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Falta peça ou informação?

No começo do ano, casos sobre escassez de componentes automotivos no mercado foram alardeados pela mídia. Representantes da indústria falam a respeito dos problemas e mecânicos dão dicas para enfrentar a situação

Victor Marcondes

 

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Em fevereiro, o setor de reposição foi alvo de denúncias feitas por meios de comunicação sobre um possível apagão de peças que estaria aterrorizando a reposição. As matérias atribuíam a situação a um gargalo na produção, em razão do ótimo desempenho da indústria em 2010, que lançou nas ruas do Brasil mais de 3,5 milhões de carros. As declarações mexeram com o mercado, que teve de se posicionar e dar esclarecimentos. Afinal, tem ou não tem componentes disponíveis no aftermarket?

 

A suposta falta está sendo averiguada através de um estudo realizado pelo Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) com as devidas empresas. “Estamos apurando junto aos fabricantes de autopeças associados, pois até o momento nada foi identificado. Aliás, a indústria programou investimentos para aumentar a capacidade de desenvolvimento”, argumenta Antonio Carlos Bento, coordenador do GMA (Grupo de Manutenção Automotiva).

 

De acordo com ele, o que existe é a falta de peças externas fornecidas pela montadora e, portanto, “não há motivo para preocupação”. Peças cativas, principalmente de funilaria, são as maiores responsáveis por esta sensação de carência, também segundo a assessoria de imprensa do GMA. “Estes itens sempre enfrentaram dificuldade na comercialização porque apenas a montadora tem o direito de fornecê-las. Isso diminui os canais de compra para o reparador independente”, analisa.

 

Uma reportagem publicada num grande jornal que circula no estado de São Paulo reforça isso. Na publicação são divulgadas pessoas com problemas em conseguir peças de funilaria para seus carros. E os itens mecânicos não estão fora de risco.

 

Silvio Rivarolla, dono da Evolution Auto Center, relata que há dificuldade em adquirir componentes internos de motor, como jogo de bronzinas, anéis e alguns itens do sistema de suspensão. “Existem peças que antes chegavam em uma semana e agora demoram mais de trinta dias. Estou com um Honda Civic aguardando há mais de um mês e sem previsão de quando vai ficar pronto”, desabafa.

 

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Técnicos sentem carência de componentes mecânicos, principalmente, para carros importados

 

Outro exemplo é dado pelo técnico da AMB (Automotivo Multimarcas Brasil) e instrutor do SENAI, Jerônimo Bastos. Ele afirma que está com um Chery Cielo 2010 com defeitos na parte elétrica e suspensão. “O cliente levou o veículo à concessionária várias vezes, mas recebeu a informação que teria de aguardar pela chegada das peças vindas da China, já que não existe montadora da marca no País” diz.

 

Jerônimo garante que o problema não acontece apenas com os veículos importados. “Estava com um Chevrolet Vectra 2008 precisando do sistema hidráulico de acionamento da embreagem. As concessionárias da região diziam que o componente estava em falta e tive que esperar mais de oito dias para recebê-lo”, indigna-se.

 

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Falta de peça implica na demora da manutenção e quem sofre é o cliente importados

 

“Neste momento não há muito que fazer. Tem cliente que aciona o Procon, mas a culpa não é do reparador que está aguardando a peça para fazer a reparação”, alerta Bento do GMA. Jerônimo diz que para facilitar a vida do motorista, em alguns casos, permite o cliente rodar com o carro até que a peça chegue. “Mas existem outras situações que é impossível o motorista levar o veículo. Fico com ele para a própria segurança do proprietário.”

 

Pronta entrega

 

Por outro lado, centros automotivos como a Mecânica do Gato sequer perceberam algo de diferente no mercado. “Dependendo da compra e da disponibilidade da concessionária ou distribuidor a espera pode ser em média de 2 a 3 dias úteis, não passa disso. Boa parte das vezes é pronta entrega”, diz César Samos, dono da empresa.

 

Os mais incrédulos poderiam afirmar que não passa de pura sorte, vista as circunstâncias relatadas. Mas César revela o seu segredo para atender a clientela com tamanha agilidade. “Antes de comprar a peça fazemos uma pesquisa. A gente possui uma relação com mais de 540 empresas, entre distribuidores e concessionárias. Cotamos no mínimo duas concessionárias e três distribuidores para localizar o item e o melhor preço”, conta. E reforça: “Eu percebo que a área que mais sofre com esta falta é a de funilaria”.

 

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Para buscar peças, Anderson troca informações com parceiros e usa a internet como apoio

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O centro automotivo Peghasus Powered Motors possui um setor específico para cuidar da administração e logística das peças. O mecânico Anderson Mendes da Silva, responsável pelo setor de compra e venda da oficina, fica o dia inteiro numa sala em contato com distribuidores e concessionários de todo o Brasil. “De 100% dos casos apenas 2% tem que encomendar, o restante é tudo entregue no momento. Carro aqui não para mais do que um dia, a não ser nos casos em que tem que fazer o motor”, afirma.

 

A reparadora é integrante do GOE (Grupo de Oficinas Especializadas) e Anderson diz que a entidade se ajuda muito na troca de informações sobre como ou onde conseguir itens diversos. “Se procurar somente na cidade de São Paulo os obstáculos para encontrar determinados produtos são maiores. As vezes a peça está na cidade ao lado, por exemplo, em Itu. Mando o motoboy e em menos de 4 horas ele retorna com a peça”, esclarece. “A própria internet é uma ferramenta muito valiosa na hora de pesquisar”, conclui.

 

Além dos famosos sistemas de comunicação via web e sites de busca, Anderson recomenda o portal www.pecas-on-line.com.br. Ele explica que lá o reparador pode fazer cotação por descrição de peça ou através do código. “Esta é um das formas para amenizar o problema que outros mecânicos possam estar vivenciando”.

 

O idealizador do site, Carlos Jorge Freire Antunes, diz que desenvolveu o projeto há dez anos, após avaliar como a distribuição de peças no País não estava de acordo com o crescimento e demanda do setor automobilístico. “O Brasil possui uma frota nacional espalhada em mais de 5 mil municípios, sendo que apenas 10% deles tem concessionários.”

 

A salvação destas localidades provavelmente é o mercado de reposição, de acordo com Antonio do GMA. Para ele, o mercado tem capacidade para atender todos os municípios. “No caso de peças de pouco giro em cidades distantes, o prazo para o recebimento é de 48 horas. Para atender à demanda, de forma rápida e ágil, o setor da reposição automotiva conta com canais de distribuição espalhados por todo o País”, completa.

 

O mercado de reposição ainda caminha no desenvolvimento de pesquisas concretas sobre o que realmente pode estar havendo com relação a suposta escassez de peças. Uma indústria que o faturamento anual é de R$ 80 bilhões, sendo R$ 10 bi oriundos do balcão, o que se pode concluir é que se esse gargalo na produção existe, ele ainda não alcançou o seu “boom”. Entretanto, para o mecânico que prefere sair na frente, e se prevenir, nada custa tentar ir um pouco mais além na busca, quando aquele amigo da loja do bairro ao lado não tem o componente.

 

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O setor de autopeças faturou R$ 80 bilhões em 2010, sendo R$10 bi somente do balcão

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