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Entrevista: Paixão pela mecânica do tamanho de um caminhão

 

Gerson Vieira Furtuoso, proprietário da Astro Diesel, conta tudo sobre a luta diária de comandar uma oficina que cuida, com todo carinho, de veículos

 

icone_fotos_p icone_texto_pF. Tavares

 

Quem passa pela Rua Professor Sebastião Farias de Queiros, uma pequena travessa da avenida Piraporinha, em São Bernardo do Campo/SP, que mais se parece com aquelas “ruazinhas” de bairro tranquilo, mal imagina que nela funciona uma oficina autorizada da Bosch com verdadeiro movimento de rodovia. É ali que está situada a Astro Diesel, um lugar que até pode ser confundido com um laboratório de ficção científica, visto os aparatos tecnológicos utilizados na manutenção dos brutos.

 

No comando desse lugar agitado, porém extremamente organizado, está o simpático e dinâmico Gerson Vieira Furtuoso, de 49 anos, que ao lado de seus sócios Cinthia e Daniel, comandam a Astro Diesel com extremo bom humor e determinação. Conversamos com Gerson e conhecemos um pouco de sua vasta história de luta e muito empenho, sempre sem perder a alegria de trabalhar.

 

Revista O Mecânico: Você está nessa batalha diária de oficina há 36 anos, conte-nos um pouco de sua história.
Gerson: Pelo nosso documento, iniciamos aqui em agosto de 1988. Começamos com uma portinha, aqui do lado. Éramos eu, meu sogro e mais um outro rapaz, fazendo os serviços. Agora tenho o Daniel e a Cinthia como sócios. Naquela época fazíamos duas bombas por mês, mais ou menos. E foi sofrido, muito sofrido. A gente não era autorizada da Bosch. Naquele tempo, tinha muita restrição de informações, coisa que hoje não tem. Atualmente é maravilhoso! Você pode ser o que for, tem acesso a tudo. Antigamente era uma dificuldade enorme. A gente ligava para o distribuidor para pedir uma tabela de peças e, sem chance, não existia essa parceria que a Bosch tem hoje. Atualmente, a Bosch tem umas redes paralelas que dá toda a assistência para essas pessoas, coisa que a gente nunca teve no início. Então nós sofríamos bastante, era uma dificuldade enorme. Mas foi bom também, porque nós sofremos e com o sofrimento você aprende e dá valor as coisas. Graças a Deus, começamos com uma portinha e olha o tamanho que estamos hoje. Aqui dá 2.303 m², fora o galpão que temos do outro lado.

 

Revista O Mecânico: E como você entrou na mecânica?
Gerson: Eu já trabalhava na parte de mecânica, mas era do meu cunhado. Eu era funcionário dele. Comecei a trabalhar com mecânica em 1979, nessa parte de bico injetor. Depois a firma que era dele teve problemas de assalto, roubo etc. Então minha irmã deu a ideia de montarmos uma oficina. Então começamos ali, naquela portinha. Começamos devagar, até 1992, quando o Daniel chegou. Nós realmente expandimos e estouramos quando chegaram o Daniel e a Cinthia, pois eles têm uma outra visão, investiram no negócio, equipamento, funcionários, em tudo. Depois disso o negócio cresceu muito. Tudo é assim. Se não tiver investimento, não vai.

 

Revista O Mecânico: Qual a sua formação como mecânico?
Gerson: Eu aprendi mais na raça do que estudando. Eu fiz SENAI em 1976, mas de torneiro mecânico, em Santo André/SP. Depois disso, comecei a trabalhar com meu cunhado e vim pra cá. Aqui fui aprendendo no dia a dia mesmo. No começo não fiz muito curso. Só depois que fiz os cursos da Bosch para tirar a certificação, mas no começo foi tudo na raça mesmo.

