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Entrevista: Luta contra peça de baixa qualidade é através da certificação

Elias Mufarej, conselheiro do Sindipeças responsável pela área de Reposição, fala sobre a importância da certificação das peças para evitar o uso de produtos de baixa qualidade e a necessidade de atualização por parte do mecânico

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Revista O Mecânico: A indústria automotiva brasileira vive uma boa fase, com crescimentos de produção e vendas de veículos. A indústria de autopeças tem acompanhado esse crescimento? E quanto à reposição, qual a previsão até o final do ano?
Elias Mufarej: Segundo o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), levando em conta o aumento da produção e a venda de automóveis no Brasil, o mercado de autopeças também terá crescimento em 2013, com a projeção de faturamento de R$ 83,9 bilhões, ou seja, 2,7% a mais do que em 2012, cujo volume foi de R$ 81,7 milhões. De janeiro a setembro deste ano, o crescimento em número de negócios foi de 5,76% em relação ao mesmo período do ano passado. A reposição deve ter o crescimento de 8% em volume de negócios em 2013, se comparado ao total de 2012.

O Mecânico: Qual a frota e a idade média dos veículos leves e comerciais que rodam no Brasil atualmente?
Elias: A frota nacional é de 38 milhões de veículos, incluindo leves, pesados, comerciais e ônibus. A frota de motocicletas chega a 12,5 milhões. De acordo com a evolução dos números de produção anual, que ficam em torno de 3,5 milhões de veículos, a previsão é que em 2015 teremos uma frota de 50 milhões de unidades. Já a idade média, levando em conta veículos leves e comerciais, é de oito anos e sete meses, isso segundo os últimos dados do Sindipeças, e a de caminhões gira em torno de 10 anos.

O Mecânico: Recentemente as entidades do setor fizeram uma proposta para renovar a frota de veículos pesados, que somam 230 mil caminhões com mais de 30 anos…
Elias:…. O governo está focando um processo que abrangeria a renovação de frota de caminhões acima de 25 anos. Isso deve acontecer no próximo ano, num projeto somente para caminhões. A proposta seria de incentivo à compra de um caminhão novo, no qual o governo dá um valor ao caminhoneiro pelo caminhão usado, como parte da compra do novo e oferece um novo financiado com condições mais favoráveis, e até mesmo carência para primeiros meses. Mas tudo está sendo estudado, discutido. O governo está muito preocupado com o estado da frota antiga, que circula em condições precárias de segurança. Isso viria em forma de um grande ensaio para uma possível renovação de automóveis.

O Mecânico: Estudos apontam que, de janeiro a outubro deste ano, as importações brasileiras de autopeças cresceram e as exportações diminuíram. Como o senhor enxerga essa situação?
Elias: A balança comercial demonstra que o déficit do setor até outubro atinge US$ 8,4 bilhões. Esse déficit é devido ao número grande de importações que tem ocorrido por parte das montadoras e de sistemistas, que agregam nas montagens um grande coeficiente de produtos importados. O setor no Brasil mostra necessidade de estruturação de uma política comercial, porque assim será difícil rever ter a situação, pois a utilização de importados tem sido rotina e necessidade das montadoras. Com o projeto Inovar-Auto é possível que isso seja revertido, mas não de uma forma rápida, pois o processo de nacionalização demanda tempo. O setor foi atingido pela questão do preço e pela forma como as montadoras trabalham para ser rápidas, para ter os seus lançamentos, não focaram na nacionalização mais acentuada nas autopeças. Sendo assim, o setor vai reagir através de propostas e de possibilidade de nacionalização com relação às peças hoje importadas. Com relação ao mercado de reposição, a importação acontece em menor escala, pois, na realidade, foram feitas grandes aberturas de mercado e, além disso, existe uma frota importante de veículos importados, que demandam a necessidade de importação de algumas peças. O que acontece é que o processo para a reposição sofrerá certa redução, pois com a necessidade da homologação de peças pelo Inmetro, da certificação, vai fazer com que peças de baixa qualidade deixem de ser importadas.

O Mecânico: Por falar nisso, como a indústria nacional está encarando a entrada das peças “paralelas” ou até mesmo “piratas”? Existem campanhas para alertar os mecânicos para evitar esses produtos?
Elias: Nossa grande ação foi em parceria com o Inmetro e com entidades homologadoras para criar o sistema de certificação de autopeças, que garantisse a segurança e a qualidade do produto no mercado, favorecendo o consumidor. As importações feitas de peças falsificadas ou piratas podem continuar ocorrendo, mas a grande ação é a intensificação da certificação. Assim, ao trazer uma peça de fora, o importador terá que apresentar a certificação da indústria e da peça, dentro das normas ABNT e do que consideramos adequado em relação aos sistemas de certificação. A luta contra o importado de baixa qualidade é através da exigência dessa certificação.

