Por Márcio Zoppi*
Se você tem pelo menos 40 anos e gosta de carros certamente se lembra do “Jorginho”. Esse era só um dos apelidos dados ao Dodge 1800 Polara, produzido do final de 1972 a 1981 pela extinta Chrysler do Brasil. Foi apresentado aos brasileiros no Salão do Automóvel de 1972 e lançado em nosso mercado no final do mesmo ano como Dodge 1800 (ainda não tinha o sobrenome Polara), com a incumbência de concorrer com Corcel 1, VW TL e Chevette (este lançado no início de 1973).
O Dodge 1800 tem origem no inglês Hillman Avenger (lançado em 1970 na Inglaterra), que deu origem não só ao Dodge 1800, mas também a outros modelos produzidos na Austrália e em países da Europa (Hillman Avenger e Talbot Sumbeam), EUA (Plymouth Cricket), Irã (Ira Kodro Paykan) e Argentina (Dodge 1500).
Diferentemente da maioria de seus irmãos, o Dodge 1800 ofereceu carroceria somente com duas portas. Seu interior, suas frente e traseira também eram específicas para o nosso mercado. Quanto a motorização, o Dodginho sempre utilizou motor 1800 cc, associado a uma transmissão manual de 4 marchas ou automática de 4 velocidades (oferecida como opcional a partir de 1979), acoplada a um eixo diferencial traseiro por meio de um eixo cardan. O Dodge 1800 tinha como destaques seu acabamento interno (muito superior a seus concorrentes) e sua cilindrada (até então a maior entre todos os concorrentes).
Mas problemas diversos nos primeiros anos de vida mancharam sua reputação. Para reconquistar o público (aborrecido com os muitos problemas ocorridos em veículos 1973 e 1974), a Chrysler do Brasil fez um intenso trabalho para reconquistar os compradores do Dodge 1800. E 1975 foi o ano em que a Chrysler mais lançou novas versões do Dodge 1800 e no final do mesmo ano esta apresentou a imprensa o Dodge Polara, que nada mais era que o Dodge1800 com seus problemas corrigidos, além de freios e suspensão melhorados, novas frente e traseira e interior reestilizado. As melhorias surtiram efeito e o Dodge Polara recebeu o Prêmio Carro do Ano da Revista Auto Esporte em 1977.
No final deste mesmo ano, a Chrysler do Brasil apresentou a linha 1978 marcada pela substituição da frente com quatro faróis circulares e dois piscas sob o para-choque pela nova, com dois grandes blocos ópticos retangulares com piscas em suas laterais, e pela troca das lanternas traseiras pequenas por grandes lanternas de design moderno.
Mas naquele momento ocorria a crise mundial do petróleo e como medida de redução de custos, o grupo Chrysler decidiu vender sua operação no Brasil. Em 1979, a VW adquiriu 67% da operação tornando-se proprietária da Chrysler do Brasil. No final deste ano, o Polara recebeu mais uma reestilização para a linha 1980, na qual para-choques tipo lâmina com polainas e a oferta de opcionais como transmissão automática, aquecimento, novo painel, vidro vigia com desembaçador e antena elétrica deram uma sobrevida ao veículo até 1981, quando a VW encerrou a produção dos veículos Chrysler do Brasil.
Ao todo foram produzidos pouco mais de 92.000 veículos de 1972 a 1981 (alguns ainda saíram em 1982 fabricados fora da linha de montagem), boa parte dos quais ainda permaneceram rodando até meados dos anos 90. Mas devido a escassez de peças de reposição e de profissionais especializados na manutenção (especialmente do carburador), muito poucos Doginhos sobreviveram até os dias de hoje.
*Márcio Zoppi é entusiasta da história do automóvel brasileiro e professor de sistemas de direção na Escola de Restauração de Veículos Antigos (www.escoladerestauracao.com.br). Graduado e mestrado em engenharia mecânica automotiva, profissionalmente ele atua a mais de 15 anos no desenvolvimento de sistemas de direção para automóveis de passeio e veículos comerciais leves.
Fotos: material publicitário da época da Chrysler
NÃO DEVIA PARAR DE PRODUZIR PEÇAS DE REPOSIÇÃO
Ontem eu vi um carro desses na garagem de um amigo.
Ano 1980, lindo demais.
Muito boa matéria.
Precisamos disso. Registrar para manter sua história.
Parabéns pelo artigo, Márcio.
O Polara é sem dúvida um carro muito legal…