 

Revista O Mecânico: E como está o mercado de reparação de Diesel para vocês hoje? Melhorou ou piorou?
Gerson: Olha, atualmente, o mercado está muito instável. São várias situações que você tem. Hoje o cliente procura mais preço do que qualidade e outras coisas. Então é difícil você conciliar. Eu sempre falo “milagre ninguém faz, quem procura preço não encontra qualidade”. Então ficou difícil por causa disso. Antes, era mais fácil de trabalhar, tinha menos concorrência e em relação as peças, não era igual agora que abriu o mercado de importados e vem peças de tudo que é país. Para se ter uma ideia, a peça fabricada aqui no Brasil é muito mais cara do que aquela fabricada na República Tcheca. Mas essas peças que vem de fora, não sei por que, não tem a mesma durabilidade das nossas, da Bosch. Já fizemos vários testes, antes de sermos autorizados da Bosch, usando peças importadas e elas não aguentam. Depois de 6 ou 8 meses, já era. Naquela época era mais fácil, pois não tinha esse mercado de importados no meio. Era Bosch ou recondicionado, mas recondicionado não é aconselhável. Então quem tinha oficina antigamente, ganhou muito dinheiro, agora nem tanto. Hoje em dia a concorrência é muito grande.

 

Revista O Mecânico: E como está a mão de obra especializada neste setor?
Gerson: Meu Deus! É a maior raridade do mundo, hoje! A molecada de hoje só quer saber de computador. Não quer sujar a mão de graxa, de óleo diesel porque ele “empipoca” toda a pele, entra sujeira na unha. A molecada de hoje não quer isso aí, só querem saber de computador. Então eu acho que vai chegar uma hora que será difícil encontrar mecânico. Acho que vai chegar uma hora que 70% não vai querer ser mecânico.

 

Revista O Mecânico: Quais as principais dificuldades e necessidades de uma oficina independente?
Gerson: A gente sofre muito com o mercado, que é muito diferente de outras épocas. Como eu trabalho só com peças originais, muitas vezes perdemos o orçamento, pois não conseguimos competir com pessoas que não trabalham fidelizando uma determinada marca. Eles querem vender, mas não estão preocupados em fazer as coisas certas. O mercado não é fácil, eu estou todo dia correndo atrás. Tem que ralar e tratar o cliente muito bem, ele pode estar te esculhambando e você deve sorrir. O principal é o tratamento com o cliente. Se você não trata-lo bem, você vai perder muito, pois o cliente bem tratado se sente bem. Um dos nossos principais focos é o tratamento com o cliente. É conversando que você acerta as coisas.

 

Revista O Mecânico: O que mudou para vocês em relação ao Euro V?
Gerson: A parte dos reparos agora, ficou muito boa. Como a gente já é mais especializado, foi muito bom, pois essas oficinas menores não têm estrutura para atender o Euro V. Mas mesmo a gente sendo especializado, muita gente ainda procura o mais barato. Mas depois (outras oficinas) vão colocar peça importada e cobrar quase o mesmo preço que a gente e ainda ganhar mais dinheiro. Só que a gente está fidelizando a marca.

 

Revista O Mecânico: O que você acha necessário para uma oficina se estabelecer?
Gerson: Olha, hoje em dia você tem que ser autorizado, ter todos os credenciamentos. Porque a maioria das empresas grandes que a gente trabalha, exigem certificados. Uma Volkswagen, Scania ou GM, se você não tiver o certificado, eles não trabalham, pois eles são auditados. Então, se a pessoa não tiver todos os certificados, não dá para trabalhar. Se não tiver qualificação e todos esses requisitos, a oficina não sobrevive, pois vai trabalhar só com “picadinho”, particular. Então se quiser almejar empresas grandes, sem ser autorizado não consegue. Se não tiver todos os documentos, você não faz serviços para concessionária. Se bem que às vezes elas atrapalham a gente também, pois a fábrica quer ganhar de todo jeito. Eles compram uma quantidade de peças e às vezes não tem caminhão para montar, então ela joga para o mercado de peça, aí o preço sai mais barato que o nosso.

 

Revista O Mecânico: Como vocês fazem para alinhar tempo e qualidade de serviço?
Gerson: Primeiro é a qualidade, se não, não tem jeito. Os veículos que têm mais prioridade, dependendo da situação, eu coloco dois técnicos. Um vai mexendo em uma parte e o segundo em outra. Por exemplo, um começa a ver a parte de tubulação, enquanto o outro intercooler, caso contrário eu não consigo entregar no tempo prometido. O normal é um mecânico para cada carro, mas quando o caso é realmente urgente, aí eu paro tudo e vou até o fim enquanto não terminar.

Comentário em “Entrevista: Paixão pela mecânica do tamanho de um caminhão

  1. Senhor Gerson grande homem .. tudo que aprendi na mecânica ,foi aí na astro Diesel
    Foi meu início de tudo 🙏

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