O Mecânico: Qual impacto que o Inovar-Auto (Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores) aplicado nas montadoras trouxe para a indústria de autopeças?
Elias: Na realidade, o Inovar-Auto é um projeto criado para incentivar as montadoras a fazer investimentos no Brasil. Dentro disso, foi criado um sistema de vantagens para a montadora que tiver um índice de nacionalização adequado, que recebe incentivos de impostos, principalmente, no IPI. Então, o projeto só traz para a autopeças esse beneficio: o de forçar, através da redução de tributos, a nacionalização das autopeças utilizadas na linha de montagem. Isso deve acontecer no decorrer do ano, mas ainda está em aberto qual é a força do governo em relação à rastreabilidade desses produtos, de como verificar dentro da cadeia qual é o índice de aplicação de produtos nacionais. Ou seja, como o beneficio é através de incentivo fiscal, tem que haver uma forma muito bem feita para que esse controle não seja burlado, que seja feito de uma forma em que o governo saiba que a montadora usou produtos nacionais. Essa é a única forma que o projeto vai beneficiar as autopeças, mesmo que indiretamente.

O Mecânico: Cada vez mais, a lista de peças que exigem certificação compulsória do Inmetro aumenta. Isso vai ajudar a vida dos mecânicos nas oficinas?
Elias: A certificação de peças é benéfica em todos os lados. Já teremos a partir do começo do ano, uma fiscalização em cima das peças certificadas, principalmente, nas lojas e nos distribuidores, além das grandes oficinas. Essa fiscalização será feita pelo IPEM-SP (Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo), um órgão do governo ligado ao Inmetro, que tem a finalidade de orientar o setor, em um primeiro momento, mas também de autuar quando as regras não forem cumpridas. A fiscalização vai contar com a ajuda de todos os segmentos e, assim, quem ganha é o consumidor. Num futuro médio, se o fiscal entrar numa loja com peças sem a certificação haverá o impedimento desse lote, além de outras ações que façam com que o setor tenha a cautela na comercialização das peças.

O Mecânico: Existe uma dúvida que coloca a peça destinada para o OEM como de melhor qualidade do que a vai para a reposição. Afinal, é a mesma peça? Existem os mesmos controles de qualidade?
Elias: Podemos assegurar que é a mesma peça, partindo do principio que o fabricante também produz para o mercado de equipamento original, a mesma peça é colocada na reposição como uma peça individual, com a mesma qualidade. Não há maneira de fazer qualidade diferente. Agora, as fabricantes que produzem apenas para reposição passarão pela homologação e certificação de suas peças para garantir a qualidade. A mesma exigência das peças do OEM vai ser aplicada para a reposição. A certificação abrange não somente as peças originais, mas todas fabricadas aqui. As de baixa qualidade e que não são homologadas não terão certificação Inmetro e não vão vender. Agora, estamos certificando paulatinamente, peça por peça, não conseguimos fazer tudo de uma vez. Certificamos de acordo com a necessidade, em breve entrará outro grupo de peças em processo de certificação.

O Mecânico: Muitos mecânicos ainda afirmam faltar peças no mercado de reposição. Qual a sua opinião sobre esse assunto?
Elias: Existe um conjunto de peças cativas das montadoras, fabricadas exclusivamente para as montadoras, mas a maioria é de funilaria. As peças mecânicas, fabricadas aqui, acreditamos ter disponibilidade normal. Porém, hoje, muitos veículos são importados do México, Argentina, Coréia, Japão e China, e essas peças são peças responsabilidades das montadoras e não existe fabricação delas aqui, as próprias montadoras importam. Mas pode acontecer em algum caso a falta de peça nacional, por conta de problemas pontuais, mas não temos conhecimento.

O Mecânico: Dia 20 de dezembro é o Dia do Mecânico. Qual seu conselho para que ele ofereça serviços de qualidade para os seus clientes?
Elias: Primeiro, é importante ter sempre muito cuidado com aquisição das peças que oferece ao cliente e também cuidado com aplicação de peças que o cliente traz. Tenham sempre uma sequencia de reciclagem com relação ao conhecimento, estejam sempre engajados em cursos de atualização para conhecer novas tecnologias, sejam sempre uma fonte de alerta para os fabricantes de autopeças.

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