tem o papel de fiscalizar a produção de seus associados. Nosso papel, em linhas gerais, é representar o setor, trabalhar em conjunto com os outros elos da cadeia de produção de veículos automotores, oferecer capacitação e manter nossas empresas informadas.

O Mecânico: O IQA (Instituto da Qualidade Automotiva) é um desses órgãos, o que eles podem fazer para garantir a qualidade das autopeças?
Butori: Quando uma empresa é certificada, segundo padrões internacionais de gestão e manufatura, passa a adotar uma coletânia de boas práticas cuja conseqüência é o nível de qualidade planejada. Isso é muito bom.

O Mecânico: Um dos grandes problemas do nosso mercado é a invasão de peças piratas e produtos sem qualidade vindos de procedência duvidosa. O que o Sindipeças faz para reduzir esse fator, principalmente, junto ao mecânico?
Butori: O Sindipeças participa ativamente do GMA (Grupo de Manutenção Automotiva), cuja finalidade é justamente estudar os temas relacionados à reposição, orientando e sugerindo ações de melhoria.

Peça boa ou barata?

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O Mecânico: Quais as peças que exigem certificação compulsória de algum órgão especializado?
Antônio Carlos Bento: O Sindipeças tem atuado com afinco em conjunto com o Inmetro para que a certificação obrigatória seja estabelecida, principalmente para os itens de segurança. As normas para rodas e vidros estão prontas e em consulta pública. Devem começar a ser praticadas em 2011. Estamos também trabalhando na elaboração de normas para freios, suspensão, rolamentos, retentores e outros produtos.

O Mecânico: Outro mercado que vem se destacando é o de peças remanufaturadas, o que representa em termos de faturamento para o setor? São peças de garantia para aplicação?
Bento: O potencial do mercado de peças remanufaturadas é da ordem de R$ 500 milhões por ano, ou 4% do mercado de reposição independente. Quanto à qualidade, é a mesma da peça original, já que a remanufatura só pode ser feita pelo próprio fabricante ou por empresa por ele licenciada. Na remanufatura, é aproveitado o core, que já foi testado e aprovado na prática, rodando em ruas e estradas. Mas atenção: remanufatura não é o mesmo que recondicionamento.

O Mecânico: Em relação à entrega de peças. A partir do momento que uma oficina pede a peça, quanto tempo pode demorar para chegar? Existe uma regra ou uma recomendação para o fabricante?
Bento: A distribuição de autopeças no Brasil chega a todos os mais de 5 mil municípios em até 24 horas, atendendo a mais de 80 mil oficinas. Isso é a prática de nosso mercado.

O Mecânico: A inspeção veicular ambiental é uma realidade em São Paulo e já está cotada para atuar em outras regiões do País. Isso tem aumentado o fluxo de peças no mercado de reposição e de serviços nas oficinas?
Bento: No município de São Paulo houve cerca de 8% de aumento nos negócios da reparação automotiva, especificamente no sistema de emissões, por conta da inspeção veicular. As oficinas estão trabalhando com hora marcada.

O Mecânico: E quanto à inspeção técnica veicular? Como estão as negociações com o governo para a sua implementação? Quais os seus benefícios?
Bento: Continuaremos nosso trabalho em prol da inspeção, movimentando vários setores da sociedade. O maior benefício é a preservação da vida. O aumento dos negócios é conseqüência.

O Mecânico: Em sua opinião, como se podem melhorar os processos de garantia de autopeças para agilizar o atendimento ao cliente, preservando sempre a sua satisfação?
Bento: Em primeiro lugar deveria haver convergência entre os elos da cadeia da reposição para que o problema fosse corretamente diagnosticado em sua origem. Dessa forma, quando chegasse ao fabricante, a análise seria mais rápida. A questão não é exclusivamente comercial.

O Mecânico: A capacitação de mecânicos e a utilização de normas técnicas seriam requisitos que ajudariam na questão da garantia?
Bento: Sim, ajudaria porque os dois elementos combinados – mecânico bem treinado e normas técnicas – melhorariam o processo: escolha, compra, recebimento e instalação.

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